sexta-feira, 14 de março de 2025

MELGAÇO: Padres, Monges, Frades...

Por Joaquim A. Rocha 



// continuação... 


VAZ, Júlio Hilarião (Padre). Filho de Francisco Júlio Vaz e de Angelina Alves Salgado. Neto paterno de António Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro; neto materno de António Justiniano Alves Salgado e de Teresa de Jesus Domingues. Nasceu no lugar de Adedela, freguesia de Fiães, a 21/10/1916. Teve por padrinho o seu tio, padre João Nepomuceno Vaz. // Após a 4.ª classe, concluída em 1926, com a classificação de ótimo, ingressou no Seminário de Braga. // A 5/7/1935 fez exame de filosofia e de ciências do 2.º ano e ficou distinto em ambos os exames (NM 277, de 14/7/1935, e NM 278, de 21/7/1935). // Em 1936 era aluno do 2.º ano de teologia, sendo, nesse ano, premiado com a menção honorífica intelectual. Colaborava, na altura, com o «Notícias de Melgaço». // Em 1937 concluiu o 2.º ano de teologia, ficando distinto. Teve ainda outro prémio. // Em 1938 fez atos do 3.º ano de teologia e moral, obtendo a classificação de distinto. // No ano de 1938 esteve internado vinte e um dias no hospital de São Marcos, onde foi operado (NM 397, de 15/5/1938). // Foi ordenado sacerdote em Janeiro, ou a 23 de Setembro, de 1939. // Cantou missa nova na igreja matriz da vila de Melgaço no dia seguinte. // Ficou a residir em Braga. // Foi capelão da missa das doze horas na igreja dos Congregados durante quinze anos. // De 1940 a 2000 foi capelão das religiosas “Servas de Jesus”. // Em 1941 foi nomeado subdelegado da Mocidade Portuguesa. Também foi assistente eclesiástico da Ação Católica de Braga. // Foi professor no Seminário (deixando de lecionar em 1966) e redator do “Diário do Minho” (desistindo do cargo em 1971). // A 31/5/1946, juntamente com o médico Dr. Júlio de Lourdes Outeiro Esteves, melgacense, natural da freguesia de Cristóval, fundou o jornal “A Voz de Melgaço”, sendo seu diretor por mais de cinquenta anos. Era um homem de armas. Polemizou bastante com o advogado Dr. José Joaquim de Abreu, que se dizia republicano, polémica essa que alastrou a outras figuras públicas de Melgaço. Também guerreou com o Dr. Augusto César Esteves e com o Dr. Carlos Luís da Rocha, e com outros. ***

    

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 918, de 4/12/1949:

 

Nota Oficiosa

 

     «O quinzenário A Voz de Melgaço de 15/11/1949, em artigo intitulado “Na primeira linha” toca dois pontos que convém esclarecer para que os melgacenses que vivem afastados da sua terra não sejam induzidos em erro. São eles: a) Serviços Florestais. – A este propósito bastaria limitar-me a transcrever o seguinte período de um artigo no mesmo jornal, de 15 de Junho do corrente ano - “Os senhores Presidente da Câmara e Dr. Júlio Esteves viram finalmente coroados de êxito os seus trabalhos, no referente aos Serviços Florestais, na freguesia de Parada do Monte”. - E não se ficou por aqui. Mais do que se conseguiu para Parada do Monte, conseguiu-se para as freguesias da Gave e de Castro Laboreiro. Foram essas três freguesias que pediram o auxílio da Câmara para a solução do problema dos Serviços Florestais. O presidente da Câmara percorreu os montes das freguesias de Parada do Monte e Gave, assistiu às reclamações das suas populações, e pôde verificar que o Senhor Engenheiro lhes concedeu tudo quanto pediram. Desejariam mais? Sem dúvida. Desejariam até que acabassem os Serviços Florestais, o que certamente não desejam aqueles que têm obrigação de reconhecer os benefícios que deles resultam para a economia nacional. Parece-me, portanto, que não estivemos à espera do exemplo de Viseu, nem aguardamos a defesa parlamentar. b) Milho: o milho ainda não faltou no concelho de Melgaço. Creio bem que a intervenção da Câmara só se tornará necessária quando a miragem do lucro faça esquecer a fome nos lares portugueses, isto é, quando o milho começar a sair para Espanha. E não espera a Câmara que o perigo surja para, apressadamente, tomar medidas para combate-lo. Expôs já o assunto superiormente e focou esse perigo. Aguarda solução para estar preparada. Dizemos que não precisa de intervir já porque a todos é permitida a aquisição, e muito tem entrado no concelho. Quanto ao milho colonial, aqueles que se encontram inscritos na Comissão Reguladora das Moagens de Ramas, e são bastantes dezenas deles no nosso concelho, podem requisitá-lo, e também desta entraram já muitos milhares de quilos. Os preços são ainda elevados? Requisite-se mais, juntem-se os nossos lavradores para que entre em maiores quantidades, de maneira a fazer baixar os preços, tanto mais que o milho importado, ao contrário do que sucede em outros concelhos, não necessita, no nosso, de ser vendido já farinado.» // Paços do Concelho de Melgaço, 23/11/1949. O Presidente da Câmara, Carlos Luís da Rocha.                

 

     Pode ler-se no Notícias de Melgaço n.º 921, de 8/1/1950:

 

Nota Oficiosa

 

     «Não respondo ao arrazoado do senhor Júlio Vaz. Esse senhor foi de tal maneira infeliz, imprudente e malcriado que a resposta obrigar-me-ia a afastar-me daquelas normas elementares da boa educação que todo o cidadão deve conhecer, mormente quando esse cidadão é um sacerdote. E se hoje me sirvo novamente das colunas do Notícias de Melgaço para publicar uma nota oficiosa, que não é paga, faço-o unicamente movido pelo respeito que me merece a gente da minha terra e todos aqueles que põem acima dos ódios pessoais, da inveja e do despeito, os interesses do concelho de Melgaço

 

