FERREIRA DA SILVA (...)
Por Joaquim A. Rocha
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1542, de 24/1/1965: «PISTA DA MORTE. // Já em tempos
abordamos o problema do excesso de velocidade dos veículos motorizados que
utilizam a faixa de rodagem da Rua do Rio do Porto como autêntica pista de
corridas e de provas desportivas as quais, cedo ou tarde, terminarão por
gravíssimos desastres de viação e, possivelmente, com a morte dos atropelados. Não
há dúvida de que a Rua do Rio do Porto, sobretudo no troço que vai da pensão do
senhor Manuel Alves até à estrada nacional, depois de um forte declive entra
numa curva perigosa, sem visibilidade e estreita, que se presta aos mais
inesperados acidentes e não permite velocidade superior àquela que o Código das
Estradas estabelece para os veículos em trânsito dentro das povoações. Os
veículos que esta artéria utilizam: caminhões, caminhetas, autos ligeiros,
motos, “cociolos” (lambretas), bicicletas, etc., entram na rampa com grande
velocidade que a inclinação da própria ladeira aumenta, parecendo levar tudo na
sua frente, sem o mínimo cuidado e respeito pela segurança alheia, de peões e
dos que caminham em sentido contrário. Sucede até que os autores destas
criminosas e loucas correrias, não raras vezes, encontram estacionados no
começo da curva, junto à oficina de ferreiro que ali está estabelecida, um ou
mais veículos que vedam ou estreitam, demasiadamente, a faixa de rodagem,
tornando perigosíssimas as manobras da ultrapassagem. Só por estranho acaso, ou
pela vigilância e proteção de Deus, não se registaram ainda desastres graves,
tanto resultantes de colisão entre os veículos mecanizados como de
atropelamento de peões, sobretudo das crianças que normalmente passam na
referida rua a caminho das suas casas, vindas da escola, ou de qualquer recado
ou missão de que as mães as encarregam. Porém, Deus não está sempre atrás da
porta a velar pela segurança alheia e o acaso, é… o acaso e, por isso mesmo,
meramente acidental. Temos a impressão, até mesmo o pressentimento, de que alguns
acontecimentos lutuosos estarão para suceder, agora que o trânsito aumentou
desmedidamente com os carros ligeiros guiados por rapazes nossos conterrâneos
regressados de França, com deficiente prática de condução, e por furgonetes e
outros veículos de feirantes e proprietários inexperientes, com cartas de
fresca data. Não é por injustificado receio que damos este alarme, mas com a
plena convicção de que se torna urgente remediar os perigos apontados, adotando
as medidas preventivas e repressivas legais que estão em uso nas outras
povoações, com bons ou, pelo menos, satisfatórios resultados. À Câmara e à
G.N.R. compete aprovar e pôr em execução as necessárias providências. À
primeira, aprovando a indispensável postura municipal sobre a sinalização das
vias públicas em referência, com caráter permanente, por forma bem visível e a
distância que permita evitar qualquer acidente e no qual se indique o sentido
do percurso e a velocidade máxima, de harmonia com a intensidade do tráfego e
do que dispõe sobre o assunto o Código da Estrada. À segunda, é das suas
atribuições e competência a fiscalização da referida postura e o levantamento
dos autos para punição dos infratores. Para este assunto que reputamos
urgentíssimo resolver, chamamos a boa atenção do senhor Presidente da Câmara e
antecipadamente lhe prestamos os nossos agradecimentos em nome da população da
Rua do Rio do Porto e dos melgacenses que normalmente ou acidentalmente por ela
transitam. É preciso [e absolutamente indispensável], que aquela artéria deixe
de ser pista de corridas de velocidade, de correrias de loucos sem noção de
responsabilidades, de exibições espetaculares e estúpidas, de incapazes armados
em ases do volante e, talvez, em pista da morte para quem por ali passar pacificamente
a tratar da sua vida.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1543,
de 31/1/1965: «MORTE DO GIGANTE. (Winston Churchill). // NOTA: em virtude de
este artigo, embora interessante, não tratar de assuntos do concelho de
Melgaço, resolvi não o inserir neste livro.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1544, de 7/2/1965: «SUBORDINAÇÃO OU
INDEPENDÊNCIA?! // O egoísmo dos responsáveis pelas atividades comerciais de
Melgaço, a sua desconfiança da vida coletiva, e o horror à disciplina, à
unidade e à orientação comum, criaram no mais importante setor da vida
económica uma situação subordinada e, na verdade, muito estranha e deprimente,
à qual julgamos que é tempo de pôr termo. Não sabemos como, nem porquê,
compreendeu-se no âmbito do Grémio do Comércio do vizinho concelho de Monção a
disciplina das atividades comerciais do nosso concelho, isto, ao que parece, em
virtude dos comerciantes não se terem agrupado e requerido, como seria lógico,
a constituição do seu Grémio concelhio. Em resultado desta desprestigiante
subordinação o setor comercial do nosso concelho foi obrigatoriamente agremiado
no Grémio do Comércio de Monção que processa e cobra os respetivos recibos em
nome do “Grémio do Comércio de Monção e Melgaço”, em quanto que a placa
indicativa da respetiva sede social menciona, ostensivamente, “Grémio do
Comércio de Monção”. Quer dizer: para receber as quotas dos associados, ou
agremiados, o grémio é de ambos os concelhos, em quanto que para assinalar o
edifício da sede social é apenas e tão-somente dos nossos vizinhos! Está isto
certo? Parece que sim, visto que Melgaço se manteve à margem da organização
corporativa do seu comércio e se deixou integrar, sem protesto ou reparo, no
Grémio de Monção! Nos termos do decreto-lei n.º 24715, de 3/12/1934, que
institui o regime jurídico da organização facultativa das atividades
comerciais, a organização corporativa destas, quando não se efetue ao abrigo do
disposto no decreto-lei n.º 13049 (?), de 23/9/1933, pode realizar-se por
iniciativa dos interessados que exerçam a sua atividade no mesmo ramo de
comércio, desde que se agrupem em termos de reunir, pelo menos, 30% (?) do
número total das formas existentes no seu concelho e representem 50% pelo menos
do valor médio das transações dos respetivos ramos na área concelhia. A constituição
do Grémio é requerida a S. Ex.ª o Ministro das Corporações por intermédio do
Instituto Nacional do Trabalho e Previdência Social, usará a denominação de
