FERREIRA DA SILVA
(Bracarense pelo nascimento, melgacense pelo coração)
// continuação de 4/11/2022)
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1498, de 19/1/1964: «EM BENEFÍCIO DO
HOSPITAL. // Está definitivamente marcada a data de 1 de fevereiro próximo para
a realização do Cortejo de Oferendas em benefício do nosso hospital. A poucos
dias dessa importante e benemérita realização – que bem merece o apoio e o
auxílio de todos os melgacenses – renovamos os nossos melhores e mais sinceros
votos de simpatia e incitamento a todos quantos podem contribuir para o triunfo
e completo êxito da benemérita cruzada de Bem-Fazer em perspetiva. Os
estabelecimentos hospitalares têm dado prestígio e lustre à atuação piedosa e
caritativa das misericórdias as quais, desde a sua remota fundação, mereceram e
merecem o mais devotado e carinhoso amor dos seus irmãos e colaboradores. Em
tempos idos a ação destas prestantes instituições em benefício da assistência
gratuita aos doentes e necessitados resultou, quase exclusivamente, de
frequentes e valiosos legados, esmolas e deixas de benfeitores. Os rendimentos
dos bens de mão morta, dos que, obrigatoriamente, foram convertidos em
obrigações do tesouro, dos capitais mutuados, foros, censos, pensões e
laudémios de prazos constituídos a seu favor e de alguns bens imobiliários
livres, foram a principal e quase única fonte de receita, durante muitas
décadas, das instituições de caridade deste género. Era bem precária a atuação
beneficente das misericórdias, nessa época, por falta de rendimentos e porque
os doentes e necessitados quase podiam ser assistidos nas consultas, bancos e
nas limitadíssimas instalações internas; a assistência foi-se fazendo, melhor
ou pior, devido à generosidade de benfeitores – que sempre os houve – e da
bondade e sacrifício dos provedores. Atualmente as misericórdias passam um dos
seus mais graves períodos de crise e é com extrema dificuldade que exercem a
sua atuação piedosa e benemérita, sabe-se lá como, em muitos casos, devido à
falta de meios. Certo é que conversão obrigatória das Obrigações do Tesouro –
Dívida Interna Consolidada – reduziu grandemente os rendimentos normais das
misericórdias e, não obstante a descoberta de muitos produtos
químico-farmacêuticos eficazes em determinadas doenças, o número dos que sofrem
é cada vez maior e não encontram toda a assistência médico-farmacêutica de que
carecem. Nos velhos e nos novos hospitais escolas, nas Caixas de Previdência e
outros serviços sociais a cargo do Estado, Corporações de Assistência e
Caridade e outros organismos corporativos. O problema da assistência deve ser
encarado e resolvido em globo pelo Estado, em nossa opinião, criando o número
indispensável de clínicas, hospitais, casas de repouso e outros estabelecimentos
afins e obrigando todos os naturais e residentes no país a contribuírem e a
pagarem proporcionalmente o custo dos respetivos serviços, pela criação de um
seguro social obrigatório geral, por meio do qual o necessitado usufrui de um
direito coletivo e não de uma esmola. Como nos países nórdicos, assistência em
todas as modalidades, igual para ricos e pobres, nobres e plebeus, nas várias
clínicas, em perfeitas condições de funcionamento e de igualdade, sem distinção
de cor, de raça ou de religião. Perante a assistência todos devem ser iguais,
todos devem usufruir os mesmos direitos; não há regalias, há apenas doentes e
necessitados. Na Inglaterra, o governo conservador manteve a socialização da
medicina decretada pelo governo trabalhista e ministro Bevan e todos, ingleses
e estrangeiros residentes, permanentes ou acidentalmente, no país têm direito a
receber tratamento gratuito, clínico e cirúrgico. Não esperamos tanto, mas é
bom que pensemos seriamente em instituir a obrigatoriedade coletiva do seguro
social e no pagamento com o produto do seu
rendimento dos encargos que comporta a assistência em todas suas modalidades,
certos de que um povo saudável, forte e instruído, é um grande capital
nacional. Contribuamos generosamente e colaboremos na cruzada benemérita em
prol do nosso hospital já que, por agora, não temos outro instrumento melhor e
mais eficaz para levar aos doentes e necessitados a saúde, a cura das suas
enfermidades e o fortalecimento dos seus organismos depauperados. Assim
ficaremos de bem com as nossas consciências e com Deus.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1499, de 26/1/1964: «SERVIÇO POSTAL. //
Parece estar averiguado que o serviço de transporte de notícias escritas teve o
seu início quando aos grandes impérios da Antiguidade se tornou necessário
estabelecer comunicações rápidas e frequentes, entre o governo central desses
