domingo, 12 de janeiro de 2025

MELGAÇO: Padres, Monges, Frades...

Por Joaquim A. Rocha  




// Continuação de 26/11/2024.


VAZ, António (Padre). // No século (dezassete) XVII era vigário de Prado (ver “Obras Completas” do Dr. Augusto César Esteves, volume I, tomo I, página 309).

 

VAZ, António Luís (Cónego). Filho de Francisco Júlio Vaz, natural de Fiães, e de Angelina Alves Salgado, natural de Rouças, lavradores. Neto paterno de António Luís Vaz (Rola) e de Rosa Maria Meleiro; neto materno de António Justiniano Alves Salgado e de Teresa de Jesus Domingues. Nasceu no lugar de Adedela, Fiães, a 30/4/1911. // A 19/7/1918 fez exame do 1.º grau na escola Conde de Ferreira, vila de Melgaço, obtendo a classificação de ótimo; era seu professor o padre João Nepomuceno Vaz (JM 1216, de 27/7/1918). // Ainda jovenzinho, em 1922, partiu para o seminário de Braga. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 66, de 29/6/1930: «Chegaram a esta freguesia para gozo das férias grandes os alunos do curso teológico, Carlos António Vaz, que fez ato do 3.º, António Luís Vaz e Constantino Fernandes, que fizeram ato do 2.º ano.» // Ordenou-se sacerdote no dito seminário no ano de 1932. // Em 16/8/1933 cantou missa nova na capela do sagrado coração de Jesus, sita no lugar onde nascera, sendo padrinho da cerimónia Vitorino Esteves, proprietário rural, do lugar da Cabana, Rouças. Assistiu quase todo o clero do concelho e também sacerdotes de outros concelhos, assim como alunos do Seminário de Braga e alguns professores do ensino oficial (ver Notícias de Melgaço n.º 206, de 27/8/1933). // Em 1935 era prefeito e professor do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga (NM 280, de 4/8/1935). // Em 1937 foi orador na festa de São Bento, Fiães; «durante trinta minutos teve suspenso dos seus lábios o auditório». // Em 1938 era chefe de redação do “Diário do Minho”. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 383, de 16/1/1938: «… no dia 2 do corrente seguiu para Braga, onde é Chefe de Redação e Administrador do Diário do Minho, o padre António Luís Salgado Vaz.» Seria afastado desse cargo em 1970. // Nesse ano foi orador na festa de Santo André, realizada a 26/6/1938 na capela de São Paio de Melgaço. Escreveu então o correspondente do “Notícias de Melgaço”: «… mais uma vez nos revelou os seus dotes científicos e literários

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 681, de 16/4/1944: «A mão amiga do padre ALV envia-nos sempre um dos primeiros exemplares dos seus trabalhos literários publicados em volume. E porque a guloseima nos atrai, temos sempre a certeza de aprender alguma coisa nas suas páginas de prosa, cada vez mais, castiça e um íntimo prazer em assistirmos à formação de um verdadeiro escritor nato em Melgaço – não desperdiçamos os primeiros momentos livres para a sua leitura atenta. Assim sucedeu com o ensaio JUVENTUDE DE 1940, as suas primícias de escritor. Assim foi com MESTRE E PRECURSOR, em que a ânsia emprestada à leitura pela boa amizade e pelo bairrismo de encontrar no caminho um melgacense a honrar a sua terra no campo das letras, sobrepujando a vontade de conhecer melhor a vida e a obra do padre Martins Capela, um velho sábio, cujo nome encontramos nos tempos recuados dos estudos sobre Melgaço antigo. O mesmo sucedeu com CHAMA QUE RENASCE, o seu melhor livro até hoje, porque nele quem quer surpreende bem a sua ânsia de perfeição e o seu bairrismo tolerável e nota estudo atento aliado a fantasia, um grande poder descritivo e a sua fé posta com arte e elegância ao serviço da Igreja na propaganda dos novos métodos para a prática constante e consciente do Bem e da Virtude. Mas se até agora nos temos dispensado de chamar a atenção dos nossos leitores para a obra literária do padre ALV, por um bem ou mal compreendido motivo baseado na amizade, não perdemos hoje a oportunidade de inserir nestas colunas este excelente artigo do Sr. Dr. Alberto Pinheiro Torres, ultimamente publicado no nosso colega A ORDEM, do Porto, com o título O CLERO DAS LETRAS. O clero ocupou sempre um alto lugar nas letras portuguesas. Vieira é um dos maiores oradores sagrados de todos os tempos. Bernardes e Frei Luís de Sousa documentaram em páginas imortais a glória da prosa portuguesa. Diogo Bernardes e Frei Agostinho da Cruz são honra da poesia portuguesa. Em nossos dias há que citar, entre muitos outros, o padre Sena de Freitas, um admirável prosador e egrégio polemista; D. Augusto Eduardo Nunes, príncipe de oradores; D. António de Vasconcelos, cardeal Cerejeira; o atual arcebispo de Évora; D. Sebastião Resende; Nuno de Montemor; padre Miguel de Oliveira; Moreira das Neves; os padres da Brotéria, escol privilegiado. Aqui no nosso Porto, Correia Pinto, Ferreira Pinto, Bernardo Xavier Coutinho, António Brandão. Em Braga, onde faleceu há pouco um sacerdote de invulgar cultura, deixando uma obra excelente, Mgr (!) J.A. Ferreira, com quem convivi durante a minha estada em Vila do Conde; em Braga, onde o cónego Aguiar Barreiros escreve como mestre em Arte e Arqueologia, vive o padre A. Luís Vaz, jornalista, crítico, ensaísta e romancista. Crítico literário e social; com trabalhos de história e obras e obras de ficção; doutrinador e prosador de valia, A. Luís Vaz, sacerdote piedoso e zeloso, tem já uma bagagem literária que o impõe à nossa admiração e à nossa estima. Não há propriamente romances católicos, mas o que há é católicos que escrevem romances. Mas destes não pode estar ausente a doutrina do seu autor. Obras de imaginação, sim; mas que a doutrina naturalmente condiciona. O discípulo de Bourget, que o insuspeito Moniz Barreto, criador da crítica literária entre nós, considera uma obra-prima, é o romance de um católico, mas não é um romance católico. Este é possível? Porque não? E que é possível di-lo a obra de Bourget, de Mauriac, de Bordeaux, de Baumann; e entre nós a de Antero de Figueiredo, Nuno de Montemor, Francisco Costa. E di-lo também CHAMA QUE RENASCE, de A. Luís Vaz. Imaginação viva e rica; dons de psicólogo; evocação de figuras humanas, que vivem diante de nós, criando, amando e sofrendo; a arte do diálogo; prosa amoldando-se aos assuntos desde o descritivo ao da vida no diálogo; tudo isto em doutrina segura e de vida, encontra-se na CHAMA QUE RENASCE. Se li com prazer espiritual este romance, de interesse crescente, é estudo precioso O MESTRE E O PRECURSOR, crítica da vida e obra do padre Martins Capela, no centenário do seu nascimento. Conheci muito bem o padre Martins Capela; tive a honra de ser seu discípulo e de merecer a sua estima. Os que o conheceram podem garantir (aos que o não conheceram), que o estudo de A. Luís Vaz ergue a toda a sua altura, com exatidão rigorosa, penetrante compreensão e afetuoso cuidado, a figura excelsa do sábio autor dos MILIÁRIOS. Em cerca de trezentas páginas da biografia e crítica, vemos com nitidez e relevo o sacerdote exemplar e austero, numa vida que é edificação; o humanista cristão insigne para o qual o latim não tinha segredos e cuja lição deu à sua prosa o sabor clássico, do A ROMA, e A ROMA VINTE E TRÊS ANOS DEPOIS, cujos méritos Sena de Freitas exalta; o jornalista, o professor egrégio, o arqueólogo e epigrafista, cuja obra MILIÁRIOS foi traduzida em alemão, e glorificada na Academia de Berlim, que o fez seu sócio; paladino do neo… mo (?) de que trata com profundeza e erudição em O … LIO, revista que dirigia e redigia; português dos quatro costados, consciente inimigo do liberalismo. A biografia do padre Capela é perfeita: o estudo sobre a sua obra, completo. Com este estudo do padre Luís Vaz ficam-lhe devendo as letras um bom serviço; a memória do padre Capela, uma fortíssima (?) homenagem; os admiradores, discípulos e amigos daquele santo e sábio sacerdote, reconhecimento e …. (?), de uma grande e doce emoção.» Pinheiro Torres.

