MELGAÇO: Padres, Monges, Frades...
Por Joaquim A. Rocha
// continuação...
VAZ, Júlio Hilarião (Padre). Filho de
Francisco Júlio Vaz e de Angelina Alves Salgado. Neto paterno de António Luís
Vaz e de Rosa Maria Meleiro; neto materno de António Justiniano Alves Salgado e
de Teresa de Jesus Domingues. Nasceu no lugar de Adedela, freguesia de Fiães, a
21/10/1916. Teve por padrinho o seu tio, padre João Nepomuceno Vaz. // Após a
4.ª classe, concluída em 1926, com a classificação de ótimo, ingressou no
Seminário de Braga. // A 5/7/1935 fez exame de filosofia e de ciências do 2.º
ano e ficou distinto em ambos os exames (NM 277, de 14/7/1935, e NM 278, de 21/7/1935). // Em 1936 era
aluno do 2.º ano de teologia, sendo, nesse ano, premiado com a menção
honorífica intelectual. Colaborava, na altura, com o «Notícias de Melgaço». //
Em 1937 concluiu o 2.º ano de teologia, ficando distinto. Teve ainda outro prémio.
// Em 1938 fez atos do 3.º ano de teologia e moral, obtendo a classificação de
distinto. // No ano de 1938 esteve internado vinte e um dias no hospital de São
Marcos, onde foi operado (NM 397, de 15/5/1938). // Foi ordenado sacerdote em Janeiro,
ou a 23 de Setembro, de 1939. // Cantou missa nova na igreja matriz da vila de
Melgaço no dia seguinte. // Ficou a residir em Braga. // Foi capelão da missa
das doze horas na igreja dos Congregados durante quinze anos. // De 1940 a 2000
foi capelão das religiosas “Servas de Jesus”. // Em 1941 foi nomeado
subdelegado da Mocidade Portuguesa. Também foi assistente eclesiástico da Ação
Católica de Braga. // Foi professor no Seminário (deixando de lecionar em 1966) e redator do
“Diário do Minho” (desistindo
do cargo em 1971). // A 31/5/1946, juntamente com o médico Dr. Júlio de
Lourdes Outeiro Esteves, melgacense, natural da freguesia de Cristóval, fundou
o jornal “A Voz de Melgaço”, sendo seu diretor por mais de cinquenta anos. Era
um homem de armas. Polemizou bastante com o advogado Dr. José Joaquim de Abreu,
que se dizia republicano, polémica essa que alastrou a outras figuras públicas
de Melgaço. Também guerreou com o Dr. Augusto César Esteves e com o Dr. Carlos
Luís da Rocha, e com outros. ***
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 918, de
4/12/1949:
Nota Oficiosa
«O quinzenário A Voz de Melgaço de 15/11/1949, em artigo intitulado “Na primeira linha” toca dois pontos que
convém esclarecer para que os melgacenses que vivem afastados da sua terra não
sejam induzidos em erro. São eles: a) Serviços
Florestais. – A este propósito bastaria limitar-me a transcrever o seguinte
período de um artigo no mesmo jornal, de 15 de Junho do corrente ano - “Os senhores Presidente da Câmara e Dr. Júlio
Esteves viram finalmente coroados de êxito os seus trabalhos, no referente aos
Serviços Florestais, na freguesia de Parada do Monte”. - E não se ficou por
aqui. Mais do que se conseguiu para Parada do Monte, conseguiu-se para as
freguesias da Gave e de Castro Laboreiro. Foram essas três freguesias que
pediram o auxílio da Câmara para a solução do problema dos Serviços Florestais.
O presidente da Câmara percorreu os montes das freguesias de Parada do Monte e
Gave, assistiu às reclamações das suas populações, e pôde verificar que o
Senhor Engenheiro lhes concedeu tudo quanto pediram. Desejariam mais? Sem
dúvida. Desejariam até que acabassem os Serviços Florestais, o que certamente
não desejam aqueles que têm obrigação de reconhecer os benefícios que deles
resultam para a economia nacional. Parece-me, portanto, que não estivemos à
espera do exemplo de Viseu, nem aguardamos a defesa parlamentar. b) Milho: o milho ainda não faltou no concelho de
Melgaço. Creio bem que a intervenção da Câmara só se tornará necessária quando
a miragem do lucro faça esquecer a fome nos lares portugueses, isto é, quando o
milho começar a sair para Espanha. E não espera a Câmara que o perigo surja
para, apressadamente, tomar medidas para combate-lo. Expôs já o assunto
superiormente e focou esse perigo. Aguarda solução para estar preparada.
Dizemos que não precisa de intervir já porque a todos é permitida a aquisição,
e muito tem entrado no concelho. Quanto ao milho colonial, aqueles que se
encontram inscritos na Comissão Reguladora das Moagens de Ramas, e são
bastantes dezenas deles no nosso concelho, podem requisitá-lo, e também desta entraram
já muitos milhares de quilos. Os preços são ainda elevados? Requisite-se mais,
juntem-se os nossos lavradores para que entre em maiores quantidades, de
maneira a fazer baixar os preços, tanto mais que o milho importado, ao
contrário do que sucede em outros concelhos, não necessita, no nosso, de ser
vendido já farinado.» // Paços
do Concelho de Melgaço, 23/11/1949. O Presidente da Câmara, Carlos Luís da
Rocha.
Pode ler-se no Notícias de Melgaço n.º 921,
de 8/1/1950:
Nota Oficiosa
«Não respondo ao arrazoado do senhor Júlio
Vaz. Esse senhor foi de tal maneira infeliz, imprudente e malcriado que a
resposta obrigar-me-ia a afastar-me daquelas normas elementares da boa educação
que todo o cidadão deve conhecer, mormente quando esse cidadão é um sacerdote.
E se hoje me sirvo novamente das colunas do Notícias de Melgaço para publicar
uma nota oficiosa, que não é paga, faço-o unicamente movido pelo respeito que
me merece a gente da minha terra e todos aqueles que põem acima dos ódios
pessoais, da inveja e do despeito, os interesses do concelho de Melgaço.»
