quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ESCRITOS SOBRE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha
 
 
 

UM OLHAR SOBRE MELGAÇO



SUSANO (ou SUZANO), Manuel Gomes Craveiro. // Este senhor deve ser filho de algum funcionário público que esteve em Melgaço em serviço durante alguns anos. É óbvio que o conhecimento que tinha da terra, o conhecimento do concelho em geral, é diminuto. No entanto, e porque assinava o jornal, ou jornais, melgacenses, ia-se apercebendo das lutas partidárias, das rivalidades, dos ódios e paixões descontroladas. Formou uma opinião, a sua opinião, sobre as gentes de Melgaço, sobretudo das pessoas que habitavam a sede do concelho. Em 1929 ainda não existia eletricidade nem água canalizada, nem todas as freguesias tinham escola do ensino primário, o analfabetismo era geral, em cada cem pessoas, pelo menos setenta não sabiam ler nem escrever! O comboio chegou a Monção em 1915 e não passou dali. Não havia estrada para Castro Laboreiro, a freguesia com mais área, nem para outras freguesias do concelho. Caminhava-se a pé, de cavalo ou de burro, como há milhares de anos atrás. O castelo estava em ruínas, as pedras das muralhas eram utilizadas para se construírem habitações. Enfim, Melgaço, em 1929, era uma Vila medieval. 
 


 



     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 12, de 12/5/1929: «Saudação. Foi com a maior alegria que li no “Novidades”, e em vários jornais da capital, a inauguração oficial da humanitária associação dos Bombeiros Voluntários de Melgaço. Desde o início da sua organização segui sempre com o maior interesse o seu desenvolvimento, e esperava ansioso pela sua realização. Chegou finalmente o dia tão ambicionado, não só dos melgacenses, mas de todos os amigos de Melgaço. E a esse número honro-me de pertencer. Melgaço não me serviu de berço mas lá passei os melhores anos da infância. E por isso dedico-lhe tanta estima e amizade como à minha terra natal. É sempre para mim motivo de imenso júbilo quando vejo acentuar-se o seu desenvolvimento. Melgaço, terra de belezas e encantos, que prendem a atenção daqueles que pela primeira vez pisam o seu solo, não podia permanecer eternamente na indigência e na indiferença dos seus habitantes. Chegou, enfim, a hora de despertar do seu letargo. O seu progresso impõe-se como uma grande necessidade. É preciso, pois, unir fileiras e trabalhar mutuamente para o engrandecimento da linda vila minhota. Lance-se um espesso véu sobre o passado e acabe-se com ódios e ressentimentos, que só servem para amesquinhar e rebaixar um povo. Congreguem-se todas as energias para que amanhã Melgaço possa caminhar na vanguarda das [vilas] suas circunvizinhas. Será difícil? É, mas não é impossível. Não há dificuldade, por maior que seja, que não possa vencer-se quando, para isso, haja o esforço e a boa vontade de todos. Um povo só se torna grande quando não deixa enraizar no seu seio o vício maldito da política. Não quero dizer que cada um vá abdicar das suas convicções. Não! Quero lembrar apenas que – quando se trata de engrandecer a terra que nos viu nascer – devem guardar-se no fundo da alma as crenças e as convicções e ter em vista somente o bem comum. Logo após o movimento militar de 28 de Maio [de 1926] um conhecido homem público disse aos seus partidários: abatamos as nossas bandeiras. Pátria ao alto e política para o lado; trabalhemos todos para o engrandecimento do nosso querido Portugal. Eu direi também ao povo melgacense: abatei as vossas retaliações, Melgaço ao alto e política para o lixo. Trabalhai todos para o ressurgimento da vossa querida terra. E só assim podereis rivalizar um dia com as vossas congéneres. E quando as vossas forças não bastem para mover grandes empresas, como seja a continuação do caminho-de-ferro de Monção a Melgaço, cujo plano há muito está traçado, ireis junto dos poderes públicos, reclamar a pretensão a que – com toda a justiça – tendes direito. Eu quisera nesta hora levar pessoalmente as minhas homenagens e os meus votos de prosperidades aos intrépidos bombeiros melgacenses, mas não o podendo fazer como era meu desejo, a minha alma voa até junto de vós e acompanha-vos nas vossas alegrias e nos vossos empreendimentos. Todos vós sois rapazes amigos e conhecidos e junto de vós vivi alguns anos como se vive no seio da família. Nunca esquecerei a vossa leal amizade. Para todos vão neste momento, com um abraço de saudades, as minhas humildes mas sinceras saudações. Do vosso trabalho e da vossa dedicação muito tem a esperar a vossa terra. Trabalhai com amor e afeto para o bem-estar da vossa vila, e amanhã agradecer-vos-á, dando-vos a coroa de glória, como a pátria dá aos seus mártires. Não quero esquecer também a Ex.ma Direcção, que muito trabalhou para a vossa organização, em especial o Ex.mo Sr. Dr. Augusto César Esteves. Ela é composta de criaturas de considerado valor e todas elas creio estarem animadas dos melhores desejos para bem servirem a vossa benéfica associação. Daqui lhes envio os meus sinceros cumprimentos e a expressão do meu maior respeito e consideração.» // Manteigas, Abril de 1929.  Manuel Gomes C. Susano.     

 

 

 


 


 


 


 



 


 



 



 



 


 


 

 

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