 

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     «Que as palavras do Sr. Dr. Pinheiro Torres sirvam ao padre António Luís Vaz apenas de estímulo para mais e melhor trabalhos nas letras, que a ….. (?) melgacenses nos ajudam a acalentar a esperança de outros surgirem e seguir-lhe os passos.» Augusto Esteves.  

     Em 1960 (tomou posse a 21/3/1960) já era cónego. // Participou em algumas palestras promovidas pela Câmara Municipal de Melgaço, inseridas nas Festas da Cultura. // Foi nomeado académico de mérito pela Academia Portuguesa de História, presidida na altura pelo historiador Joaquim Veríssimo Serrão. A cerimónia decorreu em Braga, a 12/12/1994. // Como escritor publicou as seguintes obras: “Juventude de 1940” (ensaio sobre a obra de Júlio Dinis); “Nossa Senhora da Peneda”; “Mestre e Precursor”; “Chama que Renasce” (romance de 1943); “Em Espanha – crónicas de viagens”; “Gramática Histórica da Língua Portuguesa”, “Tesouro Escondido” (cartas inéditas de vários escritores); “Civilização em Perigo” (3.º centenário de João de Santo Tomás); “Castelo Imperfeito” (romance); “Obras de D. António Bento Martins Júnior (1970 - 4 volumes); “Testemunhas de Jeová” (1970); “Melgaço 2000 - roteiro” (juntamente com seu sobrinho, padre Carlos Nuno Vaz). // Como jornalista colaborou na “Cruzada”, “Lúmen”, “Horizonte”, “Ação Católica”, “Diário de Belo Horizonte” (Brasil), “A Voz de Melgaço”, etc., e foi diretor (nomeado a 14/1/1949) do “Diário do Minho”, do qual foi afastado a 14/4/1970. // Morreu (o sobrinho, padre Carlos Nuno, diz que ele morreu na Casa de Cerdedo, Rouças) a 2/8/2008, sábado, e foi sepultado no cemitério de Rouças no dia seguinte. //                Nota: em 1931, ainda seminarista, sendo colaborador do Diário do Minho, editado em Braga, "brigou" (tenho dúvidas entre ele e seu irmão Carlos António) – através de artigos jornalísticos –, com Manuel Luís Pires, morador na vila de Melgaço, motorista, fotógrafo, etc., que publicava os seus textos no Notícias de Melgaço (ver Notícias de Melgaço n.º 120, de 9/8/1931, e Notícias de Melgaço n.º 121, de 16/8/1931).    


VAZ, Carlos António (Padre). Filho de Francisco Júlio Vaz, lavrador, natural de Fiães, e de Angelina Alves Salgado, doméstica, natural de Rouças, moradores no lugar da Adedela. Neto paterno de António Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro; neto materno de António Justiniano Alves Salgado e de Teresa de Jesus Domingues (no assento de batismo está escrito Maria Rosa Domingues). Nasceu em Fiães a 5/9/1909 e no dia 9 desse mês e ano foi batizado na igreja católica local pelo seu tio padre João Nepomuceno Vaz. Padrinhos: António Alves Salgado Junior e Maria Alves Salgado, solteiros, proprietários. // Depois da 4.ª classe ingressou no seminário de Braga; ainda não completara os 11 anos de idade. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 20, de 7/7/1929: «Regressaram ao seio da sua família, cheios de satisfação por terem vencido o ano com brilho, os três irmãos: Carlos, António e Júlio Vaz, os dois primeiros alunos do curso teológico; o [terceiro], aluno de preparatórios. Carlos fez ato do 2.º ano, obtendo a 2.ª classificação do seu curso; António fez ato do 1.º ano, obtendo também a 2.ª classificação do seu curso; e Júlio obteve a passagem do 2.º para o 3.º ano.» // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 35, de 20/10/1929: «Fiães, Adedela, 15/10/1929. Retiraram-se no dia 9 para Braga todos os estudantes desta freguesia, indo frequentar o 3.º ano do curso de teologia Carlos António Vaz, o 2.º ano de teologia António Luís Vaz e Constantino Fernandes, o 1.º ano de teologia Abílio Rodrigues, o 7.º ano de preparatórios José Marques, o 5.º ano de preparatórios António Rodrigues, o 4.º ano António Afonso, e o 8.º ano Júlio Vaz; o 3.º ano da Escola Normal, Augusto de Araújo.» 