impérios e os generais dos seus exércitos em operações. O sistema começou por
uma espécie de “postos” distantes uns dos outros por um dia de marcha e onde
homens e cavalos se mantinham prontos a receber o emissário procedente do
“posto” anterior. Para a correspondência do Estado e perfeição dos serviços dos
correios, determinou o imperador Augusto o estabelecimento de estações de muda
ao longo de todas as estradas militares para levar os despachos a outra
“positi” mais afastada. Cabe a Carlos Magno a criação de um corpo de correios e
de quatro grandes linhas de mudas e mais tarde, no advento da Renascença e no
período das Descobertas, todas as nações tomaram a seu cargo o serviço dos
correios e vigilância de correspondência de caráter internacional. Entraram em
cena os postilhões e as malas-postas; nestes serviços acharam os Estados novas
fontes de receita. No nosso país, para não se alterar o hábito da criação das
boas conezias criou-se o cargo, nomeou-se um “Correio-Mor” e estabeleceu-se uma
organização similar à dos outros Estados europeus. // Ao escrevermos este
ligeiro introito não pretendemos alardear erudição, aliás colhida sem esforço
em qualquer enciclopédia mas, tão-somente, salientar que o serviço dos correios
é indispensável às comunicações e relações entre os povos e será tanto mais
perfeito quanto mais rápido e regular. Atualmente as comunicações postais
constituem em Portugal uma das mais importantes organizações industriais
comparticipadas pelo Estado e uma das mais frutuosas fontes de receita dos
respetivos serviços autónomos. Em virtude de convenções postais e acordos
internacionais, os serviços dos correios sempre têm mantido uma organização
impecável, e os quadros do seu pessoal especializado bem merecem o apreço em
são tidos por todos quantos os utilizam. É evidente que os correios ou
constituem um serviço rápido e ininterrupto, de modo a proporcionar às populações
as regalias e as vantagens correspondentes à era atual, de velocidade e de
impulso civilizador, ou perdem em muito o interesse na intensificação da
concentração administrativa e da vida económica, social e política. // Nas
povoações que não são ligadas à rede ferroviária o transporte do correio faz-se
por meio de serviços combinados de camionagem ou, diariamente, por auto
ambulâncias postais. Durante muitos anos, o chamado comboio-correio – por
trazer atrelada uma ambulância postal - seguia direto de São Bento, Porto, até
Monção, sem outras demoras além das paragens horárias para embarque e
desembarque de passageiros, malas postais, cruzamentos e abastecimento de água;
na estação de Monção, as malas transportadas por este comboio e as da vila de
Deuladeu Martins eram entregues à caminheta de passageiros que em serviço
combinado ligava Monção a Melgaço – o correio era então distribuído a boas
horas e por uma só vez. Atualmente o comboio-correio estaciona em Viana do
Castelo, fazendo de comboio direto, semi rápido, de Viana a Monção, e
transportando, apenas, as malas da correspondência expedida do sul da capital
do nosso distrito; a restante correspondência e encomendas, são transportadas
noutro comboio que faz de correio de Viana até Monção. // Resultado de todas
estas andanças: o correio é distribuído em Melgaço às dezasseis horas e trinta
minutos e dezassete horas o que equivale a dizer que, uma carta expedida do
Porto, leva cerca de dez horas para chegar a Melgaço! Por outro lado, o
camionista da carreira que contratou o transporte das malas do correio obriga a
manter duas caminhetas em vez de uma, para esperar os dois comboios que trazem
correio! Pode isto continuar assim?! Entendemos que não. Contra este estado de
coisas compete à Câmara e à população melgacense manifestar-se e protestar
junto das administrações da C.P. e dos C.T.T., certas de que o caso será visto
com inteligência e justiça. Esta estranha falta de consideração e de respeito
por tudo quanto é oriundo ou do interesse de Melgaço deve acabar; tem de
acabar. No caso vertente seria fácil resolve-lo e nós, que conhecemos o assunto
só pela rama, indicamos nada menos de três soluções: a) Confiar o transporte da
nossa correspondência à Auto ambulância que parte de Barroselas, passa por
Ponte de Lima, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, prolongando-lhe o percurso
até Melgaço; b) restabelecer o antigo comboio-correio Porto-Monção; c) Dentro
do atual esquema, o transporte das malas entregues em Viana seria imediatamente
feito pelo camionista, que poderia adotar o horário de chegada às treze horas e
trinta minutos e não às quinze horas, como agora, o que permitiria distribuir o
correio às catorze horas e trinta minutos. Ou não será assim?»