«A si, senhor Júlio, devo-lhe
apenas uma explicação. Publiquei a Nota Oficiosa de 23/11/1949 no Notícias de
Melgaço porque é esse o jornal de Melgaço. É certo que circula por aí um outro
com um título que pretende fazer crer que representa a voz de Melgaço, mas não
representa. Representa sim, a sua voz, a dos manos… e pouco mais. E já que me
fala em confiança política, devo dizer-lhe que não poderia merecer-ma um jornal
que no período mais grave, menos seguro da atual situação política, a atacou
impiedosamente, a ponto de merecer, segundo dizem, as felicitações dos elementos
mais destacados das oposições neste concelho. Leia-se A Voz de Melgaço de
15/1/1949. Até hoje tem-me merecido essa confiança o Notícias de Melgaço. O
passado, desconheço-o, e não me interessa. Interessa-me o presente e, no
presente, os homens que lá trabalham só me tem ajudado na minha missão de
modesto, mas desinteressado servidor da política do Estado Novo. Mas ainda que
estas duas razões não bastassem dir-lhe-ia apenas que publico as notas
oficiosas onde entender, porque ninguém me obriga a publicá-las neste ou
naquele jornal. Não estou sob tutela. V. Ex.ª certamente gostaria de ser tutor.
Tenha paciência e sofra resignadamente o desgosto de o não ser.»
«Voltemos aos dois assuntos da
minha nota oficiosa de 23 de Novembro, já que o senhor quis lançar novamente a
confusão. – Serviços Florestais: falei
apenas como presidente da Câmara e consequentemente foquei o problema em
relação a este concelho. Fi-lo precisamente em consequência daquela sua
condicional, porque era nela que se encontrava envolvida a serpente venenosa… O
senhor sabia muito bem que alguma coisa se tinha feito e talvez
propositadamente a ocultou. - Milho: - neste
ponto a sua resposta é de tal maneira infeliz, confusa e disparatada, que nem a
tal história do dicionário e da lição de borla o salva. Como a lição foi de
graça não se lhe devia exigir muito. Se fosse paga, dir-lhe-ia que lesse mais
algumas vezes o dicionário. E pede V. Ex.ª que me retrate?! Parece impossível!
Ah! Já me esquecia. V.Ex.ª não pede. V. Ex.ª exige, o que é muito mais. V.Ex.ª
chega a ter graça com essas exigências aristocráticas.»
«Tenha calma, não seja
precipitado, não seja imprudente. Deixe-se de malabarismos, de jogo de palavras
e apalpe a realidade dos factos. Essa encontra-a V. Ex.ª na minha nota
oficiosa. Quer V. Ex.ª destruí-la, é certo, mas espalha-se… até quando afirma
que a Rouças já chegou milho de fora. Na nota
oficiosa dizia eu que tinham entrado já muitos milhares de quilos no
concelho. V. Ex.ª não leu isso? Se leu, compreendeu uma coisa muito diferente:
que eu dissera que o concelho produzira milho suficiente para satisfazer as
suas necessidades. Não foi isso que eu escrevi, nem tal coisa me estava no
pensamento, pois não ignoro a escassez da última colheita. V. Ex.ª parece
confundir… Eu desculpo-o porque sei que V. Ex.ª é uma pessoa nervosa e que não
domina os nervos, e estes, quando não se conseguem refrear, tolhem-nos a razão.»
«Devo preveni-lo que aos seus ataques
responderei com o silêncio e formularei votos para que V. Ex.ª se corrija e
entre no caminho do bem, da paz e do amor. Como sacerdote, que é, já por ele há
muito devia caminhar. V. Ex.ª é uma pessoa de bem que se perdeu, mas que
voltará a encontrar-se. Então deixará de ser um elemento pernicioso para ser um
elemento útil ao seu concelho, ao nosso concelho.»
«E para terminar, quero dizer-lhe que
confirmo plenamente tudo quanto disse na nota oficiosa de 23 de Novembro. Os
factos são aqueles, a verdade é só aquela. Melgaço, 26/12/1949.» O Presidente
Câmara, Carlos Luís da Rocha. ***
No Notícias de Melgaço n.º 921, de 8/1/1951,
páginas 4 e 3, ainda se pode ler outra Nota Oficiosa assinada pelo Dr. Júlio
Outeiro Esteves, na qual ataca os irmãos Vaz, proprietários e redatores de “A
Voz de Melgaço”.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 923, de
29/1/1950: «A Nossa Resposta –> O
Dr. Carlos Luís da Rocha levanta a laje do sepulcro e responde – presente! A
resposta contundente e esmagadora do senhor padre Júlio Hilarião Vaz não o prostrou
ainda. Está de pé e de pé continuará para aparecer de frente, à luz do dia, sem
esperar o luzo-fusco, sem manobrar por detrás da cortina ou do reposteiro. Não
era, realmente, intento meu aparecer. Os adversários não me mereciam, o assunto
estava suficientemente esclarecido e a gente de Melgaço, como ela diz, sabe bem
quem são uns e quem são os outros. Mas o último número de A Voz de Melgaço
enojou-me de tal maneira que não podia calar-me. Aquilo é uma vergonha e a
manobra, vergonhosa manobra, não escapou ao público que leu o jornalzinho.
Lamento esses juízos injuriosos em relação a pessoas que reputo homens de
caráter. Chocou-me mais isso do que todo esse palavreado oco que me é dirigido
pelo profissional de jornalismo, que escreve muito, enche muitas colunas, mas
no fim, espremido, é tudo palavreado, palavreado barato, de reclame, em resumo:
– uma chocalhada. Sentiu-se V. Ex.ª por o tratar por “senhor Júlio”. Fi-lo
propositadamente, pois, apesar de cristão, só pelo batismo, como V. Ex.ª diz,
mas que não é verdade, queria respeitar o padre, que gostaria de ver fora desta
cena. Respeito muito o clero, porque sei apreciar a sua alta missão de
educador. No entanto, lamento que V. Ex.ª tenha esquecido de que era padre e
tenha traído a sua missão. Um padre não procede como o Senhor procedeu. Não sou
eu apenas a dizê-lo. Dizem-no aqueles a quem V. Ex.ª não poderá chamar de
católicos integrais. Tenho em meu poder cartas de alguns deles, pasmados com a
atitude por V. Ex.ª tomada. Agora não lhe dou conselhos, Senhor Padre Júlio.
Censuro-o. Se V. Ex.ª perdeu o respeito por si próprio, como hei de eu
respeitá-lo? A atitude por V. Ex.ª tomada pode refletir-se na classe a que
pertence e serve apenas para a desprestigiar. Medite no que se passa, ausculte
a opinião pública, e sentirá que foi de uma infelicidade pasmosa. Arrepie
caminho. Ainda está a tempo. Tem o dicionário à mão? Procure na estante. Eis!
