GENTES DE MELGAÇO
(microbiografias)
Por Joaquim A. Rocha
DOMINGUES, Abílio. Filho de José Bento
Domingues e de Ana Maria Rodrigues. Neto paterno de João Manuel Domingues e de
Maria Rodrigues; neto materno de Manuel José Rodrigues e de Ana Rosa Esteves. Nasceu
em Castro Laboreiro a 22/6/1900. // Ainda criança foi viver para o lugar da Orada, SMP,
com os pais, por terem comprado ali uma quinta. // No verão de 1916, ele e sua
irmã, Maria de Jesus, fizeram exame de admissão na Escola Normal de Viana do Castelo,
ficando distintos. // Em Julho de 1919 concluiu o Curso do Magistério com 16
valores (Jornal de Melgaço n.º 1256, de 27/7/1919).
Em Outubro desse ano foi colocado em Parada do Monte (JM 1273, de 7/12/1919). No ano letivo seguinte foi nomeado
professor interino para Castro Laboreiro (JM 1308,
de 17/10/1920). Nesta freguesia é convidado pela família Alves “Carabel” para
ser redator do jornal «A Neve». A notícia é dada pelo “Jornal de Melgaço” n.º 1310,
de 7/11/1920: «Consta-nos que vai
aparecer um novo jornal aqui no concelho…» // No Jornal de Melgaço n.º 1316,
de 31/12/1920, por ironia do destino o último número deste jornal, dá-se a boa
notícia: «para o nosso prezado colega
Abílio Domingues, actualmente na escola de Castro Laboreiro, e redactor de “A
Neve”, foi pedida por seu padrinho – o reverendo abade desta Vila – em
casamento, a mão da menina Leopoldina Cândida (*), prendada sobrinha do nosso
amigo Sr. José Maria Moreira, da Quinta das Amoras. Não podia o nosso colega
fazer melhor escolha, atentas as qualidades da noiva, que são a garantia da
felicidade no lar doméstico…» // Casou a 8/5/1922 com a dita menina, filha
de Manuel Maria Afonso e de Clementina Rosa da Lama. // Em 1933 passou a ser em
Melgaço o delegado do inspetor escolar de Viana do Castelo, em virtude do
professor António José de Barros ter sido transferido para uma escola de Braga
(Notícias de Melgaço n.º 211, de 15/10/1933);
nesse ano lecionava em Chaviães, mas em 1936 transferiram-no para a sede do
concelho (NM 415). // Foi 2.º
comandante dos Bombeiros Voluntários de Melgaço, fundador e presidente do Grémio da Lavoura, e vereador da
Câmara Municipal. // O professor e poeta, Ribeiro da Silva, dedica-lhe um dos seus
sonetos (ver NM 337, de 3/1/1937).
// Em 1938 foi agraciado pelo Comando Geral da Legião Portuguesa com a medalha
de dedicação «pelos serviços que tem
prestado à Legião Portuguesa neste concelho.» E tão bons serviços o professor
Abílio prestou que em 1941 o Governador Civil do distrito o escolheu para
presidente da Câmara Municipal de Melgaço, lugar que ocupou durante pouco tempo, pois foi
demitido por despacho do Ministro do Interior (ver
NM 615, de 3/1/1943). Lê-se no Notícias de Melgaço n.º
623, de 28/2/1943: «A nossa terra é avara
nas mercês e raro sabe recompensar os méritos e as dedicações. Alguns vultos
mais fora do vulgar se têm destacado no capítulo das benemerências e do amor
desinteressado ao concelho e aos progressos da nossa terra, mas a sua passagem
pela órbita da direcção, ou do comando, bem depressa é esquecida e – o que é
pior! – muitas vezes é apoucada, amesquinhada… Somos bem ingratos!... Desta
mentalidade e falta de reconhecimento não está possuído o actual Conselho
Municipal que, numa visão justa, oportuna e dignificante, sabe dar o seu a seu
dono. Ainda bem! Porque é justíssima vamos transcrever a parte da acta da
última sessão do Conselho Municipal em que este presta homenagem à acção do
professor Abílio Domingues como presidente que foi da Câmara Municipal.» –
Cópia da parte da acta da reunião do Conselho Municipal de 11/2/1943: «… em seguida foi apresentada pelo vogal Dr.
