MELGAÇO: Padres, Monges, Frades...
Por Joaquim A. Rocha
// Continuação de 26/11/2024.
VAZ, António (Padre). // No século (dezassete) XVII
era vigário de Prado (ver “Obras Completas” do Dr. Augusto César Esteves, volume I,
tomo I, página 309).
VAZ, António Luís (Cónego). Filho de
Francisco Júlio Vaz, natural de Fiães, e de Angelina Alves Salgado, natural de
Rouças, lavradores. Neto paterno de António Luís Vaz (Rola) e de Rosa Maria
Meleiro; neto materno de António Justiniano Alves Salgado e de Teresa de Jesus
Domingues. Nasceu no lugar de Adedela, Fiães, a 30/4/1911. // A 19/7/1918 fez
exame do 1.º grau na escola Conde de Ferreira, vila de Melgaço, obtendo a
classificação de ótimo; era seu professor o padre João Nepomuceno Vaz (JM 1216, de
27/7/1918). // Ainda jovenzinho, em 1922, partiu para o seminário de
Braga. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 66, de 29/6/1930: «Chegaram a esta freguesia para gozo das
férias grandes os alunos do curso teológico, Carlos António Vaz, que fez ato do
3.º, António Luís Vaz e Constantino Fernandes, que fizeram ato do 2.º ano.»
// Ordenou-se sacerdote no dito seminário no ano de 1932. // Em 16/8/1933
cantou missa nova na capela do sagrado coração de Jesus, sita no lugar onde
nascera, sendo padrinho da cerimónia Vitorino Esteves, proprietário rural, do
lugar da Cabana, Rouças. Assistiu quase todo o clero do concelho e também
sacerdotes de outros concelhos, assim como alunos do Seminário de Braga e
alguns professores do ensino oficial (ver Notícias de Melgaço n.º 206, de 27/8/1933). // Em 1935 era
prefeito e professor do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga (NM 280, de 4/8/1935). // Em 1937 foi
orador na festa de São Bento, Fiães; «durante
trinta minutos teve suspenso dos seus lábios o auditório». // Em 1938 era
chefe de redação do “Diário do Minho”. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 383, de
16/1/1938: «… no dia 2 do corrente seguiu
para Braga, onde é Chefe de Redação e Administrador do Diário do Minho, o padre
António Luís Salgado Vaz.» Seria afastado desse cargo em 1970. // Nesse ano
foi orador na festa de Santo André, realizada a 26/6/1938 na capela de São Paio
de Melgaço. Escreveu então o correspondente do “Notícias de Melgaço”: «… mais uma vez nos revelou os seus dotes
científicos e literários.»
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º
681, de 16/4/1944: «A mão amiga do padre ALV envia-nos sempre um dos primeiros
exemplares dos seus trabalhos literários publicados em volume. E porque a
guloseima nos atrai, temos sempre a certeza de aprender alguma coisa nas suas
páginas de prosa, cada vez mais, castiça e um íntimo prazer em assistirmos à
formação de um verdadeiro escritor nato em Melgaço – não desperdiçamos os
primeiros momentos livres para a sua leitura atenta. Assim sucedeu com o ensaio
JUVENTUDE DE 1940, as suas primícias de escritor. Assim foi com MESTRE E
PRECURSOR, em que a ânsia emprestada à leitura pela boa amizade e pelo
bairrismo de encontrar no caminho um melgacense a honrar a sua terra no campo das
letras, sobrepujando a vontade de conhecer melhor a vida e a obra do padre
Martins Capela, um velho sábio, cujo nome encontramos nos tempos recuados dos
estudos sobre Melgaço antigo. O mesmo sucedeu com CHAMA QUE RENASCE, o seu
melhor livro até hoje, porque nele quem quer surpreende bem a sua ânsia de
perfeição e o seu bairrismo tolerável e nota estudo atento aliado a fantasia,
um grande poder descritivo e a sua fé posta com arte e elegância ao serviço da
Igreja na propaganda dos novos métodos para a prática constante e consciente do
Bem e da Virtude. Mas se até agora nos temos dispensado de chamar a atenção dos
nossos leitores para a obra literária do padre ALV, por um bem ou mal
compreendido motivo baseado na amizade, não perdemos hoje a oportunidade de
inserir nestas colunas este excelente artigo do Sr. Dr. Alberto Pinheiro
Torres, ultimamente publicado no nosso colega A ORDEM, do Porto, com o título O
CLERO DAS LETRAS. O clero ocupou sempre um alto lugar nas letras portuguesas.
Vieira é um dos maiores oradores sagrados de todos os tempos. Bernardes e Frei
Luís de Sousa documentaram em páginas imortais a glória da prosa portuguesa.
Diogo Bernardes e Frei Agostinho da Cruz são honra da poesia portuguesa. Em
nossos dias há que citar, entre muitos outros, o padre Sena de Freitas, um
admirável prosador e egrégio polemista; D. Augusto Eduardo Nunes, príncipe de
oradores; D. António de Vasconcelos, cardeal Cerejeira; o atual arcebispo de
Évora; D. Sebastião Resende; Nuno de Montemor; padre Miguel de Oliveira;
Moreira das Neves; os padres da Brotéria, escol privilegiado. Aqui no nosso
Porto, Correia Pinto, Ferreira Pinto, Bernardo Xavier Coutinho, António
Brandão. Em Braga, onde faleceu há pouco um sacerdote de invulgar cultura,
deixando uma obra excelente, Mgr (!) J.A. Ferreira, com quem convivi durante a
minha estada em Vila do Conde; em Braga, onde o cónego Aguiar Barreiros escreve
como mestre em Arte e Arqueologia, vive o padre A. Luís Vaz, jornalista,
crítico, ensaísta e romancista. Crítico literário e social; com trabalhos de
história e obras e obras de ficção; doutrinador e prosador de valia, A. Luís Vaz,
sacerdote piedoso e zeloso, tem já uma bagagem literária que o impõe à nossa
admiração e à nossa estima. Não há propriamente romances católicos, mas o que
há é católicos que escrevem romances. Mas destes não pode estar ausente a
doutrina do seu autor. Obras de imaginação, sim; mas que a doutrina
naturalmente condiciona. O discípulo de Bourget, que o insuspeito Moniz
Barreto, criador da crítica literária entre nós, considera uma obra-prima, é o
romance de um católico, mas não é um romance católico. Este é possível? Porque
não? E que é possível di-lo a obra de Bourget, de Mauriac, de Bordeaux, de
Baumann; e entre nós a de Antero de Figueiredo, Nuno de Montemor, Francisco
Costa. E di-lo também CHAMA QUE RENASCE, de A. Luís Vaz. Imaginação viva e
rica; dons de psicólogo; evocação de figuras humanas, que vivem diante de nós,
criando, amando e sofrendo; a arte do diálogo; prosa amoldando-se aos assuntos
desde o descritivo ao da vida no diálogo; tudo isto em doutrina segura e de
vida, encontra-se na CHAMA QUE RENASCE. Se li com prazer espiritual este
romance, de interesse crescente, é estudo precioso O MESTRE E O PRECURSOR,
crítica da vida e obra do padre Martins Capela, no centenário do seu
nascimento. Conheci muito bem o padre Martins Capela; tive a honra de ser seu
discípulo e de merecer a sua estima. Os que o conheceram podem garantir (aos que o não conheceram), que o estudo de
A. Luís Vaz ergue a toda a sua altura, com exatidão rigorosa, penetrante
compreensão e afetuoso cuidado, a figura excelsa do sábio autor dos MILIÁRIOS.
Em cerca de trezentas páginas da biografia e crítica, vemos com nitidez e
relevo o sacerdote exemplar e austero, numa vida que é edificação; o humanista
cristão insigne para o qual o latim não tinha segredos e cuja lição deu à sua
prosa o sabor clássico, do A ROMA, e A ROMA VINTE E TRÊS ANOS DEPOIS, cujos
méritos Sena de Freitas exalta; o jornalista, o professor egrégio, o arqueólogo
e epigrafista, cuja obra MILIÁRIOS foi traduzida em alemão, e glorificada na
Academia de Berlim, que o fez seu sócio; paladino do neo… mo (?) de que trata
com profundeza e erudição em O … LIO, revista que dirigia e redigia; português
dos quatro costados, consciente inimigo do liberalismo. A biografia do padre
Capela é perfeita: o estudo sobre a sua obra, completo. Com este estudo do
padre Luís Vaz ficam-lhe devendo as letras um bom serviço; a memória do padre
Capela, uma fortíssima (?) homenagem; os admiradores, discípulos e amigos
daquele santo e sábio sacerdote, reconhecimento e …. (?), de uma grande e doce
emoção.» Pinheiro Torres.