Tantos livros! Tanta ciência! Um sábio. Está com o dicionário na mão? Procure a
palavra desassombro. Leu? Empregou bem o tempo? Nós, por aqui, damos-lhe um
significado diferente. Chame-lhe desassombro, chame-lhe o que quiser, pode até
deitar-lhe pimenta, mas nós é que não comemos isso como desassombro. Corrija.
Isso é que será desassombro. E agora apenas duas ligeiras observações, uma
sobre os Serviços Florestais e a outra sobre o milho. O ilustre deputado Dr.
Elísio Pimenta, que há dias tratou o assunto na Assembleia Nacional com brilho
e com entusiasmo, dizia-me antes disso, mas depois de ter coligido os elementos
fornecidos por várias Câmaras Municipais, e até Juntas de Freguesia, o único
concelho onde alguma coisa se tinha feito, quanto aos Serviços Florestais, era
o de Melgaço. E sabe V. Ex.ª que nos outros concelhos há também o tal
documento? Se todas as Câmaras Municipais obrigassem ao cumprimento do que
estava estipulado, não teria surgido o problema dos Serviços Florestais. Não se
obrigou? Porquê? “Com o teu amo não jogues as peras”. V. Ex.ª se não é ingénuo,
parece-o. Já o outro dizia – “se não o é, para que anda a enganar-nos”? Já vi a
sua resposta. Quer que todos os presidentes das Câmaras se demitam. Circule
nesse sentido. Ficará V. Ex.ª o Rei de Portugal e está resolvido outro problema
– o da Monarquia. De uma cajadada matou dois coelhos. Bom atirador. V. Ex.ª
sabe que o milho continental não está tabelado, que é livre a sua venda? Não
foi V. Ex.ª um entusiasta defensor dessa medida, para que tanto trabalhou o
falecido Doutor Rocha Páris. Já se esqueceu disso? Por não ser tabelado é que
há no concelho milho que se vende a 3$50. Esse é continental. O colonial
vende-se à tabela. Um e outro vendem-se na maior parte dos estabelecimentos
comerciais do concelho. Não há dinheiro para o comprar? Os cofres da Câmara não
se podem abrir para isso. O problema é geral, e não é o presidente da Câmara de
Melgaço que o há de resolver. O próprio governo encontrará na sua resolução
tremendíssimas dificuldades. Mas como V. Ex.ª encontra solução para tudo, para
este caso também não falha. Todos os presidentes se devem demitir e V. Ex.ª
ficará o Rei de Portugal e … dos Algarves. O Governo cumpriu e forneceu
milhares de contos para aquisição de milho colonial. Quer com certeza o senhor
dizer que adiantou esse dinheiro, pois não me consta que tenha sido distribuído
milho gratuitamente. Ora, havendo abundância de milho no concelho, para que se
há de mandar vir mais? Não é preciso seguir o exemplo do governo. O problema é
outro, senhor padre Júlio. Admira-me que V. Ex.ª ainda se não tenha apercebido
disso. E esse é que Câmara não pode resolver. Não tem dinheiro para milho quem
dele necessita. Não sabe V. Ex.ª que a Câmara só pode fazer determinadas
despesas? Ignora V. Ex.ª que existe um organismo, chamado Tribunal de Contas,
perante o qual a Câmara tem de prestar contas? Quanto a trabalhos, a dar
dinheiro a ganhar, ignora V. Ex.ª que está em curso a Obra de Abastecimento de
Águas à Vila (orçada em 787.000$00) e a reparação da estrada de Paderne (orçada
em 229.400$00), e que em breves
dias vai ser posta a concurso a reparação da estrada de Cavaleiros (orçada
em 108.822$22)? Quer mais? E o
dinheiro? E as comparticipações? Ou V. Ex.ª é um ignorante nestas coisas ou não
é bem-intencionado quando fala ou escreve.» Melgaço,
26/1/1950. O Presidente da Câmara – Carlos Luís da Rocha. ***
Padre Júlio Hilarião Vaz – Eu
entrei no baile porque Vossa Reverência me convidou e como, apesar da sua
opinião em contrário, não estou habituado a voltar a cara, cá estou a fazer o
meu “pé de dança”, com esforço, é certo, porque já estou velho para estas
marcações coreográficas. É claro que com a minha manifesta incapacidade de
plumitivo e… falta de hábito de fazer entrevistas em viagens de automóvel e de
avião (de avião é que não era capaz de as fazer; tenho medo de cair, confesso,
e àqueles bichos acontece às vezes como a certas pessoas que querendo subir
muito alto… de repente lhes falta o pé); mas, dizia eu, que com a manifesta
incapacidade de plumitivo não consegui dizer ao concelho porque saí do jornal.
E não disse. Vossa Reverência prova-o e eu venho ainda outra vez ajudá-lo,
esgaravatando dumas cartas que possuo (o diabo do acaso sempre tem coisas…
!!!), cartas dignas, sem dúvida, alguns períodos sobre os fretes que lhe pedi,
com tão má intenção. Ora vejamos: 1.º frete pedido – diz V. Reverência no
número 15 do corrente ano: - «Quanto aos artigos Coadjuvemos a nossa Câmara
Municipal, ou que ela nos coadjuve a nós?... O senhor Dr. Júlio não gostou
dele. Fez-mo sentir em sua casa. Mostrei-lhe que a verdade se dizia – o jornal
não era para outra coisa – e não cedi. Não fiz o frete. Verdade e justiça acima
das pessoas e dos cargos é norma segura. Realmente não gostei dos artigos, mas
não foi em minha casa que lho fiz sentir. Foi por cartas (se ainda as não mostrou ao reverendo
senhor padre Bernardo é tempo de lhas mostrar) e V. Rev.ª respondeu em uma carta
datada de 11/4/1948. «……. O padre
Bernardo desta vez não escreve coisa alguma porque não mandou nada. Anuncia
dois artigos para o próximo número… Vou escrever ao padre Bernardo e ando a
estudar qual deve ser o estilo. Ele queixou-se de um corte que lhe fiz. O que
eu queria era que ele não deixasse de escrever a secção histórica; quanto ao
resto, é o menos…….» Como se vê, não fez o frete! Em 21/4/1948, outra carta
rezava assim: «…………. Recebi a sua carta, com ela, digo, no mesmo dia, uma do padre
Bernardo, que lhe envio para ler confidencialmente. Eu vou dar-lhe já a
resposta, sobretudo no que se refere à palavra “intencional”. Quanto aos
artigos de crítica à Câmara, havia-o convidado a que descansasse um bocado,
porque andava o diabo à solta. Aceitou, como vê…» Pelo visto o diabo era eu, e
o senhor padre Júlio nem ao diabo fez… o frete! Mas afinal, fez ou não fez o
frete? Mais tarde, em 28/1/1949, depois da publicação do celebérrimo “Por quem
votamos nós?”, que pelo visto não era da sua autoria, e em resposta à carta que
eu lhe escrevi dizendo-lhe definitivamente que me considera desligado do
jornal, ainda recebi outra de V. Reverência, muito longa, muito prolixa, que
termina assim: «… só a sua presença no
jornal evitou que eu não dissesse nele coisas duras ao Dr. Pimenta, de crítica
à sua obra (?); só o meu Amigo demorou a entrada para o jornal do padre
Bernardo, que defendi na sua presença contra o Pimenta e que os factos me
louvaram pela atitude… Mas a sua amizade prevaleceu e o padre Bernardo
conformou-se. Estávamos entendidos.» E depois de todas estas “esgaravatadelas”
estaremos também entendidos? Sobre este assunto, creio que sim. A sua
inteligência, a sua honestidade, a sua correção, e os tais … etc., devem
reconhecer que estou a prestar-lhe um ótimo serviço, ajudando-o a provar que eu
não disse, mas que poderia ter dito, e que ainda poderei dizer mais. – Segundo
frete pedido: correspondência da Gave sobre o agricultor da Serra da Peneda.
