domingo, 19 de abril de 2015

PADRES POLÍTICOS EM MELGAÇO


V

GONÇALVES, Francisco António (Padre). Filho de António Gonçalves e de Maria Alves. Nasceu em Dois Portos (ou Cainheiras), Castro Laboreiro, em 1853. // Em 1874 ainda era estudante. // Foi pároco encomendado de Castro e “colado” em Prado de 1892 a 3/2/1922 (*), data em que faleceu. // Andou a braços com a justiça, por razões políticas, pois segundo parece não aceitou a mudança de regime, isto é, da monarquia para a república. O regedor de Prado, seu adversário, acusou-o de ele pactuar com o monárquico Paiva Couceiro. Lê-se no Correio de Melgaço n.º 8, de 28/7/1912: «… foram intimadas para no dia 29 comparecerem no comando militar desta Vila as testemunhas oferecidas em sua defesa…» Respondeu em Braga, a 3/8/1912, acusado de infringir a Lei da Separação (Igreja – Estado). As autoridades fizeram uma minuciosa busca em sua casa, convencidas de ali encontrar propaganda, ou armas; pelos vistos, os marinheiros nada encontraram, a não ser um velho revólver; retiraram, mas passadas 24 horas, por denúncia, foram prendê-lo e levaram-no sob prisão para Valença, no Auto Melgaço, ficando à disposição do comando militar. Ficou detido durante quinze dias, mas foi libertado. Os castrejos, duma maneira geral, regozijaram-se com a sua libertação. // No Correio de Melgaço n.º 33, de 19/1/1913 lemos: «Por ordem da autoridade administrativa foi mandada encerrar a igreja paroquial da freguesia de Prado, sendo entregue a chave aos Srs. Augusto César Gomes Pinheiro e Vitorino Domingues Salgado, devotados re… re… e mais que re… publicanos, membros da comissão paroquial, que exigiram ao respectivo pároco todos os vasos sagrados, inclusive a chave do sacrário, onde meteram as manápulas para procurarem o vaso. Não censuramos a autoridade administrativa, mas criminamos o cinismo dos dois entes que, rancorosamente, se intrometem em atribuições que … lhes não pertencem.» // No Correio de Melgaço n.º 34, de 26/1/1913, a administração do concelho chama a atenção do jornal: «Informa-nos a digna autoridade administrativa que a igreja de Prado não está fechada, motivo por que rectificamos a local com a epígrafe acima publicada em o último número do nosso jornal.» Afinal, fecharam ou não a igreja!? // No Correio de Melgaço n.º 35, de 2/2/1913, lê-se: «Participei ao Sr. Arcebispo, além de outros factos, que me fecharam violentamente a igreja paroquial – e cala-se; que me tiraram todos os vasos sagrados – e cala-se; que me extorquiram a chave do sacrário – e cala-se; que um membro da comissão paroquial teve o atrevimento diabólico de abrir o sacrário, poluindo aquele lugar, privativo recolhimento do S.S. Sacramento e, portanto, interdizendo todo o edifício – e cala-se; que um padre, tendo pleno conhecimento destes factos, foi no dia seguinte ali celebrar a missa – e cala-se. Não percebo! Não sei se esta falta de percepção será devida ao respeito que conservo ao meu superior, mas hei-de estudar o assunto, para ver se percebo, porque não percebo. // Prado, 29/1/1913. O Reitor, FAG.» // No Correio de Melgaço n.º 36, de 9/2/1913, vem publicado outro arrazoado seu: «Desejando – apesar do abandono – fazer inteira justiça a S. Ex.