// F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1500, de
9/2/1964: «SIM, VALERÁ A PENA. De França recebemos a carta que a seguir se
publica: “li e apreciei imenso o artigo do mui ilustre Diretor do Notícias de
Melgaço, do jornal n.º 1497, de 12/1/1964, cujo título VALERÁ A PENA? Dava
começo a tão justa crítica, que já há muito deveria ser iniciada. A Câmara
Municipal, que é a responsável, a zeladora do brio concelhio, é que deve tomar
a iniciativa desta campanha em que todos os melgacenses, por certo, terão a
honra de cooperar. Ninguém deverá ser acusado de negligência, pois todos
gostamos do «ninho» e quer estejamos na nossa terra ou no estrangeiro, todos
trabalham para o mesmo objetivo. Senhor Diretor do Notícias de Melgaço: sim,
valerá a pena, que a vossa mão guie a caneta, muitas vezes, em artigos como
este a que acima me refiro, pois que em Melgaço, a «TERRA MORTA» como lhe
chamam, deve mostrar que não está morta e que poderá singrar sob todos os
pontos de vista. É do conhecimento de toda a gente de Melgaço (refiro-me ao
concelho em geral) de que tudo aquilo que V. Excelência diz no seu brilhante
artigo é puramente verdade e que Melgaço tem necessidade de tudo isso o mais
breve possível. A nossa Vila carece das coisas mais importantes e que são
indispensáveis hoje em dia. Pois que todos aspiramos um Melgaço melhor.
Realmente, são algumas as reparações a fazer, mas não impossíveis de fazer; a
questão é que se façam. Eis tudo. Todos esperamos e estamos completamente
convencidos de que a Excelentíssima Câmara e os seus competentíssimos
dirigentes saberão encaminhar com [dedo] firme aquilo que todos os melgacenses
esperam – O PROGRESSO DE MELGAÇO! Bem sabemos que todos os corações melgacenses
amam a sua terra e a aspiração é unânime – AVANTE POR MELGAÇO! AVANTE PELO
PROGRESSO! // A. (Adolfo Igrejas?)