*
«Que as palavras do Sr. Dr. Pinheiro Torres sirvam ao padre António Luís
Vaz apenas de estímulo para mais e melhor trabalhos nas letras, que a ….. (?)
melgacenses nos ajudam a acalentar a esperança de outros surgirem e seguir-lhe
os passos.» Augusto Esteves.
Em 1960 (tomou posse a 21/3/1960) já era cónego. // Participou em algumas palestras promovidas pela Câmara Municipal de Melgaço, inseridas nas Festas da Cultura. // Foi nomeado académico de mérito pela Academia Portuguesa de História, presidida na altura pelo historiador Joaquim Veríssimo Serrão. A cerimónia decorreu em Braga, a 12/12/1994. // Como escritor publicou as seguintes obras: “Juventude de 1940” (ensaio sobre a obra de Júlio Dinis); “Nossa Senhora da Peneda”; “Mestre e Precursor”; “Chama que Renasce” (romance de 1943); “Em Espanha – crónicas de viagens”; “Gramática Histórica da Língua Portuguesa”, “Tesouro Escondido” (cartas inéditas de vários escritores); “Civilização em Perigo” (3.º centenário de João de Santo Tomás); “Castelo Imperfeito” (romance); “Obras de D. António Bento Martins Júnior (1970 - 4 volumes); “Testemunhas de Jeová” (1970); “Melgaço 2000 - roteiro” (juntamente com seu sobrinho, padre Carlos Nuno Vaz). // Como jornalista colaborou na “Cruzada”, “Lúmen”, “Horizonte”, “Ação Católica”, “Diário de Belo Horizonte” (Brasil), “A Voz de Melgaço”, etc., e foi diretor (nomeado a 14/1/1949) do “Diário do Minho”, do qual foi afastado a 14/4/1970. // Morreu (o sobrinho, padre Carlos Nuno, diz que ele morreu na Casa de Cerdedo, Rouças) a 2/8/2008, sábado, e foi sepultado no cemitério de Rouças no dia seguinte. // Nota: em 1931, ainda seminarista, sendo colaborador do Diário do Minho, editado em Braga, "brigou" (tenho dúvidas entre ele e seu irmão Carlos António) – através de artigos jornalísticos –, com Manuel Luís Pires, morador na vila de Melgaço, motorista, fotógrafo, etc., que publicava os seus textos no Notícias de Melgaço (ver Notícias de Melgaço n.º 120, de 9/8/1931, e Notícias de Melgaço n.º 121, de 16/8/1931).
VAZ, Carlos António (Padre). Filho de
Francisco Júlio Vaz, lavrador, natural de Fiães, e de Angelina Alves Salgado, doméstica, natural de Rouças, moradores no lugar da Adedela. Neto paterno de
António Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro; neto materno de António
Justiniano Alves Salgado e de Teresa de Jesus Domingues (no assento de batismo está escrito
Maria Rosa Domingues). Nasceu em Fiães a 5/9/1909 e no dia 9 desse mês e ano foi
batizado na igreja católica local pelo seu tio padre João Nepomuceno Vaz.
Padrinhos: António Alves Salgado Junior e Maria Alves Salgado, solteiros,
proprietários. // Depois da 4.ª classe ingressou no seminário de Braga; ainda
não completara os 11 anos de idade. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 20, de
7/7/1929: «Regressaram ao seio da sua
família, cheios de satisfação por terem vencido o ano com brilho, os três
irmãos: Carlos, António e Júlio Vaz, os dois primeiros alunos do curso
teológico; o [terceiro], aluno de preparatórios. Carlos fez ato do 2.º ano,
obtendo a 2.ª classificação do seu curso; António fez ato do 1.º ano, obtendo
também a 2.ª classificação do seu curso; e Júlio obteve a passagem do 2.º para
o 3.º ano.» // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 35, de 20/10/1929: «Fiães, Adedela, 15/10/1929.
Retiraram-se no dia 9 para Braga todos os estudantes desta freguesia, indo
frequentar o 3.º ano do curso de teologia Carlos António Vaz, o 2.º ano de
teologia António Luís Vaz e Constantino Fernandes, o 1.º ano de teologia Abílio
Rodrigues, o 7.º ano de preparatórios José Marques, o 5.º ano de preparatórios
António Rodrigues, o 4.º ano António Afonso, e o 8.º ano Júlio Vaz; o 3.º ano
da Escola Normal, Augusto de Araújo.»
Em 1931 altercou (tenho dúvidas entre ele e seu irmão
António Luís), através de artigos jornalísticos, com Manuel Luís Pires,
natural de Monção, morador na vila de Melgaço, nessa altura colaborador do
Notícias de Melgaço. // Ordenou-se sacerdote no ano de 1932. Nesse ano, a 27 de
Maio, cantou missa nova na capela do sagrado coração de Jesus, sita no lugar de
Adedela, Fiães. // Foi durante algum tempo prefeito e professor do Seminário
Menor de Braga (ver Notícias de Melgaço n.º 280, de 4/8/1935). // Por despacho
de 19/2/1938 foi nomeado diretor espiritual do Reformatório de Vila do Conde. //
Foi pároco de Rouças, Melgaço, desde Julho de 1943 até à sua morte, ocorrida a
1/6/1972, no antigo hospital de São Marcos, Braga. Também foi arcipreste de
Melgaço, o 2.º (tomou
posse em 1943 e terminou em 1969) e Provedor da Santa Casa da Misericórdia (de 1961 a 1971). // Lê-se no
Notícias de Melgaço n.º 1461, de 10/2/1963: «Quando o mui ilustre Carlos Vaz
entrou na Misericórdia o provedor e a superiora passaram a viver no hospital
como Deus com os anjos, pois muita gente ainda hoje lembra as amabilidades
trocadas entre ambos: - Nunca neste hospital entrou provedor tão digno e de
tanto mérito! – E nunca neste hospital viveu superiora tão sábia e devotada aos
doentes! Ora este viver de Deus com os anjos veio a terminar certo dia com a má
disposição trazida de Rouças pelo senhor padre Carlos Vaz e as coisas
passaram-se assim: mal o padre entrou no hospital logo impõe à criada Maria dos
Anjos a obrigação de abandonar a casa com o sobrinhito por ela criado ali. Mas
nessa altura ouviu-se a voz da superiora que disse para o provedor: - nas
criadas mando eu, e como a Maria dos Anjos é a melhor criada do hospital eu não
a mando embora! Ora se isto foi assim e não de outra maneira, que mal fariam a
Deus estas pobres mulheres? // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1463, de
3/3/1963: «Sem malícia. Vou trazer para aqui dois fastos dos nossos dias a fim
de tornar mais atilados os ignorantes e os esquecidos da minha terra. O de
1934, que muito há de ser apreciado, veio assim descrito em Notícias de Melgaço
de 25 de Julho: “Por Sua Ex.ª Reverendíssima, o senhor Arcebispo Primaz, acaba
de ser nomeado pároco da vizinha freguesia de Rouças o reverendo padre Carlos
António Vaz que durante cinco anos foi o dedicado assistente religioso do
Reformatório de Vila do Conde. Sobrinho do falecido padre João Nepomuceno Vaz,
a quem Fiães tanto deve, a nomeação do novo pároco de Rouças veio de encontro
às aspirações de tantos melgacenses desejosos de ver entre o clero concelhio
exemplares homens de ação sacerdotal, lhanos no trato e simplesmente zelosos do
bem de Deus. E porque um passado de trabalho e dedicação é sempre garantia
segura do futuro humano, está de parabéns quem colocou as suas esperanças na
nomeação, aliás honrosa e acertada, do padre Carlos António Vaz para a
recristianização do concelho. Ao manifestarmos ao recém-nomeado pároco o nosso
desejo de boas vindas e o augúrio de farta colheita na vinha do Senhor,
lembramos os seus dois irmãos, os reverendos padres António Vaz e Júlio Vaz,
queridos e respeitados por toda a cidade de Braga para, congratulando-se
