quarta-feira, 1 de abril de 2015

A MANTA


O pobre velho, amparado p’lo filho,
Caminhava rumo à feroz montanha;
Com passo de formiga, velha aranha,
Percorre, com temor, o gasto trilho.

Nos seus olhos bailava estranho brilho,
Seu peito ardia em incontida sanha;
E, de repente, os dentes arreganha,
Com violência destrói o espartilho.

Vira-se para quem a vida dera,
Como numa salomónica sentença:
- «Toma isto, vais um dia precisar.

Também acabará a primavera
Pra ti e para os teus.» E sem detença
A manta em duas partes vai rasgar.


     Este meu soneto tem por base uma lenda. Dizia-se que antigamente, num certo país, os filhos levavam os pais velhos para a montanha para ali morrerem. Ficavam embrulhados numa manta, a fim de suportarem o frio durante alguns dias. Este idoso deu ao filho metade da manta, pois receava que quando chegasse a vez dele subir à montanha não houvesse nenhuma para o aquecer nos derradeiros momentos da sua vida

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