     «A si, senhor Júlio, devo-lhe apenas uma explicação. Publiquei a Nota Oficiosa de 23/11/1949 no Notícias de Melgaço porque é esse o jornal de Melgaço. É certo que circula por aí um outro com um título que pretende fazer crer que representa a voz de Melgaço, mas não representa. Representa sim, a sua voz, a dos manos… e pouco mais. E já que me fala em confiança política, devo dizer-lhe que não poderia merecer-ma um jornal que no período mais grave, menos seguro da atual situação política, a atacou impiedosamente, a ponto de merecer, segundo dizem, as felicitações dos elementos mais destacados das oposições neste concelho. Leia-se A Voz de Melgaço de 15/1/1949. Até hoje tem-me merecido essa confiança o Notícias de Melgaço. O passado, desconheço-o, e não me interessa. Interessa-me o presente e, no presente, os homens que lá trabalham só me tem ajudado na minha missão de modesto, mas desinteressado servidor da política do Estado Novo. Mas ainda que estas duas razões não bastassem dir-lhe-ia apenas que publico as notas oficiosas onde entender, porque ninguém me obriga a publicá-las neste ou naquele jornal. Não estou sob tutela. V. Ex.ª certamente gostaria de ser tutor. Tenha paciência e sofra resignadamente o desgosto de o não ser   

 

     «Voltemos aos dois assuntos da minha nota oficiosa de 23 de Novembro, já que o senhor quis lançar novamente a confusão. – Serviços Florestais: falei apenas como presidente da Câmara e consequentemente foquei o problema em relação a este concelho. Fi-lo precisamente em consequência daquela sua condicional, porque era nela que se encontrava envolvida a serpente venenosa… O senhor sabia muito bem que alguma coisa se tinha feito e talvez propositadamente a ocultou. - Milho: - neste ponto a sua resposta é de tal maneira infeliz, confusa e disparatada, que nem a tal história do dicionário e da lição de borla o salva. Como a lição foi de graça não se lhe devia exigir muito. Se fosse paga, dir-lhe-ia que lesse mais algumas vezes o dicionário. E pede V. Ex.ª que me retrate?! Parece impossível! Ah! Já me esquecia. V.Ex.ª não pede. V. Ex.ª exige, o que é muito mais. V.Ex.ª chega a ter graça com essas exigências aristocráticas 

 

     «Tenha calma, não seja precipitado, não seja imprudente. Deixe-se de malabarismos, de jogo de palavras e apalpe a realidade dos factos. Essa encontra-a V. Ex.ª na minha nota oficiosa. Quer V. Ex.ª destruí-la, é certo, mas espalha-se… até quando afirma que a Rouças já chegou milho de fora. Na nota oficiosa dizia eu que tinham entrado já muitos milhares de quilos no concelho. V. Ex.ª não leu isso? Se leu, compreendeu uma coisa muito diferente: que eu dissera que o concelho produzira milho suficiente para satisfazer as suas necessidades. Não foi isso que eu escrevi, nem tal coisa me estava no pensamento, pois não ignoro a escassez da última colheita. V. Ex.ª parece confundir… Eu desculpo-o porque sei que V. Ex.ª é uma pessoa nervosa e que não domina os nervos, e estes, quando não se conseguem refrear, tolhem-nos a razão.»

 

     «Devo preveni-lo que aos seus ataques responderei com o silêncio e formularei votos para que V. Ex.ª se corrija e entre no caminho do bem, da paz e do amor. Como sacerdote, que é, já por ele há muito devia caminhar. V. Ex.ª é uma pessoa de bem que se perdeu, mas que voltará a encontrar-se. Então deixará de ser um elemento pernicioso para ser um elemento útil ao seu concelho, ao nosso concelho.»

 

     «E para terminar, quero dizer-lhe que confirmo plenamente tudo quanto disse na nota oficiosa de 23 de Novembro. Os factos são aqueles, a verdade é só aquela. Melgaço, 26/12/1949.» O Presidente Câmara, Carlos Luís da Rocha. ***

 

     No Notícias de Melgaço n.º 921, de 8/1/1951, páginas 4 e 3, ainda se pode ler outra Nota Oficiosa assinada pelo Dr. Júlio Outeiro Esteves, na qual ataca os irmãos Vaz, proprietários e redatores de “A Voz de Melgaço”.

 

