quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

 

FERREIRA DA SILVA - UM BRACARENSE EM MELGAÇO





// continuação de 8/10/2024.


       Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1584, de 25/1/1966: «SEDE DO GRÉMIO DA LAVOURA. // «Tomamos conhecimento pelo ilustre presidente do Grémio da Lavoura do nosso concelho das diligências por si efetuadas para a rápida construção da sede daquele Grémio, que virá a dar realidade a uma das maiores e mais prementes aspirações de todos quantos se interessam pelo progresso da nossa terra. Na conferência realizada na cidade do Porto com o arquiteto, ao qual foi confiado o levantamento do respetivo projeto, foram tratadas em todos os detalhes as futuras instalações do nosso Grémio que, mercê de tenaz esforço e cuidadosa atuação administrativa, é considerada um excelente paradigma da organização corporativa e orgulho do nosso concelho. Para a sua efetivação está assegurada a garantia de avultada comparticipação da Federação dos Grémios de Lavoura de Entre Douro e Minho e dos organismos que estão adstritos a este importante setor corporativo. Já dissemos que a sede do nosso Grémio será implantada e edificada na avenida de circunvalação da nossa Vila, frente ao edifício dos bombeiros voluntários, no terreno para tal fim adquirido ao seu proprietário onde, em tempos, se pensou instalar a feira do gado. A sua situação geográfica pode considerar-se das melhores, perto do edifício do Domus Municipalis, confinando com a Praça Hermenegildo Solheiro destinada a novas e importantes edificações, particulares e oficiais, de entre elas a Casa dos Magistrados e uma das mais centrais e de notável valor comercial da nossa Vila. A par da boa situação geográfica, com frontaria para a avenida da circunvalação, a retaguarda constituirá um lindo varandim sobre a paisagem admirável dos vales e elevações que se disfrutam e se estendem sobre as freguesias de Rouças, São Paio, Paderne e Prado, e formam um quadro de excecional beleza em que o casario branco das povoações e o matiz de verdura se esfumam até ao extremo limite de um horizonte inédito de maravilha e de cor. A futura construção neste local de eleição será dotada de salas e acomodações para todos os serviços gremiais, de espera, dos serviços comerciais e administrativos, com capacidade para uma secretaria ampla, higiénica e moderna, arquivos, salas de reuniões das Assembleias Gerais e da Direção, de exposições de produtos e propaganda, armazéns gerais de mercadorias, garagem, sanitários, enfim, dotada de todas as dependências que se tornam necessárias à eficiência dos serviços e exigidas pelo bem-estar dos funcionários e dirigentes, pelo público e pelos agremiados. Pelo que nos dizem, a frontaria situada num plano recuado do pavimento da avenida, será sustentada por uma fila de arcarias que dará ao edifício uma configuração agradável de aspeto sem prejuízo da sua estrutura de segurança e de harmonia com os modernos conceitos de urbanização dos edifícios nacionais. Trata-se de um edifício que embelezará o local, dará inteira satisfação às exigências dos serviços e poderá, sem favor, constituir legítimo orgulho da linda terra melgacense. Vai, finalmente, deslocar-se o grémio da lavoura para local e edifício decente, de linhas modernas, concebido em ordem a integrar amplamente os seus serviços e o gosto e comodidade do público, e que, rapidamente, fará olvidar a pocilga miserável, acanhada e anti-higiénica, onde presentemente se encontra instalado. Seria bom e de justiça que a população de Melgaço não esqueça os fautores desta iniciativa, encabeçada pelo atual presidente da direção do grémio, ao qual não é demais tributar-lhe o apreço e a consideração que os seus relevantes esforços merecem e coloca-lo no pedestal de honra dos seus amigos e reformadores, daqueles que por simples devoção, alheios a interesses pessoais, põe acima de tudo os interesses da nossa terra e denodadamente procuram propugnar com entusiasmo e energia pelo progresso da nossa Vila.» // F.S.   

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1585, de 30/1/1966: «PRODUTORES DIRETOS.» // NOTA: depois de lido verificou-se que este artigo, apesar de ter algum interesse para os produtores de vinho, não se adapta ao tema principal deste livro, que é Melgaço e os seus problemas. No entanto, se alguém estiver interessado em lê-lo, deve dirigir-se à Casa da Cultura de Melgaço.   

