POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 22.05.2023
42
RITA MARIA
Pequena Rita Maria
feita somente de amor
isenta de qualquer dor
boneca de fantasia
Bonita Rita Maria
linda flor em botão
és só e ainda ilusão
és só e ainda alegria
És graciosa planta
que rápido cresce
és flor que aparece
de beleza tanta
És um lindo rouxinol
com teu bonito cantar
suavíssimo de embalar
banhando-nos ao rei sol
Inda primavera
pura transparente
cinco réis de gente
nesta imensa esfera
És como um rio que corre
para a foz e para a vida
vencendo a raiva incontida
naquela ilusão que morre
Assumirás teu papel
na sociedade infernal
e não penses, flor real,
que ela te será fiel
A sociedade é a selva
bruta agreste violenta
com as suas leis que inventa
é um duro chão sem relva
1977
43
ADEUS À ILUSÃO
Vais-te embora!
Partes para bem longe de mim.
Recorda, se puderes,
os olhares enternecedores.
Vais-te embora!
Deixas alguém a sofrer.
Recorda, se quiseres,
os longos silêncios meus.
Vais-te embora!
Ficas porém dentro de mim.
Recorda as carícias desejadas,
os impulsos contidos!
Vais-te embora!
Não mais voltarás.
Não olhes o passado:
o futuro a ti pertence.
As lágrimas são minhas!
16/9/1977
44
ROSA MARIA
Rosa Maria,
minha linda flor:
eu a ti daria
todo o meu amor.
Lindos olhos teus, Maria,
minha rosa flor,
eu por eles, capaz seria,
de matar, morrer, amor!
Se ouvires dizer, Maria,
que uma bala me pôs fim,
reza sempre um padre-nosso
em cada dia, por mim.
Vou partir para combater
em favor desta nação,
vou à minha obrigação
desta pátria defender.
Posso ter vida, ou morrer,
ter tristeza, ou alegria,
posso ainda voltar um dia
à minha terra natal…
Não creias de mim o mal,
se ouvires dizer,
Maria.
Se Zeus quiser voltarei
à minha terra tão querida,
ele há-de poupar-me a vida
e feliz ainda serei.
Parto a cumprir uma lei
à qual eu fugir não posso;
vou defender o que é nosso,
o que é teu e da nação.
Tu, à noite, ao serão,
reza sempre um padre-nosso.
Posso muito tempo estar
sem te poder escrever,
mas eu juro, podes crer,
que contigo hei-de casar.
Se uma bala me matar,
ou tiver um outro fim,
só por isso, só assim,
não cumpro o meu juramento.
Tu reza sempre um momento
em cada dia, por mim.
1966
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