Grémio Concelhio do ramo respetivo e o valor médio das transações será
calculado pelos quantitativos fixados nas Secções de Finanças para fins de
tributação fiscal nos últimos dois anos. A sede do Grémio será instalada na
sede do concelho em edifício arrendado para tal fim, que reúna as necessárias
condições. Estes grémios são considerados como elementos primários da
Organização Corporativa da Nação, instituída no Estatuto do Trabalho Nacional e
na Constituição Política da Nação, gozarão de personalidade jurídica,
representam todos os elementos do mesmo ramo de comércio, estejam ou não
inscritos, ajustam os contratos coletivos de trabalho, tutelam os interesses
que representam e no que respeita a ação técnica e económica, devem observar a
orientação traçada pelo Governo ou dos vários Ministérios aos quais incumbe
ordenar superiormente as atividades económicas. Os estatutos, depois de
aprovados, serão publicados no Boletim do Instituto Nacional do Trabalho e
conterão, obrigatoriamente, as disposições estabelecidas no cap. IV do art.º
14.º do decreto-lei n.º 24715, já citado, sendo a direção eleita em Assembleia
Geral dos agremiados eleitores até fins de Janeiro do ano em que a eleição se
deva realizar. Temos para nós por indispensável e urgente terminar com mais
esta anómala subordinação de Melgaço ao concelho de Monção, por a considerarmos
incongruente, desprestigiante e fora de toda a razão. Já que os melgacenses tem
por norma, ou não tratar ou tratar tardiamente dos assuntos do seu interesse
individual ou concelhio, os elementos constitutivos do setor comercial, como
sócios fundadores, em número e importância económica legalmente suficiente,
acompanhados dos meios de prova necessários e de dois exemplares dos estatutos,
em papel selado, deveriam pedir a constituição do seu Grémio e adquirir a
independência que a importância, o progresso e o valor do seu comércio
justificam. Ao tratarmos deste magno problema de indiscutível interesse local
mantemo-nos, como sempre, na primeira fila dos defensores de tudo quanto é de
direito e legitimamente interessa ao concelho, e não deixaremos sem reparo e
sem protesto esta triste sina da falta de bairrismo pelo que é nosso que conduz
em linha reta aos interesses e prestígio dos nossos previdentes vizinhos.
Diga-se de passagem que Monção não tem culpa: a culpa, a verdadeira
responsabilidade, cabe aos melgacenses.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1545, de 17/2/1965: «36.º ANIVERSÁRIO.
// «Hoje, 17 de Fevereiro, o Notícias de Melgaço celebra o seu trigésimo sexto
aniversário. É com grande júbilo que saudamos a nova alvorada e celebramos,
festivamente, mais um ano de existência. Na vida de um jornal três dúzias de
anos pouco ou nada representam, porém, se fizermos um balanço consciencioso à
sua atuação bairrista e à sua ação doutrinal nesse período, encontramos um
longo percurso de total devoção por tudo quanto interessa e legitimamente
pertence a Melgaço e merece ser destacado das virtudes dos melgacenses; no
campo doutrinal marcamos uma posição firme e digna, fiel aos princípios que
perfilhamos, dentro do conceito inalterável da verdade, do idealismo e da razão
pura que nos move. O nosso jornal, como expressão concreta dos objetivos
patrióticos: regionais, nacionalistas, morais, sociais e democráticos, que se
propôs defender, tem-se revelado um órgão sério e verdadeiramente integrado nos
puros moldes da opinião livre do pensamento alheio que aceitamos e respeitamos
sinceramente. Temo-nos esforçado por demonstrar os mais fervorosos sentimentos
de amizade, de correção e de tolerância, de lealdade e de solidariedade, com
aqueles que nos precederam e lançaram as bases e os fundamentos dos altos
ideais de paz, de concórdia e de justiça entre os melgacenses. Neste dia
jubiloso de aniversário sentimos a maior alegria em exprimir ardentes votos
pelas prosperidades de todos quantos têm prestado e continuam a prestar a
Melgaço, às suas belezas panorâmicas, aos seus monumentos, à sua riqueza
económica, ao seu engrandecimento moral e turístico, e aos seus ilustres
antepassados, a homenagem do seu culto e da sua respeitosa lembrança. Vão
passados três anos que nesta segunda fase mantemos em nossas mãos o bastão do
mando e a responsabilidade da publicação deste semanário. É natural, é quase
certo que a nossa orientação não satisfaça e, antes pelo contrário, provoque a
discordância de vários e a divergência de muitos. A verdade é que, em plena
consciência, temos procurado agradar aos que, como nós, se sentem aquecidos por
igual chama de amor bairrista e nos têm dispensado algum incitamento nesta
campanha meritória de defender o que é nosso e de engrandecer o que, sendo
igualmente nosso, a Melgaço pertence e dá lustre. A este nosso 36.º aniversário
outros se seguirão, sob a nossa orientação ou sob a orientação de outrem; em
qualquer dos casos, certos estamos, com o mesmo ou idêntico fervor e com
devoção afim, em prol da grandeza e da defesa da terra querida onde nascemos ou
onde nos prendem fortes elos das forças do coração. A todos os nossos
assinantes, leitores e colaboradores, e em especial aos melgacenses que vivem
dentro e fora das coordenadas geográficas concelhias, dirigimos com a maior
euforia as nossas homenagens de saudação e os nossos melhores desejos de em
sucessivos aniversários, nesta mesma tribuna, lhes apetecermos todas as
venturas e as melhores prosperidades. Para os nossos colegas da imprensa,
diária ou hebdomadária, a quem tanto devemos, em exemplo e em imerecidas
referências; para todos quantos nos jornais trabalham e lhes dão o seu valioso
e inteligente esforço em ordem à sua regular e brilhante publicação, vai também
o nosso abraço agradecido de reconhecimento e afetuosa saudação. Diremos, para
terminar, que na vida jornalística não reconhecemos inimigos, e jamais tratamos
os adversários de ideias menos leais ou corretamente; defendemos e pugnamos
pelas ideias sem nos preocuparmos com os seus expositores, lutamos pelos seus
aspetos doutrinais e sua aplicação nos campos da utilidade humana, pela sua
adaptação às nossas instituições e à conformidade com o nosso pensamento e
inteligência. A estrutura doutrinal afere-se pela utilidade, pela verdade e
pela justiça. Pois dentro da verdade de cada um, neste dia do aniversário, o
Notícias de Melgaço saúda todos os seus colegas e aperta-os fortemente num leal