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1586, de 6/2/1966: // «Talvez devido às más condições do tempo, que há uns meses nos fustiga, tem passado um pouco incomodado da saúde o nosso querido amigo, senhor Ferreira da Silva. Para recuperar as suas forças e consultar competente especialista encontra-se no Porto, de onde brevemente regressará ao convívio dos seus inúmeros amigos e às lides jornalísticas, momentaneamente interrompidas. Felizmente, o seu estado de saúde não inspira quaisquer cuidados. No entanto, fazemos sinceros votos para que o incansável diretor deste jornal retome dentro em breve a sua profícua atividade, continuando a tratar com mão de mestre e com a competência e oportunidade que todos lhe reconhecem os temas tão apreciados sobre os assuntos de candente interesse para o concelho, que todos desejamos cada vez mais progressivo. Ao querido amigo desejamos pronto e completo restabelecimento 

 

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         Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1589, de 13/3/1966: «Regressou há dias à sua casa do Rio do Porto, em vias de completo restabelecimento, o nosso muito prezado diretor. Embora ainda um pouco combalido, pelos tratamentos a que se tem sujeitado, o seu estado geral e o seu aspeto são bons, o que muito nos alegra, bem como aos seus numerosos amigos, que são toda a população desta terra. À sua casa tem acorrido a visitá-lo e a inteirar-se do seu estado de saúde numerosas pessoas de todas as categorias sociais. Ao querido amigo desejamos pronto e completo restabelecimento

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1593, de 17/4/1966: // «A fim de tratar do completo restabelecimento da sua abalada saúde, partiu há dias para o Porto, com curta demora, segundo acabamos de saber, o inteligente diretor deste jornal e nosso muito querido amigo, senhor Ferreira da Silva. O seu estado de saúde chegou a inspirar cuidados, tanto à sua família como aos seus numerosos amigos, que – às centenas – têm acompanhado a evolução da doença e se têm informado do estado do querido doente. Felizmente que as apreensões se desvaneceram, pois o senhor Ferreira da Silva, embora ainda bastante combalido, tem vindo a recuperar de forma bastante satisfatória. Fazemos sinceros votos para que o nosso estimado amigo em breve possa tonificar os pulmões e exercitar os membros, voltando à convivência com os seus numerosos amigos, e continue a prender-nos com os seus tão apreciados artigos de “Notícias de Melgaço”.» 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1596, de 15/5/1966: // «Prevenindo a hipótese de qualquer lapso, falta ou omissão, por deficiência de registo ou ignorância de presença dos inúmeros amigos ou simpatizantes que durante o longo período da sua doença lhe significaram o seu cuidado e interesse, e aos mais, por este motivo, não tenha feito pessoal ou indiretamente o seu agradecimento, vem por este meio apresentar-lhes os protestos do seu indelével reconhecimento pela sua gentileza e prova de consideração e amizade e informá-los de que felizmente se encontra a caminho de franca recuperação. Esclarece também que não lhe sendo possível assumir, por enquanto, as suas atividades de direção e publicidade deste semanário, declina toda a responsabilidade moral e legal do que aqui tenha e venha a ser publicado ou não seja subscrito com as inicias “F.S.” do seu apelido e não se enquadre nos estritos limites do noticiário corrente, como seja a transcrição de artigos oriundos dos organismos oficiais de publicidade e informação cuja orientação e doutrina não perfilha e enjeita por não corresponder ao seu passado e ao seu modo de pensar e sentir. Porém, as colunas deste jornal continuarão abertas a todos quantos nelas devem versar assuntos pertinentes aos legítimos interesses do concelho e de reconhecida utilidade ao seu progresso e engrandecimento.» // F.S.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1632, de 2/4/1967: «VISITANTES ILUSTRES. // De visita ao nosso querido diretor e a seu filho estiveram no domingo, dois do corrente, nesta Vila, os Excelentíssimos Dr. André Prisi, madame Elsa Prisi, e engenheiro Ambrósio Putzi, respetivamente Cônsul e Consulesa da Suíça, e Diretor da Empresa da mesma nacionalidade Brown Borerid Baden. // Recebidos principescamente no solar do Rio do Porto pela família Ferreira da Silva, ali lhes foi servido um delicado e opíparo almoço regional, onde não faltaram as saborosas lampreias do nosso Minho e os excelentes vinhos que enfileiraram nos apreciados néctares melgacenses. No final do fino repasto, todo à base da cozinha melgacense, foi facultado aos ilustres visitantes um passeio e rápida vista dos locais de maior beleza e vastidão panorâmica do nosso concelho que mereceram a sua admiração e encantamento, em especial de madame Elsa que cultiva com grande brilho e sensibilidade as artes plásticas, em que se diplomou numa das universidades do seu belo país. As impressões da visita à nossa linda região, nesta quadra de sol admirável, em que a natureza desabrocha num poema de sinfonia e de cor, foram tão vivas e tão sentidas que se manifestaram em promessas firmes de futuros projetos de excursões turísticas por toda a região do Alto Minho e mais demoradamente por Melgaço, que desejam tornar conhecido dos seus compatriotas, em ordem a sentir-se penetrados do encanto e da surpresa a pujança, a fragância e a luminosidade da paisagem que a si próprios os embebeceu e sublimou. Desejamos, muito sinceramente, que a estes ilustres visitantes outros se sucedam, certos de que vale a pena subir às alturas das elevações até perder de vista os longes garridos e requintados da nossa terra.        