Diz ainda A Voz de Melgaço de 15 de Janeiro: «Quis o senhor Dr. Júlio que eu desdissesse o que o correspondente havia
escrito. Respondi-lhe: «Sr. Doutor, respeito os meus colaboradores e só
retifico se o correspondente o fizer pessoalmente.» Repito: eu não costumo
guardar cópia da correspondência que envio, mas se o senhor padre Júlio, com a
sua costumada previdência, de que se orgulha com a graça de Deus, guardou essa
carta, veja o que nela se pedia e publique-a para esclarecimento dos seus
leitores. Se não a guardou, faça apelo à sua memória e, em consciência, veja se
a narração que faz na sua resposta corresponde inteiramente à verdade. O que é
que eu lhe pedia?! Mas se eu não guardo cópia da correspondência expedida,
guardei felizmente as suas cartas referentes a estes casos – Deus também andou
comigo – e na de 9/12/1948 dizia V. Reverência, depois de um longo arrazoado
que fala muito do Dr. Pimenta (de quem será ele a sombra negra!), em que
estranhava que eu o julgasse capaz de me deixar ir ao tribunal, em que
transcrevia períodos de uma outra que lhe havia escrito a pedir a demissão dos
cargos que desempenhava em A Voz de Melgaço; nessa carta esgaravatei eu ainda
os períodos que a seguir se transcrevem: «… Lamento
o seu pedido de demissão, até por saber que o faz por desacordo, como se
depreende da sua carta. Lamento-o pelo gáudio político da terra, pelas
suspeitas que traz e porque há, ainda que o não pareça, uma quebra de união.
Como vejo, porém, a sua insistência, embora impulsionada pelo Dr. Pimenta –
isto é uma dedução – hoje mesmo escrevo ao meu irmão padre Carlos para que ele,
falando como o meu Amigo, escolha novo editor. E em menos de três anos dá-se,
infelizmente, uma crise no jornal… no fundo derivada da política… Paciência…»
Realmente aqui V. Reverência não fez o frete. Era necessário que o correspondente
o fizesse pessoalmente; e, eu, é que tinha de andar à procura do senhor José
Maria Rodrigues, do Dr. Pimenta, e do agricultor. Não andei, e o caso ficou
assim arrumado. O que é verdade também é que o jornal não falou mais nas tais
burlas do agricultor da Serra da Peneda e a tal correspondência em que se
reforçavam as acusações e que eu realmente li, não apareceu a público em defesa
do «pobre trabalhador que passa todo o dia de enxada na mão, cavando a terra,
de coluna vertebral dobrada, suando em bica, mal vestido, mal alimentado,
debaixo de um sol abrasador, escondidos no meio de uma nuvem de poeira! Como é
dura a tua vida! Como o teu sangue é chupado como o pólen das flores pelas
abelhas! Triste sorte! (veja
A Voz de Melgaço de 1/11/1948). Mas se essa correspondência não apareceu a público até
hoje, apareceu no entanto outra no número de 15/9/1949, que se intitula
“Exploração Agrícola da Peneda”, onde se lê, além do mais, o seguinte: «O jornal presta homenagem ao trabalho, à
energia e à técnica dos senhores José Correia de Vasconcelos & Companhia.
Os reparos que uma ou outra vez têm sido feitos não invalidam de maneira alguma
esta nossa consideração.» Desta vez o senhor agricultor não meteu
intermediário, escreveu, mas o que eu não descobri foi a retificação pessoal do
correspondente. É que V. Rev.ª não faz fretes e respeita sempre os direitos dos
seus colaboradores, porque não faz favores à custa do direito dos demais! E
assim se prova, com a minha ajuda, que V. Reverência não me “fez os fretes e que
eu não disse ao concelho porque saí do jornal. E não disse… pronto! – Diz Vossa
Reverência que eu e o senhor Dr. Rocha, ao referirmo-nos ao celebérrimo “Por
quem votamos nós?” nos desencontramos no ataque. Eu dizia: “procurou atacar” e o Excelentíssimo Senhor
Dr. Carlos Luís da Rocha, muito ilustre e digno presidente da Câmara, dizia: “atacou impiedosamente a atual situação
política.” Mas a esclarecida inteligência de Vossa Reverência não viu que a
diferença de expressões é filha do hábito da profissão? Ele, o Dr. Carlos
Rocha, é advogado; e, portanto, mais incisivo ao avaliar os efeitos sem
procurar conhecer a fundo a causa que os produzem. Eu, médico, para aquilatar
do espetaculoso efeito, fui procurar a causa, e ao descobrir o agente do
barulho que a oposição fazia à volta do “Por quem votamos nós?” pouco demorei a
adquirir a tranquilidade, porque os efeitos não poderiam ser tão nefastos como
a princípio se supunha. A resistência do doente seria por si só bastante para
anular a virulência do micróbio. É que realmente a Obra do Estado Novo, que não
necessita de adjetivos, está muito acima de todas as críticas construtivas que
A Voz de Melgaço lhe possa fazer. E para terminar, deixe-me dizer-lhe, senhor
padre Júlio, que eu atraiçoei realmente alguma coisa e que essa não foram nem
os meus sentimentos religiosos, nem a minha fé nacionalista. Atraiçoei sim a
amizade daquelas pessoas que me vaticinaram a sorte que me esperava e que –
mais experientes do que eu – tanto me aconselharam a não me meter em andanças
jornalísticas para que não nasci fadado. A esses, sim, a esses é que eu
atraiçoei não os ouvindo, mas agora … não tenho remédio, se não penitenciar-me
e … com eles em coro entoar para Vossa Reverência aquela quadra popular que eu
já vi escrita não sei onde: “Pilriteiro que dás pilritos/Porque não dás coisa
boa?/Cada qual dá o que tem/Conforme a sua pessoa.» ***
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 980, de 3/6/1951: «Tendo o último número de A Voz de Melgaço publicado um artigo
intitulado “Um escândalo?”…, da autoria do reverendo padre Júlio Vaz, diretor
daquele quinzenário, artigo em que este malevolamente critica a dotação para a
conclusão das obras da avenida à periferia da Vila, e em virtude de na Base II
para o orçamento 1.º suplementar constar a verba de cento e cinquenta e dois
contos destinados àquela obra, proponho: a) Que na ata fique exarado o repúdio
que este Conselho Municipal manifesta pela forma insidiosa com que o referido
jornal, por intermédio quer dos seus diretores, quer dos seus colaboradores,
vem criticando e apreciando desde há anos a atuação da Câmara Municipal e de um
modo especial do senhor presidente da mesma.»