e grande abraço amigo.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1546, de 28/2/1965: «FESTAS DO
CONCELHO. // Ainda estão profundamente impressas na nossa lembrança as
impressões que nos ficaram do brilhantismo e da ordem irrepreensível que
caraterizaram as festas celebradas no ano passado em honra de Nossa Senhora da
Orada, veneranda padroeira de Melgaço. A inconstância do tempo, demasiadamente
frio, ventoso e húmido, prejudicou a execução do programa organizado pela
esforçada Comissão que meteu ombros à pesada tarefa de levar a bom termo os
festejos da Ascensão, cujas tradições e devoções são notórias e determinaram a
escolha do dia santificado para feriado do concelho. E pena foi que o mau tempo
não conseguisse dar o justo relevo aos números do programa mais atraentes,
especialmente às iluminações, concertos musicais e fogo-de-artifício, que o
povo das freguesias não chegou a apreciar devidamente por a isso se opor a
precipitação de chuvas intermitentes e do vento frio que enregelava os ossos
dos assistentes. A recolha prematura dos romeiros rurais a suas casas,
afugentados pela rigorosa invernia desses dias de Maio, que em vez de se
apresentar florido e de cantar hinos à primavera se vestiu de péssimas
roupagens a dar maior relevo ao seu mau cariz, prejudicou as festas mas, por
outro lado, deu realce aos recursos dos membros da comissão de festas que tudo
fizeram para bem cumprir e dar beleza aos números programados. Dizer que a
comissão das festas para este ano é a mesma do ano passado, refrescada por mais
alguns elementos de grande valor e dinamismo, é assegurar a certeza de que
vamos assistir à execução de um programa mais brilhante e imponente, para cuja
grandiosidade todos devemos contribuir. Neste ano, em razão do calendário, as
festas concelhias realizar-se-ão nos dias 27, 28, 29 e 30 de Maio, isto é,
terão início numa quinta-feira e encerrar-se-ão no domingo seguinte. Esta
resolução permitirá a separação dos atos religiosos propriamente ditos,
procissão e festas litúrgicas nos templos da capela da Orada e igreja matriz,
das festas profanas: certames musicais, iluminações, arraial, concursos,
exposições, fogos-de- artifício, etc. // Temos de confiar, inteiramente, no
grupo de ativos melgacenses que se propõem realizar esta festa, continuando as
suas largas e admiráveis tradições, dar-lhes o necessário apoio moral e
financeiro e auxilia-los a resolver as suas dificuldades, que não serão poucas.
O rendimento de alguns bailaricos que tiveram a sua realização no edifício dos
bombeiros é um parco auxílio para o muito que se torna necessário, cumprindo ao
comércio local, que é quem mais lucra, dar a maior contribuição. É evidente que
o município, como é de uso, não deixará de ser generoso, votando uma verba
substancial em ordem a dar às festas um relevo e importância capazes de atrair
à nossa vila o maior número possível de nacionais e estrangeiros, pedindo-se
para estes a abertura das fronteiras de Monção a São Gregório. Entendemos que
têm a maior oportunidade as recomendações sugeridas no n.º 1511, de 10 de Maio
do ano passado, sob o título “No Rescaldo das Festas”, sobre a criação e
aplicação de vinhetas alegóricas das festas, a colar nas faturas das vendas a
prazo e nas embalagens das vendas a dinheiro, bem como a organização de
tômbolas e quermesses, agora que os “franceses” regressaram a França e os
bailes pouco rendimento poderão dar. Lembramos ainda à Comissão a necessidade
imperiosa de interessar nas nossas festas a radiodifusão de notícias através
dos emissores de Vigo e da nossa televisão, de modo a que se torne efetiva uma
propaganda que reputamos indispensável. Também achamos oportuno fazer a
imediata ligação ao Grémio da Lavoura, quanto à possível organização do
concurso pecuário e de uma exposição agrícola de instrumentos e ferramentas,
pelas casas especializadas na sua construção. Por agora é o que se nos oferece
dizer, mas não nos despedimos e reservamos para melhor oportunidade outras
sugestões e soluções que nos parecem viáveis e contribuam para o bom êxito das
festas.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1547, de 7/3/1965: «EXPORTAÇÃO DE
VINHO. // «Transcrito de um jornal lemos uma correspondência de Aveiro que no
encheu de regozijo e, de certo modo, nos alimenta de esperança quanto à
solução, há tanto tempo esperada, da venda dos nossos vinhos de pasto. O caso,
de há muito tempo preconizado, refere-se à exportação dos vinhos de consumo
para o ultramar português em boas condições de acondicionamento e de preço,
desonerado do custo do vasilhame e do respetivo transporte. A venda dos nossos
vinhos nas províncias ultramarinas tem sido largamente tratada e ventilada por
técnicos autorizados e estudiosos que, com justa razão e esclarecida visão do
problema, consideram o mercado do ultramar como natural escoamento dos excessos
de produção vinícola metropolitana. Bastará atender ao elevado número de
portugueses que em sucessivas expedições se encontram naquelas distantes
províncias em missão de soberania e em tenaz e heroica defesa daquilo que é
nosso e nos cumpre conservar como sagrado património legado e conquistado com o
sangue dos nossos maiores. Todos rapazes oriundos das regiões agrícolas, na sua
maior parte, habituados a uma ração diária de vinho e que no saboroso e
fortificante líquido encontram ânimo e consolação, tornando-os mais aptos a
minorar as saudades da família e a enche-los de coragem e decisão para repelir
as tentativas de infiltração de terroristas e de alguns maus portugueses a
soldo da ambição estrangeira. Pois estes rapazes, portugueses de lei, só por
si, seriam capazes de resolver a crise vinícola que nos assoberba, em matéria
de escoamento e de preço acessível do excesso da nossa produção, com a vantagem
de simultaneamente auxiliar os seus próprios parentes que da terra vivem e nela
mourejam de sol a sol, compensando melhor o seu valiosíssimo contributo à
economia doméstica e nacional. Sobre este aspeto do problema cremos que ninguém
tem dúvidas e assim como a nação vive parcialmente dos invisíveis das
diferenças cambiais dos salários dos nossos emigrantes, mais fartamente viveria
com o aumento resultante do retorno dos valores em moeda e em produtos de
exportação, dos equivalentes do vinho consumido e pela metrópole exportados.