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1637, de 14/5/1967: «NORTON DE MATOS.» // NOTA: interessante artigo, mas fora do âmbito deste livro; trata-se de uma homenagem a Norton de Matos, natural de Ponte de Lima, figura cimeira do século XX. No Rotary Clube do Porto estiveram presentes o Dr. António Durães, amigo do general, e também o diretor do Notícias de Melgaço, Ernesto Viriato Ferreira da Silva, entre outras pessoas.

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1638, de 28/5/1967: «MEHORAMENTOS RURAIS. // Com a presença do Excelentíssimo Governador Civil do distrito, realizaram-se no domingo, 21 do corrente, as inaugurações de vários melhoramentos rurais, de indiscutível necessidade e utilidade para a comodidade e bem-estar dos povos das freguesias do nosso concelho. Pelo número, e pela localização, os melhoramentos inaugurados, oficialmente integrados no plano das comemorações do quadragésimo aniversário da revolução nacional, constituem um importante e valioso subsídio na vida das populações rurais e um marco progressivo na defesa da sua saúde e das imposições do seu labor quotidiano. A extinção dos poços de chafurdo preconizada e patrocinada com decisiva firmeza e alta visão por Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas, engenheiro Arantes de Oliveira, e o abastecimento das águas das freguesias, em condições higiénicas, representam um contributo de inigualável valor na sanidade e defesa física dos povos, cuja formação, neste capítulo, interessa clara e obviamente não só ao concelho mas à nação. Por isto, as inaugurações levadas a cabo, de 312 chafarizes, constituíram um festivo acontecimento, ao qual se associaram com entusiasmo as populações beneficiadas e ficam a abalizar uma era de progresso e de necessária e merecida dádiva aos que labutam e vivem da cultura dos agros e por eles sacrificam e regam com o sangue do seu árduo trabalho. E não só foram inaugurados os referidos fontanários, cujo número representa um esforço notável e uma dedicação sem limites da nossa edilidade, em especial do seu dinâmico presidente, professor Manuel José Rodrigues, mas também vários caminhos de acesso e estradas municipais de grande valor comercial e de comodidade real para a ligação dos lugares e freguesias à sede do concelho. Em seguimento cronológico das inaugurações foram benzidos pelos dignos párocos e abertos definitivamente ao público na presença do Excelentíssimo Governador Civil do distrito, os fontenários das freguesias de Rouças, São Paio, Cubalhão, Lamas de Mouro, Prado, Remoães e Fiães, os caminhos vicinais em Cubalhão, Lamas de Mouro, Prado, Remoães, e a estrada municipal de Fiães, uma das melhores do concelho, bem alcatroada e com um desenvolvimento moderno e bem delineado, através do qual se divisa um surpreendente panorama que fica enquadrado vantajosamente nos melhores e mais completos percursos turísticos do nosso concelho e até do distrito. A chegada do Excelentíssimo Governador, esperado em Penso, nos limites concelhios, pelas autoridades e outras pessoas de categoria, foi anunciada por foguetes e, depois de trocados os primeiros cumprimentos, formou-se desde logo um luzidio e longo cortejo de automóveis em direção ao edifício da Domus Municipalis onde se realizou uma brilhante sessão solene no salão nobre, vistosamente engalanado e na qual se constituiu a mesa da presidência formada pelo chefe do distrito, pelo presidente do