Em “A Voz de Melgaço” n.º 1042, de 15/12/1995, o padre Júlio Vaz
relembra acontecimentos passados em Castro Laboreiro. Fala dos seus
companheiros de caça: engenheiro Luís Norton de Matos, Armando Solheiro,
Augusto Meixeiro. Fala também do Covelo, da Ti Ana Macheta, do padre Francisco…
Escreveu ele: «Hoje, Castro Laboreiro,
está descaracterizado!... / … antes da emigração era terra pobre… vivia do
contrabando» // Contradições: antes da estrada para Castro Laboreiro toda a
gente reivindicava o progresso daquela freguesia; depois da estrada tudo se
alterou – os castrejos começaram a construir boas casas, o colmo foi
abandonado, abriram-se Cafés, surgiu a eletricidade, correios, etc., e a vila e
outros lugares em poucos anos ficaram irreconhecíveis. Pois bem: em 1996 o
padre Júlio Vaz escreveu um artigo a que deu o título “Castro Laboreiro, quem
te viu e quem te vê!...” Diz ele: «… vila
durante séculos, era na sua estrutura arquitetónica, no seu ambiente social e
nos seus hábitos e tradições uma zona a preservar!» E mais à frente: «Os responsáveis locais deixaram morrer todo
esse habitat que seria hoje, no plano nacional, um ex-libris da nossa terra e
da nossa gente» (VM 1058, de 1/X/1996).
Como jornalista colaborou em “O Cávado” e na “Presença e Diálogo”. //
Foi autor de “Caminho do Apostolado” (1948); “À Luz das Encíclicas: Ordem e
Bem-Estar” (1963 – de colaboração); “Atualização” (1965); “À Margem da Humanae
Vitae” (1968); “Última Lição” (1969); “Associações Mutualistas do Clero”
(1970); “Bernardo Chousal” (1975 – biografia); “Na Terra de Inês Negra” (1993);
“Padre Júlio Apresenta Mário” (1999). // Ajudou na Capelania da
Senhora-a-Branca durante vários anos. // Colaborou nas Festas da Cultura de
Melgaço, mais o seu irmão cónego, realizadas a partir de 1982, salvo erro, tornando-se
adversário das mesmas a partir de uma certa altura, quiçá por razões políticas!
Morreu em Braga a 17/1/2009 e foi sepultado no cemitério de Rouças no
dia seguinte, domingo, em jazigo de família. (Acerca
da sua biografia ver “A Voz de Melgaço” n.º 1249, de 15/6/2005, página 3; e “A
Voz de Melgaço” n.º 1305, de 1/2/2009).
VAZ, Júlio Nepomuceno (Padre). Filho de
João Batista Vaz e de Rosa da Purificação Vergara. Neto paterno de Francisco
Júlio Vaz e de Angelina Alves Salgado; neto materno de -------Vergara e de
---------------------------. Nasceu em Rouças a 31/12/1946. // Reside em Braga
desde os tempos do seminário (1956), em companhia de seu irmão Carlos Nuno e de
uma sua irmã. // Ordenou-se sacerdote em 1969 e depois obteve o grau de doutor
na Universidade. // Em 2012 era detentor de 20% do capital social de “A Voz de
Melgaço”. // Consta que é um bom músico, colaborando na missa, tocando piano ou
órgão. // Por vezes aparecem alguns artigos seus em “A Voz de Melgaço”.
VAZ, Luís José (Padre). Filho de Luís
Manuel Vaz e de Maria Benta Rodrigues, lavradores, residentes em Remoães. Neto
paterno de Salvador Vaz e de Luísa Douteiro Durães, de Cima de Vila, Remoães;
neto materno de José Rodrigues e de Maria Madalena Gonçalves, do lugar dos
Casais, Cristóval. Nasceu a 9/10/1809 e foi batizado ainda nesse mês e
ano. Padrinhos: Luís José de Sousa e sua irmã, Áurea Electa (?), e, na crisma, se
lhe pôs o nome de Teresa de Jesus (devia
ser freira), e assistiram, e fizeram suas vezes, Luís Manuel Pinto da
Costa e Rita Joaquina de Sousa, da Portela de Remoães. // A 20/9/1840, na igreja de Remoães, foi padrinho de Maria
Joaquina, nascida dois dias antes, filha de João Batista Fernandes e de Rosa
Clara Vaz, lavradores, residentes no lugar de Cima de Vila. // A 16/9/1849, na
igreja de Prado, foi padrinho do seu sobrinho, Luís José, nascido no dia
anterior, filho de António Joaquim Esteves e de Joana Rosa Vaz, moradores no
lugar dos Bouços, freguesia de Prado. A madrinha era Rosa Clara de Magalhães,
solteira, de Remoães. // A 17/3/1850, na igreja de Remoães, foi padrinho de seu
sobrinho Luís Manuel Fernandes, nascido no dia anterior. // A 11/5/1851, na
igreja de Remoães, foi padrinho de Leopoldina Rosa, nascida no dia anterior,
filha de Manuel Joaquim Marques e de Ana Maria Monteiro, moradores no lugar da
Costa, freguesia de Remoães. A madrinha era Carlota Teresa Monteiro, tia da
neófita. // A 18 de Outubro de 1852, na igreja de Remoães, foi
padrinho de Mariana Araújo Esteves, nascida no dia anterior. // A 21/10/1869,
na igreja de Remoães, foi padrinho de João Evangelista, nascido nesse dito dia,
filho de Manuel Francisco Cardoso e de Luísa Maria Almuinha, lavradores
proprietários. // A 1/3/1871, na igreja de Remoães, foi padrinho de Joaquina
Rosa, nascida nesse dito dia, filha de José Maria de Sousa Araújo Pinto e de
Maria Joaquina Fernandes. // A 19/1/1874, na igreja de Paderne, foi padrinho de
Olímpia Aurora Campos, nascida sete dias antes. // Morreu a 17/8/1874, em sua
casa de Cima de Vila, freguesia de Remoães, foi sepultado na igreja a 19 desse
mês e ano. // Deixou testamento. // Irmão de Joana Vaz.