     Em 1931 altercou (tenho dúvidas entre ele e seu irmão António Luís), através de artigos jornalísticos, com Manuel Luís Pires, natural de Monção, morador na vila de Melgaço, nessa altura colaborador do Notícias de Melgaço. // Ordenou-se sacerdote no ano de 1932. Nesse ano, a 27 de Maio, cantou missa nova na capela do sagrado coração de Jesus, sita no lugar de Adedela, Fiães. // Foi durante algum tempo prefeito e professor do Seminário Menor de Braga (ver Notícias de Melgaço n.º 280, de 4/8/1935). // Por despacho de 19/2/1938 foi nomeado diretor espiritual do Reformatório de Vila do Conde. // Foi pároco de Rouças, Melgaço, desde Julho de 1943 até à sua morte, ocorrida a 1/6/1972, no antigo hospital de São Marcos, Braga. Também foi arcipreste de Melgaço, o 2.º (tomou posse em 1943 e terminou em 1969) e Provedor da Santa Casa da Misericórdia (de 1961 a 1971). // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1461, de 10/2/1963: «Quando o mui ilustre Carlos Vaz entrou na Misericórdia o provedor e a superiora passaram a viver no hospital como Deus com os anjos, pois muita gente ainda hoje lembra as amabilidades trocadas entre ambos: - Nunca neste hospital entrou provedor tão digno e de tanto mérito! – E nunca neste hospital viveu superiora tão sábia e devotada aos doentes! Ora este viver de Deus com os anjos veio a terminar certo dia com a má disposição trazida de Rouças pelo senhor padre Carlos Vaz e as coisas passaram-se assim: mal o padre entrou no hospital logo impõe à criada Maria dos Anjos a obrigação de abandonar a casa com o sobrinhito por ela criado ali. Mas nessa altura ouviu-se a voz da superiora que disse para o provedor: - nas criadas mando eu, e como a Maria dos Anjos é a melhor criada do hospital eu não a mando embora! Ora se isto foi assim e não de outra maneira, que mal fariam a Deus estas pobres mulheres? // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1463, de 3/3/1963: «Sem malícia. Vou trazer para aqui dois fastos dos nossos dias a fim de tornar mais atilados os ignorantes e os esquecidos da minha terra. O de 1934, que muito há de ser apreciado, veio assim descrito em Notícias de Melgaço de 25 de Julho: “Por Sua Ex.ª Reverendíssima, o senhor Arcebispo Primaz, acaba de ser nomeado pároco da vizinha freguesia de Rouças o reverendo padre Carlos António Vaz que durante cinco anos foi o dedicado assistente religioso do Reformatório de Vila do Conde. Sobrinho do falecido padre João Nepomuceno Vaz, a quem Fiães tanto deve, a nomeação do novo pároco de Rouças veio de encontro às aspirações de tantos melgacenses desejosos de ver entre o clero concelhio exemplares homens de ação sacerdotal, lhanos no trato e simplesmente zelosos do bem de Deus. E porque um passado de trabalho e dedicação é sempre garantia segura do futuro humano, está de parabéns quem colocou as suas esperanças na nomeação, aliás honrosa e acertada, do padre Carlos António Vaz para a recristianização do concelho. Ao manifestarmos ao recém-nomeado pároco o nosso desejo de boas vindas e o augúrio de farta colheita na vinha do Senhor, lembramos os seus dois irmãos, os reverendos padres António Vaz e Júlio Vaz, queridos e respeitados por toda a cidade de Braga para, congratulando-se conjuntamente, lhes enviarmos as nossas felicitações. Ad muitos anos.» // A construção do santuário de Santa Rita, inaugurado a 10/6/1957, deve-se ao seu esforço, tendo ido a alguns países onde havia emigrantes melgacenses pedir-lhes ajuda financeira para o acabar. // Tinha uma caraterística engraçada: repetia as palavras duas ou três vezes! O Alfredo do Paço “Pachorrego” aproveitou-se bem desse pormenor. Aconteceu assim: um dia o padre Carlos, tendo em conta a colaboração do Alfredo no jornal “A Voz de Melgaço”, prometeu-lhe um garrafão de cinco litros de vinho, que a família Vaz produzia nuns terrenos agrícolas sitos em Rouças. O Alfredo levou dois garrafões! O padre Carlos, ao ver os dois “palhinhas”, pergunta-lhe: Alfredo, que é isso?! O “Pachorrego”, impávido e sereno, olhos nos olhos, responde: senhor padre, o senhor prometeu-me «um garrafão, um garrafão»; ora eu, na escola primária, aprendi que um e um são dois. O padre riu-se com a audácia do Alfredo e encheu-lhe os dois garrafões. Quanto à qualidade da pinga não sei, mas o atrevido não se queixou. Inspirado nesse engraçado episódio o poeta “Elmano Minhoto” (quem será?) escreveu no Notícias de Melgaço n.º 1730, de 22/6/1969: «RIDENDO – Querendo, em dia de festa, um avarento/Dar uma recompensa a um servo seu,/Chamou-o e disse: - Acácio, o amor isento/Que a casa, de ti, sempre recebeu,/Todo esse teu labor, o teu afinco,/Uns litrinhos merecem, mas tem tento,/São só cinco litrinhos, cinco, cinco!/Não tarda o bom Acácio em aparecer/E muitíssimo bem acompanhado/Dum grande garrafão, capacitado/Para mais de quinze litros receber./E não se faz rogada a governanta/Que vai à adega e o enche a transbordar;/E o bom Acácio ri, e dança e canta!/Dois dias em festança, sem parar!/Mas eis que mal a festa é terminada,/O amo surge e clama muito irado:/ - Acácio, meu malandro, fui burlado!/Eu disse cinco litros e mais nada!/ - Senhor, responde o pobre, eu cá não sei/D’aritmética muito, mas julguei/Cinco, cinco, cinco, ter entendido;/Acreditai, senhor, foi sem acinte/Que não sou, já sabeis, nada atrevido/Acaso se na conta me enganei/E em lugar de quinze somei vinte!» // A 23/3/2006 a Santa Casa da Misericórdia de Melgaço decidiu, sob proposta da Mesa, elevá-lo ao grau de Provedor Honorário. // Em Julho de 2010 saiu o livro «Padre Carlos Vaz – Uma vida de serviço, um poema de amor», edição de seu sobrinho padre Carlos Nuno Vaz, e organizado por este e seu irmão, padre Júlio Nepomuceno Vaz, onde se podem ler os artigos que o padre Carlos Vaz publicara em “A Voz de Melgaço”. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 923, de 29/1/1950: «Senhor Padre Carlos – Ao seu longo e melífluo arrazoado muito havia que se lhe dissesse, e muito mais que esclarecer. Perguntar-se-ia, por exemplo, por que razão só agora Vossa Reverência confessa a autoria do celebérrimo “Por quem votamos nós?” que na altura da publicação vinha sem assinatura? Perguntar-se-ia ainda se aos serviços encarregados «do processo da substituição de nomes nesses postos de responsabilidade dum jornal, perante as entidades oficiais e competentes do país», seriam necessários três meses (desde 9/12/1948 a 1/4/1949) para a substituição do meu nome pelo de Vossa Reverência? E ainda, por que razão, em vez da pergunta: “E se alguns (cartões de felicitação) fossem da Oposição?” Se não respondeu afirmativamente, sem temer o julgamento dos leitores, sem recear que a lama os salpicasse, sem temer o desprestígio social, lutando de frente como lhes ensinaram no banco da escola, sem a vaidade do lugar público, etc. …, quando todo Melgaço sabe que isto é verdade? E também, por que razão, sabendo V. R. que não foram o diretor do Notícias de Melgaço, aliás digno amigo de V. R., e a quem V.R. rende respeitosas homenagens, nem o seu proprietário e administrador, aliás, honrado artista, pai dum futuro sacerdote, para V.R. muito querido, os autores da tão falada entrevista contra a situação, contra o clero e contra os católicos, nem os autores dos ataques isolados ao clero, por que razão, sabendo tudo isso, perguntar-se-ia, só barafustam contra o pobre do jornal que é, afinal, o único ganha-pão da família do honrado artista e pai do futuro sacerdote? Andarão por aqui ainda recordações de “Novos Rumos”? E mais: por que razão tendo eu salvaguardado a minha qualidade de católico, declarando que guardaria sempre o respeito devido pela qualidade de padres dos diretores de A Voz de Melgaço me vem V.R. estranhar as atitudes tomadas como político? Eu, como católico, desejava continuar à margem desta polémica, e não esquecer o título de um artigo publicado no Diário do Minho e da autoria do reverendo padre Júlio Vaz “Católico e só Católico”. Mas poderá V.R., padre, gozar de outras regalias e esquecer que … Padre e só Padre?! Todo o ilustre clero do concelho sabe perfeitamente que eu não pretendo aqui referir-me a nenhum deles. Conto-os todos, graças a Deus, por amigos sinceros, leais e dedicados, e reconheço o muito que a todos devo pelo muito que me tem ajudado sempre. Sejam quais forem as consequências desta polémica, que de forma alguma é com eles, estou certo não haverá a menor quebra de união e dessa amizade, que é meu orgulho. Mas deixemos tudo a baloiçar no copo de água e creia, senhor arcipreste, que apesar do nojo que me causam as incorretas atitudes agora tomadas por seu irmão, que também é padre, eu sinto uma certa satisfação por ter proporcionado a V.R. ensejo de tornar público os benefícios que o concelho lhe deve e tem obrigação de agradecer-lhe. Eu é que não me julgo na obrigação de agradecer-lhe (e não o faço) os passos “difíceis e bem longe” que V.R. deu para fazer de mim o que sou (santa modéstia!), presidente da Comissão Concelhia da União Nacional de Melgaço, porque, no fim de contas, também o acompanhei nesses passos (lembra-se senhor padre Manuel Rodrigues?) e os interesses eram … (lembra-se senhor padre Manuel Rodrigues?) – Lamento sinceramente que o nome de V.R., senhor padre Manuel Rodrigues, tivesse sido trazido para esta polémica, e lamento-o, não porque o testemunho de V.R. não seja valioso – vale, e muito, para os que o conhecem e são seus amigos, e eu orgulho-me de ser um deles – mas, lamento-o pela recordação amarga que certamente este incidente fez despertar na memória de V.R., recordando-lhe aquela aleivosa calúnia com que tão injustamente pretenderam diminui-lo e que, eu sei, o coração generoso de V.R. já havia perdoado e esquecido. A culpa, porém, não foi minha, senhor padre Manuel Rodrigues. E para terminar permita-me V.R., senhor padre Carlos, que eu recorde aqui aquela habilidade dos botânicos chineses que conseguiram que uma árvore desse de um lado rosas e, do outro, pilritos! Foi a impressão que me deixou a sua habilidosa prosa – de um lado, falinhas mansas – e, do outro, os tais pilritos, senhor padre Carlos. // Melgaço, 26/1/1950. Júlio Outeiro Esteves (Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional).