município, engenheiros diretores dos serviços de urbanização e estradas, comandantes de secção da G.N.R. e Guarda-Fiscal, magistrados judiciais, pároco da freguesia, presidente da União Nacional, comandante da Legião Portuguesa, deputado Dr. Brás Regueiro, presidentes das Câmaras de Monção e Paredes de Coura, etc., achando-se a sala repleta com a gente grada do concelho e muito povo, e nela se destacavam também muitas gentis senhoras. Aberta a sessão, o presidente da Câmara, professor Manuel José Rodrigues, saudou, em termos veementes, o Excelentíssimo Governador Civil e na sua pessoa o Governo da Nação, as autoridades, a imprensa, na pessoa dos jornalistas presentes, e o povo de Melgaço. Referiu-se seguidamente à visita de trabalhos do grande ministro engenheiro Arantes de Oliveira e aos benefícios da mesma, resultantes em comparticipações de obras públicas, abastecimento de águas, esgotos e eletrificações, e concluiu por uma alusão vibrante de fé e de patriotismo à peregrinação ao santuário de Fátima, de Sua Santidade Paulo VI, o pontífice da paz, cuja projeção nacional e internacional desvanece e orgulha os portugueses. O chefe do distrito agradeceu as palavras que lhe foram dirigidas, saudou as autoridades e todos os presentes, disse da sua satisfação em visitar Melgaço, elogiou o trabalho tenaz e frutuoso do Sr. Presidente da Câmara, ao qual sempre prestou o maior incentivo, e se maior ajuda não lhe foi possível dar, deve-se à situação especial, geográfica e demográfica do nosso concelho, ao êxodo da população masculina e outras causas que tornam difíceis e muito morosas as realizações. Concluiu com um hino de louvor e de fé à visita de Paulo VI e às suas fervorosas preces pela paz. No Hotel Rocha, do Peso, foi servido um delicado banquete de mais de 30 talheres, a que não faltou o salmão do nosso rio, e no qual foram proferidos vários brindes pelo Presidente da Câmara, pelo nosso diretor, em representação do “Notícias” e da “Voz de Melgaço”, pelo presidente da U.N., professor José Augusto Lourenço, e deputado Regueira. Findo o banquete, e tendo sempre em atenção o horário previsto para as inaugurações anunciadas no respetivo programa, e em que tomaram parte os presidentes das juntas e povo das freguesias, foi inaugurada como cúpula final a admirável estrada de Fiães, cartaz policromo das belezas do Alto Minho, sendo ainda servida, junto aos muros do velho mosteiro, uma suculenta merenda, em que predominou o afamado presunto e a broa regional. Como nota final, cabe enaltecer a democrática e gentilíssima assistência prestada pelo Dr. Alfredo Pinto, ilustre Governador Civil, aos representantes das freguesias, com os quais conversou demoradamente, debateu e esclareceu os seus problemas com paciência beneditina e simpática simplicidade e compreensão. Foi uma jornada muito eficiente que fica registada nos anais do nosso concelho, a mais carinhosa e produtiva que nos tem sido dado apreciar, pelo que todos os melgacenses, e em especial o professor Manuel Rodrigues, estão de parabéns. Bem-haja, senhor Presidente da Câmara, e pela nossa parte, muito e muito obrigado. Como fecho deste ligeiro relato, lembramos quanto seria útil para o turismo da nossa terra, a elaboração e publicação de uma plaquete com a descrição e reprodução fotográfica dos trechos mais salientes da maravilhosa estrada de Fiães, a fim de ser distribuída gratuitamente aos nossos visitantes.» // F.S.            