VAZ, Manuel Joaquim (Padre). Filho de
--------- Vaz e de --------------------------. Nasceu no lugar de Requeixo, São
Paio, a --/--/18--. // Faleceu a 15/2/1903.
VAZ, Manuel José (Padre). Filho de
Manuel António Vaz e de Rosa (ou
Rosa Teresa) Maria Rodrigues Torres, moradores no lugar do Requeixo.
Neto paterno de Francisco José Vaz e de Antónia Lourenço; neto materno de
António Codesso Rodrigues Torres e de Ana ou Joana Maria Gonçalves. Nasceu em
São Paio a 12/3/1838 e foi batizado a 15 desse mês e ano. Padrinhos: João
Rodrigues e Maria Rosa Domingues, do lugar da Rasa. // Escreveu o Dr. Augusto
César Esteves em “O Meu Livro das Gerações Melgacenses”, volume I, página 501:
«Seu património foi feito pelos pais em
1/2/1865 e para tanto lhe doaram o usufruto de vários prédios sitos em São Paio.»
// A 1 de Fevereiro de 1865, na igreja de São Paio, serviu de testemunha no
casamento de João Manuel Vaz com Maria Joaquina Durães. // A 26/7/1869, na
igreja de São Paio, foi padrinho de Rosa Teresa, nascida dois dias antes, filha
de João Manuel Vaz e de Maria Joaquina Durães. A 8/7/1870, na igreja de São
Paio, foi padrinho de Rosa Teresa, nascida quatro dias antes, filha de Bento
Manuel Rodrigues e de Carolina Rosa de Carvalho, residentes no lugar da Granja.
// A 23/4/1874, na igreja da freguesia de São Paio, onde era pároco, foi
padrinho de Marcelina Rosa Torres, nascida no dia anterior. // Em Dezembro de
1889 era pároco encomendado de São Paio. // Em 1891 ainda era encomendado em
São Paio. // Morreu a 15/2/1903, no lugar do Requeixo, sem quaisquer
sacramentos, com sessenta e quatro anos de idade, sem testamento, e foi
sepultado no cemitério da freguesia.
VAZ, Manuel Pedro (Padre). // Em 1837
era minorista; nesse ano, a 21 de Setembro, na igreja de Fiães, serviu de
testemunha no casamento de Joaquim Marques com Maria Joaquina Alves. // Em 1842
já era presbítero; residia no lugar do Faval. // A 17/4/1843, na igreja de
Fiães, batizou Constantino, nascido a 9 desse mês e ano, filho de Francisco
Alves e de Teresa Fernandes, residentes no lugar da Candosa.
VAZ, Matias (Padre). Filho de António
Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro. Neto paterno de Luís Vaz e de Mariana
Gonçalves; neto materno de Manuel Francisco Meleiro e de Teresa Vaz. Nasceu em
Fiães a 24/2/1877. // Ordenou-se sacerdote no seminário de Braga, no ano de
1901. // Paroquiou as freguesias de Fiães, da Gavieira, foi pároco colado de
Lamas de Mouro (desde
Outubro de 1902, ver A Voz de Melgaço n.º 1001) e Castro Laboreiro. // Em 1912 ainda
era pároco de Lamas de Mouro; nesse ano recebeu uma intimação das autoridades
para no prazo de cinco dias deixar a casa de residência paroquial (Correio de Melgaço n.º 7). // Em 1919 o
padre Firmino Gonçalves era pároco encomendado de Fiães; nesse ano, porém, foi
paroquiar uma freguesia dos Arcos de Valdevez; o seu lugar seria preenchido,
assim se esperava, pelo padre Matias Vaz (Jornal de Melgaço n.º 1253, de 6/7/1919). // Lê-se no
Notícias de Melgaço n.º 26, de 18/8/1929, escrito pelo padre João N. Vaz: «Com
muitas saudades da família, e da maior parte da freguesia, foi tomar posse da
paróquia da Gavieira o reverendo padre Matias Vaz que regeu esta durante dez
anos. Foi fecundo em obras materiais e espirituais o seu apostolado nesta
freguesia, não só para o convento (*) como para as capelas. No convento (*)
conseguiu com muito trabalho e desgostos concentrar nas mãos de Francisco de
Jesus Alves todas as esmolas, resultando que não havendo até ali um conto de escudos
no fim de cada ano, deixasse agora 2.000$00 escudos, tendo-se já gasto na torre
700$00 e em compor a igreja 2.400$00, afora outros gastos de pequena monta. Proveu
de missais a igreja, capela de Alcobaça, capela de Nossa Senhora da Vista e
capela do Sagrado Coração de Jesus. Deitou telha marselha às capelas de Nossa
Senhora do Socorro e Nossa Senhora da Vista. Edificou a capela do Sagrado
Coração de Jesus, na Adedela, comprou para ela as imagens do Sagrado Coração de
Jesus, de Santa Teresinha do Menino Jesus e de São José, comprou para ela um
sino no valor de 4.500$00, forrou-a, construiu o cemitério de Adedela, teve uma
missão, quatro tríduos ao sagrado coração de Jesus, comprou casulas para a
capela de Alcobaça, uma alva e duas banquetas. Deus lhe pague todo o bem que
fez nesta freguesia, já que o mundo lho não pagou.» /// (*) Devia ter falado
apenas na igreja do convento, pois era o que restava do antigo mosteiro.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 75, de 31/8/1930: «Fiães, Adedela,
30/8/1930: No dia 17 do corrente mês realizou-se no mosteiro de Nossa Senhora
da Peneda a tocante cerimónia da comunhão solene das crianças, seguida de missa
solene. Fez a alocução, às crianças, o reverendo pároco Matias Vaz, que há um
ano emprega todos os seus esforços por iluminar aquelas almas há muito privadas
da luz do evangelho. O reverendo Matias Vaz, para poder ministrar o ensino
religioso às crianças estabeleceu uma escola na Peneda, onde trabalhou até
Maio, e estabeleceu outra na Gavieira, onde atualmente emprega a sua atividade;
e assim, pouco a pouco, vai desbravando aquele matagal.»