     Ainda no Notícias de Melgaço n.º 923, de 29 de Janeiro de 1950, escrito pelo médico Dr. Júlio Outeiro Esteves, lê-se: «Respondemos ao senhor padre Júlio e ao senhor padre Carlos. – Tal como Vossa Reverência, Senhor Arcipreste, também eu gostava de estar fora desta polémica que não beneficiando ninguém serve apenas para fazer estendal de habilidades jornalísticas (a quem as têm… não a mim) e sobretudo de “gáudio” (a palavra não é minha… eu só quero o que é meu) àqueles que de fora veem a atitude dos polemistas e, entre eles, certos padres e alguém que até agora os não ferira nem melindrara. Mas se essa era a vontade de todos nós para que apareceu o meu nome no artigo “Respondemos ao Presidente do Nosso Município”? Na Nota Oficiosa do Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara sei eu o motivo: - foi porque ele transcreveu um período de um artigo de A Voz de Melgaço de 15 de Junho do ano passado, onde estava o meu nome, e esta, A Voz de Melgaço, é orientada por Vossas Reverências. Sendo este apenas o facto, que responsabilidade me poderia caber na referida Nota Oficiosa? Diz toda a gente que nenhuma! Mas isso, nada vale porque… só a opinião de Vossas Reverências é “leal”, “correta”, “séria”, “honesta”, “justa”, “irrefutável”, “elegante”, “esmagadora”, “contundente”, etc. … Tudo o mais é “inveja”, “ódio”, “ignorância”, “desonestidade”, “deselegância”, “ardil”, e também etc… Palavras, só palavras!... Valha-nos Deus, Senhores Padres! - Júlio Outeiro Esteves, presidente da Comissão Concelhia da União Nacional.         

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 990, de 26/8/1951: «Em reunião ordinária de 21 de Agosto corrente, sob a presidência do Dr. Carlos Luís da Rocha e com a assistência do vice-presidente senhor Manuel Luís de Pinho Gonçalves e vereadores, senhores José Martins da Costa Lobo Maia e João da Costa Lucena, foram lidos ofícios: - do reverendo arcipreste do concelho, padre Carlos Vaz, convidando o presidente e a Câmara Municipal a tomarem parte oficial na homenagem que o concelho vai prestar à celeste rainha nos dias 27 e 28 do corrente, por ocasião da entrada triunfal da veneranda imagem peregrina nesta vila e pedindo autorização para mandar levantar na Praça da República um altar, onde se farão as cerimónias oficiais do concelho. Acerca deste assunto, o senhor presidente disse que mais do que ninguém lamenta o que se está a passar e o que se passou no nosso concelho e que mais o lamenta por não poder prestar como presidente da Câmara, as suas homenagens a Nossa Senhora de Fátima, como seria seu desejo e do seu maior agrado. O católico, o crente, não deixará de lhas prestar. Porém, o presidente da Câmara, nessa qualidade, a nada comparecerá e entende que toda a Câmara deverá tomar igual atitude, isto é, como membros da Câmara não comparecerão, mas devem comparecer como católicos – e todos o são – para rezar com o maior fervor para que a virgem deixe cair a sua bênção sobre o nosso concelho. Que várias razões poderão justificar semelhante atitude. Em primeiro lugar se a festa é do concelho, se é o concelho que vai prestar as suas homenagens à virgem, porque não se ouviu há mais tempo a Câmara e, juntamente com ela, se delineou o programa? Não se procedeu assim e aparece-se à última hora, quando tudo está assente, com um convite, que não pode, portanto, deixar de interpretar-se como um simples convite protocolar. Mas, como poderia a Câmara prestar a sua colaboração quando a organização da festa é exclusivamente dirigida pelo reverendo arcipreste do concelho que, como ninguém ignora, tem permitido que um jornal de que é chefe de redação e editor, ataque constantemente o presidente da Câmara e a própria Câmara, a tal ponto que esta, na sua reunião de 21/5/1951, deliberou proceder judicialmente contra o autor de um artigo aí publicado, encontrando-se o processo a correr seus termos? Como poderia a Câmara prestar a sua colaboração a uma organização dirigida pelo reverendo arcipreste do concelho, que fez com que a Câmara se visse envolvida em um processo por acidente de trabalho, com o qual nada tinha, o que o meritíssimo juiz do Tribunal do Trabalho de Viana do Castelo decidiu no despacho saneador, e parece agora desinteressado, tanto que nem se apresentou o rol de testemunhas de acusação?! Como poderia a Câmara aceder a um convite que lhe é dirigido pelo dito reverendo arcipreste se, tendo-o o presidente da Câmara convidado por várias vezes para atos oficiais aqui realizados, ele a nenhum compareceu? Que se o organizador destas festas fosse qualquer outro reverendo pároco do concelho, e por todos temos testemunhado, quer particular quer publicamente, a maior consideração, deveria esta Câmara, sem hesitar, colocar-se incondicionalmente ao seu lado para que as homenagens a prestar à Senhora de Fátima obtivessem o maior brilho possível. Assim o manifestamos a alguns deles. Que em face destas considerações e de outras que poderiam fazer-se, e que todo o concelho bem conhece, entende que não pode esta Câmara estar oficialmente presente, porque não pode colaborar com o reverendo arcipreste do concelho, mas que cada um dos seus membros deverá comparecer para cumprir o seu dever de católico. Os membros da Câmara são católicos, mas também são homens com o orgulho de se julgarem com o direito a serem considerados pessoas de caráter; podem sentir-se melindrados com os agravos recebidos do reverendo arcipreste, mas nunca lhes passou pela mente impedir, ou sequer empanar o brilho de qualquer ato da sua religião, ainda mesmo que alguns desses atos estejam um pouco à margem da legislação vigente, como aconteceu nos cortejos de oferendas para as obras da capela de Santa Rita, de Rouças, e como se insinuou em artigo publicado no jornal em que é editor o reverendo arcipreste. Que quanto à última parte do ofício, é de opinião que deve ser concedida autorização para, na Praça da República, ser levantado o altar e aí se realizarem quaisquer cerimónias. Esta proposta foi aprovada por unanimidade, considerando-se a ata imediatamente aprovada nesta parte, devendo extrair-se cópia referente ao assunto, a enviar a Sua Ex.ª Reverendíssima o senhor arcebispo, como explicação do que determinou a atitude que a Câmara acaba de assumir…»