Temos como verdade aceite que a economia nacional e consequentemente o
bem-estar e a propriedade dos familiares dos nossos soldados e dos nossos
colonos, muito beneficiariam com a permuta dos géneros metropolitanos pelos
géneros ultramarinos de qualquer espécie. Porém, por que não se tem agido
nestes termos?! É que a exportação dos vinhos precisa de ser desonerada de
certas despesas que encarecem, quando não tornam proibitivo, o produto no local
do consumo. Por isso nos encheu de contentamento a notícia de que foi feito o
primeiro carregamento de vinho a granel pelo porto de Aveiro, a nossa Veneza,
para o nosso ultramar, em navios tanques, desta vez num italiano, no “LENEO”,
que levou 543.000 litros (mil e oitenta e seis pipas) para Luanda, onde foram
construídas e já existem instalações com capacidade bastante para o receber. E
facto significativo: mercê das instalações que foram inauguradas na ilha da Mó
do Meio, frente a São Jacinto, o carregamento fez-se no tempo recorde de 15
horas! Deve-se este importante melhoramento, de extraordinária projeção
nacional, à Junta Autónoma do Porto de Aveiro, que tem em vista e espera
exportar tanto para as nossas províncias ultramarinas como para o estrangeiro,
dois milhões de litros (4.000 pipas) mensalmente. Parece que este acertado e
oportuno empreendimento está em vias de grande desenvolvimento visto que há
alguns pedidos de registo de licença para o estabelecimento de idênticas
instalações de depósito e enchimento a granel junto dos cais de embarque
convenientemente escolhidos. O escoamento dos nossos vinhos de pasto está
condicionado apenas a instalações próprias nos locais de partida e de chegada,
previamente estudados e escolhidos e de navios tanques para o transporte de
vinhos, pois que os mercados - tanto nossos como internacionais - estão
constituídos e preparados para receber toda a produção metropolitana,
combatendo, e até evitando, o aviltamento de preços pagos aos produtores. Se
economicamente há só que considerar o trinómio: produção, qualidade, mercado,
por que não resolvemos o mais difícil – transporte e instalações portuárias? //
F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1548,
de 14/3/1965: «LIXEIRA MUNICIPAL. // Já em tempos abordamos o problema da
Câmara instalar urgentemente uma lixeira municipal em ordem a evitar que a
população da vila continue a botar os despejos para locais inadequados, que
causam nojo a quem por eles passa e constituem focos de infeção suscetíveis de
prejudicar a saúde pública. Uma lixeira com capacidade suficiente para receber
e tratar os lixos e despejos da vila, não só representaria uma obra de sanidade
e de necessidade urbana como criaria uma receita municipal resultante da venda
dos adubos nela – lixeira – curtidos, e que pagaria o custo dessa indispensável
construção. A população melgacense utiliza os locais menos indicados e
reputados impróprios para se desfazerem dos detritos e restos da sua faina
doméstica ou de terras, lixos, varredoras, e coisas inúteis das construções e
outras atividades. Assim, tudo lhes serve para vazadouro: as boeiras ou bocas
dos passeios das calçadas, as tolas das águas de regadio, as canalizações das
águas pluviais, os terrenos marginais dos muros de suporte da avenida, o regato
a jusante da ponte do Rio do Porto, e até os recantos mais esconsos e esquinas
dos arruamentos, não falando no terreno da malfadada e antiga escola Conde de
Ferreira, hoje propriedade da CGDCP. Por toda a parte, montões de lixo, objetos
inúteis e coisas nojentas, oferecem um espetáculo degradante que nos envergonha
e produz náuseas a quem nos visita e a todos os que adquiriram hábitos de
limpeza e de higiene. Isto vai de mal a pior e exige providências imediatas.
Porém, o caso não se resolve com a proibição de efetuar despejos neste ou
naquele local, torna-se preciso dar à população as indispensáveis facilidades
de os remover para sítio e instalação determinada; e esse sítio e essa
instalação só poderá fixar-se construindo uma lixeira municipal onde os
despejos seriam obrigatoriamente efetuados. O que está a passar-se brada aos
céus e as autoridades administrativas e de saúde têm obrigação de intervir enérgica
e decisivamente. Nesta época do ano entram em período genésico toda a fauna de
insetos transmissores das mais variadas e perigosas doenças, o que virá
aumentar a miséria derivada da falta ou insuficiência de chuvas nas quadras
próprias. Temos justificados receios de que após o surto de gripe que atacou a
maior parte da população outros males tenhamos de combater, porventura de
caráter epidémico, gerados nos monturos acumulados por toda a parte, cujos
perigos não precisamos de exagerar. Em nome da saúde pública, da decência e do
bom nome do nosso burgo aqui deixamos clamoroso brado de protesto e de aviso
contra este deplorável estado de desleixo e de porcaria, pelo qual teremos de
responsabilizar aqueles a quem compete oficialmente obviar e remediar os
gravíssimos inconvenientes e perigos apontados. Diariamente assistimos ao
abusivo costume de fazer do regato uma das lixeiras acidentais dos habitantes
da parte baixa da vila, no qual cresce desmedidamente a montanha dos detritos
ali despejados e que a reduzida corrente das águas não conseguiu e, já agora,
não conseguirá remover dos baixios da ponte do Rio do Porto. A fiscalização das
hidráulicas continuará cega e disposta a colaborar nesta enormidade vergonhosa
e uso ilegal do curso do regato como lixeira?! Para o facto chamamos a atenção
dos guarda-rios, aos quais o Estado confiou especial competência para impedir o
inqualificável abuso de tornar o regato uma montureira nauseabunda e impeditiva
do normal curso das respetivas águas. Quanto às outras abusivas lixeiras que
por toda a parte se encontram na vila, em particular à das antigas escolas
oficiais, à Câmara, autoridades policiais e sanitárias pertence providenciar. Ou
não teremos um gesto de decência e de amor pela terra, que ponha termo a esta
vergonha?» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1549,
de 28/3/1965: «Foi a enterrar na passada quarta-feira, 24 do corrente, no
cemitério de Campanhã, a saudosa Dona Maria do Nascimento da Silva Fernandes,
professora oficial jubilada, de 75 anos de idade, mãe extremosa de Vítor e
Carlos da Silva Fernandes, funcionários da Hidroelétrica do Cávado e chorada
irmã do nosso Diretor, senhor Ernesto Ferreira da Silva. A falecida era muito
apreciada pela sua extrema bondade e foi acompanhada à sua última morada, em
longa fila de automóveis, pela sua família e inúmeras pessoas de sua
convivência e amizade, constituindo o préstito uma triste manifestação de
pesar. Aos seus filhos, irmãos e cunhadas, em especial ao nosso querido
Diretor, apresentamos o nosso preito de sentida homenagem e fazemos votos para
que a falecida descanse na paz do Senhor. Na sua residência foram recebidos
muitos telegramas de condolências e profundo pesar pelo triste acontecimento.»