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 106, de 26/4/1931: «… No dia 8 do
corrente realizou-se na capela do Sagrado Coração de Jesus, em ação de graças
pelo restabelecimento de José Batista Domingues, do lugar da Quingosta, uma
solenidade religiosa, composta de missa cantada e sermão. Foi orador o
reverendo padre Matias Vaz, muito digno pároco da Gavieira, que num primoroso
discurso biografou a vida secular e religiosa de Santa Teresinha do Menino
Jesus… Falou dos grandes milagres que tem feito, e continua a fazer,
demonstrando à evidência que Ela no Céu está constantemente a espalhar flores
sobre a terra…» E continua, lembrando os milagres que a santa fez na freguesia
de Fiães. Só faltou dizer que os milagres dos santos substituem com vantagem os
atos médicos.
A 27/6/1937, à porta do tribunal judicial de Melgaço, iriam ser
arrematados em hasta pública alguns dos seus bens, situados na freguesia de
Fiães: «vão à praça nos autos de carta
precatória vinda daquela comarca (*) e extraída dos autos de execução de
sentença, em que é exequente Joaquim Augusto Toga, viúvo, capitalista, e
executado o padre Matias Vaz, para pagamento da quantia de 8.470$08, ao
exequente e mais despesas até final» (ver Notícias de Melgaço n.º 356, de 6/6/1937, e 420, de
6/11/1938). // Morreu a 8/5/1943. // Era irmão do padre João Nepomuceno
Vaz. /// (*) Comarca dos Arcos de Valdevez, onde ele era pároco, na
freguesia da Gavieira.
VAZ,
Miguel Caetano (Padre). // Residiu na vila de Melgaço. // Em Maio de 1819, na
igreja de Remoães, foi padrinho de Manuel José Monteiro, nascido a 5/5/1819,
filho de João António Monteiro e de Luísa Maria Rodrigues, moradores no lugar
da Costa, Remoães. A madrinha era Caetana Maria Rodrigues, tia da neófita, do
lugar do Cruzeiro, São João de Sá. // A 1/3/1824, na igreja de SMP, foi
padrinho de Luís Manuel, nascido a 26 de Fevereiro desse ano, filho de Domingos
José Gonçalves e de Maria Josefa Esteves, naturais de Rouças.
VIEIRA, João Paulo Torres (Padre).
Nasceu na freguesia de Feitosa (ou
freguesia de Rebordões, Souto), concelho de Ponte do Lima, a 7/5/1974. // Ordenou-se a
26/7/1998. // A 14/9/2008 foi nomeado pároco da vila de Melgaço e Penso a fim
de substituir o padre Justino Domingues. A 21 daquele mês e ano, de Prado e
Remoães. // Exercia a profissão havia dez anos: em Cabana Maior, Grave, Carral
Covo e Paço, nos Arcos de Valdevez (seis
anos);
Lanhelas e Vilar de Mouros, em Caminha (VM 1299, de 1/8/2008). // Foi arcipreste de Melgaço, o 6.º,
desde Janeiro de 2009. // Em Agosto ou Setembro de 2018 deixou Melgaço a
caminho de Ponte de Lima (A Voz de Melgaço n.º 1419, de 1/8/2018). // «Padre João Paulo Torres Vieira é nomeado
pároco de São Martinho de Alvaredo, Santa Maria Madalena de Chaviães, São
Martinho de Cristóval, Santa Maria de Fiães, Santa Marinha de Rouças, e Santa
Maria de Paços, arciprestado de Melgaço, em acumulação com os outros ofícios
que lhe estão confiados.» // «O reverendo padre João Paulo Torres Vieira é
dispensado da paroquialidade de Alvaredo, Chaviães, Cristóval, Fiães, Paços,
Penso, Rouças, Remoães, Prado, Vila (SMP), no arciprestado de Melgaço, e
nomeado pároco de Refoios de Lima, Arcozelo, Bertiandos, Sá, e Santa Comba, no
arciprestado de Ponte de Lima, em colaboração com o reverendo padre Luís
Armando Barroso Martins, na condição de vigário paroquial.»
VIEIRA,
Luís António Gomes (Padre). // Morou no lugar de Soengas, freguesia de Chaviães.
// Gerou em Maria Teresa Álvares, solteira, galega, natural da freguesia de São
Jorge de Vilar, mas residente em Chaviães, Melgaço, uma menina, Maria das
Dores, nascida em 1850, a qual casou na igreja de Chaviães a 21/5/1866, somente
com a idade de quinze anos, com Júlio José Alves, nascido na freguesia de Chaviães
a 31/8/1836. Serviram de testemunhas: frei
Manuel de Maria Santíssima Codesso, morador no lugar de Fonte, e Manuel
Joaquim Vaz, solteiro, lavrador, residente no lugar de Parada, ambos
chavianenses. // Maria das Dores faleceu a 1/10/1869, tinha apenas dezanove
anos de idade! O seu viúvo casou em segundas núpcias com Maria Joaquina Alves
Ramos.
{[VIEIRA, Maria das Dores Alves Gomes.
