quarta-feira, 19 de março de 2025

POEMAS DO VENTO

Por Joaquim A. Rocha 




TURBILHÃO


A culpa é somente do “Beto”,

Diz o povo e tem razão;

Politicamente carrapeto,

Com cérebro de sacristão.

 

Queria tudo, tudo decidir,

Não aceitava nenhum conselho;

Era ótimo a discutir,

Metia em tudo o bedelho.

 

Soberano, mui gracioso,

Nos negócios, o maior;

Tinha sorriso ardiloso,

Trejeitos de nobre senhor.

 

Era homem de muita sorte,

Tudo lhe corria a contento;

Nascera em terras do norte,

E ali sonhava São Bento.

 

Os tempos foram passando,

Inscreveu-se num partido;

Ei-lo na capital passeando,

Ao lado, o seu cão garrido.

 

Passam-se anos, muitos anos,

Algo na vida se transforma;

Acumula êxitos, danos,

Algum tempinho prà reforma.

 

É chamado a comandar

O seu navio de eleição,

O vil orgulho trepa ao ar,

Esperar não foi em vão!

 

A experiência vem depois,

O tempo jamais se cansa;

Nos comícios, eleições,

Aprendeu como se dança.

 

Na nacional assembleia

Ganhou asas o passarinho;

Sentia-se bem naquela aldeia,

Nunca faltando pão e vinho.

 

Um dia, que belo dia,

É dos primatas o primeiro;

Dançou sobrinha, sua tia,

Houve festa no terreiro.   

 

Tocou música toda a noite,

Comeu-se, bebeu-se até cair;

Não há desgraça que açoite

A felicidade do devir.

 

Inesperada tempestade

Caiu como bomba letal;

Perdeu-se fé e vontade,

Sucumbiu o bem e o mal!

 

Aquele grão senhor do templo

Honesto, santinho de altar,

Não serve a ninguém de exemplo,

Nasceu pra todos enganar!

 

Mas quem neste país existe

Que mereça confiança?

Eis-nos no tal mundo do chiste,

Entre o caos e a esperança.

 

Mas quem sou eu para julgar

Este universo de fraude?

Bem melhor é improvisar

Sonora, santíssima laude.

 

Jesus Cristo subiu aos céus

Carregado de mil pecados;

Foram gerados por incréus

Em cem mil séculos passados!

 

Esse povo já milenar

Espalhou-se pela Terra;

Navegou no longo mar

Galgou montes e a serra.

 

Ensinou a sua doutrina

Às tribos simples e rudes;

Colheu do pinheiro a resina

E do lamaçal fartos crudes.

 

Assim, nosso hábil patego,

Aprendeu essas doutrinas;

Vestiu as cores alvinegro

Explorando as mil minas. 

 

Deste modo chega ao fim

Esta minha pobre reflexão;

Digam o que disserem de mim

Uns mentem, outros tantos não.

 

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