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1644, de 9/7/1967: «A QUEM DE DIREITO. // «Coisas há nos serviços públicos que são facilmente remediáveis desde que um pouco de cuidado aos interesses coletivos presida à fiscalização e conservação das obras e bens criados em benefício da grei. Não basta dotar as populações com melhoramentos de indiscutível interesse para os seus utentes, é preciso que os benefícios deles resultantes sejam conservados e reparados, em ordem a serem utilizados permanentemente e a corresponderem aos fins para que foram criados. Certo é também que as obras realizadas, a par da utilidade e satisfação das povoações, em caso algum deverão lesar os direitos reais dos povos, em matéria das necessidades marginais reconhecidas consuetudinariamente, ou por justo título, em relação aos agros dos respetivos proprietários. Vem isto a propósito das queixas que chegam até nós acerca do abandono a que estão votados alguns caminhos vicinais e estradas municipais do nosso concelho. A título exemplificativo e de esclarecimento, citaremos um aqueduto que atravessa a estrada de Rouças, em Cavaleiros, que se encontra entupido há muitos meses e não permite a passagem das águas de regadio dos campos marginais, com grave prejuízo dos seus legítimos donos e da produção cerealífera. É evidente que os aquedutos, através das vias de comunicação, se destinam ao escoamento das águas de rega ou pluviais, de modo a facilitarem a conservação dos caminhos ou estradas, protegendo-os contra as enxurradas e inundações, e ainda à passagem das águas de rega das propriedades marginais. O seu entupimento constitui crime quando devido a malvadez e indispensável motivo de vigilância e conservação, por parte do pessoal incumbido da fiscalização. A incúria, ou indiferença, pelo desentupimento pode mesmo dar lugar a indemnizações aos utentes dos aquedutos pelos prejuízos causados nas plantações que deles se utilizam. Outro exemplo que urge reparar é o que se verifica naquele lugar de Cavaleiros, em frente a um estabelecimento de mercearia ali instalado, resultante de um cano condutor das águas potáveis para esta Vila que rebentou com a pressão sobre as respetivas paredes. O cano em referência foi substituído ou reparado por uns rapazes, de menor idade, ao serviço do pessoal da fiscalização, mas não obstante o decurso de cerca de um mês, ainda não foram repostos os paralelos arrancados por efeito da reparação e estão colocados a monte no sítio da avaria, perturbando e dificultando a circulação naquela via de comunicação. Finalmente, outro caso, que já foi por nós aqui tratado por várias vezes, regista-se nos bancos da Praça da República, que a malvadez e inconsciência do rapazio (de maior idade) teimam em deteriorar ou inutilizar aqueles indispensáveis e úteis assentos, arrancando selvaticamente as travessas e tornando-os impróprios ou incapazes de prestar a comodidade a que se destinam. A quem de direito solicitamos providências imediatas no sentido de reparar estes casos e responsabilizar os seus autores, na inteligência de que a população tem direito a ser servida com carinho e interesse, tanto no particular como no coletivo. Para isso paga as suas contribuições.» // F.S.    

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1695, de 15/9/1968: «BODAS DE OIRO. No próximo dia 20 do corrente mês completam cinquenta anos de casados os Excelentíssimos Senhores D. Margarida Esteves Ferreira da Silva e o nosso querido diretor Ernesto Viriato dos Passos Ferreira da Silva, consorciados religiosamente na Igreja Matriz de Santa Maria da Porta, desta Vila, em 20/09/1918. Para celebrar tão festivo dia, aqueles nossos amigos reúnem-se em jantar íntimo no Hotel do Elevador do Bom Jesus do Monte, da cidade de Braga, terra da naturalidade do nosso diretor, com seus filhos, genro, nora e netos e respetivos maridos que, para o efeito, se deslocam àquela Estância de repouso. Sabemos que o ágape será confecionado com escolhidos e apetitosos acepipes e aos festejados serão oferecidas lindas e valiosas lembranças que ficarão a perdurar pela vida fora o alegre acontecimento. Como final da comemoração, os festejados irão em passeio ao Funchal, Ilha da Madeira, e às Canárias. Aos seus queridos amigos, Notícias de Melgaço deseja, do coração, uma festa eufórica e feliz, uma viagem venturosa, e apresenta com os votos das maiores prosperidades os seus sinceros parabéns.»  

