DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
Escritores Melgacenses
Dr. Ricardo Manuel Ferreira Gonçalves. Nasceu
no lugar de Ferreiros, freguesia de Paderne, a 13/9/1957. Tirou o curso de
filosofia, deu aulas no ensino secundário durante algum tempo, depois aderiu ao
Partido Socialista e foi deputado na Assembleia da República até 2011, salvo
erro. Na sua juventude escreveu um livro, ao qual deu o título de «Carneiros em
Transumância – emigrantes clandestinos», editado pela Perspectivas &
Realidades, com o patrocínio da Associação Cultural Inês Negra. Aborda o
problema do “salto” para o estrangeiro, sobretudo para França, a miséria no
mundo rural, etc. Embora o tema seja socialmente interessante, peca pela sua
qualidade textual. Espera-se que numa segunda edição o texto seja mais cuidado,
e se mude de título e de desenho, pois a palavra “carneiros”, em lugar de
homens, ou pessoas, é demasiado forte, até agressiva, apesar de retratar uma
certa realidade daquela época, anos sessenta do século XX. Manuel Igrejas, emigrante
no Brasil, leu o livro e comentou: «O
tema é aliciante, bem desenvolvido, (…) em narração envolvente e linguagem
agradável e primorosa com termos das nossas aldeias… É realista, mas exagerado,
muito pessoal no conceito ideológico. Esta intenção do autor… é desculpável,
uma vez que na apresentação da sua pessoa se confessa militante socialista.
Todavia, o rancor ao anterior regime … diminui um pouco o valor literário. Ele
poderia contar a história sem marcar os conceitos políticos, apenas dá-los a
entender subjectivamente. Como expõe abertamente o seu idealismo, dá-me o
direito de dizer que não concordo totalmente com esses conceitos. No entanto,
àparte o exposto, o livro é bom…. Um grande mérito, além do valor intrínseco, é
provocar na consciência dos leitores, pessoas daquele tempo, uma análise,
profunda meditação do sacrificado modus vivendi daquela época. Nalguns trechos
tive de reler várias vezes para apreender o sentido devido a pontuação confusa.
Isso será motivo para uma apurada revisão na próxima edição. O livro é
interessantíssimo com passagens de bom humor subtil e inteligente e a segunda
parte de terrível dramaticidade. Recomendo a sua leitura a toda a gente,
especialmente aos melgacenses. Aqueles emigrantes que deram o “salto” nos anos
60 e 70 vão-se achar retratados. O livro focaliza muitas verdades, algumas bem
terríveis que não deveriam ser ditas, porém, nem sempre devidas às
circunstâncias a que se refere. O autor, na ânsia de expor seu ponto de vista
ideológico, atribue todos os males ao regime a que era avesso. O livro foi
escrito há onze anos e neste lapso de tempo muitas das assertivas assacadas
contra o regime de então estão sendo vistas doutra maneira. Se aos 24 anos o
Ricardo foi capaz de escrever uma obra destas, muito há a esperar de sua
inteligência e amadurecimento...» (VM 972, de 15/10/1992).
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