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 923, de 29/1/1950: «A Nossa Resposta –> O Dr. Carlos Luís da Rocha levanta a laje do sepulcro e responde – presente! A resposta contundente e esmagadora do senhor padre Júlio Hilarião Vaz não o prostrou ainda. Está de pé e de pé continuará para aparecer de frente, à luz do dia, sem esperar o luzo-fusco, sem manobrar por detrás da cortina ou do reposteiro. Não era, realmente, intento meu aparecer. Os adversários não me mereciam, o assunto estava suficientemente esclarecido e a gente de Melgaço, como ela diz, sabe bem quem são uns e quem são os outros. Mas o último número de A Voz de Melgaço enojou-me de tal maneira que não podia calar-me. Aquilo é uma vergonha e a manobra, vergonhosa manobra, não escapou ao público que leu o jornalzinho. Lamento esses juízos injuriosos em relação a pessoas que reputo homens de caráter. Chocou-me mais isso do que todo esse palavreado oco que me é dirigido pelo profissional de jornalismo, que escreve muito, enche muitas colunas, mas no fim, espremido, é tudo palavreado, palavreado barato, de reclame, em resumo: – uma chocalhada. Sentiu-se V. Ex.ª por o tratar por “senhor Júlio”. Fi-lo propositadamente, pois, apesar de cristão, só pelo batismo, como V. Ex.ª diz, mas que não é verdade, queria respeitar o padre, que gostaria de ver fora desta cena. Respeito muito o clero, porque sei apreciar a sua alta missão de educador. No entanto, lamento que V. Ex.ª tenha esquecido de que era padre e tenha traído a sua missão. Um padre não procede como o Senhor procedeu. Não sou eu apenas a dizê-lo. Dizem-no aqueles a quem V. Ex.ª não poderá chamar de católicos integrais. Tenho em meu poder cartas de alguns deles, pasmados com a atitude por V. Ex.ª tomada. Agora não lhe dou conselhos, Senhor Padre Júlio. Censuro-o. Se V. Ex.ª perdeu o respeito por si próprio, como hei de eu respeitá-lo? A atitude por V. Ex.ª tomada pode refletir-se na classe a que pertence e serve apenas para a desprestigiar. Medite no que se passa, ausculte a opinião pública, e sentirá que foi de uma infelicidade pasmosa. Arrepie caminho. Ainda está a tempo. Tem o dicionário à mão? Procure na estante. Eis! Tantos livros! Tanta ciência! Um sábio. Está com o dicionário na mão? Procure a palavra desassombro. Leu? Empregou bem o tempo? Nós, por aqui, damos-lhe um significado diferente. Chame-lhe desassombro, chame-lhe o que quiser, pode até deitar-lhe pimenta, mas nós é que não comemos isso como desassombro. Corrija. Isso é que será desassombro. E agora apenas duas ligeiras observações, uma sobre os Serviços Florestais e a outra sobre o milho. O ilustre deputado Dr. Elísio Pimenta, que há dias tratou o assunto na Assembleia Nacional com brilho e com entusiasmo, dizia-me antes disso, mas depois de ter coligido os elementos fornecidos por várias Câmaras Municipais, e até Juntas de Freguesia, o único concelho onde alguma coisa se tinha feito, quanto aos Serviços Florestais, era o de Melgaço. E sabe V. Ex.ª que nos outros concelhos há também o tal documento? Se todas as Câmaras Municipais obrigassem ao cumprimento do que estava estipulado, não teria surgido o problema dos Serviços Florestais. Não se obrigou? Porquê? “Com o teu amo não jogues as peras”. V. Ex.ª se não é ingénuo, parece-o. Já o outro dizia – “se não o é, para que anda a enganar-nos”? Já vi a sua resposta. Quer que todos os presidentes das Câmaras se demitam. Circule nesse sentido. Ficará V. Ex.ª o Rei de Portugal e está resolvido outro problema – o da Monarquia. De uma cajadada matou dois coelhos. Bom atirador. V. Ex.ª sabe que o milho continental não está tabelado, que é livre a sua venda? Não foi V. Ex.ª um entusiasta defensor dessa medida, para que tanto trabalhou o falecido Doutor Rocha Páris. Já se esqueceu disso? Por não ser tabelado é que há no concelho milho que se vende a 3$50. Esse é continental. O colonial vende-se à tabela. Um e outro vendem-se na maior parte dos estabelecimentos comerciais do concelho. Não há dinheiro para o comprar? Os cofres da Câmara não se podem abrir para isso. O problema é geral, e não é o presidente da Câmara de Melgaço que o há de resolver. O próprio governo encontrará na sua resolução tremendíssimas dificuldades. Mas como V. Ex.ª encontra solução para tudo, para este caso também não falha. Todos os presidentes se devem demitir e V. Ex.ª ficará o Rei de Portugal e … dos Algarves. O Governo cumpriu e forneceu milhares de contos para aquisição de milho colonial. Quer com certeza o senhor dizer que adiantou esse dinheiro, pois não me consta que tenha sido distribuído milho gratuitamente. Ora, havendo abundância de milho no concelho, para que se há de mandar vir mais? Não é preciso seguir o exemplo do governo. O problema é outro, senhor padre Júlio. Admira-me que V. Ex.ª ainda se não tenha apercebido disso. E esse é que Câmara não pode resolver. Não tem dinheiro para milho quem dele necessita. Não sabe V. Ex.ª que a Câmara só pode fazer determinadas despesas? Ignora V. Ex.ª que existe um organismo, chamado Tribunal de Contas, perante o qual a Câmara tem de prestar contas? Quanto a trabalhos, a dar dinheiro a ganhar, ignora V. Ex.ª que está em curso a Obra de Abastecimento de Águas à Vila (orçada em 787.000$00) e a reparação da estrada de Paderne (orçada em 229.400$00), e que em breves dias vai ser posta a concurso a reparação da estrada de Cavaleiros (orçada em 108.822$22)? Quer mais? E o dinheiro? E as comparticipações? Ou V. Ex.ª é um ignorante nestas coisas ou não é bem-intencionado quando fala ou escreveMelgaço, 26/1/1950. O Presidente da Câmara – Carlos Luís da Rocha. ***

 