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1500, de 9/2/1964: «SERVIÇO POSTAL. // Em
continuação do que escrevemos sob este título, chegou até nós a cópia da
exposição que a seguir se transcreve: Melgaço, 1/2/1964. Excelentíssimo Senhor
Correio-Mor. LISBOA. Ao meu apelo, acerca de não deverem ser encaminhadas para
o Peso as correspondências destinadas a Prado, daí resultando os inconvenientes
apontados nos jornais O Século de 1 de Novembro do ano passado e O Comércio do
Porto de 1 de Janeiro findo, procura a Excelentíssima Direção Geral dar
explicações numa carta que recebi e em comunicados àqueles importantes órgãos
da imprensa. As explicações resumem-se: 1.º - Que se trata “de uma resultante
do novo sistema de entrega da correspondência em Prado, que passou a ser
servida por um giro rural com sede em o Peso”; 2.º - Que “os prejuízos que o
novo sistema acarretou, resultantes da demora na distribuição e a sua falta aos
domingos e feriados, são amplamente compensados com o facto de se ter
proporcionado a distribuição a quase toda a freguesia; e 3.º - Que tem sido
adotado o sistema da substituição gradual das conduções de malas pela
distribuição domiciliária que proporciona maior número de benefícios,
traduzidos em quase todos os serviços duma estação telégrafo-postal que o
carteiro rural executa e permite servir diretamente um grande número de
interessados que por dispersos por vários locais distantes dos postos de
correio, ou se deslocavam ali para levantar as suas correspondências, ou
renunciavam a elas. Posto isto assim, parece, à primeira vista, que tudo está
muitíssimo bem. Quem leia, não pode ficar melhor impressionado; porém, na
realidade, na prática, tudo está pior, muito pior, e vejamos: as informações do
pessoal dos correios, por mais sérias que sejam, não o são mais do que as
prestadas no abaixo-assinado que em 30/8/1963 foi endereçado a V. Excelência //
E digo que não são mais sérias porque as pessoas que o assinaram e as
autoridades locais – pároco, junta e regedor – com o apoio também do Excelentíssimo
Presidente da Câmara Municipal, não procuram aumentar o quadro dos funcionários
nem o número de estações inúteis. Ora, todas estas pessoas disseram a V. Excelência
que o sistema é prejudicial e absurdo por trazer consequências piores que o
serviço existente já há mais de quarenta anos. Assim, a correspondência que se
recebia todos os dias, incluindo domingos e feriados, só se recebe na
segunda-feira de tarde em parte da freguesia e na terça-feira de manhã na maior
parte. Esta distribuição é feita de forma tal que os lugares mais distantes –
únicos que dela necessitavam – continuam sem ela! Se os benefícios resultantes
do novo sistema são tantos, não sei com explicar as reclamações da população
que os não quer e de tais benefícios prescinde, mesmo que o carteiro seja como que
uma espécie de estação ambulante?! Mas é que nem os chamados “interessados”,
que de interessados nada têm, estão dispostos a aguardar em suas casas o
dispensável carteiro, sabendo como se sabe que a vida rural é no campo, onde
todos trabalham, salvo ligeiras exceções. E o carteiro passa… e a
correspondência vai no saco, porque não é permitido dá-la aos vizinhos, mesmo
que os haja. Mas como os lugares não são tão distantes como se diz, os
destinatários vêm depois quando podem, procurar as cartas ao posto… Prado, Excelentíssimo
Senhor Correio Mor, quer continuar a estar nas condições em que estava antes
desta (…) judicial inovação que só se compreende como retrocesso. De resto, em
devido tempo, eu mostrarei envelopes, que tenho em meu poder, de cartas registadas
que, para chegarem a Prado, estiveram na Vila, no Peso e em Prado, no posto,
isto porque sendo para o [lugar do] Arrochal, para lá não há o tal carteiro.
