OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)
Por Joaquim A. Rocha
60
Pedro
Nunes, assim era chamado,
Investigador,
mestre catedrático,
Em
Alcácer do Sal (Setúbal) nado,
Com
seu espírito calmo, fleumático
Inventa
o nónio, mui gabado…
Interessa-lhe
também medicina,
E
outras ciências que ensina.
61
Deste
reino, foi cosmógrafo-mor,
Sabia
lógica e metafísica;
Em
tudo, ele era o maior,
Curava
males, a terrível tísica.
Conhecia
os mil astros de cor,
Estudava
a química e física.
Na
cidade de Coimbra morreu,
Até
hoje ninguém o esqueceu.
62
O
rei João gerara nove filhos,
Mas
nenhum deles lhe sobreviveu;
Isso
provocou guerras e sarilhos,
O
neto não era inda corifeu;
Surgiram
imensos cadilhos,
Invocou-se
a virgem, o santo céu.
Sebastião
tinha apenas três anos,
Era
inda na idade dos enganos.
63
Regeu
em seu nome Dona Catarina,
Viúva
do rei Dom João Terceiro,
Que
já não era nenhuma menina,
Nem
sabia como governar o reino.
Portou-se
como uma frágil bonina,
Sem
qualquer saber, sem mínimo treino.
E
pra que tudo não caísse a pique
Subiu
ao poder seu tio Henrique.
64
Neste
reinado tomou-se Damão
À
velha Índia, cheia de mistérios;
Rio de Janeiro nasceu da paixão,
Desse
povo de honestos e galdérios;
Cresceu
como a espiga no verão,
Tornou-se
capital do novo império.
De
longe Camões trouxe um tesouro,
Mais
valioso do que prata ou ouro.
Os
Lusíadas, obra monumental,
São
apresentados ao jovem rei,
Que
os lê como se fora missal;
Ele
não sabia, e nem eu sei,
Se
a leitura lhe fez bem ou mal,
Se
o engrandeceu perante a grei.
Meteram-lhe
bichinhos na cabeça,
Louvores
que eu duvido que mereça.
66
Foi
crescendo assim o jovem monarca,
No
meio de santinhos e padrecos,
Lendo
Santo Agostinho e Petrarca;
Ouvindo
sermões de sacerdotes recos.
Sonhando
imprimir a sua marca,
Criando
um exército de tarecos.
Ansioso
por seus dotes exibir
Cai
na batalha de Alcácer-Quibir.
Era
inda uma simples criança,
Solteirinho,
sem qualquer descendente,
Um
pobre seguidor, um Sancho Pança,
Deixando
este país dependente.
Da
Espanha um Filipe avança,
A
fim de substituir o rei ausente.
E
pra que se cumpra o seu desejo
Manda
as suas tropas prò despejo.
68
Dom
Sebastião não é o desejado,
Não
voltará jamais da sua cova;
Pelo
povo será sempre desprezado,
Pela
terrível, monumental sova.
Do
seu exemplo, outrora glorificado,
Pouco
resta, ou nada sobra.
Descanse
em paz onde quer que esteja,
Pois a sua obra ninguém a inveja.
Sem comentários:
Enviar um comentário