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1455, de 4/12/1962: «Misérias à volta da Santa Casa. Antes de aqui nos fazermos eco dos acres comentários tecidos por todo um povo à volta da saída do nosso hospital das irmãs franciscanas hospitaleiras, concedam-nos os leitores permissão para lembrarmos agora um passado recente da secular instituição. Foi, na verdade, acerca da vida da Misericórdia a propósito de em 21/10/1959 ter vindo a esta Vila o senhor Governador Civil que em Notícias de Melgaço se escreveram estas palavras, ainda [hoje] de inteira aplicação ao caso por conterem e apresentarem a verdade nua e crua: «E numa terra tão pequena como esta eu não vejo, por infelicidade de todos nós, quem de boa vontade queira sacrificar-se para desempenhar com dignidade um cargo de tanta responsabilidade, como é o de provedor, capaz de deixar no seu eido a vaidade e de levar apenas consigo muitas e grandes simpatias pessoais para as queimar a rir dentro das paredes daquela casa em benefício dos pobres e dos doentes. Aquilo não é hoje palco para estadear vaidades; é antes uma sala de estudo, sempre aberta com aulas constantes, onde os complicados problemas da assistência social devem ser estudados e meditados dia a dia, e devagar, para as normas adotadas terem eficiência quando se aplicarem. E aí se devem aprender todos os escaninhos da tutela dos Serviços da Assistência para, numa época de renovação de ideias e de métodos como esta, se não transformar a Misericórdia em motivo das mais fortes preocupações e fonte de penosas responsabilidades monetárias. // O balão de ensaios posto a correr também não me agradou, porque nos tempos de hoje os padres só lá devem estar como capelães. De resto ali só tem voz ativa e só podem pontificar os irmãos da Santa Casa!» // Ora no jornaleco dos padres, e com inteiro aplauso de todos eles, alguém manifestou o seu regozijo – as ideias expandidas em Notícias de Melgaço serem letra morta na atual situação, quando lá se escreveu nesse mesmo ano: «Congratulamo-nos nem só com a tão feliz e acertada escolha, como também por verificarmos que afinal os padres podem lá entrar (na Misericórdia) sem serem só como capelães…» Já dos seus atos prestou contas a um Deus incorruptível quem naquela triste folhinha estas linhas escreveu com desmarcada má-fé e se pena foi ser o escriba riscado tão prematuramente do livro dos vivos, louve-se muito embora o Senhor por lhe evitar a vergonha de ter agora de confessar que – na verdade, nos tempos de hoje, os padres só devem entrar nas Misericórdias como capelães. E fechemos a curta recordação destes factos com estas palavras escritas por Silva Pinto em “Para o Fim”: «Não há grandes povos, nem grandes homens. Só Deus é Deus…» que, por sempre escrever direito por linhas tortas, acaba de condenar estrondosamente a vaidade de um provedor incapaz e a falta de caridade de um padre, que pode ser muito amimado pelo alto clero de Braga, mas a quem se nega qualquer virtude capaz de o recomendar perante o Céu, acrescente-se. // As bombas de hidrogénio caídas no Japão no fim da última guerra europeia não causaram no mundo tão grande escarcéu como nesta pequena vila de Melgaço a notícia do provedor da Santa Casa e do seu acólito Ezequiel do Val, com inteiro desconhecimento dos outros mesários, haverem expulsado do hospital da Misericórdia as boas irmãs franciscanas hospitaleiras portuguesas, naquela casa há muitos anos instaladas. De gregos e troianos, de pobres e ricos, de homens e mulheres, e até do abade da vila se levantou um estrondoso protesto contra esta tremendíssima tolice por deixar os doentes internados na “Domus Caritatis” (Casa da Caridade) e os itinerantes do concelho à “desprocura”, ou seja, entregues a uma triste sorte e à morte, que os rondava; por transformar a única casa de caridade do concelho numa coisa inútil e imprestável, e por deixar todo o termo sem possibilidades de tratar suas doenças sob as vistas de quem sabia lidar com as mezinhas das boticas e com as agulhas das injeções. E mais se avolumou esse processo ao tornar-se conhecida a entrega do nosso hospital a uma gente de negro que não é senhoril nem aldeã, que não conhece os segredos da enfermagem nem os da curandice, uma carne nem peixe, meus senhores, pois não é religiosa nem leiga; enfim, uma triste gente sem qualquer formação moral e muito menos literária ou profissional, segundo se diz por aí. E sendo este caso da expulsão do nosso hospital das boas irmãs da caridade, o facto mais saliente do ano, em todo o concelho, porque será que o senhor Governador Civil ainda aqui não veio sindicar do caso, ou melhor, reunir os irmãos da Confraria, ouvi-los, e com eles combinar uma comissão administrativa capaz de repor as coisas no “statu quo” antecedente? Espera acaso e dá tempo a organizar-se comissão que vá a Lisboa correr as redações dos diários e os ministérios? // E passando os correspondentes locais dos diários do Porto e da capital por ser gente séria e isenta de partidarismos, porque será que as empresas jornalísticas do país ainda não se referiram a este caso? De quem é esta falta de seriedade e de isenção? // Não é intenção do Notícias de Melgaço diminuir ninguém, e muito menos desrespeitá-lo, ou negar, qualquer qualidade boa da sua pessoa, mas tão-somente relatar factos passados na terra, embora de propósito se não recorde hoje do que por muita gente foi visto na tarde de domingo nas enfermarias do hospital. Contudo, como semanário independente e regionalista, Notícias de Melgaço tem uma função a cumprir neste concelho por ser o porta-voz dos seus habitantes e à mesma não pode faltar sob pena de desonra para quem escreve nas suas colunas. É, pois, em nome do povo melgacense que Notícias de Melgaço se vê forçado a dizer ao Sr. Governador Civil ser necessário, a bem da Nação, demitir já a Mesa da Misericórdia e substituí-la por uma Comissão Administrativa capaz de administrar a Santa Casa de forma a fazer dela a espinha dorsal da Assistência Social e tudo à roda das boas e sofredoras irmãs hospitaleiras; aos senhores bispos de Braga, convir à Igreja cassar já e sem qualquer demora a licença concedida ao padre Carlos Vaz para ser provedor da Santa Casa de Melgaço, visto ter falhado estrondosamente à sua missão; ao reverendo padre Adão Gonçalves Salgado [-------] mandar recolher à casa mãe a sua gente por [----] não ser útil nem precisa, visto faltar-lhe as [----] rudimentares qualidades exigidas pelos cargos para onde outros a empurraram em hora aziaga; e aos irmãos da Confraria, que não deixem desonrar-se, pedindo já a convocação da sua Assembleia Geral para ostensivamente se retirar o [apoio] a quem não soube honrar a terra e a Misericórdia.» A. // Nota: apesar destas críticas, aguentou-se à frente da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço durante muitos anos! 

 

VAZ, Carlos Nuno (Padre). Filho de João Batista Vaz e de Rosa da Purificação Vergara. Neto paterno de Francisco Júlio Vaz e de Angelina Alves Salgado; neto materno de --------- Vergara e de ----------------------. Nasceu em Rouças a 10/10/1942. // Sobrinho de Amélia Vergara, casada com Manuel José Cousso, de Cristóval. // Em 1952 fez exame do 1.º grau da instrução primária e ficou aprovado (Notícias de Melgaço n.º 1033, de 20/7/1952). // Após o ensino primário ingressou, em 1955, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição de Braga. // Em 1958 frequentava o Seminário de Filosofia. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1567, de 5/9/1965: «MISSA NOVA do reverendo padre Carlos Nuno Salgado Vaz. No passado dia 29 do mês findo, na freguesia de Rouças, terra da sua naturalidade, celebrou a sua missa nova o reverendo padre CRSV, filho do nosso amigo JBV e da senhora D. RPVV. Cerca das 12 horas, entre o estralejar de foguetes e coberto de pétalas de flores, dava entrada na igreja matriz daquela freguesia o novo sacerdote, acolitado pelos reverendos párocos António Esteves e José Marques, seguido do presbítero assistente, padre Carlos Vaz, arcipreste do concelho e tio do mesmo. Seguiu-se a cerimónia da santa missa, que foi acompanhada pelo coro de teologia do Seminário de Braga, subindo ao púlpito no momento próprio o reverendo padre Júlio Vaz, tio do novo presbítero, que fez o sermão, falando do que é o sacerdócio e das suas responsabilidades. Em lugar de destaque, estavam presentes monsenhor Mouta Reis, cónego António Luís Vaz, também tio do novo sacerdote, e o presidente da Câmara Municipal de Melgaço senhor professor Manuel José Rodrigues. Seguiu-se um solene “te deum”, terminando os atos religiosos com a tocante cerimónia do beija-mão, finda a qual foi oferecido em casa dos pais e tios do novo sacerdote um magnífico copo-d’água aos numerosos convidados, em que se fizeram amistosos brindes e se destacaram as qualidades do novo sacerdote. Usaram da palavra os senhores D. Vicente, da Câmara Eclesiástica de Ourense, padres António Esteves, Albertino Pereira, José Rodrigues e Américo Ferreira, monsenhor Mouta Reis e Dr. Oliveiros Rodrigues, agradecendo no final o novo sacerdote as palavras de carinho e apreço que lhe foram dirigidas. Notícias de Melgaço, associa-se a tão feliz festa, desejando ao novo sacerdote as maiores felicidades    

     Lê-se em “A Voz de Melgaço” n.º 927, de 1/11/1990: «Depois de concluídos os estudos teológicos com alta classificação, foi ordenado sacerdote em 15/8/1965, cantando a Missa Nova, em Rouças, em 29 do mesmo mês, dia de aniversário de seu saudoso pai, João Batista Vaz.» (ver Notícias de Melgaço n.º 1564, de 8/8/1965).

     Foi logo nomeado coadjutor da então Vila de Fafe, capelão do Hospital, capelão do Asilo de velhinhos, e professor de Moral e Religião Católicas na Escola Industrial de Fafe. Em Outubro do ano seguinte, 1966, foi para Madrid, onde se licenciou em Teologia Dogmática pela Faculdade de Comillas, com uma pequena tese sobre “Nossa Senhora como nova Eva.” Dois anos depois partiu para Roma a fim de se doutorar também em Teologia. Isso aconteceu em Junho de 1971 com a tese “O Compromisso temporal liberta o cristão? A Teologia do mundo de Maria Dominique Chenu”, trabalho que foi aprovado com a classificação máxima. Regressando a Portugal no verão de 1971, regressou de novo a Roma em Setembro para acompanhar, como jornalista, o Sínodo dos bispos para o consagrado “Jornal de Notícias”. O mesmo voltou a fazer em 1974.