*
Pode
ler-se no Notícias de Melgaço n.º 1553, de 2/5/1965: «DIA DA MÃE. // NOTA: em
virtude deste artigo não estar relacionado com os assuntos do concelho de
Melgaço, não se publica aqui.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1554, de 9/5/1965: «OBRAS MUNICIPAIS.
// «Em execução do plano de fomento o nosso concelho foi dotado com valiosas
comparticipações por parte do Estado, para a realização de obras públicas de
certo relevo, em ordem a beneficiar a comodidade das populações rurais.
Continua a progredir com notável regularidade a execução de empreendimentos de
utilidade indiscutível à vida e utilidade do nosso povo e no esquema preambular
é posto em evidência o problema das vias de ligação e de comunicação entre as
freguesias rurais. Em conformidade com estudos e solicitações feitos pela nossa
Câmara que, neste capítulo, muito se tem esforçado pela brevidade na execução
de certas realizações tidas por inadiáveis e necessárias, o Governo já aprovou
importantes dotações destinadas a estradas e caminhos municipais, e pôs à
disposição do nosso município as verbas precisas para a construção imediata dos
seguintes trabalhos que serão entregues aos melhores proponentes, com base na
importância das respetivas licitações: a) construção da E. M. de Melgaço (E. N.
– 30) a Alcobaça (E. N – 202-3) por Fiães (7.ª fase), sua pavimentação na
extensão de mil metros e revestimento betuminoso na extensão de dois mil
quatrocentos e quarenta metros, sendo a base de licitação de 361.335$00; b)
construção do C. M. – 1140 da E. M. – 501 a Ervedal, por A-da-velha (1.ª fase),
terraplanagem e obras de arte correntes na extensão 3.400 metros, sendo a base
de licitação de 229.405$00; c) construção do C. M. entre a E. N. 202 (Pomares)
e o lugar de Cousso (3.ª fase) e pavimentação na extensão de 2.100 metros,
sendo a base de licitação de 272.280$00; d) arranjo e pavimentação do largo da
capela em São Gregório, sendo a base de licitação de 33.000$00. // Para já é
anunciado editalmente o concurso em carta fechada (uma para cada obra das acima
indicadas), a entregar pelo empreiteiro ou empreiteiros até às 12 horas do dia
4 de Junho próximo, as quais serão abertas e lidas em sessão de 5 do mesmo mês
e devidamente apreciadas, com reserva do direito de entrega pela Câmara
Municipal. Se os empreiteiros aceitarem o concurso dentro das respetivas bases
de licitação, e consequentemente arrematarem as obras anunciadas, dentro de um
prazo relativamente curto teremos aquelas comunicações em situação de bem
servirem os povos beneficiados. Os melhoramentos respeitantes às obras em
referência não ficam por ali pois que, por outro lado, a Hidroelétrica do
Coura, concessionária da distribuição de energia elétrica ao nosso concelho, já
remeteu à Direção Geral dos Serviços Elétricos os projetos de eletrificação das
freguesias de Penso e Alvaredo, tendo ainda em vias de conclusão o projeto da
eletrificação da freguesia de Paderne. Neste capítulo da eletrificação a Câmara
não se tem descuidado e, em consequência da realização deste importante
melhoramento, pediu com a maior urgência o levantamento dos projetos de
eletrificação das freguesias de Cristóval e Castro Laboreiro, obras estas a
serem comparticipadas e realizadas conjuntamente, o que constituirá um notável
empreendimento em ordem ao engrandecimento destas freguesias e das que ficam
situadas ao longo do percurso do traçado da respetiva linha de transporte.
Parece-nos, por isto, que as freguesias interessadas devem proceder, desde já,
ao relacionamento dos necessários donativos para oportunamente custearem a
distribuição em baixa tensão aos fogos nas mesmas existentes que pretendam a
utilização da energia elétrica em iluminação e força motriz. Finalmente, está a
ser tratado com a maior insistência o pedido de comparticipação destinado à
construção da E. M. de São Paio, indispensável à fácil ligação e acesso desta
rica e populosa freguesia. Registamos com o maior prazer estes melhoramentos
cuja importância não precisamos de encarecer e muito desejaríamos que
constituíssem o início de outra obras inadiáveis por nós apontadas e reclamadas
neste semanário, cuja realização traduz o justo anseio e pretensão de todos os
melgacenses. Não regatearemos louvores à Câmara pelo seu esforçado labor quanto
à insistente e firme reclamação de patrocínio das instâncias competentes para a
concretização das aspirações dos munícipes seus administrados, lembrando
novamente a construção dos edifícios da agência da CGDCP e a casa dos
magistrados. É preciso teimar e dispor de todas as influências para vencer.» //
F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1555, de 23/5/1965: «EXPLORAÇÃO
FERROVIÁRIA DA LINHA DO ALTO MINHO. // NOTA: em virtude de ao concelho de
Melgaço não ter chegado o comboio, apesar das várias tentativas, acho que este
artigo não se enquadraria neste livro.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1556, de 30/5/1965: «CULTO DA AMIZADE.
// NOTA: - tendo em conta que este artigo, escrito por Ferreira da Silva, apesar
da sua qualidade, se desvia dos temas relacionados com o concelho de Melgaço
não o incluo neste livro.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1557, de 6/6/1965: «FESTAS DE MELGAÇO.