Quer dizer: andaram do caco para o caquinho. E que importa ao povo de Prado que
a estação do Peso só tenha relativo movimento durante a época termal, no verão,
e não se justifique ali, como em São Gregório, Pomares, ou até Castro
Laboreiro, pessoal do quadro permanente? Isso não nos pertence conhecer, se bem
não ignoremos que, com exceção de Melgaço-Vila, é o posto de Prado que tem
maior número de registos entrados e saídos?! E aqui está apenas um encarregado
e chega! Para Prado não há propositada condução de malas. Estas passam ali à
porta vindas de Monção para Melgaço e ali deixam ficar a de Monção, a da
Ambulância Minho II e de manhã a de Melgaço. Mas estas malas não trazem
correspondência, só a levam! O sistema imposto agora ninguém o pediu, porque
não beneficia, ninguém o quer. Nós temos a certeza de que se Vossa Excelência
conhecesse isto tal qual é, dar-lhe-ia pronto e imediato remédio, por forma, a
que esta gente de Melgaço ficasse satisfeita, como sempre esteve. Creio poder
afirmar a Vossa Excelência que mesmo com (!) carteiro tudo ficaria bem
impressionado com a solução que parece viável para ambas as partes: - as
correspondências de Prado não seriam introduzidas nas malas do Peso, mas sim
nas malas de Prado, como sempre, porque a estação do Peso não tem por que
receber correspondências de Prado. O dispensável carteiro que vem ao posto de
Prado continuaria a vir para ali levantar a correspondência que houvesse para
ser distribuída. De outra forma reclama-se, pois, tal como está, o serviço não
satisfaz. Reclama-se, sim, e com razão, pois os serviços inventaram-se para
servir o público e não para imporem sistemas, contra tudo e contra todos, com
prejuízo para o dito público. Apelamos para Vossa Excelência, porque estamos
absolutamente cientes de que se Vossa Excelência tivesse inteiro conhecimento
da indignação desta gente, já teria mandado remediar o mal, acabando com
aborrecimentos que por vezes se refletem, injustamente, nas autoridades locais,
que o povo, na sua ignorância, julga culpadas de tudo. Confiado no alto
critério e espírito de justiça de Vossa Excelência, subscrevo-me
respeitosamente.» // Herculano Arsénio Gomes Pinheiro.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1500,
de 9/2/1964: «FINAL SATISFATÓRIO. // Terminou com um resultado satisfatório a
cruzada de bem-fazer em benefício do nosso hospital. Em primeiro apuramento
verificou-se que a importância dos donativos em favor do nosso hospital
totalizou a importante cifra de cento e sessenta e quatro contos, números
redondos, em dinheiro. Nesta importância há que destacar as verbas
individualmente maciças de doze e dez contos oferecidos respetivamente pelo Governo
Civil do nosso distrito e pela Direção Geral de Assistência Pública. Atendendo
à posição económica e às possibilidades financeiras do nosso concelho, o
resultado global deste 4.º Cortejo de Oferendas não é muito nem é pouco: foi o
que se tornou possível em tão curto período de tempo, sem a preparação
entusiástica que seria de esperar. Nesta santa cruzada, ao contrário do que é
normal e pode ser apontado como regra por esse país além, não se realizou
propriamente um cortejo de oferendas. Os donativos, praticamente, todos em
dinheiro, foram entregues à Comissão Executiva pelas subcomissões das
freguesias, das quais fizeram parte o reverendo pároco e gente das juntas de
freguesia, e todos, animados da melhor boa vontade e compreensão, acorreram ao
edifício do nosso hospital a fim de se desempenharem da simpática missão de ali
deixarem os óvulos dos seus conterrâneos. Somos de opinião que, aliás,
manifestamos aberta, sincera e lealmente de que, a organização de cortejos
parcelares das freguesias com os seus carros e descantes regionais, elevaria
grandemente o produto apurado e integrar-se-ia num movimento de alegria
acentuadamente popular e carateristicamente minhoto. O povo do Minho é generoso
e gosta de dar, porém, não oculta os seus costumes tradicionais de revestir nas
suas dádivas de trajes e descantes típicos e garridos, em festas euforicamente
pagãs. // É sabido que o minhoto é avaramente apegado ao dinheiro que amealha
lentamente e com grande dificuldade entesoura e conta e reconta com infinito
prazer. O lavrador, em geral, é capaz de oferecer, com largueza, valiosos
géneros e produtos da sua colheita mas, não é homem para dar, em dinheiro, o
correspondente a metade do valor vendável dos géneros e produtos oferecidos.
