// continuação de 7/06/2023
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Ascendeu
ao trono Dom Pedro Quinto,
Tinha
dezoito anos de idade;
Era
inda um jovem, um tenro pinto,
Mas
revelou tino, maturidade...
Reinara
seu pai, no real recinto,
No
seus três anos de menoridade.
Teve
por mulher Dona Estefânia,
Que
não nascera nesta Lusitânia.
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Chamaram-lhe
o príncipe da virtude,
O
rei «esperançoso», muito amado;
Seu
peito firme, forte, não ilude,
Tem
alma, um carácter elevado.
Seu
olhar sereno é como grude,
Atrai,
fascina, é adocicado.
Fados
destinaram-lhe curta vida,
A
ele e à sua mulher querida.
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A
cólera-morbo, febre amarela,
Invadem o país de lés a lés;
Muito
povo desta terra esfarela,
Mata
os pobres, ricos, as ralés.
A
rainha morre, coitada dela,
Foi
levada pelas ondas, marés.
Seu
viúvo só viveu mais dois anos,
Sofrendo
angústias, cem mil danos.
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A
França criou-lhe um grave problema,
Exigindo
o resgate dum navio;
Difícil
situação, um dilema…
Viu
o caso de fio a pavio,
Nunca
abordara este tema;
Forçoso
era arranjar atavio.
O
barco era pirata, negreiro,
Traficava
negros no mundo inteiro.
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A
França era nação poderosa,
Com
potencial bélico agressivo;
Enfrentá-la
era ideia custosa,
Portugal
era um país passivo...
Aquela
atividade era rendosa,
Rendia
mais do que o ouro no crivo.
Pedro
Quinto cedeu às exigências,
Para
fugir às futuras consequências.
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Nasce
agora o caminho de ferro,
Primeiro
de Lisboa ao Carregado;
De
início um bocado perro,
A
pouco e pouco melhorado.
Ninguém
fez o prematuro enterro,
Gostaram
dele, foi acarinhado.
Levou
gentinha a todas as terras,
Subindo
montes, montanhas e serras.
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Construiu
a Faculdade de Letras,
O
Observatório Astronómico;
Sem
vistosos discursos, sem vãs tretas,
Sem
trejeitos de um artista cómico.
Falava
verdade, odiava petas,
Dizia-se
poeta, anatómico.
Em
mil oitocentos sessenta e tanto
Larga
este mundo, quase um santo.
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Como
não deixa qualquer descendência,
Sucede-lhe
Luís, o «Popular»;
É
um tempo calmo, sem turbulência,
Noites
calmas, límpidas, de luar;
Alto,
de excelente aparência,
Um
pouco gordo, de pesado andar.
Promove
vários melhoramentos:
Estradas,
o comboio, monumentos.
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Um
dos grandes feitos deste reinado
Foi
a abolição da pena de morte;
O
criminoso civil declarado,
Quer
fosse das ilhas, centro, sul, norte,
Matasse,
virgem tivesse violado,
Não
ouvirá a sentença de Mavorte…
Por
essa grande reforma penal
Recebeu
elogios Portugal.
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Não
foi fácil destruir essa pena,
Há
anos na nossa legislação;
O
tribunal era uma arena,
Aí
se ditava morte ou prisão...
Nem
um milagre de Santa Helena
Daria
ao preso a salvação.
Tudo
tinha a ver com a cultura,
Com
os velhos hábitos, impostura.
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Com
o tempo tudo foi melhorando,
Até
a escravatura findou;
Os
génios foram-se acalmando,
Uma
nova era por fim brotou…
Mas
o terrível mal foi germinando,
O
término da paz por fim chegou…
A
gente humana, dona da Terra,
Brinca
com o fogo ao fazer guerra.
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O
caminho de ferro, já avança,
Espalha-se
paulatinamente;
A
telegrafia é uma esperança,
O
telegrama vai para toda a gente.
O
banco também seu lugar alcança,
Dinheiro
circula alegre, contente.
Marinha
mercante ficou em terra,
Para
crescer a marinha de guerra.
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Eis
a chamada era do fontismo,
Que
traz ao país modernização;
Parece
que morreu o egoísmo,
Nascendo
a seguir a coesão…
Tudo
no seguimento do vintismo,
Daquela
sonhada revolução.
Mas
o bem não dura eternamente,
Porque
o mal tem quem o alimente.
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Agricultura
terá curta esmola,
É
parente pobre do orçamento;
Inda
se usa a charrua, a sachola,
O
camponês mal ganha prò sustento.
Nas
ruas vêem-se padres com estola,
Indústria
é fraca de momento.
Serpa
vai de Luanda ao Natal,
Elevando
o nome de Portugal.
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Capelo
e Ivens exploram sertão
Daquelas
Áfricas quentes, escaldantes;
Moçâmedes
e Quelimane são,
Pisadas
por estes cavaleiros-andantes.
Na
Europa causou admiração,
Este
feito de titãs, de gigantes.