// «Durante os últimos seis dias de Maio findo Melgaço viveu quase unicamente
na euforia das festividades em honra da padroeira que, neste ano, decorreram
com imponência e brilho excecional. As cerimónias religiosas dentro da igreja
matriz, lindamente decorada, com altares alegremente floridos, foram celebradas
com respeitoso fervor e enriquecidas de inspirados sermões pregados pelo
reverendo abade de Vila Praia de Âncora, a pitoresca estância balnear dos
melgacenses; fora do templo as vistosas procissões da condução e regresso de
Nossa Senhora da Orada, da sua românica capelinha até à matriz paroquial e
depois pelas ruas da Vila, aquelas com miríades de luzes e impressionante
acompanhamento de devotos e esta com variado e rico figurado, luzidia e
impecável organização e numerosas representações das freguesias e irmandades
com os respetivos estandartes, deram às festas um caráter de profunda
religiosidade e concentração espiritual e uma nota polícroma de ordeira e
majestosa disposição que consideramos magnífica e indescritível. Na parte
tipicamente profana, o bem elaborado programa organizado pela Comissão das
Festas desenvolveu-se em todos os números com inteira e absoluta fidelidade e
esplendor e causou a admiração e os agradecimentos dos assistentes. A abrir o
programa, sob o patrocínio do Grémio da Lavoura e das autoridades pecuárias
distritais, realizou-se o concurso pecuário que se revelou excecionalmente
soberbo em quantidade e qualidade de gado concorrente, nas diversas classes e
raças, os quais depois de criteriosamente classificados foram distribuídos aos
melhores espécimes valiosos prémios em dinheiro, taças, medalhões e sacos de
adubo químico. Noutro lugar se indicam o valor e a qualidade desses prémios aos
proprietários de gado apresentado e pena foi que os donos ou proprietários das
terras altas, da parte montanhosa do concelho, não houvessem inscrito os seus
exemplares. Consideramos de especial relevo a cerimónia da inauguração oficial
e benzedura do belo edifício das escolas da Vila, o melhor do distrito, com a
presença do Excelentíssimo Governador Civil, Presidente da Câmara, Diretor
Escolar, autoridades judiciais e eclesiásticas, professorado, alunos e pessoas
de representação concelhia, que deram ao ato um significado invulgar de alegre
entusiasmo e de reconhecido agradecimento a quantos pugnaram pela construção do
elegante e sumptuoso templo da instrução, velha e justíssima aspiração da
população e dos corpos docentes e discentes do nosso formoso burgo. Na sessão
solene foi dada a palavra ao distinto professor Ascensão Afonso que historiou
eloquente e pormenorizadamente as dificuldades e o penoso caminho percorrido
para se atingir a meta desta admirável e bendita realização, exaltando as boas
vontades oficiais que à mesma ficarão perduravelmente ligadas. À notável peça
oratória do professor Afonso seguiram-se os senhores Presidente da Câmara e
Diretor Escolar que com grande entusiasmo e vibração salientaram o interesse e o
valor da obra inaugurada, que atestará aos vindouros o merecimento de todos
quantos afanosamente congregaram e despenderam esforços e influências em ordem
a verem concretizada esta ardente aspiração concelhia. Encerrou a sessão o
Excelentíssimo Governador Civil, que se mostrou inteiramente identificado com
as dificuldades removidas, lembrando a atuação do falecido saudoso Dr. Júlio
Esteves, do professor Manuel Rodrigues e do Governo ao qual, em última análise,
se deve a transferência das escolas para o airoso edifício e libertação dos
alunos e professores das infectas pocilgas onde o ensino foi ministrado durante
longos anos. As decorações e iluminação das ruas podem classificar-se perfeitas
e revelaram bom gosto e profusão de luz, especialmente na artéria central que
da matriz vai à Calçada, constituindo um túnel feericamente iluminado e no
termo do qual se distinguia o curioso reclame luminoso dos Vinhos do Porto
Barros que aqui gozam da melhor reputação. O fogo-de-artifício desenhou no
espaço um céu artificial de estrelas cadentes de variegadas cores e lindo
efeito, concluindo por uma cascata luminosa na torre de menagem do nosso
querido castelo de onde sobressaía em letras verdes a alegórica “VIVA MELGAÇO”.
Em todos os dias festivos foram executados os concertos musicais pelas afamadas
bandas da “Fábrica da Boa Nova”, de Vilela do Douro, de “Gueifães” da Maia, dos
Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez e da Polícia de Segurança Pública do
Porto, que tocaram as melhores peças do seu vasto reportório e foram pelos
apreciadores largamente aplaudidas. Curioso e de surpreendente garridice e
descantes populares o festival folclórico, com a exibição dos ranchos das
Lavradeiras de Oleiros – Ponte da Barca, de Cristelo Covo – Valença e de
Educacion y Descanso, de Ourense, em autêntica confraternização luso-galaica,
plenos de movimento e de alegres cantares, que atraíram uma mole imensa de povo
assistente e lhes tributou os maiores aplausos. Também teve farta concorrência
o baile ao ar livre, frente ao “Domus Municipalis”, com a orquestra “Montes”,
de Pontevedra, que se prolongou até à madrugada com grande animação e numerosos
pares dançantes. A Comissão das Festas está de parabéns, agiu com inteligência
e não se poupou a sacrifícios para que tudo se realizasse dentro da melhor
ordem e inteira obediência à execução dos números programados. Não há dúvida
que se compõem de um grupo de esforçados e dinâmicos elementos que bem mereceu
a sua recondução para organizar as festas do próximo ano e a gratidão de todos
os melgacenses. Ousamos sugerir que o feriado municipal poderia ser transferido
para um sábado a escolher dos meses de Junho ou Julho, no qual as festas
profanas seriam realizadas, mantendo-se a celebração da festa religiosa na
quinta-feira da Ascensão. Concluímos estas breves notas com um abraço amigo de
felicitações a todos os membros da Comissão que levaram a efeito, com o maior
brilhantismo e imponência as festas deste ano.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1558, de 13/6/1965: «É PRECISO TEIMAR.
// Consta-nos que dentro em breve vai dar-se início à abertura de poços na
margem do rio Minho destinados à captação de águas para o futuro abastecimento
em quantidade da preciosa linfa à nossa vila e seu termo. Não pretendemos
criticar a captação das águas do rio Minho e sua consequente elevação mecânica
em ordem a suprir definitivamente as deficiências do abastecimento que se vem
verificando por falta de caudal das nascentes e respetivo armazenamento, que
tanto prejudicam os seus utentes. É assunto que foi tratado na última visita de
Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas a este concelho, como solução
terminante e cabal do problema do fornecimento de água de que urgentemente
carecemos. Porém, se a memória não nos atraiçoa, essa solução definitiva teria
a sua oportunidade depois da tentativa de novas explorações das atuais fontes
tendentes ao aumento dos seus caudais. É que o problema da captação e elevação
das águas do rio exige trabalhos e obras caras e demoradas que não se
compadecem com a necessidade de melhorar imediatamente a situação presente. Assim,
arriscamo-nos a transferir para as calendas gregas o abastecimento das águas
potáveis ao nosso burgo e seus limites, mantendo durante longos anos as
deficiências com que nos debatemos. A simples abertura de poços nada resolve,
uma vez que as obras complementares da estação elevatória, com o respetivo
motor de sucção, linha elétrica, condutas, depósitos, etc., representam obras
vultuosas cujo custo está fora, por largo espaço de tempo, das possibilidades
financeiras do nosso município, que nelas terá de comparticipar. Parece que
para já melhor seria iniciar-se a prospeção das jazidas das atuais fontes de
abastecimento e a exploração de outras suas vizinhas certo como é que a encosta
onde estão situadas oferecem possibilidades visíveis de exploração de caudais
de magnífica água em pureza, sabor, fraca densidade, qualidade e quantidade.