Por isso entendemos que a realização de um autêntico cortejo de oferendas não
só traria ao nosso burgo o clima agradável e colorido dos alegres dias de festa
mas também em valor um substancial acrescento ao resultado apurado. A nossa
estimativa revela a elevação para duzentos contos, do total do produto das
oferendas, na hipótese de se ter organizado um cortejo constituído pelas
representações parcelares das freguesias. Adiante; o caso não merece mais
referências e não tendo remédio, remediado está. // É interessante registar as
verbas parcelares por freguesias, sendo certo que algumas delas fizeram um belo
e grandioso esforço benemerente, atendendo à fraca densidade populacional e ao
seu valor económico-agrícola. // Cortejo de Oferendas de 1/2/1964. 1.º
Apuramento: Alvaredo 6.225$00; Castro Laboreiro 6.644$50; Chaviães 13.630$00;
Cousso, 3.915$00; Cristóval 5.525$00; Cubalhão 1.300$00; Fiães 6.575$00; Gave
1.000$00; Lamas de Mouro 2.480$00; Paços 4.472$50; Paderne 11.211$00; Parada do
Monte 4.078$00; Penso (?); Prado 8.277$50; Remoães 2.575$00; Rouças 15.000$00;
São Paio 4.854$10; Vila 30.000$00 = 127.762$60. // Governo Civil 12.000$00;
Direção Geral de Assistência 10.000$00; do Brasil 10.000$00; do professorado
2.300$00; de diversos 2.660$00 = 164.722$60. // À entrega das oferendas
presidiu o Excelentíssimo Sr. Governador Civil do Distrito, a Comissão
Executiva e muitos e destacados melgacenses e amigos do hospital. No final o
provedor proferiu da varanda do edifício breves palavras de agradecimento ao
Dr. Alfredo Pinto, ilustre 1.º magistrado do distrito, a todos quanto
contribuíram para o bom êxito do cortejo de oferendas e salientou o valor da
campanha realizada no Notícias de Melgaço pelo seu diretor. O signatário destas
rápidas notas teve a honra e o prazer de trocar demoradas impressões com o Excelentíssimo
Sr. Governador Civil sobre os problemas neste jornal ventilados, dos quais
Melgaço espera urgente solução a saber: o caminho-de-ferro, o saneamento e rede
de esgotos, a eletrificação da freguesias, o mercado municipal, a pousada, etc.,
reivindicações estas que terão o seu patrocínio e serão apresentadas,
brevemente, por ocasião da sua visita, a Sua Excelência o Senhor Ministro das
Obras Públicas. Nos problemas de interesse local todos precisamos de estar unidos,
ligados pelo mesmo pensamento e sincero desejo de defender e Bem Servir esta
linda terra de Melgaço. // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1501, de 17/2/1964: «35.º ANIVERSÁRIO.
Reflexões. // Diz-se que a mão do criador traçou no livro do destino a
trajetória do ciclo evolutivo da vida humana. Nos velhos códices do monumental
arquivo divino miríades de escribas alados registam, afanosamente, a evolução
física e moral dos ínfimos seres pensantes que, neste atribulado orbe terráqueo
nascem, crescem e morrem. Na última coluna de cada página individual é anotado
o terrível registo da data limite da vida, da destruição do invólucro material
que serve de cobertura ao núcleo motriz onde se polarizam e ativam as
faculdades do espírito. Durante os três principais ciclos da existência os anos
correm, incessantemente, e a nossa ansiedade alarma-se na medida em que na
ampulheta veloz do tempo, passa da redoma superior para a inferior, o ténue pó
da vida. O primeiro ciclo é o período dos sonhos cor-de-rosa, em que o tempo
corre alegre e descuidado; em que nos sentiríamos felizes se pudéssemos
acelerar a sua marcha… No período seguinte apuramos o gosto de viver; o mundo
torna-se pequeno para abarcar as paixões que nos dominam, afeiçoa as nossas
tendências e, por vezes, guia e comanda os nossos anelos. Depois… depois,
segue-se a fase da reflexão; os olhos deslocam-se para a nuca para melhor
recordarem o passado ou então, mudam a câmara focal, invertem os raios visuais
em convergência interior para examinarem, mais criteriosamente, e quase sempre
com tristeza, o longo caminho percorrido: é o período da autocrítica, do exame