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1712, de 2/2/1969: «HORA DA SAUDADE. «Dias tristes os deste inverno nevoento e plúmbeo em que as manchas alvinitentes das nevadas que o frio das geadas consolidou, se desfazem derretidas pelo dilúvio chuvoso e pelas raras abertas de tímidos raios de sol que teimam em abrir caminho através de nuvens carregadas de fluído e de opressor mal-estar. Em complemento destes dias acabrunhantes, de inverno impiedoso, surgem notícias de sinistros e catástrofes fatídicas, em terra, no ar e no mar, como se à humanidade sofredora não bastasse a sua vida amargurada. E neste quadro patético e alarmante ouve-se o som plangente do sino da igreja a anunciar, a crentes e não crentes, o passamento dos que não puderam opor a sua resistência física à corrupção da matéria e à chamada da morte. Neste pequeno burgo, em que todos nos conhecemos e estimamos, as notícias propagam-se com a velocidade do raio que fende as nuvens, sobretudo quando são más. Quem morreu?! O nosso coração alanceado suporta a triste notícia com estoica serenidade, mas com um pesar tão vivo e tão doloroso que sufoca todas as realidades naturais em apertos de garganta. Morreu o Dr. José Durães! Querido e saudoso amigo, companheiro leal de lutas e de alegrias, nesta terra vividas e comovidamente lembradas! Quem foi esse colosso, cuja vida preciosa foi cerceada abruptamente pela morte, apagando um espírito perfulgente e destruindo a insinuante figura e irresistível atração que em torno dela se formou?! O Dr. José de Barros Durães, melgacense pelo nascimento e pelo coração, não viveu as alegrias que a vida proporciona às pessoas de boa saúde física. Formou-se pela Universidade de Coimbra, em Letras e Direito, exerceu o cargo de professor provisório no liceu da Guarda, foi advogado distinto, político de espírito aberto e bondoso, e o último presidente eleito, por sufrágio popular da Câmara Municipal de Melgaço; não tendo podido realizar o muito que todos dele esperávamos em virtude de ter adoecido gravemente e internado no hospital São João de Deus, em Barcelos, onde viveu durante 34 anos e onde, com pesar de todos os melgacenses, acaba de falecer. Aqui lhe foi prestada pública homenagem em banquete preparado pelas gentis senhoras de Melgaço, servido pelas mesmas no edifício da antiga escola primária Conde de Ferreira, sob a presidência do autor destas linhas, antigo Governador Civil do distrito, e no qual lhe foram tributadas as maiores honras na presença e com a assistência dos deputados do círculo, clero, funcionalismo e povo. Oriundo de uma das mais ilustres famílias melgacenses, deixa na mais profunda dor e saudade, seus irmãos irmãs, cunhados, primos e mais familiares. Silêncio! É a hora do saimento do féretro, fechada para sempre a urna que contém o cadáver, transportado para esta Vila no carro de fogo dos BVM, coberto com a bandeira municipal e acompanhado por numeroso cortejo de familiares e amigos que, desde Barcelos, Viana, Valença e Monção, o seguiu piedosamente, até à última morada. No Largo fronteiro à igreja matriz esperavam melgacenses de todas as categorias sociais, amigos e conhecidos do falecido e de suas famílias, os quais, depois de assistirem à encomendação religiosa feita pelo reverendo pároco, se incorporaram no cortejo fúnebre até ao cemitério da vila, onde ficou sepultado em jazigo perpétuo da família. Foi portador da chave da urna o nosso diretor, seu grande amigo, Ernesto Ferreira da Silva, que em Monção aguardou a chegada do féretro. Com a doença terrível que o inutilizou, e agora com a sua morte, Melgaço perdeu no Dr. José Durães um dos seus mais ilustres filhos, um dos seus mais altos valores intelectuais e morais, um dos seus mais denodados defensores e amigos, um dos homens mais representativos e pessoa que estava destinada aos mais elevados postos dentro e fora da terra que o viu nascer. A sua perda deixou no nosso coração uma dor imensa, um vazio que jamais se preencherá. Desventurado amigo! Tributamos-te a mais vibrante e dolorosa homenagem, a mais sentida despedida com o mais comovido adeus. Adeus em nome de todos quantos sinceramente te estimaram; adeus em nome desta linda vila que tanto amaste e generosamente serviste; adeus em nome do enlutado povo melgacense que em irreprimível convulsão de amargura, soluça e pranteia o fim do teu afeto, a perda da tua benquerença, da tua delicadeza, dedicação e caridade. Que encontres, finalmente, a paz e a felicidade que a vida te negou e que nós invocamos em fervorosa oração. É a hora da saudade! Pois, que a tua recordação fique em chama ardente nas nossas almas, a lembrar, na eternidade, a nossa pungente e viva Saudade.» // F.S.       