conjuntamente, lhes enviarmos as nossas felicitações. Ad muitos anos.» // A
construção do santuário de Santa Rita, inaugurado a 10/6/1957, deve-se ao seu
esforço, tendo ido a alguns países onde havia emigrantes melgacenses pedir-lhes
ajuda financeira para o acabar. // Tinha uma caraterística engraçada: repetia
as palavras duas ou três vezes! O Alfredo do Paço “Pachorrego” aproveitou-se
bem desse pormenor. Aconteceu assim: um dia o padre Carlos, tendo em conta a
colaboração do Alfredo no jornal “A Voz de Melgaço”, prometeu-lhe um garrafão
de cinco litros de vinho, que a família Vaz produzia nuns terrenos agrícolas
sitos em Rouças. O Alfredo levou dois garrafões! O padre Carlos, ao ver os dois
“palhinhas”, pergunta-lhe: Alfredo, que é isso?! O “Pachorrego”, impávido e
sereno, olhos nos olhos, responde: senhor padre, o senhor prometeu-me «um garrafão, um garrafão»; ora eu, na
escola primária, aprendi que um e um são dois. O padre riu-se com a audácia do
Alfredo e encheu-lhe os dois garrafões. Quanto à qualidade da pinga não sei,
mas o atrevido não se queixou. Inspirado nesse engraçado episódio o poeta
“Elmano Minhoto” (quem será?) escreveu no Notícias de Melgaço n.º 1730, de
22/6/1969: «RIDENDO – Querendo, em dia de festa, um avarento/Dar uma recompensa
a um servo seu,/Chamou-o e disse: - Acácio, o amor isento/Que a casa, de ti,
sempre recebeu,/Todo esse teu labor, o teu afinco,/Uns litrinhos merecem, mas
tem tento,/São só cinco litrinhos, cinco, cinco!/Não tarda o bom Acácio em
aparecer/E muitíssimo bem acompanhado/Dum grande garrafão, capacitado/Para mais
de quinze litros receber./E não se faz rogada a governanta/Que vai à adega e o
enche a transbordar;/E o bom Acácio ri, e dança e canta!/Dois dias em festança,
sem parar!/Mas eis que mal a festa é terminada,/O amo surge e clama muito
irado:/ - Acácio, meu malandro, fui burlado!/Eu disse cinco litros e mais
nada!/ - Senhor, responde o pobre, eu cá não sei/D’aritmética muito, mas
julguei/Cinco, cinco, cinco, ter entendido;/Acreditai, senhor, foi sem
acinte/Que não sou, já sabeis, nada atrevido/Acaso se na conta me enganei/E em
lugar de quinze somei vinte!» // A 23/3/2006 a Santa Casa da Misericórdia de Melgaço
decidiu, sob proposta da Mesa, elevá-lo ao grau de Provedor Honorário. // Em
Julho de 2010 saiu o livro «Padre Carlos Vaz – Uma vida de serviço, um poema de
amor», edição de seu sobrinho padre Carlos Nuno Vaz, e organizado por este e
seu irmão, padre Júlio Nepomuceno Vaz, onde se podem ler os artigos que o padre
Carlos Vaz publicara em “A Voz de Melgaço”. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 923,
de 29/1/1950: «Senhor Padre Carlos – Ao seu longo e melífluo arrazoado
muito havia que se lhe dissesse, e muito mais que esclarecer. Perguntar-se-ia,
por exemplo, por que razão só agora Vossa Reverência confessa a autoria do
celebérrimo “Por quem votamos nós?” que na altura da publicação vinha sem
assinatura? Perguntar-se-ia ainda se aos serviços encarregados «do processo da substituição de nomes nesses
postos de responsabilidade dum jornal, perante as entidades oficiais e
competentes do país», seriam necessários três meses (desde 9/12/1948 a 1/4/1949) para a
substituição do meu nome pelo de Vossa Reverência? E ainda, por que razão, em
vez da pergunta: “E se alguns (cartões
de felicitação) fossem da Oposição?” Se não respondeu afirmativamente, sem
temer o julgamento dos leitores, sem recear que a lama os salpicasse, sem temer
o desprestígio social, lutando de frente como lhes ensinaram no banco da escola,
sem a vaidade do lugar público, etc. …, quando todo Melgaço sabe que isto é
verdade? E também, por que razão, sabendo V. R. que não foram o diretor do
Notícias de Melgaço, aliás digno amigo de V. R., e a quem V.R. rende
respeitosas homenagens, nem o seu proprietário e administrador, aliás, honrado
artista, pai dum futuro sacerdote, para V.R. muito querido, os autores da tão
falada entrevista contra a situação, contra o clero e contra os católicos, nem
os autores dos ataques isolados ao clero, por que razão, sabendo tudo isso,
perguntar-se-ia, só barafustam contra o pobre do jornal que é, afinal, o único
ganha-pão da família do honrado artista e pai do futuro sacerdote? Andarão por
aqui ainda recordações de “Novos Rumos”? E mais: por que razão tendo eu
salvaguardado a minha qualidade de católico, declarando que guardaria sempre o
respeito devido pela qualidade de padres dos diretores de A Voz de Melgaço me
vem V.R. estranhar as atitudes tomadas como político? Eu, como católico,
desejava continuar à margem desta polémica, e não esquecer o título de um
artigo publicado no Diário do Minho e da autoria do reverendo padre Júlio Vaz
“Católico e só Católico”. Mas poderá V.R., padre, gozar de outras regalias e
esquecer que … Padre e só Padre?! Todo o ilustre clero do concelho sabe
perfeitamente que eu não pretendo aqui referir-me a nenhum deles. Conto-os
todos, graças a Deus, por amigos sinceros, leais e dedicados, e reconheço o
muito que a todos devo pelo muito que me tem ajudado sempre. Sejam quais forem
as consequências desta polémica, que de forma alguma é com eles, estou certo
não haverá a menor quebra de união e dessa amizade, que é meu orgulho. Mas
deixemos tudo a baloiçar no copo de água e creia, senhor arcipreste, que apesar
do nojo que me causam as incorretas atitudes agora tomadas por seu irmão, que
também é padre, eu sinto uma certa satisfação por ter proporcionado a V.R.
ensejo de tornar público os benefícios que o concelho lhe deve e tem obrigação
de agradecer-lhe. Eu é que não me julgo na obrigação de agradecer-lhe (e não o faço) os passos “difíceis e bem longe” que V.R. deu para
fazer de mim o que sou (santa
modéstia!), presidente da Comissão Concelhia da União Nacional de
Melgaço, porque, no fim de contas, também o acompanhei nesses passos (lembra-se senhor padre Manuel Rodrigues?) e os interesses
eram … (lembra-se
senhor padre Manuel Rodrigues?) – Lamento sinceramente que o nome de V.R., senhor padre
Manuel Rodrigues, tivesse sido trazido para esta polémica, e lamento-o, não
porque o testemunho de V.R. não seja valioso – vale, e muito, para os que o
conhecem e são seus amigos, e eu orgulho-me de ser um deles – mas, lamento-o
pela recordação amarga que certamente este incidente fez despertar na memória
de V.R., recordando-lhe aquela aleivosa calúnia com que tão injustamente
pretenderam diminui-lo e que, eu sei, o coração generoso de V.R. já havia
perdoado e esquecido. A culpa, porém, não foi minha, senhor padre Manuel
Rodrigues. E para terminar permita-me V.R., senhor padre Carlos, que eu recorde
aqui aquela habilidade dos botânicos chineses que conseguiram que uma árvore desse
de um lado rosas e, do outro, pilritos! Foi a impressão que me deixou a sua
habilidosa prosa – de um lado, falinhas mansas – e, do outro, os tais pilritos,
senhor padre Carlos. // Melgaço, 26/1/1950. Júlio
Outeiro Esteves (Presidente
da Comissão Concelhia da União Nacional).