de consciência, de contrição dos erros praticados… Rememoramos, então, a lenda
do livro do destino assimilada na infância e o registo fatal que decidirá a
misteriosa viagem da qual jamais alguém regressou. A passagem do 35.º
aniversário do Notícias de Melgaço sugeriu-nos um mundo de reflexões!... // Na
vida humana, trinta e cinco anos não é pouco, nem é muito; pode ser a posse
plena da vontade, o fortalecimento do querer, a fase da aplicação prática dos
conhecimentos adquiridos… Porém, na vida de um jornal não é nada. Os jornais,
como expressão concreta das ideias, não têm registo no livro do destino. Quando
são úteis e fieis aos objetivos e princípios patrióticos, regionalistas, morais
e sociais que estão na raiz da sua génese, perpetuam-se em reações sucessivas
de continuidade; é dentro delas que se congregam esforços, que se cimentam boas
vontades, que se equacionam os problemas, que se estabelecem normas e se dita a
lei reguladora dos seus objetivos e fins. Os homens foram criados para se
ajudarem mutuamente, disse Séneca. Os esforços e as atividades filantrópicas do
homem, considerados isoladamente, perdem-se e morrem com eles; jamais assimilam
a sua alma ou realizam a ansiedade de os remir dos erros de uma vida egoísta e
da sua discutível utilidade na peregrinação pelo mundo… A análise retrospetiva
destes trinta e cinco anos revela os fervorosos e sãos sentimentos de amizade,
de tolerância, de correção, de lealdade, de altruísmo e de solidariedade dos
que nos precederam na direção deste semanário e lançaram os fundamentos dos
elevados ideais de paz entre os melgacenses e de concórdia e justiça universal.
Comemoramos hoje, festivamente, a data do aniversário do Notícias de Melgaço e
saudamos desta tribuna os nossos queridos leitores e prezados assinantes e
prestamos sincera homenagem aos que, antes de nós, lutaram pelo engrandecimento
e prestígio desta nossa linda terra, que continuarão a viver, hoje, amanhã e
sempre na nossa memória e no nosso coração. Ao invés da vida humana, os anos
vitalizam e remoçam o nosso jornal e, se lealmente o servirmos e nos
esforçarmos pela manutenção dos seus objetivos, teremos prestado um bom serviço
a Melgaço e concluiremos que vale a pena viver ao serviço da nobre causa, da
sagrada causa, da terra melgacense. // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço
n.º 1502, de 23/2/1964: «ECOS DE UMA VISITA. «Como estava anunciado, Sua Excelência
o Sr. Ministro das Obras Públicas efetuou no passado sábado, 15 do corrente
mês, a sua visita oficial a Melgaço. À entrada do concelho, na freguesia de
Penso, foi recebido e cumprimentado por numerosa e seleta representação
concelhia que, acompanhada do senhor Presidente da Câmara, ali compareceu e
formou luzido cortejo de automóveis. A vila vestiu as suas melhores galas,
ornamentando as varandas e janelas das casas com vistosas e coloridas
colgaduras e à entrada dos Paços do Concelho a banda dos bombeiros voluntários,
representações da Guarda-Fiscal, Guarda Nacional Republicana e muito povo,
dispensou a Sua Excelência calorosa e entusiástica receção. No átrio do
edifício e ao longo das escadarias formaram longas filas de crianças das
escolas primárias, uma das quais, Maria Carolina Ribeiro Lima Almeida, filha
dileta do nosso amigo e colaborador Vasco da Gama Almeida, acompanhada de uma
outra sua colega, dirigiu ao Senhor Ministro singelas mas expressivas palavras
de boas vindas e de saudação, entregando-lhe um bonito ramo de cravos
encarnados. No salão nobre realizou-se uma sessão solene, presidida pelo
engenheiro Arantes e Oliveira, ilustre titular da pasta das Obras Públicas,
fazendo parte da mesa, além de Sua Excelência, os senhores Governador Civil do
Distrito, Presidente da Câmara, Diretores Gerais da Urbanização e dos
Monumentos Nacionais, Arcipreste, Juiz de Direito, representantes da União
Nacional e Legião Portuguesa, e Presidente dos Bombeiros Voluntários. Tomando a
