quinta-feira, 30 de abril de 2015

CANTIGAS AO DESAFIO


Mote

«Cantigas ao desafio
Comigo ninguém as cante;
Eu tenho quem mas ensine,
Meu amor é estudante

*

Desenvolvimento

Teu amor é estudante
O meu já é sô doutor;
Cantigas que ele me ensine
Têm a marca do rigor.

*

Gostas muito de cantar
Mas não cantas nada bem;
Cantar é um dom que nasce
No ventre de nossa mãe.

*

Só porque tu cantas mal
Julgas os outros por ti;
Eu canto qual rouxinol,
Na natureza aprendi.

*

A vaidade não te falta
E orgulho, nem falar;
Julgas-te brilhante estrela,
Linda santinha de altar.

*

Não sou brilhante estrela,
Nem um pedaço do céu;
Sou uma humilde mocinha
Que para a canção nasceu.

*

Se cantasses, como eu canto,
Com notas finas e aladas;
Julgar-te-ias princesa,
Ou a rainha das fadas.

*

Quando te ouço cantar
Sinto desejos de rir;
A boca boceja tédios,
Não sei como resistir.

*

Então eu, quando te ouço,
Penso logo em fugir;
Por vergonha não o faço,
Tenho mesmo que te ouvir.

*

Eu prefiro ouvir o galo,
O pobre gato a miar;
Até o cuco no mato,
Lobos no monte a uivar.

*

Eu prefiro ouvir trovões,
A chuva forte a cair;
A acha a arder na lareira,
O comboio a partir.

*

Marco Paulo e Abrunhosa
À tua beira, são bons;
Calvário e Quim Barreiros,
Rebuçadinhos, bombons.

*

Quem desdenha quer comprar,
Dizes mal, é porque gostas;
Se não gostasses de mim
Viravas-me logo as costas.

*

Presunção e água benta
Cada qual toma a que quer;
Tu és uma convencida,
Tens muito para aprender.

*

Deixemos isso pra lá
E dêmos um grande abraço;
Cantamos ambas mui bem,
Com nossa voz de melaço.

*

Disseste pura verdade,
Cantamos ambas mui bem;
Somos caninhas rachadas,
Uísque de Sacavém.

Em coro:

Temos maviosa voz
Pra cantar ao desafio;
Com mil peixes a escutar,
Movendo-se em rodopio.

Joaquim Rocha

Sem comentários:

Enviar um comentário