OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de OS LUSÍADAS de Camões)
Por Joaquim A. Rocha
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Os
que se converteram a Jesus
Serão
designados de cristãos novos;
Carregarão
nos ombros outra cruz,
Ficam
presos, tal galinhas nos covos.
Os
seus olhos jamais verão a luz,
Tudo
parecerá negro de corvos.
Esquecerão
o Alá e Javé,
Agora
têm outro credo e fé.
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Ai
que coisa esta das religiões
Que
transforma os humanos em reféns,
Ficam
cegos, entram em mil prisões,
Em busca de céus, de divinos bens;
Perdem-se
em miríades de ilusões,
Tornam-se
vis escravos, zés-ninguém!
Buscam
para os seus males uma cura,
Pròs
tormentos uma dor menos dura.
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Seguem
- na senda do desconhecido -
Caminhando
além, de olhos vendados,
Buscando
milagres, algo par’cido,
E
no fim todos se sentem frustrados;
Na
pia o menino é benzido,
Levado
pelos trilhos já traçados.
Prometem-lhe
a cura da sua alma
Lugar
no doce céu, com paz e calma!
70
Grande
farsa, conversa de crianças,
Tudo
que há está dentro do universo,
Fora
existe nada, falsas esp’ranças,
Cabendo
tudo num vazio verso;
Os
deuses executam lindas danças
Mostrando,
da medalha, o anverso.
Humanos
devem crer na natureza,
Nossa
madre, que nos serve à mesa.
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Voltemos
a esses reis prepotentes,
Beis
do mundo, senhores absolutos,
Donos
de mil burgos, das suas gentes,
Ágeis,
cruéis, velhacos e astutos,
Sempre
irritadiços, descontentes,
Horríveis,
sanguinários, brutos.
Deram-lhes
bons cognomes os cronistas
A
fim de iludir o povo, suas vistas.
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Dom
João, inspirado, genial,
Olhando
as mil riquezas da terra,
Subido
tesouro, manancial,
Abandona
o mar, deixa a guerra,
Torna
o casto Brasil colossal,
Uma
fase da história encerra.
Divide
tudo em capitanias,
Tomé
de Sousa foi vero Elias.
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Distribuiu
as terras por colonos,
Todos
eles de origem portuguesa,
Tornando-se
assim verdadeiros donos,
Descobrindo
ouro, criando riqueza;
Vendo
belos pássaros, feios monos,
Esquecendo
mares da incerteza.
Ganhando
à terra terno amor,
Cultivando-a
com ganas e suor.
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Pagavam
à coroa certos direitos,
Dinheiro
que enchia cofres do Estado,
Fazendo
crescer os fortes peitos
De
fidalgos e rei mal amado;
Erros
crassos e enganos desfeitos,
Tudo
pertencia agora ao passado.
Fundou-se
a cidade São Salvador
Em
honra do Santíssimo Senhor.
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O
Brasil cresceu como um gigante,
Transformando-se
quase continente;
E
se do rei era mulher-amante
Era querido de imensa gente.
Por
isso, de repente, num instante,
Criou
asas, tornou-se independente.
Pulmão
do mundo, mil rios, floresta,
Alimenta
todo um povo em festa.
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