Ainda no Notícias de Melgaço n.º 923, de 29
de Janeiro de 1950, escrito pelo médico Dr. Júlio Outeiro Esteves, lê-se:
«Respondemos ao senhor padre Júlio e ao senhor
padre Carlos. – Tal como Vossa Reverência, Senhor Arcipreste, também eu
gostava de estar fora desta polémica que não beneficiando ninguém serve apenas
para fazer estendal de habilidades jornalísticas (a quem as têm… não a mim) e sobretudo de “gáudio”
(a palavra não é
minha… eu só quero o que é meu) àqueles que de fora veem a atitude dos polemistas e, entre
eles, certos padres e alguém que até agora os não ferira nem melindrara. Mas se
essa era a vontade de todos nós para que apareceu o meu nome no artigo
“Respondemos ao Presidente do Nosso Município”? Na Nota Oficiosa do Excelentíssimo
Senhor Presidente da Câmara sei eu o motivo: - foi porque ele transcreveu um
período de um artigo de A Voz de Melgaço de 15 de Junho do ano passado, onde
estava o meu nome, e esta, A Voz de Melgaço, é orientada por Vossas
Reverências. Sendo este apenas o facto, que responsabilidade me poderia caber
na referida Nota Oficiosa? Diz toda a gente que nenhuma! Mas isso, nada vale
porque… só a opinião de Vossas Reverências é “leal”, “correta”, “séria”,
“honesta”, “justa”, “irrefutável”, “elegante”, “esmagadora”, “contundente”,
etc. … Tudo o mais é “inveja”, “ódio”, “ignorância”, “desonestidade”,
“deselegância”, “ardil”, e também etc… Palavras, só palavras!... Valha-nos Deus,
Senhores Padres! - Júlio
Outeiro Esteves, presidente da Comissão Concelhia da União Nacional.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 990, de
26/8/1951: «Em reunião ordinária de 21 de Agosto corrente, sob a
presidência do Dr. Carlos Luís da Rocha e com a assistência do vice-presidente
senhor Manuel Luís de Pinho Gonçalves e vereadores, senhores José Martins da
Costa Lobo Maia e João da Costa Lucena, foram lidos ofícios: - do reverendo
arcipreste do concelho, padre Carlos Vaz, convidando o presidente e a Câmara
Municipal a tomarem parte oficial na homenagem que o concelho vai prestar à
celeste rainha nos dias 27 e 28 do corrente, por ocasião da entrada triunfal da
veneranda imagem peregrina nesta vila e pedindo autorização para mandar levantar
na Praça da República um altar, onde se farão as cerimónias oficiais do
concelho. Acerca deste assunto, o senhor presidente disse que mais do que
ninguém lamenta o que se está a passar e o que se passou no nosso concelho e
que mais o lamenta por não poder prestar como presidente da Câmara, as suas
homenagens a Nossa Senhora de Fátima, como seria seu desejo e do seu maior
agrado. O católico, o crente, não deixará de lhas prestar. Porém, o presidente
da Câmara, nessa qualidade, a nada comparecerá e entende que toda a Câmara
deverá tomar igual atitude, isto é, como membros da Câmara não comparecerão,
mas devem comparecer como católicos – e todos o são – para rezar com o maior
fervor para que a virgem deixe cair a sua bênção sobre o nosso concelho. Que
várias razões poderão justificar semelhante atitude. Em primeiro lugar se a
festa é do concelho, se é o concelho que vai prestar as suas homenagens à
virgem, porque não se ouviu há mais tempo a Câmara e, juntamente com ela, se
delineou o programa? Não se procedeu assim e aparece-se à última hora, quando
tudo está assente, com um convite, que não pode, portanto, deixar de
interpretar-se como um simples convite protocolar. Mas, como poderia a Câmara
prestar a sua colaboração quando a organização da festa é exclusivamente dirigida
pelo reverendo arcipreste do concelho que, como ninguém ignora, tem permitido
que um jornal de que é chefe de redação e editor, ataque constantemente o
presidente da Câmara e a própria Câmara, a tal ponto que esta, na sua reunião
de 21/5/1951, deliberou proceder judicialmente contra o autor de um artigo aí
publicado, encontrando-se o processo a correr seus termos? Como poderia a
Câmara prestar a sua colaboração a uma organização dirigida pelo reverendo
arcipreste do concelho, que fez com que a Câmara se visse envolvida em um
processo por acidente de trabalho, com o qual nada tinha, o que o meritíssimo
juiz do Tribunal do Trabalho de Viana do Castelo decidiu no despacho saneador,
e parece agora desinteressado, tanto que nem se apresentou o rol de testemunhas
de acusação?! Como poderia a Câmara aceder a um convite que lhe é dirigido pelo
dito reverendo arcipreste se, tendo-o o presidente da Câmara convidado por
várias vezes para atos oficiais aqui realizados, ele a nenhum compareceu? Que
se o organizador destas festas fosse qualquer outro reverendo pároco do
concelho, e por todos temos testemunhado, quer particular quer publicamente, a
maior consideração, deveria esta Câmara, sem hesitar, colocar-se
incondicionalmente ao seu lado para que as homenagens a prestar à Senhora de
Fátima obtivessem o maior brilho possível. Assim o manifestamos a alguns deles.
Que em face destas considerações e de outras que poderiam fazer-se, e que todo
o concelho bem conhece, entende que não pode esta Câmara estar oficialmente
presente, porque não pode colaborar com o reverendo arcipreste do concelho, mas
que cada um dos seus membros deverá comparecer para cumprir o seu dever de
católico. Os membros da Câmara são católicos, mas também são homens com o
orgulho de se julgarem com o direito a serem considerados pessoas de caráter;
podem sentir-se melindrados com os agravos recebidos do reverendo arcipreste, mas
nunca lhes passou pela mente impedir, ou sequer empanar o brilho de qualquer
ato da sua religião, ainda mesmo que alguns desses atos estejam um pouco à
margem da legislação vigente, como aconteceu nos cortejos de oferendas para as
obras da capela de Santa Rita, de Rouças, e como se insinuou em artigo
publicado no jornal em que é editor o reverendo arcipreste. Que quanto à última
parte do ofício, é de opinião que deve ser concedida autorização para, na Praça
da República, ser levantado o altar e aí se realizarem quaisquer cerimónias.
Esta proposta foi aprovada por unanimidade, considerando-se a ata imediatamente
aprovada nesta parte, devendo extrair-se cópia referente ao assunto, a enviar a
Sua Ex.ª Reverendíssima o senhor arcebispo, como explicação do que determinou a
atitude que a Câmara acaba de assumir…»
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1455, de 4/12/1962: «Misérias à volta da Santa Casa. Antes de aqui nos
fazermos eco dos acres comentários tecidos por todo um povo à volta da saída do
nosso hospital das irmãs franciscanas hospitaleiras, concedam-nos os leitores
permissão para lembrarmos agora um passado recente da secular instituição. Foi,
na verdade, acerca da vida da Misericórdia a propósito de em 21/10/1959 ter
vindo a esta Vila o senhor Governador Civil que em Notícias de Melgaço se
escreveram estas palavras, ainda [hoje] de inteira aplicação ao caso por
conterem e apresentarem a verdade nua e crua: «E numa terra tão pequena como esta eu não vejo, por infelicidade de
todos nós, quem de boa vontade queira sacrificar-se para desempenhar com
dignidade um cargo de tanta responsabilidade, como é o de provedor, capaz de deixar
no seu eido a vaidade e de levar apenas consigo muitas e grandes simpatias
pessoais para as queimar a rir dentro das paredes daquela casa em benefício dos
pobres e dos doentes. Aquilo não é hoje palco para estadear vaidades; é antes
uma sala de estudo, sempre aberta com aulas constantes, onde os complicados
problemas da assistência social devem ser estudados e meditados dia a dia, e
devagar, para as normas adotadas terem eficiência quando se aplicarem. E aí se
devem aprender todos os escaninhos da tutela dos Serviços da Assistência para,
numa época de renovação de ideias e de métodos como esta, se não transformar a
Misericórdia em motivo das mais fortes preocupações e fonte de penosas
responsabilidades monetárias. // O balão de ensaios posto a correr também não
me agradou, porque nos tempos de hoje os padres só lá devem estar como
capelães. De resto ali só tem voz ativa e
só podem pontificar os irmãos da Santa Casa!» // Ora no jornaleco dos
padres, e com inteiro aplauso de todos eles, alguém manifestou o seu regozijo –
as ideias expandidas em Notícias de Melgaço serem letra morta na atual
situação, quando lá se escreveu nesse mesmo ano: «Congratulamo-nos nem só com a tão feliz e acertada escolha, como também
por verificarmos que afinal os padres podem lá entrar (na Misericórdia) sem
serem só como capelães…» Já dos seus atos prestou contas a um Deus
incorruptível quem naquela triste folhinha estas linhas escreveu com desmarcada
má-fé e se pena foi ser o escriba riscado tão prematuramente do livro dos
vivos, louve-se muito embora o Senhor por lhe evitar a vergonha de ter agora de
confessar que – na verdade, nos tempos de hoje, os padres só devem entrar nas
Misericórdias como capelães. E fechemos a curta recordação destes factos com
estas palavras escritas por Silva Pinto em “Para o Fim”: «Não há grandes povos, nem grandes homens. Só Deus é Deus…» que, por
sempre escrever direito por linhas tortas, acaba de condenar estrondosamente a
vaidade de um provedor incapaz e a falta de caridade de um padre, que pode ser muito
amimado pelo alto clero de Braga, mas a quem se nega qualquer virtude capaz de
o recomendar perante o Céu, acrescente-se. // As bombas de hidrogénio caídas no
Japão no fim da última guerra europeia não causaram no mundo tão grande
escarcéu como nesta pequena vila de Melgaço a notícia do provedor da Santa Casa
e do seu acólito Ezequiel do Val, com inteiro desconhecimento dos outros
mesários, haverem expulsado do hospital da Misericórdia as boas irmãs
franciscanas hospitaleiras portuguesas, naquela casa há muitos anos instaladas.