     Desde Janeiro de 1975 que leciona nos estabelecimentos de ensino oficial. Em 1976 matricula-se na Faculdade de Letras, no Porto, em Filosofia Românica, cujo curso conclui durante o ano em que fez estágio para professor efetivo na escola Secundária de Carlos Amarante, de Braga, a cujo quadro está vinculado. Em 1982 consegue ser selecionado para frequentar o Mestrado em Línguas e Literaturas Modernas, Românicas e Contemporâneas. Depois da frequência e dos trabalhos realizados durante dois anos, dedicou-se à ultimação da tese de mestrado, intitulada “A Saudade em Teixeira de Pascoais”, que defendeu em Julho de 1986, obtendo a classificação máxima de “Muito Bom”. Em 1986/87 e 1987/88 trabalhou na coordenação e supervisão de estágios entregues ao CIFOP da Universidade do Minho. Em 1987/1988 lecionou ainda a cadeira de “Introdução aos Estudos Literários” do Curso de Humanidades da Faculdade de Filosofia de Braga. Desde o ano letivo 1987/1988 que está requisitado a tempo inteiro pela Faculdade de Filosofia de Braga para reger a cadeira de “Didática de Português” que é ministrada durante o ano de estágio dos professores, e para coordenar e supervisionar os trabalhos dos diferentes núcleos de estágio distribuídos pelas escolas oficiais.

     Como atividade pastoral tem a seu cargo a capela ou igreja da Senhora-a-Branca, na cidade de Braga, colaborando assiduamente com a paróquia de São Vítor, onde a mesma se insere, e participando das reuniões dos párocos e capelães da cidade onde se tentam traçar algumas linhas de orientação. É o encarregado do sector da Liturgia. Já há dezoito anos que vem trabalhando com os deficientes motores ou físicos através da Associação “Auxilia” por ele fundada em Portugal.

     É Diretor e Administrador do jornal “A Voz de Melgaço” desde a aposentação de seu tio Júlio Vaz, coordenador de “O Cávado”, semanário que se publica em Braga, e ainda encontra tempo para acorrer a compromissos de pregação e ajuda pastoral a outros colegas sacerdotes, bem como para proferir conferências nas escolas e nas universidades sobre os temas da sua especialidade. // Foi subdiretor de “A Voz de Melgaço” a partir de 2/6/1972. O diretor era o seu tio, padre Júlio Vaz. // Por volta do ano 2.000, e tendo em conta a idade do diretor, padre Júlio, assume ele a direção do jornal. // Tem alguns problemas de saúde. Confessa ele, referindo-se ao hospital de São Marcos: «… desde 1999 que frequento os serviços de cardiologia.» (ver A Voz de Melgaço n.º 1240, de 1/2/2005). // Em Março de 2015 foi internado de urgência. // A 15/8/2015 completou cinquenta anos de sacerdócio.        

     «Em 22 de Outubro, na Casa Sacerdotal de Braga, onde estão a residir três sacerdotes naturais de Melgaço: padre António Domingues, natural de Alvaredo; padre Manuel Lobato, natural de Paços; e padre José Zeferino Esteves, natural de Parada do Monte, teve lugar a eucaristia presidida pelo padre Carlos Vaz, também presidente do Instituto Diocesano de Apoio ao Clero (IDAC), responsável pela Casa Sacerdotal. Dava-se a feliz coincidência de esse dia ser em Braga, liturgicamente falando, dedicado a São Martinho de Dume, padroeiro principal da Arquidiocese de Braga e patrono também da Casa Sacerdotal. A eucaristia foi concelebrada por catorze sacerdotes, doze oriundos de Melgaço e dois que a Melgaço estão profundamente ligados: o padre Ildefonso Xavier, natural de Timor, mas que adotou Melgaço como sua segunda terra-mãe; e o padre Vasco Gonçalves, atualmente pároco de Monserrate, Viana do Castelo, mas que a Melgaço ficou profunda e amigavelmente ligado, dos tempos em foi pároco de Parada do Monte, Gave, Cousso, Cubalhão, e também Lamas de Mouro durante algum tempo. O padre Rogério Rodrigues justificou a ausência, pois tinha consulta médica que não conseguiu adiar, mas prontificou-se a organizar a reunião do próximo ano. O padre Joel também justificou a ausência por afazeres inadiáveis. O padre José Cândido Marques, com muita pena dele, não pôde contar com quem lhe desse boleia. O padre António Fernandes, que até há poucas semanas era pároco em Fontoura, em Valença, também faltou. Melgaço tem dezasseis sacerdotes nativos do concelho: quatro de Rouças, dois de Parada do Monte, dois da Gave, um de São Paio, um de Cubalhão, um de Cousso, dois de Paderne, um de Alvaredo, um da Vila, e um de Paços. Nas renovadas instalações do outrora refeitório do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, por onde todos passaram, menos o padre Ildefonso Xavier e o padre Marco Caldas, teve lugar o almoço de confraternização, não faltando o vinho “Casa do Cerdedo” e outras lembranças da nossa terra natal. O ambiente de sadia camaradagem e sincera amizade tornou-se acalentador, reforçando a ideia de que é preciso manter estes encontros, para os quais, aliás, se repetirá o convite aos párocos atuais de Melgaço, como aliás se fez para este encontro     

 

VAZ, Diogo (Padre). // Lê-se em “Melgaço Medieval”, de Manuel António Bernardo Pintor, página 51: «Em 1547 fez-se um tombo da paróquia de Chaviães, que alude a outro de 1502. Era abade de Chaviães Diogo Vaz que se intitulava “capelão do Duque de Bragança

 

VAZ, Francisco (Padre). // Deve ter nascido no século XVIII; viveu também no século XIX. // Morou no lugar da Granja, Alvaredo. // Colaborava frequentemente com o reitor da freguesia de Alvaredo, sobretudo nos batismos. // A 24/2/1808, na igreja de SMP, foi padrinho de Francisco Manuel, nascido três dias antes, filho de Francisco António Lourenço e de Maria Rosa Alonso Gonçalves. // A 22/10/1810, na igreja de SMP, foi padrinho de Maria Francisca, nascida oito dias antes, filha de Francisco António Lourenço e de Maria Rosa Alonso Gonçalves, que fora batizada pelo padre Carlos Domingues. // A 3/10/1818, na igreja de SMP, serviu de madrinha aquando do batizado de Francisco Manuel, nascido a 27 de Setembro do dito ano, filho de Francisco José Castanheira e de Teresa Antónia Rodrigues, moradores no Campo da Feira de Dentro, vila de Melgaço. O padrinho era Manuel Dias de Carvalho, do lugar de Queirão, freguesia de Paderne. // A 10/7/1825, na igreja de Alvaredo, batizou José Joaquim, nascido nesse dia, filho de Manuel António Martins e de Maria José Alves Salgado.   

 

VAZ, Francisco António (Padre). Filho de José Joaquim Vaz e de Escolástica Teodora Alves. // Morou no lugar da Breia, freguesia de Prado. // A 29/7/1846, na igreja de Prado, foi padrinho de Francisco António, nascido no dia anterior, filho de Tomás Gonçalves e de Maria Afonso, residentes no lugar de Santo Amaro, Prado. A madrinha era Maria Rosa Simões, do lugar da Corga, freguesia de Remoães. // A 30/8/1846, na igreja de Prado, foi padrinho de Emília Teresa, nascida nesse dito dia, filha de António Ventura Alves de Sousa e de Maria Joaquina da Cunha, residentes no lugar da Breia, Prado. // A 25/6/1848, na igreja de Prado, foi padrinho de Tomás, nascido dois dias antes, filho de Tomás Gonçalves e de Maria Afonso, residentes no lugar de Santo Amaro, Prado. // A 8/9/1848, na igreja de Prado, foi padrinho de Maria Joaquina, nascida três dias antes, filha de Luís Augusto Gonçalves, solteiro, natural de Remoães, e de Joana Rosa do Souto, do lugar de Bouça Nova, Prado. A madrinha, Josefa Maria Rodrigues, era avó materna da neófita. // A 27/7/1850, na igreja de Alvaredo, foi padrinho de Ana Vaz, nascido no dia anterior. // A 30/1/1855, na igreja de Prado, foi padrinho de Aurélio Augusto, seu sobrinho, filho de Manuel José Vaz, natural de Prado, e de Maria Rosa Afonso, natural de Cousso, proprietários, moradores no lugar da Breia. A madrinha era Ana Vaz, do lugar da Granja (meeiro de Paderne e Alvaredo). // A 9/2/1858, na igreja de Prado, foi padrinho de seu sobrinho, Veríssimo Amador, nascido três dias antes, filho de Manuel José Vaz e de Maria Rosa Afonso, moradores no lugar da Breia. // A 24/9/1862, na igreja de Prado, foi padrinho de Justina, nascida oito dias antes, filha de Manuel José Vaz e de Maria Rosa Afonso, moradores no lugar da Breia.

