SONETOS DO SOL E DA LUA
Por Joaquim A. Rocha
ESCULTOR
DE MIM
(143)
Esculpi
minha efígie em granito,
Ficou
feia, horrível, quase esfinge;
Não
se nota a boca, nem laringe,
É
semelhante a Seth do Egito.
É
um eco longínquo, maldito,
Que
a minha débil mente atinge,
O
meu frágil corpo e alma cinge,
Num
abraço de morte, letal grito.
Queria
desfaze-la, mas não posso,
Tornou-se
verdadeira, ganhou vida;
Apesar de estática, tem poder…
À
sua volta nasceu lago ou poço,
Que
lhe serve de forte, de guarida,
E
de espelho d’água para se ver.
REGRESSO
DA DOENÇA
(144)
Regresso
da doença crua, vil,
Como
quem regressa da tempestade,
Dum
fogo eterno, que sempre arde,
Com
início no belo mês de Abril.
A
malvada, sem nome nem perfil,
Aumentou
dez anos à minha idade,
Apagou
em mim toda a mocidade,
Roubou-me
imensa seiva e ceitil.
Não
quero ouvir falar da tal ranhosa,
Mais
soez do que fera enraivecida;
Mais
satânica do que cão raivoso…
Tudo
farei pra matar a tinhosa,
Pisá-la,
mesmo depois de vencida,
Como
se fora lacrau venenoso.
Sem comentários:
Enviar um comentário