Isto sim, estaria ao alcance das disponibilidades municipais e de harmonia com
a solução provisória também considerada pelo senhor engenheiro Arantes de
Oliveira. Acresce que a exploração e abastecimento de água está intimamente
ligada ao problema do saneamento que continua a ser o problema número um da
nossa vila, ameaçada de um surto de caráter epidémico da maior gravidade para a
saúde da população. Basta considerar a situação criada pela escassez de chuvas
no ano em curso, originária dos mefíticos odores que já se vêm notando e que na
quadra da estiagem se farão sentir com maior intensidade. A ligação
ilegalíssima de fossas, cortes e cortelhos aos canos condutores das águas
pluviais e acumulação de toda a espécie de detritos ao longo dessas ligações,
neles depositados por falta de águas que os arrastem, transformaram os
arruamentos da vila em fétidos focos de infeção e de nauseabundos odores que
irritam a pituitária, causam nojo e provocam vómitos a quem passa. Bem sabemos
e temos reclamado muitas vezes que tanto a Câmara como a Subdelegação de Saúde
deveriam ser mais rigorosas e exigir energicamente a destruição das ligações
sanitárias e das excrescências líquidas das cortes e cortelhos aos canos de
condução das águas pluviais bem como do inconsciente e perigoso despejo de
detritos nas tolas e bueiros das calçadas. Não temos sido ouvidos e não se tem
prestado a devida atenção aos abusos dos habitantes e ao seu hábito nojento de
transformar essas canalizações em depósito do lixo, restos de toda a espécie de
e resíduos inúteis. Quem por necessidade quotidiana tem de percorrer a rua que
da Praça da República se prolonga até ao regato do Rio do Porto, no início, no
meio e no fim desta artéria, uma das melhores em pavimentação e de grande
movimento não o poderá fazer sem tamponar o nariz com um lenço que o defenda do
pestilencial fedor e lhes evite náuseas e vómitos. Desta sorte, impõe-se uma
ação firme e enérgica por parte das autoridades administrativas em ordem a
punir quem estiver fora da lei e da decência e a vigiar o seu comportamento
quanto às suas obrigações legais e deveres relativos à defesa da saúde do
próximo. A questão evidentemente está ligada ao saneamento e, por isso, o
consideramos o problema mais urgente e de maior atualidade da vila. Há que
enfrentar com decisão este problema a par do abastecimento da água em
quantidade. São dois problemas ligados intimamente que urge enfrentar e que
reputamos incompatíveis com a preferência dada à abertura dos poços na margem
do rio, independentemente do projeto e financiamento das obras complementares
cuja execução a largo prazo manterá inerte o atual estado de coisas com perigo
eminente da nossa saúde.» // F.S.
*
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1559, de 20/6/1965, um artigo algo estranho, por si
escrito, ao qual deu o título de DELITOS MORAIS: «No conturbado mundo em que
vivemos é com a maior tristeza que notamos certos delitos morais, derivados (!)
de indivíduos cuja deformação educacional faz sobressair os ruins instintos
congénitos ou adquiridos em uma convivência nociva, com total alheamento dos
sãos princípios em que deve fundamentar-se uma sociedade razoavelmente
equilibrada. É difícil classificar e ordenar os vícios de consciência e os
desvios da inteligência dos espécimes transviados da reta linha de conduta que
constitui o fundamento e a base da organização social e das relações entre os
seus elementos gregários. Na deambulação que nos propomos fazer através do que
consideramos delitos morais, temos em vista a definição das regras gerais e dos
preceitos estabelecidos pela experiência da vida coletiva, a partir da
associação tribal e sua adaptação e afeiçoamento às sociedades bem constituídas
em que a humanidade se reúne, auxilia, fraterniza, luta e trabalha com devoção
e lealdade, sem soberba e sem atropelamento dos sentimentos e da estabilidade
da ordem comunal. Ao enunciarmos algumas regras gerais, é evidente que
repelimos a ideia de visar, intencionalmente, quem quer que possa ajustar a
crítica às suas pessoas e, como se acentua nas representações da sétima arte,
qualquer semelhança ou afinidade dos agentes de possíveis delitos deverá ser
considerada mera coincidência. Portanto, ninguém deverá sentir-se
individualmente atingido quando a carapuça lhe sirva ou se adapte perfeitamente
à sua cabeça. Neste caso desejamos que a lição lhes aproveite e tenha a virtude
de modificar o seu modo de ser ou de proceder, em ordem a ascender à estima, ao
apreço, à consideração e à admiração dos seus concidadãos. Os nossos reparos e
referências – de ordem genérica – são para todos e para ninguém. Para regular
as relações sociais e estabelecer a harmonia e a paz entre os homens, as
comunidades, por via dos seus órgãos representativos, fixaram nas leis um
conjunto de preceitos morais e de defesa coletiva, concretizados em direitos e
obrigações aos quais, obrigatoriamente, devemos respeito e acatamento. A
execução dessas leis, baseadas na moral e defesa social, cabe aos representantes
dos organismos para tal efeito criados, que incarnam os poderes do Estado e, em
consequência, impõem a ordem, o respeito e a obediência da liberdade de
crenças, da segurança e tranquilidade pública, dos desvios abusivos e
prevaricações, da violência, resistência, violação e malfeitorias, da verdade,
da decência, das convenções, dos atentados criminosos contra as pessoas e
contra a propriedade, da manutenção da família dentro da ética de um ambiente
de bons costumes, de honestidade e de moralidade. Nesta ligeira referência a
alguns dos aspetos mais flagrantes enquadrados na vida social, não apresentamos
muitos outros, de importância real, que não caberiam nos limites escassos e até
ficariam deslocados no conteúdo de um pequeno artigo de jornal. O seu estudo e
desenvolvimento tem sido objeto de longo e paciente trabalho dos tratadistas da
especialidade, e enchem muitos e volumosos livros. O que enunciamos
elementarmente na generalidade, basta para considerar que o homem não deve ser
o lobo do homem e que, em matéria de família, a casa dos pais deve ser a escola
dos filhos. Na realidade, os homens seriam felizes se cumprissem os seus
deveres morais, concretizados nas leis e se, pela bondade, piedade, clemência,
probidade, fraternidade, isenção e espiritualidade, contribuíssem,
desinteressadamente, para o bem comum. As manifestações da soberba, da vaidade,
da inveja, da ambição e do egocentrismo, conduzem aos erros criminosos que
infelicitam as famílias e envenenam o convívio e a coexistência dos seus iguais.
