sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha




// continuação de 12/10/2024.

 

VIAGEM NO INTERIOR DE MIM

(163)

 

 

Viajo pelo cosmos à deriva,

Montado num vetusto dinossauro,

Com cara de turco, chino, ou mauro,

Um guerreiro feroz, filho de Shiva.

 

Deixo o bicharoco numa arriba,

Seu corpo abandonado pra restauro;

Alimentado só com salsa e sauro,

Por triste e esquelética amiba.

 

Mas antes que o velho sol se extinga

Vou falar com o deus do universo;

Dar-lhe a beber litros da minha pinga…

 

Mostrar-lhe, em bela prosa e verso,

Sem qualquer pudor ou vil choraminga,

Por quem corro, choro, e armas terço.


 

ASSIM VOS PEÇO

(164)

 

 Não me perguntem se durmo esta noite

Na cama de Carol ou de Teresa;

Em casa de saloia ou de princesa,

Em quarto de mulher que me açoite.

 

Eu quero uma cama onde pernoite,

Depois de petiscar em farta mesa;

Toldar o meu cérebro de incerteza,

Sem sítio certo onde eu me amoite.

 

Não desejo roubar o vosso espaço,

Os minutos e horas de lazer;

O vosso cafezinho e bagaço…

 

Apenas um momento de prazer,

Abraçado ao meu secular Melgaço,

Que me valerá quando eu sofrer.

  

 

UM ANO NUMA HORA

(165)

 

Se eu pudesse sorrir eternamente,

Estar sempre feliz à tua beira,

Não haver pra mim noite derradeira,

Nem sonho ruim que fosse urgente.

 

Brotarem coisas boas na corrente,

Daquela água que corre na ribeira;

Fitando durante a vida inteira

Teu rosto de boneca sorridente.

 

Sentir-me-ia grato, recompensado,

Por tudo que sofri até agora…

Por tudo que na vida hei passado.

 

Minha alma ainda hoje implora

Por um diferente, um melhor fado,

Onde se viva um ano numa hora.

  

 

SÃO ROSAS, SENHOR

(166)

 

Isabel de Aragão, a maviosa,

Mãe dos pobrezinhos e dos mendigos,

Sem ódio no peito, sem inimigos,

Era a rainha mais bela e mimosa.

 

Não era fútil, febril, caprichosa.

Não falava aos súbditos por postigos;

No reino todos eram seus amigos,

À exceção de uma bruxa ronhosa.

 

Acusou-a ao soberano, el-rei,

Que tudo dava aos pobres por amor,

Aos deserdados, feridos da sorte…

 

Dom Diniz, dono da guerra, da lei,

Enfrenta a sua esbelta consorte…

 «Vede: são rosas, só rosas, senhor

 

*

 

     E mil pétalas de rosas de várias cores voaram do seu regaço. Seu marido, emocionado, ajoelhou a seus pés, prometendo que jamais ouviria as vozes de gente má, invejosa. Os milagres nascem das lendas e estas nascem da imaginação do ser humano

                                  // continua...                        

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