QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
254
Eu
vivo numa prisão,
Entre
paredes fechado;
Comigo
está a ilusão,
Em
forma de cadeado.
255
Meu
avô é homem rico,
Nada
em rios de dinheiro;
Tem
ovelhas, um burrico,
Uma
cabra e um carneiro.
256
Sucateiro,
sucateiro,
Não
me queiras sucatar;
Eu
valho muito dinheiro,
Mais
do que podes pagar.
257
Sou
da Vila de Melgaço,
Tenho
muito orgulho nisso;
Daqui
lhe mando um abraço,
Pra
se livrar do enguiço.
258
Fui
à Vila de Melgaço,
Cumprir
o meu compromisso;
Beber
vinho… e bagaço,
Comer
presunto e chouriço.
259
Fiquei
preso na garagem,
Apanhei
um grande susto;
Perdi
a minha imagem,
Transformei-me
num arbusto.
260
Este
governo é lambão,
Lambe descaradamente;
Anda
de decreto em mão,
A iludir muita gente.
261
Atirei
perlas a porcos,
Comeram
como glutões;
São
piratas de emborcos,
Têm
boca de tubarões.
262
Atirei
perlas a porcos,
Comeram
sem mastigar;
Seus
cérebros são amorfos,
Não
servem para pensar.
263
Os
anões tornam-se grandes,
Gigantes
ficam pequenos;
Naquela
África escaldante
Os
brancos ficam morenos.
264
Eu
nasci na primavera,
A
beijar quase o verão;
Tinha
uma vida à espera,
Carregada
de ilusão!
265
Sonhei
um dia ser rei
Dum
país imaginário;
Ser
senhor de toda a grei,
Libertá-los
do calvário.
266
Cangaram-me
certo dia,
Vergaram-me
o cachaço;
Virei
mastro em maresia,
De
borracha tornei-me aço.
267
Ó
meu rico São João
Mandai-me
muito dinheiro;
Pra
te comprar um balão
Que
percorra o mundo inteiro.
268
Ó
meu rico São João
Dai-me
a força da baleia;
Pra
melhorar o país,
Sobretudo
minha aldeia.
269
Ó
meu rico São João
Dai-me
um estupor perfeito;
Que
tenha um corpo gingão,
Uma
carteira de jeito.
270
Ó
meu rico São João
Só
na paródia te vejo;
Não
sei donde vem teu pão,
Eu
para o ganhar mourejo.
271
Ó
meu rico São João
Dai-me
uma mulher sem jeito;
Que
tenha pernas de cão,
Um
furúnculo no peito.
272
Ó
meu rico São João
Dai-me
uma mulher mansinha;
Que
tenha bom coração,
Uma
perna bonitinha.
273
O
São Pedro lá do céu
Faz
da terra um inferno;
Envia
frio no verão,
Muito
calor no inverno!
274
O
São Pedro lá de riba
Faz
da terra um inferno:
Manda
chuva de verão,
Muita
seca no inverno.
275
Tenho
a mulher agulhada,
Por
todo o corpo agulhas;
Vou
com ela à caçada,
Para
matar os mil pulhas.
276
A
Isabel, encantada,
Tem
no corpo mil agulhas,
Está
toda metalizada,
Se
lhe toco faz faúlhas.
277
Quando
o amor é perfeito
Não
se pode ocultar;
Guarda-se
junto ao peito
Para
o trair num olhar!
278
Se
olho para ti deliro
Se
não olho eu desmaio;
Não
sei o que eu prefiro,
Ser
o senhor ou ser aio.
279
Amor
é como a videira,
Dá
fruto no fim do verão;
Na
primavera, asneira,
No
inverno, ilusão.
280
Um
dia botei figura
Com
o meu fatinho novo;
Era
outra criatura,
O
orgulho deste povo!
281
Dizem-me
que eu sou tanso,
Mais
calmo do que um guru;
Que
tenho penas de ganso,
A
ternura de um peru!
282
Nas
asas de um condor
Atravessei
o oceano;
À
procura do amor
Que
perdera por engano.
283
Quem
me dera, quem me dera,
Ter
a sageza e o jeito
De
trepar como a hera
Dos
teus pés até ao peito.
284
Vivo
num mundo encantado,
Não
olho à minha volta;
Vejo
tudo embelezado,
Ouço
paz onde há revolta.
285
Nesta
terra de pategos
Quem
tem um olho é rei;
São
sábios os morcegos
E
são tolos os da grei.
286
Procurei-a
muito longe,
Em
terreno duro, incerto;
Afinal
estava aqui,
Tão
perto de mim, tão perto!
287
Julgas-te
muito importante,
Talvez
mais do que um deus;
Na
marinha, um almirante,
Na
ciência… Galileu!
288
Eu
sou simples e humilde,
Vivo
tão modestamente;
Podes
crer, cara Matilde:
Sou
filho de boa gente.
// continua...
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