SONETOS DO SOL E DA LUA
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 12/10/2024.
VIAGEM
NO INTERIOR DE MIM
(163)
Viajo
pelo cosmos à deriva,
Montado
num vetusto dinossauro,
Com
cara de turco, chino, ou mauro,
Um
guerreiro feroz, filho de Shiva.
Deixo
o bicharoco numa arriba,
Seu
corpo abandonado pra restauro;
Alimentado
só com salsa e sauro,
Por
triste e esquelética amiba.
Mas
antes que o velho sol se extinga
Vou
falar com o deus do universo;
Dar-lhe
a beber litros da minha pinga…
Mostrar-lhe,
em bela prosa e verso,
Sem
qualquer pudor ou vil choraminga,
Por
quem corro, choro, e armas terço.
ASSIM VOS PEÇO
(164)
Na
cama de Carol ou de Teresa;
Em
casa de saloia ou de princesa,
Em
quarto de mulher que me açoite.
Eu
quero uma cama onde pernoite,
Depois
de petiscar em farta mesa;
Toldar
o meu cérebro de incerteza,
Sem
sítio certo onde eu me amoite.
Não
desejo roubar o vosso espaço,
Os
minutos e horas de lazer;
O
vosso cafezinho e bagaço…
Apenas
um momento de prazer,
Abraçado
ao meu secular Melgaço,
Que
me valerá quando eu sofrer.
UM
ANO NUMA HORA
(165)
Se
eu pudesse sorrir eternamente,
Estar
sempre feliz à tua beira,
Não
haver pra mim noite derradeira,
Nem
sonho ruim que fosse urgente.
Brotarem
coisas boas na corrente,
Daquela
água que corre na ribeira;
Fitando
durante a vida inteira
Teu
rosto de boneca sorridente.
Sentir-me-ia
grato, recompensado,
Por
tudo que sofri até agora…
Por
tudo que na vida hei passado.
Minha
alma ainda hoje implora
Por
um diferente, um melhor fado,
Onde
se viva um ano numa hora.
SÃO
ROSAS, SENHOR
(166)
Isabel
de Aragão, a maviosa,
Mãe
dos pobrezinhos e dos mendigos,
Sem
ódio no peito, sem inimigos,
Era
a rainha mais bela e mimosa.
Não
era fútil, febril, caprichosa.
Não
falava aos súbditos por postigos;
No
reino todos eram seus amigos,
À
exceção de uma bruxa ronhosa.
Acusou-a
ao soberano, el-rei,
Que
tudo dava aos pobres por amor,
Aos
deserdados, feridos da sorte…
Dom
Diniz, dono da guerra, da lei,
Enfrenta
a sua esbelta consorte…
«Vede:
são rosas, só rosas, senhor!»
*
E mil pétalas de rosas de várias cores voaram do seu regaço. Seu marido,
emocionado, ajoelhou a seus pés, prometendo que jamais ouviria as vozes de
gente má, invejosa. Os milagres nascem das lendas e estas
nascem da imaginação do ser humano.
// continua...
Sem comentários:
Enviar um comentário