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 - «Gráfica Melgacense, Limitada // «Notícias de Melgaço, o velho semanário independente e regionalista, com mais de meio século de existência, que contou entre os seus dedicados colaboradores os mais prestigiosos melgacenses, por onde passaram nomes célebres de escritores e polemistas, vivos uns, já falecidos tantos, enceta hoje uma nova fase da sua já longa existência. Informando com objetividade, imbuindo as suas críticas, oportunas e salutares, de indiscutível e manifesto espírito construtivo, usando de honestidade de meios na sua constante luta pelo progresso e bem comum, sempre atento às necessidades, problemas e aspirações de Melgaço, batendo-se com denodo e galhardia por toda a causa justa, sempre na brecha, de cara bem voltada a um futuro mais ridente deste desprotegido concelho, Notícias de Melgaço impôs-se à consideração dos seus numerosos leitores, fez jus ao respeito e ao reconhecimento de todos os melgacenses. Melgaço lhe deve o agitar de muitos problemas, com vista à sua resolução, o apontar de erros e desleixos, num constante alerta a sugerir correções. Melgaço deve-lhe milhentas sugestões válidas, tantas delas perdidas no olvido do tempo, pela incompreensão e egoísmo dos homens. Notícias de Melgaço lançou sempre a boa semente, frutificando uma, estiolando outra, por não lograr cair em terra de feição. Neste voltar de página, olhando o passado, recolhido em retrospetivo exame de consciência, Notícias de Melgaço sente justo orgulho da obra já realizada, eleva fervoroso “requiescant in pace” pelos seus colaboradores e beneméritos que transpuseram já os umbrais do Além, saudando os ainda vivos, para quem apela confiadamente. Pois Notícias de Melgaço, que ultimamente vivia com enormes dificuldades económicas (financeiras) e sentia faltar-lhe, ao menos em abundância, colaboração ao nível dos seus pergaminhos, mudou de dono, sendo hoje propriedade da sociedade que gira sob a firma – o nome – de Gráfica Melgacense, Limitada. Esta notícia correu célere em toda a Vila, transpôs mesmo os seus acanhados limites, com gáudio da maioria e a curiosidade de todos. Sentiam-se as perguntas de amigos e curiosos, as preocupações com o futuro do “seu” jornal, mas adivinhava-se-lhes fé no futuro, porque Melgaço é terra de Fé! // Os menos informados indagavam o que é uma sociedade, quem a compõem, que lemas a norteiam, que projetos traz na sua bagagem. Uma sociedade não é mais do que uma agremiação de pessoas que, na vida sócio jurídica, se apresenta com um ente novo, uma nova pessoa, distinta de cada um dos seus componentes, sentindo e agindo em uníssono, visando a prossecução de um escopo comum, pois com essa finalidade se uniram. Nomes de sócios? Que importa saber nomes, que, aliás, noutro lugar se indicam? Interessa, isso sim, saber que a Gráfica Melgacense tem como sócios pessoas que, tendo ultrapassado já a terceira década da sua existência, conservam em pleno vigor a sua juventude, mesclada embora de um sentido das realidades de experiência feito, da qual dimana o mais são idealismo, sempre prenhe de justiça, sequiosos de progresso, cônscios dos seus deveres e responsabilidades para com a pátria e muito particularmente para com o seu concelho, mentalizados para lutar, sem desfalecimentos nem desânimos, quaisquer que sejam os escolhos que semeiem no seu caminho, por um Melgaço melhor e mais próspero em todos os seus aspetos, visando a morigeração dos costumes, uma administração (tanto das autarquias administrativas como dos organismos corporativos e de assistência) esclarecida empreendedora e eficiente, em suma, por condições de vida de todos os melgacenses compatíveis com as normalmente existentes alhures, nesta meta final do século XX. Que bandeira hasteia a Gráfica Melgacense? Que rumo seguirá o seu jornal? N.M. será, mais do que nunca, a tribuna de todo o homem e boa vontade, que nele poderá livremente exprimir os seus pontos de vista, dizer das suas razões, proclamar os seus anseios, alvitrar sugestões, fazer as suas críticas. Notícias de Melgaço buscará ser, acima de tudo, um jornal de todos os que pretendem o progresso de Melgaço, porque esses, comungando nos anseios dos seus atuais proprietários, fazem, de certo modo, parte da Gráfica Melgacense. Uma exigência apenas, que venham até à Gráfica de alma lavada e com espírito construtivo, pois N.M. jamais será lugar para extravasar ódios ou lavadouro de roupa suja. Projetos? Ambições? Notícias de Melgaço terá como ambição primeira a doutrinação e consciencialização de todos os melgacenses, mostrando-lhes através de artigos de fundo, editoriais ou outros, as dificuldades a vencer e o caminho que se lhe antolha mais curto e seguro para alcançar os fins comummente almejados, sem entretanto descurar a parte noticiosa e informativa. Sabendo do acendrado amor de todos os melgacenses ao seu torrão natal, e que grande parte se encontra mourejando no estrangeiro, a Gráfica Melgacense vai procurar correspondentes em todas as freguesias, para a todos levar a saudade de parentes e amigos. Este progressivo desenvolvimento criou à Gráfica Melgacense o propósito de modificar o formato do jornal, aumentando-lhe para o dobro o seu número de páginas. Para tanto, porém, são necessárias máquinas novas e modernas, cujo custo ascende a algumas centenas de contos de réis. A Gráfica projeta compra-las e ambiciona encontrar instalações próprias e capazes, estudando as possibilidades de construir casa sua, onde se instale. Para quando tudo isto? Todos os melgacenses poderão facilitar a resposta com o seu sempre generoso auxílio. Uma certeza a finalizar, depressa ou paulatinamente a Gráfica Melgacense caminhará com firmeza e segurança na concretização do rumo traçado.» // Abel Vaz (Dr. Abel Augusto Vaz, advogado).             