De gregos e troianos, de pobres e ricos, de homens e mulheres, e até do abade
da vila se levantou um estrondoso protesto contra esta tremendíssima tolice por
deixar os doentes internados na “Domus Caritatis” (Casa da Caridade) e os
itinerantes do concelho à “desprocura”, ou seja, entregues a uma triste sorte e
à morte, que os rondava; por transformar a única casa de caridade do concelho
numa coisa inútil e imprestável, e por deixar todo o termo sem possibilidades
de tratar suas doenças sob as vistas de quem sabia lidar com as mezinhas das
boticas e com as agulhas das injeções. E mais se avolumou esse processo ao
tornar-se conhecida a entrega do nosso hospital a uma gente de negro que não é
senhoril nem aldeã, que não conhece os segredos da enfermagem nem os da
curandice, uma carne nem peixe, meus senhores, pois não é religiosa nem leiga;
enfim, uma triste gente sem qualquer formação moral e muito menos literária ou
profissional, segundo se diz por aí. E sendo este caso da expulsão do nosso
hospital das boas irmãs da caridade, o facto mais saliente do ano, em todo o
concelho, porque será que o senhor Governador Civil ainda aqui não veio
sindicar do caso, ou melhor, reunir os irmãos da Confraria, ouvi-los, e com
eles combinar uma comissão administrativa capaz de repor as coisas no “statu
quo” antecedente? Espera acaso e dá tempo a organizar-se comissão que vá a
Lisboa correr as redações dos diários e os ministérios? // E passando os
correspondentes locais dos diários do Porto e da capital por ser gente séria e
isenta de partidarismos, porque será que as empresas jornalísticas do país
ainda não se referiram a este caso? De quem é esta falta de seriedade e de
isenção? // Não é intenção do Notícias de Melgaço diminuir ninguém, e muito
menos desrespeitá-lo, ou negar, qualquer qualidade boa da sua pessoa, mas
tão-somente relatar factos passados na terra, embora de propósito se não
recorde hoje do que por muita gente foi visto na tarde de domingo nas
enfermarias do hospital. Contudo, como semanário independente e regionalista,
Notícias de Melgaço tem uma função a cumprir neste concelho por ser o porta-voz
dos seus habitantes e à mesma não pode faltar sob pena de desonra para quem
escreve nas suas colunas. É, pois, em nome do povo melgacense que Notícias de Melgaço
se vê forçado a dizer ao Sr. Governador Civil ser necessário, a bem da Nação,
demitir já a Mesa da Misericórdia e substituí-la por uma Comissão
Administrativa capaz de administrar a Santa Casa de forma a fazer dela a
espinha dorsal da Assistência Social e tudo à roda das boas e sofredoras irmãs
hospitaleiras; aos senhores bispos de Braga, convir à Igreja cassar já e sem
qualquer demora a licença concedida ao padre Carlos Vaz para ser provedor da
Santa Casa de Melgaço, visto ter falhado estrondosamente à sua missão; ao
reverendo padre Adão Gonçalves Salgado [-------] mandar recolher à casa mãe a
sua gente por [----] não ser útil nem precisa, visto faltar-lhe as [----]
rudimentares qualidades exigidas pelos cargos para onde outros a empurraram em
hora aziaga; e aos irmãos da Confraria, que não deixem desonrar-se, pedindo já
a convocação da sua Assembleia Geral para ostensivamente se retirar o [apoio] a
quem não soube honrar a terra e a Misericórdia.» A. // Nota: apesar destas
críticas, aguentou-se à frente da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço durante
muitos anos!
VAZ, Carlos Nuno (Padre). Filho de João
Batista Vaz e de Rosa da Purificação Vergara. Neto paterno de Francisco Júlio
Vaz e de Angelina Alves Salgado; neto materno de --------- Vergara e de
----------------------. Nasceu em Rouças a 10/10/1942. // Sobrinho de Amélia
Vergara, casada com Manuel José Cousso, de Cristóval. // Em 1952 fez
exame do 1.º grau da instrução primária e ficou aprovado (Notícias de Melgaço
n.º 1033, de 20/7/1952). // Após o ensino primário ingressou, em 1955, no
Seminário de Nossa Senhora da Conceição de Braga. // Em 1958 frequentava o
Seminário de Filosofia. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1567, de 5/9/1965: «MISSA NOVA do reverendo padre Carlos Nuno Salgado Vaz. No
passado dia 29 do mês findo, na freguesia de Rouças, terra da sua naturalidade,
celebrou a sua missa nova o reverendo padre CRSV, filho do nosso amigo JBV e da
senhora D. RPVV. Cerca das 12 horas, entre o estralejar de foguetes e coberto
de pétalas de flores, dava entrada na igreja matriz daquela freguesia o novo
sacerdote, acolitado pelos reverendos párocos António Esteves e José Marques,
seguido do presbítero assistente, padre Carlos Vaz, arcipreste do concelho e
tio do mesmo. Seguiu-se a cerimónia da santa missa, que foi acompanhada pelo
coro de teologia do Seminário de Braga, subindo ao púlpito no momento próprio o
reverendo padre Júlio Vaz, tio do novo presbítero, que fez o sermão, falando do
que é o sacerdócio e das suas responsabilidades. Em lugar de destaque, estavam
presentes monsenhor Mouta Reis, cónego António Luís Vaz, também tio do novo
sacerdote, e o presidente da Câmara Municipal de Melgaço senhor professor
Manuel José Rodrigues. Seguiu-se um solene “te deum”, terminando os atos
religiosos com a tocante cerimónia do beija-mão, finda a qual foi oferecido em
casa dos pais e tios do novo sacerdote um magnífico copo-d’água aos numerosos
convidados, em que se fizeram amistosos brindes e se destacaram as qualidades
do novo sacerdote. Usaram da palavra os senhores D. Vicente, da Câmara
Eclesiástica de Ourense, padres António Esteves, Albertino Pereira, José
Rodrigues e Américo Ferreira, monsenhor Mouta Reis e Dr. Oliveiros Rodrigues,
agradecendo no final o novo sacerdote as palavras de carinho e apreço que lhe
foram dirigidas. Notícias de Melgaço, associa-se a tão feliz festa, desejando
ao novo sacerdote as maiores felicidades.»
Lê-se em “A Voz de Melgaço” n.º 927, de 1/11/1990: «Depois de concluídos os estudos teológicos com alta classificação, foi
ordenado sacerdote em 15/8/1965, cantando a Missa Nova, em Rouças, em 29 do
mesmo mês, dia de aniversário de seu saudoso pai, João Batista Vaz.» (ver Notícias de Melgaço n.º 1564, de 8/8/1965).
Foi logo nomeado coadjutor da então Vila
de Fafe, capelão do Hospital, capelão do Asilo de velhinhos, e professor de
Moral e Religião Católicas na Escola Industrial de Fafe. Em Outubro do ano
seguinte, 1966, foi para Madrid, onde se licenciou em Teologia Dogmática pela
Faculdade de Comillas, com uma pequena tese sobre “Nossa Senhora como nova
Eva.” Dois anos depois partiu para Roma a fim de se doutorar também em
Teologia. Isso aconteceu em Junho de 1971 com a tese “O Compromisso temporal
liberta o cristão? A Teologia do mundo de Maria Dominique Chenu”, trabalho que
foi aprovado com a classificação máxima. Regressando a Portugal no verão de
1971, regressou de novo a Roma em Setembro para acompanhar, como jornalista, o
Sínodo dos bispos para o consagrado “Jornal de Notícias”. O mesmo voltou a fazer
em 1974.