Não reconhecemos no homem um ente superior nas escalas zoológica, social e
moral, em relação à sua companheira natural. Que interesse pode ter uma vida em
comum se, da parte do mais forte, não houver o sentimento de amizade, de
tolerância e de recíproco respeito a iluminar o lar (…) // E que exemplo é dado
aos filhos, carne da nossa carne, se a sua conduta truculenta e intolerante
impede a tranquilidade e a paz conjugal? Porque será que os homens destroem,
por suas próprias mãos e atos, a coexistência pacífica dos seus irmãos e a
felicidade do seu lar? E porque não haverão de resolver por bem os seus
dissídios, respeitar as suas pessoas e fazenda e enriquecer o património em vez
de o esbanjar? Quem não ama a paz; quem renega as obrigações correspondentes
aos direitos e deveres alheios; quem se endeusa e despreza a fraternidade,
tornando-se delator, egoísta, mau e intolerante, ou caminha para a casa de
Orates (*), não merece, nem é digno de viver em sociedade.» // Ferreira da Silva. /// (*) Significa casa desgovernada, etc.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1560, de 4/7/1965. «ESTÂNCIA TERMAL. //
«Com a abertura da estância termal do Peso, na qual brotam e abundante
manancial maravilhosas águas minero medicinais mero-salinas bicarbonatadas
cálcicas e mistas - únicas no nosso país e sem rivais no estrangeiro no
tratamento da diabetes, a afluência de doentes começa a fazer-se sentir em
número e em qualidade. Os hotéis recebem diariamente, por via postal, numerosos
pedidos de marcação de quartos para os meses de Julho e Agosto, os de maior
concorrência de aquistas e o problema do alojamento, agravado pelo encerramento
do grande hotel da Quinta do Peso, oferece certas dificuldades e causa graves
prejuízos à empresa concessionária e ao nosso concelho, no que respeita a
inscrições e ao fornecimento e consumo de géneros alimentícios e outros de
reconhecido valor económico. A questão hoteleira precisa de ser revista com
atenção e inteligência. A modernização das atuais instalações, tornando-as
habitáveis, asseadas e cómodas, em ordem a oferecer aos frequentadores de
estância um mínimo de conforto e de comodidade constitui um capítulo a rever e
como o velho haverá de ser sempre velho, impõe-se a construção de uma nova
unidade, de linhas modernas, em local criteriosamente escolhido, bem arejado, com
capacidade suficiente e acomodações de várias categorias, atraentes e satisfatórias,
não olvidando as diversões que proporcionem aos hóspedes, e especialmente às
suas famílias, um período agradável de tratamento, a par de um serviço bem estudado
e perfeito que se imponha e recomende àqueles que aqui vêm procurar o alívio ou
a cura dos seus males. Não é razoável, nem comercial, manter-se o estado de
incúria e de desconforto atual, forçosamente aceite pelos fiéis frequentadores
da estância, em anos sucessivos de repousante tratamento e consequentes
benefícios das virtudes terapêuticas das nossas águas na regeneração das suas
funções orgânicas. Os que procuram a nossa estância vêm animados da crença na
ação curativa da milagrosa linfa e do bem ganho repouso ao fim de um ano de
afanoso labor, mas não abdicam do conforto e asseio a que estão habituados e de
passatempos que os ajudem a quebrar a monotonia do quase isolamento que o uso
das águas lhes impõem. Temos incontestavelmente e em abundante caudal as mais
ricas águas bicarbonatadas cálcicas portuguesas, mas não devemos confiar
unicamente às suas virtudes terapêuticas no tratamento da diabetes, artritismo,
doenças do aparelho digestivo, génito urinário e até do sistema nervoso, a
exclusividade da propaganda e do chamariz dos seus numerosos crentes que
fielmente as procuram, a despeito da carência de comodidades basilares. Além do
moderno hotel a que já aludimos, a existência de uma piscina e da organização
metódica de excursões aos monumentos e a tudo quanto existe em Melgaço digno de
ver-se, no intervalo entre o uso das águas e as refeições, inclusive o estudo
dos costumes, folclore e vistas panorâmicas. Presentemente, devido à carolice e
autêntica devoção do atual fiscal, nosso conterrâneo Martins Lourenço, e boa
vontade e generosa compreensão da administração da empresa concessionária, o
lindo parque que circunda as nascentes oferece sombras magníficas e calmantes,
belos exemplares de arvoredo de porte alto, o colorido de plantas de verdura
refrescante de policromo florido, arruamentos e avenidas bem delineadas com as
suas típicas pontes sobre os regatos, tudo bem ordenado, limpo, regado e
varrido, constitui motivo de atração e de bem-estar nos curtos passeios dos
usuários das águas entre as nascentes e os hotéis. De realçar é ainda a
urbanidade e diligência do pessoal das “buvettes” (fontes) e do balneário que,
disciplinarmente, com a maior rapidez e delicadeza a todos atende e serve com
impecável compreensão dos seus deveres. Neste capítulo não receamos confrontos
das outras estâncias que conhecemos ou visitamos e por isso não lhe regateamos
os nossos louvores. A nossa estância termal, com mais alguns esforços e
carinhosa defesa, pode ser um dos elementos de maior projeção de Melgaço e um
procurado centro de turismo.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1561, de 11/7/1965. «INCONSCIÊNCIA
PERIGOSA. // «Já em tempos abordamos nas colunas deste semanário a questão da
imperiosa necessidade de se organizar, nesta vila, o corpo ativo dos soldados
da paz. Foi construído a expensas de alguns beneméritos o edifício destinado ao
quartel dos bombeiros voluntários e nele continuam arrecadados os restos de um
inadequado e mísero material de incêndios que o tempo e o desleixo coletivo
condenaram à sucata.
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