João Luís Caldas a seguinte proposta: - que o Conselho Municipal, tendo em
subido apreço a actuação do senhor professor Abílio Domingues, durante o tempo
em que exerceu as funções de presidente da CMM, actuação essa de todo o ponto
de vista dedicada aos interesses do Estado Novo e do público deste concelho,
significa-lhe toda a sua consideração como homem público que foi, pois
desempenhou as suas funções com grande dedicação, inexcedível aprumo e
comprovada honestidade. Propõe um voto de louvor ao senhor professor Abílio
Domingues; e, no caso de ser aprovado, se lhe comunique, bem como ao Director
do Distrito Escolar, visto ser professor e delegado do mesmo.» A proposta
foi aprovada por unanimidade. CMM, 13/2/1943. // E continua o jornalista: «Associamo-nos inteiramente a esta homenagem
de justiça a quem tanto se dedicou ao bem do concelho, e ousamos propor que a
nossa Câmara siga as mesmas pisadas do Conselho Municipal, fazendo consignar em
acta o seu testemunho de louvor à acção do professor Domingues como seu
ex-presidente. É uma prova de estímulo que muito contribuirá para o bem do
município, afervorando mais aqueles que têm o encargo bem espinhoso de dirigir
nesta hora os destinos públicos da nossa terra. Ao professor Abílio Domingues
enviamos o nosso abraço de felicitações pela justiça que lhe é prestada.»
Ruy de Castro. // A 1/1/1944 casou a sua sobrinha por afinidade Rosa de Jesus
Afonso, com Joaquim Covas; Abílio e Leopoldina foram os padrinhos da boda. // Em
1950, e em nome da comissão organizadora da homenagem aos doutores Júlio
Esteves, presidente da União Nacional em Melgaço e provedor da SCMM, e Carlos da
Rocha, presidente da Câmara Municipal de Melgaço, comissão essa que promoveu um
almoço no Hotel Ranhada, Abílio Domingues botou discurso inflamado e
nacionalista, com vivas a Salazar e ao Estado Novo; estava presente o
Governador Civil de Viana, o qual presidiu à cerimónia (NM 928, de 26/3/1950). // Em 1956 pediu a transferência e foi
colocado numa escola de Braga, tendo sido substituído pelo professor Ascenção
Afonso. Nessa cidade morou na Rua Conselheiro Januário, 107. // A 17 de Junho o
professorado de Melgaço prestou-lhe «justa
homenagem» (NM 1202, de 17/6/1956, e NM 1203, de
24/6/1956). // Era na altura tesoureiro da Santa Casa da
Misericórdia. // Em 1958 pôs à venda a sua quinta das Amoras, sita entre São
Julião e a Assadura. // Há quem diga ter sido um razoável mestre-escola, mas na
década de cinquenta já estava envelhecido e apático. // A sua esposa faleceu em
Braga a 15/11/1972 e ele morreu em Vila Praia de Âncora a 25 ou 26/8/1978,
quando estava a banhos, mas ambos estão sepultados no cemitério da capital do
Minho; ao lado da sua campa jaz a sobrinha por afinidade, Rosa Cândida Afonso (Melgaço, 31/3/1925 – Braga, 21/9/1997),
e seu marido, Joaquim Covas (Monção, --/--/19--/
Braga, 26/12/1992), os quais foram seus herdeiros, por os tios não deixarem
geração.
/// (*) Era irmã do companheiro da “Maria das Adegas”, Alfredo
Afonso, pai do Aristeu, dono durante algum tempo da Discoteca e Restaurante
«Pegaso».
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