Desde Janeiro de 1975 que leciona nos estabelecimentos
de ensino oficial. Em 1976 matricula-se na Faculdade de Letras, no Porto, em
Filosofia Românica, cujo curso conclui durante o ano em que fez estágio para
professor efetivo na escola Secundária de Carlos Amarante, de Braga, a cujo
quadro está vinculado. Em 1982 consegue ser selecionado para frequentar o
Mestrado em Línguas e Literaturas Modernas, Românicas e Contemporâneas. Depois
da frequência e dos trabalhos realizados durante dois anos, dedicou-se à
ultimação da tese de mestrado, intitulada “A Saudade em Teixeira de Pascoais”,
que defendeu em Julho de 1986, obtendo a classificação máxima de “Muito Bom”.
Em 1986/87 e 1987/88 trabalhou na coordenação e supervisão de estágios
entregues ao CIFOP da Universidade do Minho. Em 1987/1988 lecionou ainda a
cadeira de “Introdução aos Estudos Literários” do Curso de Humanidades da
Faculdade de Filosofia de Braga. Desde o ano letivo 1987/1988 que está
requisitado a tempo inteiro pela Faculdade de Filosofia de Braga para reger a
cadeira de “Didática de Português” que é ministrada durante o ano de estágio
dos professores, e para coordenar e supervisionar os trabalhos dos diferentes
núcleos de estágio distribuídos pelas escolas oficiais.
Como atividade pastoral tem a seu cargo a capela
ou igreja da Senhora-a-Branca, na cidade de Braga, colaborando assiduamente com
a paróquia de São Vítor, onde a mesma se insere, e participando das reuniões
dos párocos e capelães da cidade onde se tentam traçar algumas linhas de
orientação. É o encarregado do sector da Liturgia. Já há dezoito anos que vem
trabalhando com os deficientes motores ou físicos através da Associação
“Auxilia” por ele fundada em Portugal.
É Diretor e Administrador do jornal “A Voz
de Melgaço” desde a aposentação de seu tio Júlio Vaz, coordenador de “O
Cávado”, semanário que se publica em Braga, e ainda encontra tempo para acorrer
a compromissos de pregação e ajuda pastoral a outros colegas sacerdotes, bem
como para proferir conferências nas escolas e nas universidades sobre os temas
da sua especialidade. // Foi subdiretor de “A Voz de Melgaço” a partir de
2/6/1972. O diretor era o seu tio, padre Júlio Vaz. // Por volta do ano 2.000,
e tendo em conta a idade do diretor, padre Júlio, assume ele a direção do
jornal. // Tem alguns problemas de saúde. Confessa ele, referindo-se ao hospital
de São Marcos: «… desde 1999 que
frequento os serviços de cardiologia.» (ver A Voz de Melgaço n.º 1240, de 1/2/2005). // Em Março de
2015 foi internado de urgência. // A 15/8/2015 completou cinquenta anos de
sacerdócio.
«Em 22 de Outubro, na Casa
Sacerdotal de Braga, onde estão a residir três sacerdotes naturais de Melgaço:
padre António Domingues, natural de Alvaredo; padre Manuel Lobato, natural de
Paços; e padre José Zeferino Esteves, natural de Parada do Monte, teve lugar a
eucaristia presidida pelo padre Carlos Vaz, também presidente do Instituto
Diocesano de Apoio ao Clero (IDAC), responsável pela Casa Sacerdotal. Dava-se a
feliz coincidência de esse dia ser em Braga, liturgicamente falando, dedicado a
São Martinho de Dume, padroeiro principal da Arquidiocese de Braga e patrono
também da Casa Sacerdotal. A eucaristia foi concelebrada por catorze
sacerdotes, doze oriundos de Melgaço e dois que a Melgaço estão profundamente
ligados: o padre Ildefonso Xavier, natural de Timor, mas que adotou Melgaço
como sua segunda terra-mãe; e o padre Vasco Gonçalves, atualmente pároco de
Monserrate, Viana do Castelo, mas que a Melgaço ficou profunda e amigavelmente
ligado, dos tempos em foi pároco de Parada do Monte, Gave, Cousso, Cubalhão, e
também Lamas de Mouro durante algum tempo. O padre Rogério Rodrigues justificou
a ausência, pois tinha consulta médica que não conseguiu adiar, mas
prontificou-se a organizar a reunião do próximo ano. O padre Joel também
justificou a ausência por afazeres inadiáveis. O padre José Cândido Marques,
com muita pena dele, não pôde contar com quem lhe desse boleia. O padre António
Fernandes, que até há poucas semanas era pároco em Fontoura, em Valença, também
faltou. Melgaço tem dezasseis sacerdotes nativos do concelho: quatro de Rouças,
dois de Parada do Monte, dois da Gave, um de São Paio, um de Cubalhão, um de
Cousso, dois de Paderne, um de Alvaredo, um da Vila, e um de Paços. Nas
renovadas instalações do outrora refeitório do Seminário de Nossa Senhora da
Conceição, por onde todos passaram, menos o padre Ildefonso Xavier e o padre
Marco Caldas, teve lugar o almoço de confraternização, não faltando o vinho
“Casa do Cerdedo” e outras lembranças da nossa terra natal. O ambiente de sadia
camaradagem e sincera amizade tornou-se acalentador, reforçando a ideia de que
é preciso manter estes encontros, para os quais, aliás, se repetirá o convite
aos párocos atuais de Melgaço, como aliás se fez para este encontro.»
VAZ, Diogo (Padre). // Lê-se em
“Melgaço Medieval”, de Manuel António Bernardo Pintor, página 51: «Em 1547 fez-se um tombo da paróquia de
Chaviães, que alude a outro de 1502. Era abade de Chaviães Diogo Vaz que se intitulava
“capelão do Duque de Bragança.»
VAZ, Francisco (Padre). // Deve ter
nascido no século XVIII; viveu também no século XIX. // Morou no lugar da
Granja, Alvaredo. // Colaborava frequentemente com o reitor da freguesia de
Alvaredo, sobretudo nos batismos. // A 24/2/1808, na igreja de SMP, foi
padrinho de Francisco Manuel, nascido três dias antes, filho de Francisco
António Lourenço e de Maria Rosa Alonso Gonçalves. // A 22/10/1810, na igreja
de SMP, foi padrinho de Maria Francisca, nascida oito dias antes, filha de
Francisco António Lourenço e de Maria Rosa Alonso Gonçalves, que fora batizada
pelo padre Carlos Domingues. // A 3/10/1818, na igreja de SMP, serviu de
madrinha aquando do batizado de Francisco Manuel, nascido a 27 de Setembro do
dito ano, filho de Francisco José Castanheira e de Teresa Antónia Rodrigues,
moradores no Campo da Feira de Dentro, vila de Melgaço. O padrinho era Manuel
Dias de Carvalho, do lugar de Queirão, freguesia de Paderne. // A 10/7/1825, na
igreja de Alvaredo, batizou José Joaquim, nascido nesse dia, filho de Manuel
António Martins e de Maria José Alves Salgado.
VAZ, Francisco António (Padre). Filho
de José Joaquim Vaz e de Escolástica Teodora Alves. // Morou no lugar da Breia,
freguesia de Prado. // A 29/7/1846, na igreja de Prado, foi padrinho de
Francisco António, nascido no dia anterior, filho de Tomás Gonçalves e de Maria
Afonso, residentes no lugar de Santo Amaro, Prado. A madrinha era Maria Rosa
Simões, do lugar da Corga, freguesia de Remoães. // A 30/8/1846, na igreja de
Prado, foi padrinho de Emília Teresa, nascida nesse dito dia, filha de António
Ventura Alves de Sousa e de Maria Joaquina da Cunha, residentes no lugar da
Breia, Prado. // A 25/6/1848, na igreja de Prado, foi padrinho de Tomás,
nascido dois dias antes, filho de Tomás Gonçalves e de Maria Afonso, residentes
no lugar de Santo Amaro, Prado. // A 8/9/1848, na igreja de Prado, foi padrinho
de Maria Joaquina, nascida três dias antes, filha de Luís Augusto Gonçalves,
solteiro, natural de Remoães, e de Joana Rosa do Souto, do lugar de Bouça Nova,
Prado. A madrinha, Josefa Maria Rodrigues, era avó materna da neófita. // A
27/7/1850, na igreja de Alvaredo, foi padrinho de Ana Vaz, nascido no dia
anterior. // A 30/1/1855, na igreja de Prado, foi padrinho de Aurélio Augusto,
seu sobrinho, filho de Manuel José Vaz, natural de Prado, e de Maria Rosa
Afonso, natural de Cousso, proprietários, moradores no lugar da Breia. A
madrinha era Ana Vaz, do lugar da Granja (meeiro
de Paderne e Alvaredo). // A 9/2/1858, na igreja de Prado, foi padrinho de seu
sobrinho, Veríssimo Amador, nascido três dias antes, filho de Manuel José Vaz e
de Maria Rosa Afonso, moradores no lugar da Breia. // A 24/9/1862, na igreja de
Prado, foi padrinho de Justina, nascida oito dias antes, filha de Manuel José
Vaz e de Maria Rosa Afonso, moradores no lugar da Breia.