          Padre Júlio Hilarião Vaz – Eu entrei no baile porque Vossa Reverência me convidou e como, apesar da sua opinião em contrário, não estou habituado a voltar a cara, cá estou a fazer o meu “pé de dança”, com esforço, é certo, porque já estou velho para estas marcações coreográficas. É claro que com a minha manifesta incapacidade de plumitivo e… falta de hábito de fazer entrevistas em viagens de automóvel e de avião (de avião é que não era capaz de as fazer; tenho medo de cair, confesso, e àqueles bichos acontece às vezes como a certas pessoas que querendo subir muito alto… de repente lhes falta o pé); mas, dizia eu, que com a manifesta incapacidade de plumitivo não consegui dizer ao concelho porque saí do jornal. E não disse. Vossa Reverência prova-o e eu venho ainda outra vez ajudá-lo, esgaravatando dumas cartas que possuo (o diabo do acaso sempre tem coisas… !!!), cartas dignas, sem dúvida, alguns períodos sobre os fretes que lhe pedi, com tão má intenção. Ora vejamos: 1.º frete pedido – diz V. Reverência no número 15 do corrente ano: - «Quanto aos artigos Coadjuvemos a nossa Câmara Municipal, ou que ela nos coadjuve a nós?... O senhor Dr. Júlio não gostou dele. Fez-mo sentir em sua casa. Mostrei-lhe que a verdade se dizia – o jornal não era para outra coisa – e não cedi. Não fiz o frete. Verdade e justiça acima das pessoas e dos cargos é norma segura. Realmente não gostei dos artigos, mas não foi em minha casa que lho fiz sentir. Foi por cartas (se ainda as não mostrou ao reverendo senhor padre Bernardo é tempo de lhas mostrar) e V. Rev.ª respondeu em uma carta datada de 11/4/1948. «……. O padre Bernardo desta vez não escreve coisa alguma porque não mandou nada. Anuncia dois artigos para o próximo número… Vou escrever ao padre Bernardo e ando a estudar qual deve ser o estilo. Ele queixou-se de um corte que lhe fiz. O que eu queria era que ele não deixasse de escrever a secção histórica; quanto ao resto, é o menos…….» Como se vê, não fez o frete! Em 21/4/1948, outra carta rezava assim: «…………. Recebi a sua carta, com ela, digo, no mesmo dia, uma do padre Bernardo, que lhe envio para ler confidencialmente. Eu vou dar-lhe já a resposta, sobretudo no que se refere à palavra “intencional”. Quanto aos artigos de crítica à Câmara, havia-o convidado a que descansasse um bocado, porque andava o diabo à solta. Aceitou, como vê…» Pelo visto o diabo era eu, e o senhor padre Júlio nem ao diabo fez… o frete! Mas afinal, fez ou não fez o frete? Mais tarde, em 28/1/1949, depois da publicação do celebérrimo “Por quem votamos nós?”, que pelo visto não era da sua autoria, e em resposta à carta que eu lhe escrevi dizendo-lhe definitivamente que me considera desligado do jornal, ainda recebi outra de V. Reverência, muito longa, muito prolixa, que termina assim: «… só a sua presença no jornal evitou que eu não dissesse nele coisas duras ao Dr. Pimenta, de crítica à sua obra (?); só o meu Amigo demorou a entrada para o jornal do padre Bernardo, que defendi na sua presença contra o Pimenta e que os factos me louvaram pela atitude… Mas a sua amizade prevaleceu e o padre Bernardo conformou-se. Estávamos entendidos.» E depois de todas estas “esgaravatadelas” estaremos também entendidos? Sobre este assunto, creio que sim. A sua inteligência, a sua honestidade, a sua correção, e os tais … etc., devem reconhecer que estou a prestar-lhe um ótimo serviço, ajudando-o a provar que eu não disse, mas que poderia ter dito, e que ainda poderei dizer mais. – Segundo frete pedido: correspondência da Gave sobre o agricultor da Serra da Peneda. Diz ainda A Voz de Melgaço de 15 de Janeiro: «Quis o senhor Dr. Júlio que eu desdissesse o que o correspondente havia escrito. Respondi-lhe: «Sr. Doutor, respeito os meus colaboradores e só retifico se o correspondente o fizer pessoalmente.» Repito: eu não costumo guardar cópia da correspondência que envio, mas se o senhor padre Júlio, com a sua costumada previdência, de que se orgulha com a graça de Deus, guardou essa carta, veja o que nela se pedia e publique-a para esclarecimento dos seus leitores. Se não a guardou, faça apelo à sua memória e, em consciência, veja se a narração que faz na sua resposta corresponde inteiramente à verdade. O que é que eu lhe pedia?! Mas se eu não guardo cópia da correspondência expedida, guardei felizmente as suas cartas referentes a estes casos – Deus também andou comigo – e na de 9/12/1948 dizia V. Reverência, depois de um longo arrazoado que fala muito do Dr. Pimenta (de quem será ele a sombra negra!), em que estranhava que eu o julgasse capaz de me deixar ir ao tribunal, em que transcrevia períodos de uma outra que lhe havia escrito a pedir a demissão dos cargos que desempenhava em A Voz de Melgaço; nessa carta esgaravatei eu ainda os períodos que a seguir se transcrevem: «… Lamento o seu pedido de demissão, até por saber que o faz por desacordo, como se depreende da sua carta. Lamento-o pelo gáudio político da terra, pelas suspeitas que traz e porque há, ainda que o não pareça, uma quebra de união. Como vejo, porém, a sua insistência, embora impulsionada pelo Dr. Pimenta – isto é uma dedução – hoje mesmo escrevo ao meu irmão padre Carlos para que ele, falando como o meu Amigo, escolha novo editor. E em menos de três anos dá-se, infelizmente, uma crise no jornal… no fundo derivada da política… Paciência…» Realmente aqui V. Reverência não fez o frete. Era necessário que o correspondente o fizesse pessoalmente; e, eu, é que tinha de andar à procura do senhor José Maria Rodrigues, do Dr. Pimenta, e do agricultor. Não andei, e o caso ficou assim arrumado. O que é verdade também é que o jornal não falou mais nas tais burlas do agricultor da Serra da Peneda e a tal correspondência em que se reforçavam as acusações e que eu realmente li, não apareceu a público em defesa do «pobre trabalhador que passa todo o dia de enxada na mão, cavando a terra, de coluna vertebral dobrada, suando em bica, mal vestido, mal alimentado, debaixo de um sol abrasador, escondidos no meio de uma nuvem de poeira! Como é dura a tua vida! Como o teu sangue é chupado como o pólen das flores pelas abelhas! Triste sorte! (veja A Voz de Melgaço de 1/11/1948). Mas se essa correspondência não apareceu a público até hoje, apareceu no entanto outra no número de 15/9/1949, que se intitula “Exploração Agrícola da Peneda”, onde se lê, além do mais, o seguinte: «O jornal presta homenagem ao trabalho, à energia e à técnica dos senhores José Correia de Vasconcelos & Companhia. Os reparos que uma ou outra vez têm sido feitos não invalidam de maneira alguma esta nossa consideração.» Desta vez o senhor agricultor não meteu intermediário, escreveu, mas o que eu não descobri foi a retificação pessoal do correspondente. É que V. Rev.ª não faz fretes e respeita sempre os direitos dos seus colaboradores, porque não faz favores à custa do direito dos demais! E assim se prova, com a minha ajuda, que V. Reverência não me “fez os fretes e que eu não disse ao concelho porque saí do jornal. E não disse… pronto! – Diz Vossa Reverência que eu e o senhor Dr. Rocha, ao referirmo-nos ao celebérrimo “Por quem votamos nós?” nos desencontramos no ataque. Eu dizia: “procurou atacar” e o Excelentíssimo Senhor Dr. Carlos Luís da Rocha, muito ilustre e digno presidente da Câmara, dizia: “atacou impiedosamente a atual situação política.” Mas a esclarecida inteligência de Vossa Reverência não viu que a diferença de expressões é filha do hábito da profissão? Ele, o Dr. Carlos Rocha, é advogado; e, portanto, mais incisivo ao avaliar os efeitos sem procurar conhecer a fundo a causa que os produzem. Eu, médico, para aquilatar do espetaculoso efeito, fui procurar a causa, e ao descobrir o agente do barulho que a oposição fazia à volta do “Por quem votamos nós?” pouco demorei a adquirir a tranquilidade, porque os efeitos não poderiam ser tão nefastos como a princípio se supunha. A resistência do doente seria por si só bastante para anular a virulência do micróbio. É que realmente a Obra do Estado Novo, que não necessita de adjetivos, está muito acima de todas as críticas construtivas que A Voz de Melgaço lhe possa fazer. E para terminar, deixe-me dizer-lhe, senhor padre Júlio, que eu atraiçoei realmente alguma coisa e que essa não foram nem os meus sentimentos religiosos, nem a minha fé nacionalista. Atraiçoei sim a amizade daquelas pessoas que me vaticinaram a sorte que me esperava e que – mais experientes do que eu – tanto me aconselharam a não me meter em andanças jornalísticas para que não nasci fadado. A esses, sim, a esses é que eu atraiçoei não os ouvindo, mas agora … não tenho remédio, se não penitenciar-me e … com eles em coro entoar para Vossa Reverência aquela quadra popular que eu já vi escrita não sei onde: “Pilriteiro que dás pilritos/Porque não dás coisa boa?/Cada qual dá o que tem/Conforme a sua pessoa.» ***                                  

