domingo, 7 de julho de 2019

POEMAS DO VENTO

                                                        Por Joaquim A. Rocha




SEVERA

Morreu a bela Severa,

Ainda na flor da idade;

Ai quem me dera, me dera,

Dar-lhe voz, eternidade.

 

Sabia cantar o fado,

Cantava tal rouxinol;

Nas margens do rio Sado,

Nas tascas ao pôr do sol.

 

Cantou para o povinho,

E para gente mui nobre;

Por uma malga de vinho,

Por vil moeda de cobre.

 

Teve mais de cem amantes,

Uns pelintras, outros ricos;

Gozava a vida em instantes,

Nos braços dos mafarricos.
 


 

Não teve filhos, nem filhas,

Abortou vezes sem fim;

Percorreu as trinta milhas

Nas asas de um serafim.

 

Ai Severa, aciganada,

De uma beleza estranha;

Eras tudo, eras nada,

Entre a virtude e a manha.

 

A tua voz era mel,

Do mais puro, do mais fino;

Eras doce, eras fel,

Incerta como o destino.

 

A tua voz era ouro,

De genuíno quilate;

Mas veio da arena o touro

E logo fez xeque-mate. 

 

Sorveste em forte dose,

A vida que era só tua;

Mas a vil tuberculose

Roubou-te a voz e a rua.

 

Agora choram por ti,

Pelo teu canto divinal…

Vem. Canta pra nós, sorri.

Fadista de Portugal. 


 

1 comentário:

  1. Ai! Severa fadista
    canta lá um fadinho
    que aqui o Joaquim
    ia gostar disso!

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