 

VAZ, João Nepomuceno (Padre). Filho de António Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro, lavradores, residentes no lugar do Faval. Neto paterno de Luís Vaz (Rola) e de Mariana Gonçalves; neto materno de Manuel Francisco Meleiro e de Teresa Vaz. Nasceu em Fiães, no dito lugar do Faval, a 16/5/1874, e foi batizado nesse dia. Padrinhos: padre Francisco António Meleiro e Maria José Meleiro, lavradora, tios maternos do neófito, do Faval. // A 3/8/1901 obteve o diploma de professor pela Escola Normal, com a classificação de quinze valores. // Ordenou-se sacerdote no Seminário de Braga a 21/12/1901. // Foi professor oficial do ensino primário na escola de Covelães e de Montalegre até 1902; a partir de 1 de Outubro desse ano lecionou em Rouças «onde viveu bastantes anos» (Obras Completas de ACE, volume I, tomo II, página 596), e depois, a 3/11/1906 (tomando posse no dia 12), na escola da Adedela, Fiães, tendo como alunos, entre muitos outros, os futuros padres Albertino Pereira e Manuel António Bernardo “Pintor”, e o Dr. Augusto César Esteves (1889-1964). // A 5/9/1903, na igreja de Prado, foi padrinho de Ladislau José, nascido a 4 de Julho desse dito ano, filho de José Lourenço Pinheiro e de Defina Benedita de Barros. // A 16/4/1905, na igreja de Rouças, foi padrinho de Estefânia, nascida nesse dito dia, filha de Francisco Aires e de Maria Joaquina Durães. // A 21/5/1907, na igreja de Fiães, foi padrinho de Augusto do Espírito Santo, nascido no dia anterior, filho de Manuel Joaquim de Araújo e de Rosa de Jesus Vaz. // Respondeu em tribunal a 29/7/1912, acusado de ter mandado rezar aos alunos «um padre-nosso» pelo bom êxito da causa de Paiva Couceiro, sendo absolvido por falta de provas. Na busca domiciliária foram-lhe apreendidos os seguintes objetos: um maço de jornais endereçados ao abade de Padrenda, um revólver, doze cigarrilhas, oito maços de cigarros espanhóis, e dois retalhos de tecido de algodão, pagando de multa 8$00; foi conduzido para a Vila, ficando incomunicável, seguindo no dia seguinte, sob custódia, para Viana, a fim de responder no tribunal marcial. Efetuaram esta diligência o mestre da Marinha, Manuel Rodrigues, três marinheiros, e dois guardas-fiscais. A fim de proceder a averiguações acerca da sua prisão, esteve em Melgaço desde o dia 21 até 24/7/1912, acompanhado do 2.º sargento Alberto Rodrigues, o capitão de infantaria n.º 8, Camilo dos Santos Sotomaior, o qual ouviu em Fiães várias pessoas e alunos da escola. O depoimento das testemunhas foi-lhe favorável «sendo a queixa dada contra ele provocada por rixas pessoais» (ver Correio de Melgaço n.º 7 e Correio de Melgaço n.º 8, de 28/7/1912). Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 23, de 28/7/1929: «Melgaço há dezassete anos – Por ter rezado um padre-nosso. Ia Julho em meio, torrante (escaldante), abrasador. Levantara-se há momentos e estimulado pela extrema dedicação que sempre votou aos alunos, o reverendo João N. Vaz viera, em febre, assentara-se na mesa da presidência. Num instante lembrou os relatos dos jornais acerca das prisões levadas a efeito naqueles dias. Ouvem-se passos. Abre-se a porta. Os soldados, tudo revolvem, na ânsia de um documento comprometedor. Embora tranquilo, o reverendo João julgou-se em delírio, sem compreender a cena que via desenrolar-se. – Acompanhe, ordena o comandante. – É-me de todo impossível, redarguiu, fazer a viagem, a não ser de cavalo. – Vamos! Há-se ser a pé. // Acompanhado por seu irmão, Francisco Júlio Vaz, segue rodeado por sete espingardas. // Em Melgaço (Vila) foram a dois de fundo e ele na frente. Inquiriu do tenente da marinha o motivo da prisão. – É por haver rezado um padre-nosso pela história do Paiva Couceiro, elucida. // - É absolutamente falso, Excelentíssimo Senhor. Interrogue, se lhe aprouver, as crianças de menos idade da minha escola! – Vamos apurar a verdade! Entretanto tem de se resignar a permanecer em prisão. // Descia a noite melancolicamente. Passou-a no hospital, privado de assistência do médico, que lhe negaram. Na manhã seguinte partiu para Viana escoltado por três espingardas. Apupado em Valença, onde os soldados alucinados pretenderam invadir o compartimento, veio ao cair da tarde dar ingresso na prisão de São Tiago, onde permaneceu durante quinze dias. // Viu-se imediatamente em companhia de padres, irmãos, cunhados, ou pais de padres. Grandes conspiradores! Não o atormentava na prisão tanto a sorte que o esperava se a verdade não pudesse ser apurada, como a aflição que originara à família. Sempre, o mesmo coração de ouro: - tudo para os outros, nada para si. Os quinze dias pareciam intermináveis. Afinal a 29/7/1912 foi posto em liberdade esse bandido, esse conspirador, esse celerado que a República julgava inimigo seu, a ponto de “O Século” noticiar a sua prisão, ele que nunca ligou a mínima importância a politiqueiros, nem a politiquices. É para comemorar essa data que – embora a largos traços, sem atavios de linguagem – rabisco estas linhas. // Quando, às vezes, nos relata o quanto sofreu nesse calvário doloroso, vemo-lo sempre terminar com estas palavras a que ele consegue emprestar a graça do seu fino riso satírico: “Para prender este celerado vieram sete armas!” Neste dia memorável, que ele não deixará de recordar, não com saudade, mas não também com rancor, queremos felicitá-lo pela justiça que lhe fizeram pondo-o em liberdade e bem assim rogar ao altíssimo se não repitam dramas de tão mau gosto. L.V.»     