 

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 980, de 3/6/1951: «Tendo o último número de A Voz de Melgaço publicado um artigo intitulado “Um escândalo?”…, da autoria do reverendo padre Júlio Vaz, diretor daquele quinzenário, artigo em que este malevolamente critica a dotação para a conclusão das obras da avenida à periferia da Vila, e em virtude de na Base II para o orçamento 1.º suplementar constar a verba de cento e cinquenta e dois contos destinados àquela obra, proponho: a) Que na ata fique exarado o repúdio que este Conselho Municipal manifesta pela forma insidiosa com que o referido jornal, por intermédio quer dos seus diretores, quer dos seus colaboradores, vem criticando e apreciando desde há anos a atuação da Câmara Municipal e de um modo especial do senhor presidente da mesma

 

     Em “A Voz de Melgaço” n.º 1042, de 15/12/1995, o padre Júlio Vaz relembra acontecimentos passados em Castro Laboreiro. Fala dos seus companheiros de caça: engenheiro Luís Norton de Matos, Armando Solheiro, Augusto Meixeiro. Fala também do Covelo, da Ti Ana Macheta, do padre Francisco… Escreveu ele: «Hoje, Castro Laboreiro, está descaracterizado!... / … antes da emigração era terra pobre… vivia do contrabando» // Contradições: antes da estrada para Castro Laboreiro toda a gente reivindicava o progresso daquela freguesia; depois da estrada tudo se alterou – os castrejos começaram a construir boas casas, o colmo foi abandonado, abriram-se Cafés, surgiu a eletricidade, correios, etc., e a vila e outros lugares em poucos anos ficaram irreconhecíveis. Pois bem: em 1996 o padre Júlio Vaz escreveu um artigo a que deu o título “Castro Laboreiro, quem te viu e quem te vê!...” Diz ele: «… vila durante séculos, era na sua estrutura arquitetónica, no seu ambiente social e nos seus hábitos e tradições uma zona a preservar!» E mais à frente: «Os responsáveis locais deixaram morrer todo esse habitat que seria hoje, no plano nacional, um ex-libris da nossa terra e da nossa gente» (VM 1058, de 1/X/1996).

 

     Como jornalista colaborou em “O Cávado” e na “Presença e Diálogo”. // Foi autor de “Caminho do Apostolado” (1948); “À Luz das Encíclicas: Ordem e Bem-Estar” (1963 – de colaboração); “Atualização” (1965); “À Margem da Humanae Vitae” (1968); “Última Lição” (1969); “Associações Mutualistas do Clero” (1970); “Bernardo Chousal” (1975 – biografia); “Na Terra de Inês Negra” (1993); “Padre Júlio Apresenta Mário” (1999). // Ajudou na Capelania da Senhora-a-Branca durante vários anos. // Colaborou nas Festas da Cultura de Melgaço, mais o seu irmão cónego, realizadas a partir de 1982, salvo erro, tornando-se adversário das mesmas a partir de uma certa altura, quiçá por razões políticas!

     Morreu em Braga a 17/1/2009 e foi sepultado no cemitério de Rouças no dia seguinte, domingo, em jazigo de família. (Acerca da sua biografia ver “A Voz de Melgaço” n.º 1249, de 15/6/2005, página 3; e “A Voz de Melgaço” n.º 1305, de 1/2/2009).    

 

VAZ, Júlio Nepomuceno (Padre). Filho de João Batista Vaz e de Rosa da Purificação Vergara. Neto paterno de Francisco Júlio Vaz e de Angelina Alves Salgado; neto materno de -------Vergara e de ---------------------------. Nasceu em Rouças a 31/12/1946. // Reside em Braga desde os tempos do seminário (1956), em companhia de seu irmão Carlos Nuno e de uma sua irmã. // Ordenou-se sacerdote em 1969 e depois obteve o grau de doutor na Universidade. // Em 2012 era detentor de 20% do capital social de “A Voz de Melgaço”. // Consta que é um bom músico, colaborando na missa, tocando piano ou órgão. // Por vezes aparecem alguns artigos seus em “A Voz de Melgaço”.

  

VAZ, Luís José (Padre). Filho de Luís Manuel Vaz e de Maria Benta Rodrigues, lavradores, residentes em Remoães. Neto paterno de Salvador Vaz e de Luísa Douteiro Durães, de Cima de Vila, Remoães; neto materno de José Rodrigues e de Maria Madalena Gonçalves, do lugar dos Casais, Cristóval. Nasceu a 9/10/1809 e foi batizado ainda nesse mês e ano. Padrinhos: Luís José de Sousa e sua irmã, Áurea Electa (?), e, na crisma, se lhe pôs o nome de Teresa de Jesus (devia ser freira), e assistiram, e fizeram suas vezes, Luís Manuel Pinto da Costa e Rita Joaquina de Sousa, da Portela de Remoães. // A 20/9/1840, na igreja de Remoães, foi padrinho de Maria Joaquina, nascida dois dias antes, filha de João Batista Fernandes e de Rosa Clara Vaz, lavradores, residentes no lugar de Cima de Vila. // A 16/9/1849, na igreja de Prado, foi padrinho do seu sobrinho, Luís José, nascido no dia anterior, filho de António Joaquim Esteves e de Joana Rosa Vaz, moradores no lugar dos Bouços, freguesia de Prado. A madrinha era Rosa Clara de Magalhães, solteira, de Remoães. // A 17/3/1850, na igreja de Remoães, foi padrinho de seu sobrinho Luís Manuel Fernandes, nascido no dia anterior. // A 11/5/1851, na igreja de Remoães, foi padrinho de Leopoldina Rosa, nascida no dia anterior, filha de Manuel Joaquim Marques e de Ana Maria Monteiro, moradores no lugar da Costa, freguesia de Remoães. A madrinha era Carlota Teresa Monteiro, tia da neófita. // A 18 de Outubro de 1852, na igreja de Remoães, foi padrinho de Mariana Araújo Esteves, nascida no dia anterior. // A 21/10/1869, na igreja de Remoães, foi padrinho de João Evangelista, nascido nesse dito dia, filho de Manuel Francisco Cardoso e de Luísa Maria Almuinha, lavradores proprietários. // A 1/3/1871, na igreja de Remoães, foi padrinho de Joaquina Rosa, nascida nesse dito dia, filha de José Maria de Sousa Araújo Pinto e de Maria Joaquina Fernandes. // A 19/1/1874, na igreja de Paderne, foi padrinho de Olímpia Aurora Campos, nascida sete dias antes. // Morreu a 17/8/1874, em sua casa de Cima de Vila, freguesia de Remoães, foi sepultado na igreja a 19 desse mês e ano. // Deixou testamento. // Irmão de Joana Vaz.         