VAZ, João Nepomuceno (Padre). Filho de
António Luís Vaz e de Rosa Maria Meleiro, lavradores, residentes no lugar do Faval.
Neto paterno de Luís Vaz (Rola) e de Mariana
Gonçalves; neto materno de Manuel Francisco Meleiro e de Teresa Vaz. Nasceu em
Fiães, no dito lugar do Faval, a 16/5/1874, e foi batizado nesse dia.
Padrinhos: padre Francisco António Meleiro e Maria José Meleiro, lavradora,
tios maternos do neófito, do Faval. // A 3/8/1901 obteve o diploma de professor
pela Escola Normal, com a classificação de quinze valores. // Ordenou-se
sacerdote no Seminário de Braga a 21/12/1901. // Foi professor oficial do
ensino primário na escola de Covelães e de Montalegre até 1902; a partir de 1
de Outubro desse ano lecionou em Rouças «onde
viveu bastantes anos» (Obras Completas de ACE, volume I, tomo II, página 596), e depois, a
3/11/1906 (tomando
posse no dia 12), na escola da Adedela, Fiães, tendo como alunos, entre
muitos outros, os futuros padres Albertino Pereira e Manuel António Bernardo
“Pintor”, e o Dr. Augusto César Esteves (1889-1964). // A 5/9/1903, na
igreja de Prado, foi padrinho de Ladislau José, nascido a 4 de Julho desse dito
ano, filho de José Lourenço Pinheiro e de Defina Benedita de Barros. // A
16/4/1905, na igreja de Rouças, foi padrinho de Estefânia, nascida nesse dito
dia, filha de Francisco Aires e de Maria Joaquina Durães. // A 21/5/1907, na
igreja de Fiães, foi padrinho de Augusto do Espírito Santo, nascido no dia anterior,
filho de Manuel Joaquim de Araújo e de Rosa de Jesus Vaz. // Respondeu em
tribunal a 29/7/1912, acusado de ter mandado rezar aos alunos «um padre-nosso» pelo bom êxito da causa
de Paiva Couceiro, sendo absolvido por falta de provas. Na busca domiciliária
foram-lhe apreendidos os seguintes objetos: um maço de jornais endereçados ao
abade de Padrenda, um revólver, doze cigarrilhas, oito maços de cigarros
espanhóis, e dois retalhos de tecido de algodão, pagando de multa 8$00; foi
conduzido para a Vila, ficando incomunicável, seguindo no dia seguinte, sob
custódia, para Viana, a fim de responder no tribunal marcial. Efetuaram esta
diligência o mestre da Marinha, Manuel Rodrigues, três marinheiros, e dois
guardas-fiscais. A fim de proceder a averiguações acerca da sua prisão, esteve
em Melgaço desde o dia 21 até 24/7/1912, acompanhado do 2.º sargento Alberto
Rodrigues, o capitão de infantaria n.º 8, Camilo dos Santos Sotomaior, o qual
ouviu em Fiães várias pessoas e alunos da escola. O depoimento das testemunhas
foi-lhe favorável «sendo a queixa dada
contra ele provocada por rixas pessoais» (ver
Correio de Melgaço n.º 7 e Correio de Melgaço n.º 8, de 28/7/1912). Lê-se no Notícias
de Melgaço n.º 23, de 28/7/1929: «Melgaço
há dezassete anos – Por ter rezado um padre-nosso. Ia Julho em meio, torrante
(escaldante), abrasador. Levantara-se há momentos e estimulado pela extrema
dedicação que sempre votou aos alunos, o reverendo João N. Vaz viera, em febre,
assentara-se na mesa da presidência. Num instante lembrou os relatos dos
jornais acerca das prisões levadas a efeito naqueles dias. Ouvem-se passos.
Abre-se a porta. Os soldados, tudo revolvem, na ânsia de um documento
comprometedor. Embora tranquilo, o reverendo João julgou-se em delírio, sem
compreender a cena que via desenrolar-se. – Acompanhe, ordena o comandante. –
É-me de todo impossível, redarguiu, fazer a viagem, a não ser de cavalo. –
Vamos! Há-se ser a pé. // Acompanhado por seu irmão, Francisco Júlio Vaz, segue
rodeado por sete espingardas. // Em Melgaço (Vila) foram a dois de fundo e ele
na frente. Inquiriu do tenente da marinha o motivo da prisão. – É por haver
rezado um padre-nosso pela história do Paiva Couceiro, elucida. // - É
absolutamente falso, Excelentíssimo Senhor. Interrogue, se lhe aprouver, as
crianças de menos idade da minha escola! – Vamos apurar a verdade! Entretanto
tem de se resignar a permanecer em prisão. // Descia a noite melancolicamente.
Passou-a no hospital, privado de assistência do médico, que lhe negaram. Na
manhã seguinte partiu para Viana escoltado por três espingardas. Apupado em
Valença, onde os soldados alucinados pretenderam invadir o compartimento, veio
ao cair da tarde dar ingresso na prisão de São Tiago, onde permaneceu durante
quinze dias. // Viu-se imediatamente em companhia de padres, irmãos, cunhados,
ou pais de padres. Grandes conspiradores! Não o atormentava na prisão tanto a
sorte que o esperava se a verdade não pudesse ser apurada, como a aflição que
originara à família. Sempre, o mesmo coração de ouro: - tudo para os outros,
nada para si. Os quinze dias pareciam intermináveis. Afinal a 29/7/1912 foi
posto em liberdade esse bandido, esse conspirador, esse celerado que a
República julgava inimigo seu, a ponto de “O Século” noticiar a sua prisão, ele
que nunca ligou a mínima importância a politiqueiros, nem a politiquices. É
para comemorar essa data que – embora a largos traços, sem atavios de linguagem
– rabisco estas linhas. // Quando, às vezes, nos relata o quanto sofreu nesse
calvário doloroso, vemo-lo sempre terminar com estas palavras a que ele
consegue emprestar a graça do seu fino riso satírico: “Para prender este
celerado vieram sete armas!” Neste dia memorável, que ele não deixará de
recordar, não com saudade, mas não também com rancor, queremos felicitá-lo pela
justiça que lhe fizeram pondo-o em liberdade e bem assim rogar ao altíssimo se
não repitam dramas de tão mau gosto. L.V.»
No jornal “Correio de Melgaço” n.º 165, de 12/9/1915, diz-se que ele
tinha propriedades em Rouças. // Em 1916 foi promovido a professor de 1.ª
classe (Correio de Melgaço n.º 184, de 30/1/1916). // No Notícias de
Melgaço n.º 35, de 20/10/1929, que transcrevo quase na íntegra, lê-se: «Há, em quem tem
o sagrado dever de reger a nação portuguesa, uma febre louca de fazer leis,
umas após outras. Em Setembro passado, pouco mais ou menos, foi suspensa uma
antiga lei das Alfândegas, que obrigava os habitantes de Castro e da Peneda
a munirem-se de guias para seus gados poderem apascentar em território
português e, pelo contrário, os povos raianos de Fiães e Castro, que precisam
de cultivar seus terrenos em Espanha, estão privados dessa guia – desde Maio,
alguns; e outros desde Setembro. / Ignoro o texto da primeira lei, e sei que
para a segunda se invoca a razão dos gados estarem doentes com a febre aftosa.