palavra, o senhor Presidente do Município, professor Manuel José Rodrigues, leu
uma saudação vibrante e entusiástica de boas vindas e cumprimentos, e
testemunhou a Sua Excelência a sua convicção e confiança de que nesta honrosa
visita Melgaço seria ouvido e atendido nos seus justos e legítimos anseios, em
ordem a enfileirar entre as terras progressivas que ilustram e marcam,
eloquentemente, a passagem feliz de tão alta individualidade pelo Governo da
Nação. Em resposta Sua Excelência revelou o seu propósito de estudar e resolver
os problemas mais instantes do concelho, enumerados e apresentados em memorial
do senhor Presidente da Câmara, dentro de uma escala de prioridades e desde que
a população melgacense se una em volta das autoridades em um esforço comum. // Seguidamente
realizou-se uma sessão de estudo e de trabalhos, na qual foram apreciadas as
reivindicações concelhias, a sua oportunidade, custo e possibilidades de
realização imediata e a prazo. Tivemos a satisfação de verificar que grande
parte dos problemas concelhios ventilados e defendidos neste semanário foram
presentes à referida sessão de estudo e aprovados, sem reserva, pelo ilustre
visitante. Destacaremos de entre esses problemas o abastecimento de água
potável à vila pelo aumento do respetivo caudal, tendo ficado assente a
prospeção de novas fontes como solução provisória, cujo custo aproximado da
rede e pesquisas foi estimado em cento e cinquenta contos, deixando-se para
mais tarde a solução definitiva, da captação, elevação e tratamento das águas
do rio Minho; estudou-se o problema da rede de esgotos para a qual se estabeleceu
a contribuição de duzentos e cinquenta contos, devendo a Câmara contrair um
empréstimo para o efeito, com base na receita resultante das taxas de ligação,
custo dos ramais e outras de que, em tempo, demos notícia e demonstramos a
viabilidade; considerou-se a urgente apresentação do projeto do edifício onde
ficarão instalados os serviços da CGDCP, no local onde as ruínas da escola
Conde de Ferreira se apresentam qual monstro de olhos escancarados, a mostrar a
miséria do interior; não se esqueceu a pavimentação das ruas intramuralhas,
muito embora o seu arranjo definitivo deva aguardar a colocação das tubagens do
abastecimento de água e as condutas da rede do saneamento; tratou-se da
construção da casa dos magistrados, da via de acesso às novas escolas,
alinhamento e ampliação do largo da Igreja, cimeiro à Praça da República, do
largo da Calçada, adaptação dos antigos Paços do Concelho a biblioteca e outras
repartições: construção do novo hospital, pousada, abertura de novas artérias
há muito programadas, ponte sobre o Minho, para ligar São Marcos a Arbo,
custeada por Portugal e Espanha em partes iguais, vários caminhos e estradas
camarárias e nacionais, como a que virá a ligar os Arcos de Valdevez a Melgaço,
via Mezio - Lamas de Mouro, restauro da igreja de Fiães e muitas outras obras
de interesse local e nacional enumeradas na longa lista de reclamações
elaborada com acerto e salutar bairrismo pelo senhor presidente do município. É
justo dizer-se que o professor Manuel José Rodrigues se houve na preparação do
seu memorial e na orientação da visita do ilustre visitante através dos pontos
nevrálgicos da nossa vila, com clarividência e verdadeiro sentido de
oportunidade, motivo pelo qual lhe endereçamos as nossas felicitações. Porém,
senhor professor; porém, senhor Presidente da Câmara, é necessário que não
durma sobre este sucesso inicial, e não deixe perder a ocasião magnífica que se
lhe deparou. É preciso insistir, mas com entusiasmo as reclamações melgacenses,
sem deixar arrefecer o rescaldo da visita, em suma preparar uma visita à
capital e sossegadamente tratar sem demora, os problemas ventilados e dos que
ficaram por discutir.» // F.S. // N.R. – A gravura que ilustra a nossa primeira
página foi-nos gentilmente cedida pelo nosso prezado colega Jornal de Notícias,
do Porto. // continua...
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