 

VAZ, Manuel Joaquim (Padre). Filho de --------- Vaz e de --------------------------. Nasceu no lugar de Requeixo, São Paio, a --/--/18--. // Faleceu a 15/2/1903. 

 

VAZ, Manuel José (Padre). Filho de Manuel António Vaz e de Rosa (ou Rosa Teresa) Maria Rodrigues Torres, moradores no lugar do Requeixo. Neto paterno de Francisco José Vaz e de Antónia Lourenço; neto materno de António Codesso Rodrigues Torres e de Ana ou Joana Maria Gonçalves. Nasceu em São Paio a 12/3/1838 e foi batizado a 15 desse mês e ano. Padrinhos: João Rodrigues e Maria Rosa Domingues, do lugar da Rasa. // Escreveu o Dr. Augusto César Esteves em “O Meu Livro das Gerações Melgacenses”, volume I, página 501: «Seu património foi feito pelos pais em 1/2/1865 e para tanto lhe doaram o usufruto de vários prédios sitos em São Paio.» // A 1 de Fevereiro de 1865, na igreja de São Paio, serviu de testemunha no casamento de João Manuel Vaz com Maria Joaquina Durães. // A 26/7/1869, na igreja de São Paio, foi padrinho de Rosa Teresa, nascida dois dias antes, filha de João Manuel Vaz e de Maria Joaquina Durães. A 8/7/1870, na igreja de São Paio, foi padrinho de Rosa Teresa, nascida quatro dias antes, filha de Bento Manuel Rodrigues e de Carolina Rosa de Carvalho, residentes no lugar da Granja. // A 23/4/1874, na igreja da freguesia de São Paio, onde era pároco, foi padrinho de Marcelina Rosa Torres, nascida no dia anterior. // Em Dezembro de 1889 era pároco encomendado de São Paio. // Em 1891 ainda era encomendado em São Paio. // Morreu a 15/2/1903, no lugar do Requeixo, sem quaisquer sacramentos, com sessenta e quatro anos de idade, sem testamento, e foi sepultado no cemitério da freguesia. 

 

VAZ, Manuel Pedro (Padre). // Em 1837 era minorista; nesse ano, a 21 de Setembro, na igreja de Fiães, serviu de testemunha no casamento de Joaquim Marques com Maria Joaquina Alves. // Em 1842 já era presbítero; residia no lugar do Faval. // A 17/4/1843, na igreja de Fiães, batizou Constantino, nascido a 9 desse mês e ano, filho de Francisco Alves e de Teresa Fernandes, residentes no lugar da Candosa. 

 

VAZ, Matias (Padre). Filho de António Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro. Neto paterno de Luís Vaz e de Mariana Gonçalves; neto materno de Manuel Francisco Meleiro e de Teresa Vaz. Nasceu em Fiães a 24/2/1877. // Ordenou-se sacerdote no seminário de Braga, no ano de 1901. // Paroquiou as freguesias de Fiães, da Gavieira, foi pároco colado de Lamas de Mouro (desde Outubro de 1902, ver A Voz de Melgaço n.º 1001) e Castro Laboreiro. // Em 1912 ainda era pároco de Lamas de Mouro; nesse ano recebeu uma intimação das autoridades para no prazo de cinco dias deixar a casa de residência paroquial (Correio de Melgaço n.º 7). // Em 1919 o padre Firmino Gonçalves era pároco encomendado de Fiães; nesse ano, porém, foi paroquiar uma freguesia dos Arcos de Valdevez; o seu lugar seria preenchido, assim se esperava, pelo padre Matias Vaz (Jornal de Melgaço n.º 1253, de 6/7/1919). // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 26, de 18/8/1929, escrito pelo padre João N. Vaz: «Com muitas saudades da família, e da maior parte da freguesia, foi tomar posse da paróquia da Gavieira o reverendo padre Matias Vaz que regeu esta durante dez anos. Foi fecundo em obras materiais e espirituais o seu apostolado nesta freguesia, não só para o convento (*) como para as capelas. No convento (*) conseguiu com muito trabalho e desgostos concentrar nas mãos de Francisco de Jesus Alves todas as esmolas, resultando que não havendo até ali um conto de escudos no fim de cada ano, deixasse agora 2.000$00 escudos, tendo-se já gasto na torre 700$00 e em compor a igreja 2.400$00, afora outros gastos de pequena monta. Proveu de missais a igreja, capela de Alcobaça, capela de Nossa Senhora da Vista e capela do Sagrado Coração de Jesus. Deitou telha marselha às capelas de Nossa Senhora do Socorro e Nossa Senhora da Vista. Edificou a capela do Sagrado Coração de Jesus, na Adedela, comprou para ela as imagens do Sagrado Coração de Jesus, de Santa Teresinha do Menino Jesus e de São José, comprou para ela um sino no valor de 4.500$00, forrou-a, construiu o cemitério de Adedela, teve uma missão, quatro tríduos ao sagrado coração de Jesus, comprou casulas para a capela de Alcobaça, uma alva e duas banquetas. Deus lhe pague todo o bem que fez nesta freguesia, já que o mundo lho não pagou.» /// (*) Devia ter falado apenas na igreja do convento, pois era o que restava do antigo mosteiro.

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 75, de 31/8/1930: «Fiães, Adedela, 30/8/1930: No dia 17 do corrente mês realizou-se no mosteiro de Nossa Senhora da Peneda a tocante cerimónia da comunhão solene das crianças, seguida de missa solene. Fez a alocução, às crianças, o reverendo pároco Matias Vaz, que há um ano emprega todos os seus esforços por iluminar aquelas almas há muito privadas da luz do evangelho. O reverendo Matias Vaz, para poder ministrar o ensino religioso às crianças estabeleceu uma escola na Peneda, onde trabalhou até Maio, e estabeleceu outra na Gavieira, onde atualmente emprega a sua atividade; e assim, pouco a pouco, vai desbravando aquele matagal.»

