terça-feira, 28 de abril de 2015

MELGAÇO E AS INVASÕES FRANCESAS

                                       Por Augusto César Esteves

(continuação)...


    O curioso, porém, pode ler ainda estas linhagens na pedra por ele mandada colocar no portão da sua quinta de Lapela. Em 14/3/1703 comprou a metade do Moinho chamado de «Ponte Pedrinha.» Mas pouco depois, um ou dois meses andados tão-somente, Frei Domingos Gomes de Abreu foi enviado pelo Conde de Atalaia, Governador das Armas da Província do Minho, ao reino da Galiza «a certo negócio» do serviço de el-rei. // Por razões hoje ignoradas, mas que é legítimo filiar em questões da Guerra da Sucessão ao trono de Espanha, na qual el-rei D. Pedro II se tinha envolvido em 1701, o Governador de Vigo prendeu este mensageiro do Conde de Atalaia em sua casa e durante cinco dias o reteve nas minas do Castelo do Crasto; dali passou-o para o Castelo de Santo António, na Corunha, e por último para o Cárcere Real, a fim de lhe «darem questão de tormento».
          Foi nestes aflitivos transes que o familiar do Santo Ofício, lembrando-se dos inumeráveis milagres realizados naquelas redondezas por Nossa Senhora da Pastoriza, a excelsa titular duma pequena paróquia da província de Lugo, a invocou e lhe pediu amparo, prometendo levantar-lhe uma capela na sua terra natal, no vistoso sítio do Coto da Pedreira, se a Senhora da Pastoriza permitisse o seu regresso a casa dentro de um ano. E como passados cinco meses e cinco dias foi degredado para fora dos limites de Espanha por decreto especial, nunca mais esqueceu o seu voto e, se mais cedo o não cumpriu, foi por seu espírito andar ocupado das operações da Guerra da Sucessão, na altura desenroladas neste termo.
          Com efeito, Frei Domingos Gomes de Abreu, português de lei, patriota exaltado, militar brioso e aguerrido, nunca permitiu aos galegos ofenderem-nos impunemente e, por isso, durante esta guerra permaneceu sempre de ouvido à escuta, sempre pronto para fazer pagar caro aos vizinhos da fronteira os tormentos que lhe infligiram. E caro foram eles pagos uma e muitas vezes. // Certo dia, a 10/5/1704, quando ouviu nesta Vila o primeiro rebate sineiro, que dava os galegos a pretenderem lançar ponte junto da Barca Nova, no vizinho termo de Valadares, não perdeu tempo a reunir a sua companhia; armou-se logo, montou a cavalo, arrastou consigo os criados da casa e foi reconhecer o poder do inimigo. Animando todo o povo e especialmente os de Valadares, que estavam presentes ao acto mavórtico carecidos de energia belicosa, levou-os à defesa intransigente da passagem, resultando desta sua atitude o inimigo tomar e queimar tão-somente algumas barcas postadas da sua banda. // No ano seguinte Frei Domingos requereu para ser provido no posto de Sargento-Mor das Ordenanças desta vila e termo, que não tinha ordenado ou emolumento algum, mas só o honorífico, como alegou, mas foi indeferida a pretensão; não, decerto, por carência dos necessários requisitos, mas, talvez, por ter requerido findo o prazo marcado nos editais afixados a anunciar a vaga.
          Após tudo isto, a 20/5/1706, quando o inimigo intentou passar a esta província de Entre-Douro e Minho, D. Sancho de Faro e Sousa, Mestre de Campo General e Comandante das Armas da Província, ordenou ao Capitão-Mor deste termo, Pedro de Sousa Gama, mandasse duas companhias do seu distrito guarnecer o posto de Cavaleiros e ali abrir as trincheiras de antemão delineadas para impedirem o passo ao inimigo. Para este serviço uma das companhias escolhidas por este militar foi a do Capitão Frei Domingos Gomes de Abreu, que nesse tempo escavou cento e cinquenta braças de trincheiras e noutra altura mais sessenta braças e o comandante apenas foi rendido quando foi necessário acudir a outros pontos.
          Em 1707 as suas energias não foram dadas exclusivamente ao serviço militar. Em 3 de Março tomou posse do cargo de vereador da Câmara e nele continuou durante alguns anos, tendo-se evidenciado numa questão com o abade da Vila, reverendo João Dias dos Santos, retratado algures em letra do Padre Bernardo de Araújo, como o que «folga bem de meter-se aonde o não chamam.» // (continua)...

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