A aplicação da primeira lei é um monstro jurídico e um absurdo da parte de quem
a aplica, porque os quartéis de Castro e Peneda estão deslocados da fronteira,
distando, o de Castro, do marco 29, 10 km, e da Peneda, que tem entre e supra
mencionado marco a freguesia de Castro, 20 km. / Consideram para aplicação dessa lei a linha de postos de Alcobaça, a
Castro e Meijoeira, ficando por conseguinte todos os lugares de Castro entre
essa linha e a raia, bem como a linha de Alcobaça à Peneda e Tibo, quando a
verdade é que a raia está muito mais longe dessas linhas, e é pelos marcos, que
dividem Portugal e Espanha, que se conta a fronteira, e não pela linha dos
postos, obrigando assim esse povo infeliz que não tira do terreno mais do que centeio
e batata, a uma contribuição injusta e vexatória. Alega-se, para tal, a
necessidade de reprimir o contrabando, mas em virtude do preço do gado bovino
ser mais alto em Portugal do que em Espanha não existe tal contrabando. Qual a
causa dessa contribuição? A causa verdadeira é o posto de Castro e Peneda não
estarem em seu lugar; o de Castro devia estar nos postos Eiras ou Rodeiro, e o
da Peneda devia estar no Ribeiro de Baixo. Mudem-se esses quartéis para o lugar
que lhes compete e já se não poderá aplicar tal lei. Compete aos Comandantes da
Guarda-Fiscal, conhecedores da verdade, fazer saber às Alfândegas a
monstruosidade da aplicação da lei e enquanto ordens sensatas não forem dadas,
ordenar aos seus subordinados que não ponham em execução tal medida que só vai
causar prejuízos, incómodos e gasto de dinheiro a esses povos que para comerem
têm de pedir licença. / Apelamos, em especial para o Comandante da
Guarda-Fiscal em Melgaço, espírito reto, coração bondoso, conhecedor «de visu»
da situação topográfica de Castro, e consequentemente da injustiça da lei, para
que não dê andamento à lei, enquanto ele por sua vez informa as estações superiores da iniquidade de tal
lei. A lei, para ser imposta, deve ser justa (injusta lex non est lex), deve
ser possível (ad impossibilia nemo tenetur), e além disso deve ser para o bem
comum. Ora esta lei é injusta, pois é imposta a portugueses, que vivem em
território português, não é para bem comum, antes é para vexames desses povos,
é uma lei de exceção; e é em muitos casos impossível de cumprir e quase todos
os dias terá de ser violada. Por exemplo: a, b, c, d e e trazem em comum seu
gado lanígero e caprino; no monte fica algum desse gado, e ao recolher algum
gado de a passou para a corte de b. Resultado: um ter a mais e o outro ter a
menos; por casualidade passa o fisco, revista, e encontra uma diferença, e
multa a e b individualmente. Para o fisco vai ser uma ruína que alguns sabem
explorar, pois se há muitos de sã consciência, há-os também que são capazes de
à sombra da lei estarem sempre em cima dos lavradores. (…) / Desde Maio que os povos raianos de Fiães e
Castro estão sem guias para poderem apascentar seus gados em Espanha … / Apesar
dos esforços empregados junto do Administrador de Puente Bargas, até hoje não
têm sido concedidas essas guias. Foram retiradas por causa da febre aftosa que
grassou no gado, mas aqueles cujas guias não terminaram em Maio, e alguns só em
Agosto as entregaram, passaram sempre, não lhes sendo retiradas, resultando que
enquanto uns passavam com guias outros não o podiam fazer, dando a entender que
a guia era uma vacina contra a febre aftosa. Este estado de coisas não pode
continuar. O gado pode passar para levar carros de lenha aos carabineiros e não
pode passar para servir seus donos! Apelamos para o Administrador do Concelho,
pedindo-lhe que envide todos os esforços a fim de que as guias para passagem
dos gados dos povos raianos sejam concedidas e não sejam obrigados a elas os de
Castro, cujos gados não vão pastar à Espanha.» // No Notícias de
Melgaço n.º 37, de 10/11/1929, escreve: «… Há cinquenta anos, pouco mais ou menos, era eu criança da
escola, foi marcada uma estrada, ligação a São Gregório com Castro Laboreiro
que, atravessando o lugar de Soutomendo, passava por cima do lugar de A-de-dela,
A-da-velha, Barão acima para Castro. Os marcos numerados duraram muitos anos.
Ocorre-me perguntar: por que o governo de então pensou na construção da estrada
São Gregório a Castro e os de agora não pensam?»
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 84, de
2/11/1930: «A pedido dos pais de seis seminaristas,
que deste concelho ingressaram no Colégio das Missões Ultramarinas, sito em
Tomar, fui acompanhá-los e entrega-los aos superiores desse Colégio. Todos
terão notado, ao viajarem a primeira vez, que tudo lhe impressiona o sentido
visual e que com o nosso procedimento damos, a quem nos observa, um espetáculo
ridículo, pois o mesmo aconteceu com esses seis seminaristas que nunca
viajaram. // Grande foi a sua alegria ao verem o comboio e, ao verem-no andar, em
marcha acelerada, diziam uns para os outros: olha as árvores a fugir, o rio a
correr, as casas a andar, etc. Quando atravessamos a ponte sobre o Douro diz um
deles para os outros: - “Vede como é bonita a cidade do Porto, ali é Vila Nova
de Gaia, este é o rio Douro.” Dizia outro: - “olha os barcos no rio, olha
aquele barco a andar sem remos!” – “É verdade”, disseram os outros. // No Porto
vi-me seriamente embaraçado para os não perder. Julgando que me seguiam, ia
muito descuidado pela rua de Santo António, e olho para a retaguarda e nem um
me seguia! Alongo a vista e lá estavam: uns a uma vitrina, outros a outra;
gesticulando e conversando animadamente, examinando os diversos bonecos e
fazendas, e tão embebidos estavam que apesar de lhes acenar nada viram e tive
de retroceder para os juntar novamente e assim quase sempre em todas as ruas.
Toda a viagem se passou em uma hilaridade constante e admiração de tudo o que
viam e presenciavam. Andavam no comboio de janela em janela, para melhor
poderem ver a leste e a oeste, e tão entretidos iam que era preciso
lembrar-lhes a necessidade de repararem as forças. Entre mil peripécias lá
chegamos a Tomar às 2,5 horas da manhã, tendo saído de Monção às 5 horas da
manhã – 15 horas de comboio! No Colégio fomos recebidos pelo porteiro que
amavelmente nos procurou alojamento para todos…» // João N. Vaz.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 106, de 26/4/1931: «No dia 19 foi
cantada no altar do Coração de Jesus uma missa em ação de graças pelo
restabelecimento da saúde de Maria Joaquina Vaz, do lugar da Quingosta, pelo
reverendo João Vaz e seminaristas desta [freguesia de Fiães], que mais uma vez
deliciaram os ouvintes com o seu harmonioso canto gregoriano…»
Em 1935 era correspondente do “Notícias de Melgaço” para a freguesia de
Fiães (NM 278). // Em 1938 deu parte de doente e pediu a aposentação (Notícias de Melgaço
n.º 416). // A escola oficial e outros melhoramentos da freguesia
de Fiães à sua grande influência se devem. A sua casa foi um verdadeiro
seminário, pois nela se prepararam cerca de uma dúzia de futuros sacerdotes. //
Morreu no lugar da A-de-dela, Fiães, a 28/1/1939. // Lê-se em “Obras Completas
de Augusto César Esteves”, volume I, tomo I, páginas 47 e 48: «… em tudo imitei um meu grande e simpático
amigo, que Deus já chamou a si, o padre mais eleiçoeiro do Minho, o reverendo
João Nepomuceno Vaz…» // A 26/8/1959 foi homenageado a título póstumo pelos
seus antigos alunos. // Nota: o Dr. José Joaquim de Abreu, no seu livro «Padres
Incríveis», página 29, fala dele, sugerindo que era exorcista, que curava
pessoas com “espírito ruim”. Diz uma senhora galega, tendo ao colo um filho
doente: - «Vou ao Padre João, à Adedela,
para mo exorcismar. Dizem que é careiro, mas que faz milagres.» É óbvio que
este diálogo deve ser invenção do advogado, inimigo da família Vaz, sobretudo
dos sacerdotes.
VAZ, José (Padre). // Do lugar meeiro de
Sante. // Morreu a 27/7/1832 e foi sepultado na igreja de Paderne. // Deixou
testamento.
// continua...
Sem comentários:
Enviar um comentário