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 106, de 26/4/1931: «… No dia 8 do corrente realizou-se na capela do Sagrado Coração de Jesus, em ação de graças pelo restabelecimento de José Batista Domingues, do lugar da Quingosta, uma solenidade religiosa, composta de missa cantada e sermão. Foi orador o reverendo padre Matias Vaz, muito digno pároco da Gavieira, que num primoroso discurso biografou a vida secular e religiosa de Santa Teresinha do Menino Jesus… Falou dos grandes milagres que tem feito, e continua a fazer, demonstrando à evidência que Ela no Céu está constantemente a espalhar flores sobre a terra…» E continua, lembrando os milagres que a santa fez na freguesia de Fiães. Só faltou dizer que os milagres dos santos substituem com vantagem os atos médicos. 

     A 27/6/1937, à porta do tribunal judicial de Melgaço, iriam ser arrematados em hasta pública alguns dos seus bens, situados na freguesia de Fiães: «vão à praça nos autos de carta precatória vinda daquela comarca (*) e extraída dos autos de execução de sentença, em que é exequente Joaquim Augusto Toga, viúvo, capitalista, e executado o padre Matias Vaz, para pagamento da quantia de 8.470$08, ao exequente e mais despesas até final» (ver Notícias de Melgaço n.º 356, de 6/6/1937, e 420, de 6/11/1938). // Morreu a 8/5/1943. // Era irmão do padre João Nepomuceno Vaz. /// (*) Comarca dos Arcos de Valdevez, onde ele era pároco, na freguesia da Gavieira.

 

VAZ, Miguel Caetano (Padre). // Residiu na vila de Melgaço. // Em Maio de 1819, na igreja de Remoães, foi padrinho de Manuel José Monteiro, nascido a 5/5/1819, filho de João António Monteiro e de Luísa Maria Rodrigues, moradores no lugar da Costa, Remoães. A madrinha era Caetana Maria Rodrigues, tia da neófita, do lugar do Cruzeiro, São João de Sá. // A 1/3/1824, na igreja de SMP, foi padrinho de Luís Manuel, nascido a 26 de Fevereiro desse ano, filho de Domingos José Gonçalves e de Maria Josefa Esteves, naturais de Rouças.

 

VIEIRA, João Paulo Torres (Padre). Nasceu na freguesia de Feitosa (ou freguesia de Rebordões, Souto), concelho de Ponte do Lima, a 7/5/1974. // Ordenou-se a 26/7/1998. // A 14/9/2008 foi nomeado pároco da vila de Melgaço e Penso a fim de substituir o padre Justino Domingues. A 21 daquele mês e ano, de Prado e Remoães. // Exercia a profissão havia dez anos: em Cabana Maior, Grave, Carral Covo e Paço, nos Arcos de Valdevez (seis anos); Lanhelas e Vilar de Mouros, em Caminha (VM 1299, de 1/8/2008). // Foi arcipreste de Melgaço, o 6.º, desde Janeiro de 2009. // Em Agosto ou Setembro de 2018 deixou Melgaço a caminho de Ponte de Lima (A Voz de Melgaço n.º 1419, de 1/8/2018). // «Padre João Paulo Torres Vieira é nomeado pároco de São Martinho de Alvaredo, Santa Maria Madalena de Chaviães, São Martinho de Cristóval, Santa Maria de Fiães, Santa Marinha de Rouças, e Santa Maria de Paços, arciprestado de Melgaço, em acumulação com os outros ofícios que lhe estão confiados.» // «O reverendo padre João Paulo Torres Vieira é dispensado da paroquialidade de Alvaredo, Chaviães, Cristóval, Fiães, Paços, Penso, Rouças, Remoães, Prado, Vila (SMP), no arciprestado de Melgaço, e nomeado pároco de Refoios de Lima, Arcozelo, Bertiandos, Sá, e Santa Comba, no arciprestado de Ponte de Lima, em colaboração com o reverendo padre Luís Armando Barroso Martins, na condição de vigário paroquial

 

VIEIRA, Luís António Gomes (Padre). // Morou no lugar de Soengas, freguesia de Chaviães. // Gerou em Maria Teresa Álvares, solteira, galega, natural da freguesia de São Jorge de Vilar, mas residente em Chaviães, Melgaço, uma menina, Maria das Dores, nascida em 1850, a qual casou na igreja de Chaviães a 21/5/1866, somente com a idade de quinze anos, com Júlio José Alves, nascido na freguesia de Chaviães a 31/8/1836. Serviram de testemunhas: frei Manuel de Maria Santíssima Codesso, morador no lugar de Fonte, e Manuel Joaquim Vaz, solteiro, lavrador, residente no lugar de Parada, ambos chavianenses. // Maria das Dores faleceu a 1/10/1869, tinha apenas dezanove anos de idade! O seu viúvo casou em segundas núpcias com Maria Joaquina Alves Ramos.  

 

{[VIEIRA, Maria das Dores Alves Gomes. Filha de Maria Teresa Álvares, natural da freguesia de São Jorge de Vilar, Galiza, moradora na freguesia de Chaviães. Neta materna de Miguel Álvares e de Caetana Fernandes, galegos. Nasceu em Chaviães a 12/7/1850 e foi batizada pelo padre JLBC dois dias depois. Padrinhos: Romão Álvares, tio da neófita, e Maria Delfina, ambos de São Jorge de Vilar. // Era filha do padre Luís António Gomes Vieira. Isto ficou escrito no seu assento de óbito, escrito pelo padre Bernardo António Rodrigues Passos. // Casou muito nova, com Júlio José Alves. // Faleceu (talvez de parto) a 1/10/1869, ao meio-dia, na sua casa, sita no lugar da Igreja, Chaviães, com apenas dezanove anos de idade! // Fizera testamento. // Não deixou descendência. // Foi sepultada na igreja da sua freguesia natal.]}  

 

     O padre Luís António Gomes Vieira também gerara em Maria Manuela Barreira, natural de Alveios, Galiza, uma menina, ao qual deram o nome de Maria Teresa de Jesus:

 

     {VIEIRA, Maria Teresa de Jesus Gomes. Filha do padre Luís António Gomes Vieira e de Maria Manuela Barreira, solteira, natural de Alveios, Galiza. Nasceu em Chaviães por volta de 1818. // Lavradeira. // Casou com José Joaquim Alves [de Abreu]. // Faleceu a 3/2/1880, em sua casa de morada, sita no lugar de Soengas, com todos os sacramentos, com sessenta e dois anos de idade, sem testamento, com filhos, e foi sepultada na igreja.}

 

     {ALVES, Gregório Ventura. Filho de José Joaquim Alves e de Maria Teresa de Jesus Gomes Vieira, lavradores, residentes em Soengas. Neto paterno de António Joaquim Alves e de Antónia Maria Esteves; neto materno do padre Luís António Gomes Vieira e de Maria Manuela Barreiro. Nasceu em Chaviães a 10/11/1868 e foi batizado pelo padre BARP a 15 desse mês e ano. Padrinhos: Gregório Ventura Gomes, solteiro, lavrador, e Delfina de Sousa Viana, casada.} 

 

VILARINHO, João Lopes (Padre). // Viveu no século XVII. // Foi pároco da freguesia de Rouças, Melgaço. // Lê-se no Diário do Minho, de quarta-feira, 19/2/2020, no caderno Cultura: «… deu parecer favorável à concessão da necessária licença (a fim da capela da Senhora da Esperança, ou São Bento de Barata, abrir portas aos crentes), tendo o processo sido encerrado em 9/7/1651…»      

 

VILARINHO, Manuel António de Sá (Padre). Nasceu em Ceivães, Monção, por volta de 1832. // Ao todo esteve a paroquiar a freguesia de Paderne durante 31 anos (1886-1917). // A 18/3/1896, na igreja de Paderne, foi padrinho de Rosinda da Glória Fernandes, nascida dois dias antes. // A 26 de Fevereiro de 1904, na igreja de Paderne, foi padrinho de António Manuel, nascido seis dias antes, filho de José Joaquim de Abreu e de Clara Domingues. // A 24/2/1906, na igreja do mosteiro de Paderne, foi padrinho de José Maria, nascido seis dias antes, filho de José Joaquim de Abreu e de Clara Alves Sanches. // Morreu em Paderne a 19/1/1917, com oitenta e cinco anos de idade; o seu funeral realizou-se dois dias depois, tendo sido sepultado no cemitério local (Correio de Melgaço n.º 233, de 21/1/1917). // Ficou a substituí-lo o padre Francisco José Dias. // Era tio de Rosa Vilarinho, casada com Marcelino Ilídio Pereira; de Raul Vilarinho; de Eduardo Rodrigues Vilarinho; de Eduardo de Sá Vilarinho; e de Eduardo Lopes Vilarinho, tenente da armada (Correio de Melgaço n.º 234).

 

VILARINHO, Manuel Francisco Gonçalves de Sá (Padre). // A 2/1/1815, na igreja de Paderne, foi padrinho de Maria Rosa, nascida nesse dito dia, filha de Manuel Bento Lourenço e de Joaquina Rosa Sarmento. A madrinha, Maria Violante Gonçalves Vilarinho, era irmã do padrinho. // Em 1823 continuava a ser pároco de Paderne.  

  

XAVIER, Ildefonso (Padre). // Nasceu em Timor Leste a 17/5/1952 (ou 1953? - ver A Voz de Melgaço n.º 1483, de 1/2/2024, página 15). // Ordenou-se sacerdote na arquidiocese de Braga em 1977 ou 1978, passando a trabalhar na paróquia de Maximinos, Braga. // Desde 5/8/1979 que é pároco da freguesia da Gave, Melgaço, acumulando posteriormente com a freguesia de Cubalhão, etc. // Em 1992 passou a ser pároco também de Parada do Monte, substituindo o padre António Domingues, já idoso. // Licenciou-se pelo Conservatório de Braga com o Curso Geral de Composição. É músico e organista e deu aulas de educação musical na Escola Preparatória de Melgaço. // A sua mãe faleceu em Timor com sessenta e nove anos de idade, em 1995, sem nunca ter visto o filho depois de este ser presbítero! // (ver A Voz de Melgaço n.º 961 e n.º 1022). // Morreu na sua terra natal a 25/01/2024.

 

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BIBLIOGRAFIA

 

ABREU, José Joaquim. Padres Incríveis (edição de autor, 1976).

As Freguesias do Concelho de Melgaço nas Memórias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memória, História e Património. 

BERNARDO, Padre Manuel António. “Melgaço Medieval”, 1975.  

CARVALHO-Marchand, Maria do Sameiro. «A La Recherche De Mes Racines». L’Harmattan.

ESTEVES, Augusto César. As Minhas Gerações Melgacenses.

ESTEVES, Augusto César. Obras Completas, volume I, tomos I e II.

ESTEVES, Augusto César. Melgaço, Sentinela do Alto Minho. 1959.

JORNAIS: Jornal de Melgaço, Correio de Melgaço, Notícias de Melgaço, A Voz de Melgaço, Fronteira Notícias, Diário do Minho…

MARQUES, José (Professor e Cónego). O Mosteiro de Fiães.

MARQUES, José (Professor e Cónego). A Origem da Capela de Alcobaça.

MARQUES, José (Professor e Cónego). O Cartulário do Mosteiro de Fiães.

MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS E COMUNICAÇÕES. Boletim da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Igreja de Nossa Senhora da Orada. Março de 1940. 

MONTEIRO, Fernando Moreira de Sá. «CASTROS E SOUSAS, Senhores de Parderrubias, da honra de Remoães e morgados do Peso. 1988.

ROCHA, Joaquim Agostinho. Gentes do Concelho de Melgaço.

ROCHA, Joaquim Agostinho. Dicionário Enciclopédico de Melgaço.

RODRIGUES, Henrique. Extinção das Ordens Religiosas e Dinâmicas Sócio Culturais: frades residentes no Alto Minho no século XIX.

RODRIGUES, Luís Filipe Gonzaga Pinto. Um Pioneiro do Modernismo. Osvaldo Macedo de Sousa/João d’Alpoim Botelho.

VAZ, Padre Júlio. Na Terra de Inês Negra.

VAZ, Padre Júlio. Padre Júlio Vaz Apresenta Mário.

                                         FIM

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