ª Reverendíssima, estudando o assunto, concluí o seguinte: o Sr. Arcebispo não se calou, porque para se calar era preciso ter conhecimento do que lhe participei; não, ignora tudo o que se passa no seu vasto arcebispado, e tiro esta consequência de uma resposta dada, em Braga, ao Sr. Prior de Paderne, deste concelho. Chegamos a tal tempo! Continuando, direi alguma coisa ao Sr. Núncio e ao Sr. Ministro das Finanças, apresentando documentos. // Prado, 7/2/1913. O Reitor, FAG.» // A seguir atira-se a um seu colega: «Triste posição a de quem não tem defesa e vem para a Lamparina (luz da ribalta, a público), sem a isso ser chamado. Quanto mais se manifesta, mais mostra o que é. Desta vez evidencia-se um bom discípulo de Lutero, pois este ensinou a fé em Jesus Cristo e blasfemou da mãe, a S.S. Virgem. Tu constitues-te defensor oficioso do Sr. Arcebispo, sem que alguém o ofenda, e calcas aos pés os documentos Pontifícios: “Apostolicae Sedis”, que impõe excomunhão reservada a quem usurpar jurisdição eclesiástica, a “Jam Dudum” (tu sabes porquê) e o Concílio Tridentino, que foi durante séculos lei desta nação. Infeliz, olha para a tua vida pública, no conceito em que és tido – nem te confiam as bulas, e quando se dá o caso de um casamento, que algum nubente te pertença, prescindem em Braga dos teus documentos. Mais, a gente sensata não quer comunicar contigo “in Divinis” – como o prova um documento em meu poder. És um homem de juízo… infeliz, quem te chamou? // Prado, 15/2/1913. O Reitor, FAG.» (CM 37, de 16/2/1913). // Mas não se quedou por aqui! Moveu uma acão a Vitorino de Jesus Salgado por injúria e difamação. O réu foi condenado, a 20/2/1913, em 15 dias de prisão correcional e 15 dias de multa, ficando a pena suspensa por dois anos, custas e selos do processo. // O seu cunhado, Jerónimo Barros, também veio a terreiro defendê-lo. // No Correio de Melgaço n.º 64, de 31/8/1913, pode-se ler outro artigo dele: «Até que justiça foi feita. O Ex.mo e Rev.mo Sr. Vigário Capitular, em portaria de 8 do corrente, ordenou que fosse estranhado aos párocos da Vila de Melgaço (Manuel José Domingues – 1875-1952) e Cristóval (…) terem – sem autorização minhaexercido nesta freguesia actos paroquiais, e como castigo lhes foi imposta a pena de suspensão das suas ordens, dentro dos limites da mesma freguesia. Prado, 25/8/1913. O reitor, FAG.» // Em 1914 publica no Correio de Melgaço: «Não assisti a uma célebre sessão da Câmara Municipal de Melgaço, mas pelo relato dos jornais vi o seguinte: um senhor vereador mostrou que é egoísta do dinheiro, porque tendo ele muito (que Deus lho conserve) não leva a bem que os professores deste concelho exijam uns magros centavos, que justamente lhes pertencem, e faz propostas que, bem traduzidas, são contra a instrução, porque sendo egoísta e entendendo que a ignorância não cabe toda na alma dele, quer que se estenda aos filhos dos munícipes, que lhes confiaram a cadeira onde se senta! Outro ponto dessa sessão, sendo companheiros deste vereador e achando-se na mesma sessão, dois irmãos de professores (Lobato e Azevedo), estes ficaram calados! Conclusão: quem não defende os seus parentes tão próximos, menos é competente para defender os interesses do município. Prado, 29/1/1914.» // No Correio de Melgaço n.º 91, de 15/3/1914, publica, na sua Secção Livre, uns apontamentos assaz hilariantes, acerca de um eventual cruzamento de raça entre castrejos e russos, ou noruegueses! Para evitar a epidemia, argumentava ele. Os seus conterrâneos, casando entre si, tornavam-se fracos, logo, a solução seria essa! Não falou na higiene, e aí é que residia todo o mal. Gado e pessoas viviam em comum, os corpos raram vezes viam a água e o sabão, as roupas eram lavadas raramente! A alimentação, devido ao isolamento, não era diversificada, comiam muita carne de porco, enfim, tudo contribuía para a fragilização dos seres. (Acerca dele ver também “Padre Júlio Vaz apresenta Mário”, p.p. 246-247).               

Nota: retirei desta microbiografia alguns dados pessoais a fim de não ferir suscetibilidades.

     /// (*) Noutro sítio diz-se que ele sucumbiu a 3/2/1923, em Prado (ver NM 166, de 25/9/1932).      

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