terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de Os Lusíadas de Camões)

Por Joaquim A. Rocha 







21
 
Tinha na minha mente castigar

Os sanguessugas desta linda pátria,

Os vis parasitas, sempre a louvar,

A comer à lauta da teta mátria.

Mas as pernas dobram, falta o ar,

A longa energia foi prà via láctea.

 Porém farei das tripas coração,

Para que não criem falsa ilusão.

22

Esquece, velho e digno Camões,

As nereidas e as lindas ninfas do Tejo.

Os grandes feitos, as vãs ilusões,

Que tudo isso eu hoje já não vejo.

Dos céus mandam-nos enormes tufões

  Pragas de mosquito e percevejo.

E pra que eu possa cantar o país

Devo arrancar o mal pela raiz.

23

Os rios estão sujos, poluídos,

Os mares já não tem a azul cor;

Os belos bosques foram destruídos,

As florestas choram, de medo e dor.

Os animais fogem esbaforidos,

Os humanos não amam Zeus nem Thor.

Já ninguém aqui tem amor à vida,

Pois sentem que a pátria está perdida.

24

A besta fez do Estado a coutada,

Onde caça a pomba e a perdiz;

O incauto é sua presa amada,

E este povo, inerte, nada diz.

Tudo e todos são alvos da cilada,

Ninguém escapa às armas subtis.

E tu Camões, que esta terra cantaste,

O teu saber e arte em vão gastaste.

25

Porém, nem tudo estará perdido,

No ar restam sementes de esperança;

Algum povo não se deu por vencido,

E luta por justiça e bonança;

Tendo por si a seta de Cupido,

A inocência de Sancho Pança.

De Vénus há de vir ajuda grande

E tudo mais que o coração mande.

26

Este planeta, único e belo,

Voltará um dia ao seu normal.

Cairá a muralha, o castelo,

O sacrário, o vil pedestal.

Thor trará de novo o seu martelo,

Acabará por fim com todo o mal.

E o povo, o eterno sacrificado,

Será dos deuses novamente amado.

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