Filha de Maria Teresa Álvares, natural da freguesia de São Jorge de Vilar,
Galiza, moradora na freguesia de Chaviães. Neta materna de Miguel Álvares e de
Caetana Fernandes, galegos. Nasceu em Chaviães a 12/7/1850 e foi batizada pelo
padre JLBC dois dias depois. Padrinhos: Romão Álvares, tio da neófita, e Maria
Delfina, ambos de São Jorge de Vilar. // Era filha
do padre Luís António Gomes Vieira. Isto ficou escrito no seu assento de
óbito, escrito pelo padre Bernardo António Rodrigues Passos. // Casou muito
nova, com Júlio José Alves. // Faleceu (talvez de parto) a 1/10/1869, ao
meio-dia, na sua casa, sita no lugar da Igreja, Chaviães, com apenas dezanove
anos de idade! // Fizera testamento. // Não deixou descendência. // Foi
sepultada na igreja da sua freguesia natal.]}
O padre Luís António
Gomes Vieira também gerara em Maria Manuela Barreira, natural de Alveios, Galiza,
uma menina, ao qual deram o nome de Maria Teresa de Jesus:
{VIEIRA, Maria Teresa de Jesus Gomes. Filha
do padre Luís António Gomes Vieira e de Maria Manuela Barreira,
solteira, natural de Alveios, Galiza. Nasceu em Chaviães por volta de 1818. //
Lavradeira. // Casou com José Joaquim Alves [de Abreu]. // Faleceu a 3/2/1880,
em sua casa de morada, sita no lugar de Soengas, com todos os sacramentos, com
sessenta e dois anos de idade, sem testamento, com filhos, e foi sepultada na
igreja.}
{ALVES, Gregório Ventura. Filho de José Joaquim Alves e de Maria Teresa
de Jesus Gomes Vieira, lavradores, residentes em Soengas. Neto paterno de
António Joaquim Alves e de Antónia Maria Esteves; neto
materno do padre Luís António Gomes Vieira e de Maria Manuela Barreiro.
Nasceu em Chaviães a 10/11/1868 e foi batizado pelo padre BARP a 15 desse mês e
ano. Padrinhos: Gregório Ventura Gomes, solteiro, lavrador, e Delfina de Sousa
Viana, casada.}
VILARINHO,
João Lopes (Padre). // Viveu no século XVII. // Foi pároco da freguesia de
Rouças, Melgaço. // Lê-se no Diário do Minho, de quarta-feira, 19/2/2020, no
caderno Cultura: «… deu parecer favorável
à concessão da necessária licença (a
fim da capela da Senhora da Esperança, ou São Bento de Barata, abrir portas aos
crentes), tendo o processo sido encerrado em 9/7/1651…»
VILARINHO, Manuel António de Sá (Padre).
Nasceu em Ceivães, Monção, por volta de 1832. // Ao todo esteve a paroquiar a
freguesia de Paderne durante 31 anos (1886-1917). // A 18/3/1896,
na igreja de Paderne, foi padrinho de Rosinda da Glória Fernandes, nascida dois
dias antes. // A 26 de Fevereiro de 1904, na igreja de Paderne, foi padrinho de
António Manuel, nascido seis dias antes, filho de José Joaquim de Abreu e de Clara
Domingues. // A 24/2/1906, na igreja do mosteiro de Paderne, foi padrinho de
José Maria, nascido seis dias antes, filho de José Joaquim de Abreu e de Clara
Alves Sanches. // Morreu em Paderne a 19/1/1917, com oitenta e cinco anos de idade;
o seu funeral realizou-se dois dias depois, tendo sido sepultado no cemitério
local (Correio de Melgaço n.º 233, de 21/1/1917). // Ficou a
substituí-lo o padre Francisco José Dias. // Era tio de Rosa Vilarinho, casada
com Marcelino Ilídio Pereira; de Raul Vilarinho; de Eduardo Rodrigues Vilarinho;
de Eduardo de Sá Vilarinho; e de Eduardo Lopes Vilarinho, tenente da armada (Correio de Melgaço
n.º 234).
VILARINHO, Manuel Francisco Gonçalves de
Sá (Padre). // A 2/1/1815, na igreja de Paderne, foi padrinho de Maria Rosa,
nascida nesse dito dia, filha de Manuel Bento Lourenço e de Joaquina Rosa
Sarmento. A madrinha, Maria Violante Gonçalves Vilarinho, era irmã do padrinho.
// Em 1823 continuava a ser pároco de Paderne.
XAVIER, Ildefonso (Padre). // Nasceu em
Timor Leste a 17/5/1952 (ou 1953? - ver A Voz de Melgaço n.º 1483, de 1/2/2024,
página 15). // Ordenou-se sacerdote na arquidiocese de Braga em 1977 ou 1978,
passando a trabalhar na paróquia de Maximinos, Braga. // Desde 5/8/1979 que é
pároco da freguesia da Gave, Melgaço, acumulando posteriormente com a freguesia
de Cubalhão, etc. // Em 1992 passou a ser pároco também de Parada do Monte,
substituindo o padre António Domingues, já idoso. // Licenciou-se pelo
Conservatório de Braga com o Curso Geral de Composição. É músico e organista e deu
aulas de educação musical na Escola Preparatória de Melgaço. // A sua mãe
faleceu em Timor com sessenta e nove anos de idade, em 1995, sem nunca ter
visto o filho depois de este ser presbítero! // (ver A Voz de Melgaço
n.º 961 e n.º 1022). // Morreu na sua terra natal a 25/01/2024.
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BIBLIOGRAFIA
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As Freguesias do
Concelho de Melgaço nas Memórias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memória,
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António. “Melgaço Medieval”, 1975.
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Maria do Sameiro. «A La Recherche De Mes Racines». L’Harmattan.
ESTEVES,
Augusto César. As Minhas Gerações Melgacenses.
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Augusto César. Obras Completas, volume I, tomos I e II.
ESTEVES,
Augusto César. Melgaço, Sentinela do Alto Minho. 1959.
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Jornal de Melgaço, Correio de Melgaço, Notícias de Melgaço, A Voz de Melgaço,
Fronteira Notícias, Diário do Minho…
MARQUES,
José (Professor e Cónego). O Mosteiro de Fiães.
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MINISTÉRIO
DAS OBRAS PÚBLICAS E COMUNICAÇÕES. Boletim da Direção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais. Igreja de Nossa Senhora da Orada. Março de 1940.
MONTEIRO,
Fernando Moreira de Sá. «CASTROS E SOUSAS, Senhores de Parderrubias, da honra
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ROCHA,
Joaquim Agostinho. Gentes do Concelho de Melgaço.
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Joaquim Agostinho. Dicionário Enciclopédico de Melgaço.
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Henrique. Extinção das Ordens Religiosas e Dinâmicas Sócio Culturais: frades
residentes no Alto Minho no século XIX.
RODRIGUES,
Luís Filipe Gonzaga Pinto. Um Pioneiro do Modernismo. Osvaldo Macedo de
Sousa/João d’Alpoim Botelho.
VAZ, Padre Júlio. Na
Terra de Inês Negra.
VAZ, Padre Júlio. Padre
Júlio Vaz Apresenta Mário.
FIM
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