POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
Cresceu no meu batatal
Uma batata esquisita;
Parece irracional,
Mas ela fala e grita.
Não sei que nome lhe dar
Pois seu sexo desconheço,
Talvez lhe chame luar,
Ou florzinha de codesso.
Levei-a pra minha casa,
Come comigo à mesa;
Vai buscar lenha prà brasa,
Quer sempre a lareira acesa.
Veste roupa, bebe vinho,
E uísque do melhor;
Adormece no colinho
Ao som dum fado maior.
Esquiva-se ao trabalho
Só quer pura brincadeira;
Piripiri, pimenta, alho,
E linguagem brejeira.
Eu não sei o que fazer,
Já faz parte da família;
Está ficar uma mulher,
Todos lhe chamam Emília.
Vou-lhe arranjar namorado,
Um casamento feliz,
Um batatão engraçado,
Com carinha de perdiz.
Um emigrante talvez
Cheio d’ouro e dinheiro
Que fale alemão, inglês,
Com sotaque brasileiro.
Mas o raio da batata
Diz que não quer casar;
Armou grande zaragata,
Não nasceu para amar.
Já tomei uma decisão,
Vai para o Entroncamento;
Juntar-se ao manjericão,
Aos tomates e pimento.
Tudo ali é fenomenal,
Tudo cresce sem parar;
Verdadeiro festival,
Um mundo sempre a girar.
Veio de um outro planeta,
Dos confins do universo,
Na calda de um cometa,
Nas palavras dum só verso.
Ai Jesus que estranho ser,
Nunca se viu coisa igual;
Ri, anda sem pernas ter,
Desconhece bem e mal.
Arranha e não tem unha,
Mia alto e não é gato;
Vai a Ceuta, Catalunha,
Nas asas dum bravo pato.
Percorre o mundo inteiro
Nos transportes mais bizarros;
Leva no bolso isqueiro
Para acender os cigarros!
Esta história não tem fim,
Para o ano haverá mais;
Vou tratar do meu jardim,
Ver os melros e pardais.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOde à batata Emilia que optou por ficar solteira ,mas quando pode vai numa excursão para ver as vistas e mudar de ares!
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