 

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     No jornal Notícias de Melgaço n.º 1723, de 4/5/1969, páginas 2 e 3, foi publicada, pelo Cartório Notarial de Melgaço, com data de 22/04/1969, a Escritura da sociedade comercial por quotas “Gráfica Melgacense, Limitada”, cuja sede era na Rua da Calçada, Vila de Melgaço. // Sócios: Dr.ª Maria Armanda Oliveira Neves Vaz e seu marido, Dr. Abel Augusto Vaz; Dr. Sidónio Silvestre da Silva Soares de Sousa; Fabiano de Jesus da Costa; e o padre Manuel Bento de Sousa Silva. 

     NOTA: este jornal, sob a direção do citado Dr. Abel Vaz, ainda sobreviveu até à década de setenta do século XX (vinte).

 

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           Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1724, de 11/5/1969: «COMUNICADO. Por sua expressa vontade, deixa de exercer as funções de Diretor deste semanário o Sr. Ernesto Viriato dos Passos Ferreira da Silva. Foi sentidamente que lhe solicitamos para continuar, embora compreendamos que o seu estado de saúde não lhe permite uma colaboração tão assídua como todos desejaríamos. Esperamos continuar a contá-lo entre os nossos amigos, augurando-lhe a melhor saúde e incontáveis felicidades, pessoais e familiares. Interinamente, o subscritor destas linhas, assumirá a Direção deste jornal e, oportunamente, tecerá a respeito do seu Ilustre antecessor, as considerações que a sua personalidade, o seu arreigado amor a esta terra e a dedicação a este modesto semanário, sobejamente justificam.» // O Diretor, interino, Abel Augusto Vaz.     

 FIM

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