     No jornal “Correio de Melgaço” n.º 165, de 12/9/1915, diz-se que ele tinha propriedades em Rouças. // Em 1916 foi promovido a professor de 1.ª classe (Correio de Melgaço n.º 184, de 30/1/1916). // No Notícias de Melgaço n.º 35, de 20/10/1929, que transcrevo quase na íntegra, lê-se: «Há, em quem tem o sagrado dever de reger a nação portuguesa, uma febre louca de fazer leis, umas após outras. Em Setembro passado, pouco mais ou menos, foi suspensa uma antiga lei das Alfândegas, que obrigava os habitantes de Castro e da Peneda a munirem-se de guias para seus gados poderem apascentar em território português e, pelo contrário, os povos raianos de Fiães e Castro, que precisam de cultivar seus terrenos em Espanha, estão privados dessa guia – desde Maio, alguns; e outros desde Setembro. / Ignoro o texto da primeira lei, e sei que para a segunda se invoca a razão dos gados estarem doentes com a febre aftosa. A aplicação da primeira lei é um monstro jurídico e um absurdo da parte de quem a aplica, porque os quartéis de Castro e Peneda estão deslocados da fronteira, distando, o de Castro, do marco 29, 10 km, e da Peneda, que tem entre e supra mencionado marco a freguesia de Castro, 20 km. / Consideram para aplicação dessa lei a linha de postos de Alcobaça, a Castro e Meijoeira, ficando por conseguinte todos os lugares de Castro entre essa linha e a raia, bem como a linha de Alcobaça à Peneda e Tibo, quando a verdade é que a raia está muito mais longe dessas linhas, e é pelos marcos, que dividem Portugal e Espanha, que se conta a fronteira, e não pela linha dos postos, obrigando assim esse povo infeliz que não tira do terreno mais do que centeio e batata, a uma contribuição injusta e vexatória. Alega-se, para tal, a necessidade de reprimir o contrabando, mas em virtude do preço do gado bovino ser mais alto em Portugal do que em Espanha não existe tal contrabando. Qual a causa dessa contribuição? A causa verdadeira é o posto de Castro e Peneda não estarem em seu lugar; o de Castro devia estar nos postos Eiras ou Rodeiro, e o da Peneda devia estar no Ribeiro de Baixo. Mudem-se esses quartéis para o lugar que lhes compete e já se não poderá aplicar tal lei. Compete aos Comandantes da Guarda-Fiscal, conhecedores da verdade, fazer saber às Alfândegas a monstruosidade da aplicação da lei e enquanto ordens sensatas não forem dadas, ordenar aos seus subordinados que não ponham em execução tal medida que só vai causar prejuízos, incómodos e gasto de dinheiro a esses povos que para comerem têm de pedir licença. / Apelamos, em especial para o Comandante da Guarda-Fiscal em Melgaço, espírito reto, coração bondoso, conhecedor «de visu» da situação topográfica de Castro, e consequentemente da injustiça da lei, para que não dê andamento à lei, enquanto ele por sua vez informa as estações superiores da iniquidade de tal lei. A lei, para ser imposta, deve ser justa (injusta lex non est lex), deve ser possível (ad impossibilia nemo tenetur), e além disso deve ser para o bem comum. Ora esta lei é injusta, pois é imposta a portugueses, que vivem em território português, não é para bem comum, antes é para vexames desses povos, é uma lei de exceção; e é em muitos casos impossível de cumprir e quase todos os dias terá de ser violada. Por exemplo: a, b, c, d e e trazem em comum seu gado lanígero e caprino; no monte fica algum desse gado, e ao recolher algum gado de a passou para a corte de b. Resultado: um ter a mais e o outro ter a menos; por casualidade passa o fisco, revista, e encontra uma diferença, e multa a e b individualmente. Para o fisco vai ser uma ruína que alguns sabem explorar, pois se há muitos de sã consciência, há-os também que são capazes de à sombra da lei estarem sempre em cima dos lavradores. (…) / Desde Maio que os povos raianos de Fiães e Castro estão sem guias para poderem apascentar seus gados em Espanha … / Apesar dos esforços empregados junto do Administrador de Puente Bargas, até hoje não têm sido concedidas essas guias. Foram retiradas por causa da febre aftosa que grassou no gado, mas aqueles cujas guias não terminaram em Maio, e alguns só em Agosto as entregaram, passaram sempre, não lhes sendo retiradas, resultando que enquanto uns passavam com guias outros não o podiam fazer, dando a entender que a guia era uma vacina contra a febre aftosa. Este estado de coisas não pode continuar. O gado pode passar para levar carros de lenha aos carabineiros e não pode passar para servir seus donos! Apelamos para o Administrador do Concelho, pedindo-lhe que envide todos os esforços a fim de que as guias para passagem dos gados dos povos raianos sejam concedidas e não sejam obrigados a elas os de Castro, cujos gados não vão pastar à Espanha.» // No Notícias de Melgaço n.º 37, de 10/11/1929, escreve: «… Há cinquenta anos, pouco mais ou menos, era eu criança da escola, foi marcada uma estrada, ligação a São Gregório com Castro Laboreiro que, atravessando o lugar de Soutomendo, passava por cima do lugar de A-de-dela, A-da-velha, Barão acima para Castro. Os marcos numerados duraram muitos anos. Ocorre-me perguntar: por que o governo de então pensou na construção da estrada São Gregório a Castro e os de agora não pensam

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 84, de 2/11/1930: «A pedido dos pais de seis seminaristas, que deste concelho ingressaram no Colégio das Missões Ultramarinas, sito em Tomar, fui acompanhá-los e entrega-los aos superiores desse Colégio. Todos terão notado, ao viajarem a primeira vez, que tudo lhe impressiona o sentido visual e que com o nosso procedimento damos, a quem nos observa, um espetáculo ridículo, pois o mesmo aconteceu com esses seis seminaristas que nunca viajaram. // Grande foi a sua alegria ao verem o comboio e, ao verem-no andar, em marcha acelerada, diziam uns para os outros: olha as árvores a fugir, o rio a correr, as casas a andar, etc. Quando atravessamos a ponte sobre o Douro diz um deles para os outros: - “Vede como é bonita a cidade do Porto, ali é Vila Nova de Gaia, este é o rio Douro.” Dizia outro: - “olha os barcos no rio, olha aquele barco a andar sem remos!” – “É verdade”, disseram os outros. // No Porto vi-me seriamente embaraçado para os não perder. Julgando que me seguiam, ia muito descuidado pela rua de Santo António, e olho para a retaguarda e nem um me seguia! Alongo a vista e lá estavam: uns a uma vitrina, outros a outra; gesticulando e conversando animadamente, examinando os diversos bonecos e fazendas, e tão embebidos estavam que apesar de lhes acenar nada viram e tive de retroceder para os juntar novamente e assim quase sempre em todas as ruas. Toda a viagem se passou em uma hilaridade constante e admiração de tudo o que viam e presenciavam. Andavam no comboio de janela em janela, para melhor poderem ver a leste e a oeste, e tão entretidos iam que era preciso lembrar-lhes a necessidade de repararem as forças. Entre mil peripécias lá chegamos a Tomar às 2,5 horas da manhã, tendo saído de Monção às 5 horas da manhã – 15 horas de comboio! No Colégio fomos recebidos pelo porteiro que amavelmente nos procurou alojamento para todos…» // João N. Vaz.    

     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 106, de 26/4/1931: «No dia 19 foi cantada no altar do Coração de Jesus uma missa em ação de graças pelo restabelecimento da saúde de Maria Joaquina Vaz, do lugar da Quingosta, pelo reverendo João Vaz e seminaristas desta [freguesia de Fiães], que mais uma vez deliciaram os ouvintes com o seu harmonioso canto gregoriano…» 

     Em 1935 era correspondente do “Notícias de Melgaço” para a freguesia de Fiães (NM 278). // Em 1938 deu parte de doente e pediu a aposentação (Notícias de Melgaço n.º 416). // A escola oficial e outros melhoramentos da freguesia de Fiães à sua grande influência se devem. A sua casa foi um verdadeiro seminário, pois nela se prepararam cerca de uma dúzia de futuros sacerdotes. // Morreu no lugar da A-de-dela, Fiães, a 28/1/1939. // Lê-se em “Obras Completas de Augusto César Esteves”, volume I, tomo I, páginas 47 e 48: «… em tudo imitei um meu grande e simpático amigo, que Deus já chamou a si, o padre mais eleiçoeiro do Minho, o reverendo João Nepomuceno Vaz…» // A 26/8/1959 foi homenageado a título póstumo pelos seus antigos alunos. // Nota: o Dr. José Joaquim de Abreu, no seu livro «Padres Incríveis», página 29, fala dele, sugerindo que era exorcista, que curava pessoas com “espírito ruim”. Diz uma senhora galega, tendo ao colo um filho doente: - «Vou ao Padre João, à Adedela, para mo exorcismar. Dizem que é careiro, mas que faz milagres.» É óbvio que este diálogo deve ser invenção do advogado, inimigo da família Vaz, sobretudo dos sacerdotes.

 

VAZ, José (Padre). // Do lugar meeiro de Sante. // Morreu a 27/7/1832 e foi sepultado na igreja de Paderne. // Deixou testamento.

// continua...



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