POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
TURBILHÃO
A culpa é somente do “Beto”,
Diz o povo e tem razão;
Politicamente carrapeto,
Com cérebro de sacristão.
Queria tudo, tudo decidir,
Não aceitava nenhum conselho;
Era ótimo a discutir,
Metia em tudo o bedelho.
Soberano, mui gracioso,
Nos negócios, o maior;
Tinha sorriso ardiloso,
Trejeitos de nobre senhor.
Era homem de muita sorte,
Tudo lhe corria a contento;
Nascera em terras do norte,
E ali sonhava São Bento.
Os tempos foram passando,
Inscreveu-se num partido;
Ei-lo na capital passeando,
Ao lado, o seu cão garrido.
Passam-se anos, muitos anos,
Algo na vida se transforma;
Acumula êxitos, danos,
Algum tempinho prà reforma.
É chamado a comandar
O seu navio de eleição,
O vil orgulho trepa ao ar,
Esperar não foi em vão!
A experiência vem depois,
O tempo jamais se cansa;
Nos comícios, eleições,
Aprendeu como se dança.
Na nacional assembleia
Ganhou asas o passarinho;
Sentia-se bem naquela aldeia,
Nunca faltando pão e vinho.
Um dia, que belo dia,
É dos primatas o primeiro;
Dançou sobrinha, sua tia,
Houve festa no terreiro.
Tocou música toda a noite,
Comeu-se, bebeu-se até cair;
Não há desgraça que açoite
A felicidade do devir.
Inesperada tempestade
Caiu como bomba letal;
Perdeu-se fé e vontade,
Sucumbiu o bem e o mal!
Aquele grão senhor do templo
Honesto, santinho de altar,
Não serve a ninguém de exemplo,
Nasceu pra todos enganar!
Mas quem neste país existe
Que mereça confiança?
Eis-nos no tal mundo do chiste,
Entre o caos e a esperança.
Mas quem sou eu para julgar
Este universo de fraude?
Bem melhor é improvisar
Sonora, santíssima laude.
Jesus Cristo subiu aos céus
Carregado de mil pecados;
Foram gerados por incréus
Em cem mil séculos passados!
Esse povo já milenar
Espalhou-se pela Terra;
Navegou no longo mar
Galgou montes e a serra.
Ensinou a sua doutrina
Às tribos simples e rudes;
Colheu do pinheiro a resina
E do lamaçal fartos crudes.
Assim, nosso hábil patego,
Aprendeu essas doutrinas;
Vestiu as cores alvinegro
Explorando as mil minas.
Deste modo chega ao fim
Esta minha pobre reflexão;
Digam o que disserem de mim
Uns mentem, outros tantos não.
Sem data
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