E
vai crescendo assim a ciência,
Com
imenso esforço e paciência.
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França
assinou connosco um tratado,
No
qual aceitava a soberania
Daquele
território explorado;
Logo
a Alemanha, por simpatia,
Assina
o tal documento citado...
Inglaterra
rejeitou, que ironia!
Nossa
aliada de tanto ano,
Portou-se
como velho pai tirano!
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Luís
casou com Dona Maria Pia,
Jovem
de origem italiana,
De
ânimo varonil noite e dia,
Com
um olhar límpido, não sacana;
Não
temendo o frio, invernia,
Adorando
no altar Santa Ana.
Chamavam-lhe
«Anjo da Caridade»
Por
dar sobras aos pobres da cidade.
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Ficou
quase demente, a coitada,
Aquando
da morte de seu filho;
Partiu
para o castelo da cunhada,
Já
sem pose, nem estilo ou brilho;
Dizem
que não notou, não deu por nada,
Era
como bailasse no sarilho.
Finou-se
na sua terra natal,
Chorando
talvez este Portugal.
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Neste
reinado houve cem campanhas,
Nas
terras de Moçambique e Angola;
Usou-se
velhas armas, novas manhas,
Espingarda,
catana, a pistola...
Passaram
rios, pequenas montanhas,
Às
costas levavam rija sacola.
Gomes
de Almeida e Nunes da Mata
Põem
os Dembos sob a sua pata.
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Indígenas
de Malange, Ambaca,
Enfrentam
duras tropas portuguesas;
O
natural esforça-se, forte ataca,
Mas
os lusos com artes e vilezas,
Como
já fizeram antes em Malaca,
Transformam-nos
em nada, em pobrezas.
O
grande herói, Teixeira Beltrão,
Recebeu
do governo um medalhão.
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Em
Moçambique abatem macololos,
Como
se foram tigres ou serpentes;
Através
de artimanhas, mil dolos,
Exterminam
aquelas pobres gentes.
Podiam
ser tudo, até parolos…
Eram,
podem crer, de nós diferentes.
Não
me venham gabar tamanhos feitos,
Pois
para mim são apenas defeitos.
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Mil
oitocentos oitenta e nove
Morre
o popular rei Dom Luís;
Este
Portugal chora, do céu chove,
Pela
morte deste ser tão feliz.
Dom
Carlos ao trono sobe,
Herdando
de seu pai nobre matriz.
Os
ingleses, como bichos do mato,
Mandam
a Portugal o ultimato.
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O
jovem rei cedeu à imposição,
Mandou
o mapa-cor-de-rosa à fava;
A
Inglaterra era grande nação,
Os
seus canhões tudo espatifava.
Acho
correta sua decisão,
Uma
prova de humildade dava.
Ainda
bem que não quis o confronto
Pois
para isso não estava pronto.
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Grande,
temível chefe Gungunhana,
À
frente dos vátuas de Moçambique,
Mais
subtil do que cómica gincana,
Mais
produtivo do que o alambique,
Pois
tinha filhos em Lola e Ana,
Assustava
lusos noutra Ourique.
Era
alto, forte como um touro,
Possuía
farpas como o besouro.
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Não
queria no seu chão os portugueses,
Tudo
fazia para os escorraçar;
Chamava-lhes
tiranos e soezes,
Mandava-os
embora, para o mar;
Fossem
disseminar as suas teses
Para
a fria Sibéria do Czar.
Porém
o luso, audaz, dá-lhe luta,
A
terra do negro régulo disputa.
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Xavier
vence-o em Marraquene,
Humilha-o,
chama-lhe a atenção;
Num
tom poderoso, alto, solene,
Diz
que ele é traidor à nação.
O
soba diz-lhe que o deus perene
O
ajudará, dar-lhe-á a mão.
Mouzinho
Albuquerque, tal dinamite,
Esmaga-o na zona de Chaimite.
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Outras
derrotas sofreu em batalha,
Por
Freire de Andrade e Galhardo;
Em
Magul, Coolela, o canalha,
Fica
de rastos, um simples javardo.
No
entanto, novas cartas baralha,
Ganha
forças como o leopardo.
Enfrenta
de novo o inimigo,
Apesar
de saber que corre perigo.
81
Morre
com sessenta e cinco anos,
Em
Angra do Heroísmo, Açores;
Vivera
de fraudes, de mil enganos,
Causara
mortes, mil horrores;
Ficou
na lista dos médios tiranos,
Entre
os ditos reizinhos senhores.
Neto
do Manicusse celebrado,
E
filho de Muzila pouco amado.
82
Mafemane,
o seu irmão mais velho,
Foi
por ele mandado assassinar;
Tratou-o
como a escaravelho,
O
qual deveria por lei reinar.
Triturou-o,
com forte, duro relho,
Até
o infeliz no chão tombar.
Era
terrível esse Gungunhana,
Mais
perigoso que parca tirana.
// continua...
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