DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
Roubos
- Assaltaram a casa de Francisco de
Jesus Vaz, oficial de diligências. Foram presos Amadeu e Abílio.
Fernando era também um dos indigitados autores do roubo; estava em
manobras militares, ficando sob prisão. A cúmplice que os denunciou ficou
detida num dos quartos térreos do hospital. A venda das joias roubadas era
feita na tenda do ourives Manuel Simões Maia, de Monção, que vinha fazer as
feiras quinzenais (Correio de Melgaço n.º 67, de 21/9/1913).
No número seguinte do jornal, escreveu-se: «Está
finalmente descoberto o roubo praticado em casa de Francisco de Jesus Vaz. A
glória dessa descoberta cabe ao senhor Rodrigo Augusto dos Santos, chefe da
polícia cívica de Viana, que aqui tem estado com os polícias civis da mesma
cidade, n.º 12, Manuel Ferreira da Fonte, e n.º 9, António Martins de Amaro, em
serviço de investigação. O Sr. Santos, que tem sido coadjuvado nestes serviços
pelo secretário da administração do concelho, Maker Luís Teixeira Pinto, é duma
solicitude e perspicácia pouco vulgares e incansável no desempenho dos seus
deveres profissionais. A Laurinda confessara, no dia 14, que o roubo tinha sido
praticado por duas vezes, sendo a 1.ª pelo Amadeu e Fernando, e a
2.ª vez por ela e pelo Amadeu, tendo ela vendido algumas libras e as joias a
Angelina Rodrigues de Carvalho, esposa do ourives Maia, de Monção. Depois dessa
confissão foram presos Amadeu e seu irmão Abílio, há dias posto em
liberdade por nada se apurar contra ele. Fernando foi preso em Valença por
ocasião das manobras, onde estava encorporado no batalhão de infantaria 3,
vindo para esta Vila acompanhado do polícia número 9, aqui em serviço.
Interrogado, confessou que em a noite de 5/8/1913, estando a jogar o 31, na
taberna da Lúcia Fernandes, ali o procurou Amadeu, com quem saiu pouco
depois. Este, na rua, convidou-o a irem roubar o Chico, nome por que é
conhecido o Francisco Vaz, indo ambos pelo quintal da casa do Vaz e encostando
uma escada a uma das janelas, entraram no prédio, roubando de uma cómoda, que
estroncaram, o seguinte: dezoito libras, duas correntes, sendo uma double, um
par de argolas, um medalhão e dois anéis, tudo de ouro, tendo o produto do
roubo sido repartido entre os dois. Declarou que vendera a um contratador de
gado quatro libras e que tinha escondido dentro de uma caixa de
folha-de-flandres, numa parede do antigo jardim do Sr. Durães, os restantes objectos.
Em vista desta confissão, no dia 25, pelas 24 horas, a polícia acompanhou-o ao
local indicado, sendo encontrado, metida na parede, uma caixa que continha: uma
corrente, metade de outra, um medalhão, um relógio de senhora, quatro libras e
um pinto, de prata dourada. Esteve também detido para averiguações José Alves,
sendo posto em liberdade por nada se apurar que o comprometesse. A esposa do
ourives Maia – depois de ter estado alguns dias detida e incomunicável, no
edifício do hospital, foi anteontem posta em liberdade, mediante a fiança de
1.000$00. Serviu de fiador José Maria Moreira, e de testemunhas abonatórias
Aurélio Araújo Azevedo e António Luís Fernandes. Aos autores do roubo arbitraram-lhes a fiança de 5.000$00 a cada um»
(Correio de Melgaço n.º 68, de 28/9/1913).
«Ainda o roubo: foram entregues às
autoridades judiciais os autores do importante roubo de joias e libras
esterlinas praticado nas noites de 5 e 16/8/1913 em casa de Francisco de Jesus
Vaz, como pormenorizadamente se relatou. Conservam-se presos na cadeia desta
Vila, que tem estado vigiada de noite por patrulhas de cabos de polícia. – O
Manuel Gonçalves Pereira, que durante oito dias esteve incomunicável, foi posto
em liberdade no dia 29/9/1913, por nada se ter apurado que o comprometesse. –
Também estiveram detidos para averiguações José Eugénio Pereira, José Augusto
de Sousa, Vitorino Joaquim Domingues Salgado e Engrácia da Glória Dias, sendo
todos postos em liberdade por nada se apurar contra eles. Em vista deste
resultado, e por terem sido chamados à sua repartição, regressaram a Viana o
chefe da polícia senhor Santos e os polícias 9 e 12» (Correio de Melgaço n.º 69, de 5/10/1913).
// Em audiência de júri responderam a 30/1/1914 os autores do roubo praticado
em Agosto de 1913 em casa de Francisco de Jesus Vaz. O Amadeu foi condenado em
dois anos de prisão correcional e seis meses de multa a $10 por dia; a Laurinda
a vinte e dois meses de prisão e cinco meses de multa a $10 por dia; e o
Fernando a dezoito meses de prisão e três meses de multa a $10 por dia. Todos
foram condenados nas custas e selos do processo, levando-lhe em conta o tempo
de prisão já sofrido. O defensor oficioso dos réus foi o Dr. António Francisco
de Sousa Araújo (Correio de Melgaço n.º 85, de 1/2/1914).
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