quinta-feira, 27 de outubro de 2022

POEMAS DO VENTO

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 21/08/2022...


MOTE

 

Estava escarrapachado

Em cima de uma figueira;

Comia um figo melado,

Ouvindo canção brejeira. 

 

GLOSAS

 

Eram onze da manhã

Apeteceu-me comer figos.

Ao jantar comia espigos

Com um rojão na sertã.

Eu não sou rei ou rajá

Sou somente um letrado

Que vive desencantado…

Viste-me pescar uma truta

E numa árvore de fruta

 Estava escarrapachado.


Simpatizaste comigo

Com minha alegre figura;

Prenhe de amor e ternura…

Viste de longe meu umbigo,

Tornaste-te meu testigo

Sentaste-te à minha beira,

Estava o sol na derradeira…

Fiquei ali por mercê,

Sem rádio nem T.V.,  

Em cima de uma figueira.

 

Vamos ficar sempre ali

Sentados num frágil galho;

Ao frio, chuva, orvalho,

Sofrendo tudo por ti. 

Tenho sono, não dormi…

Eis-me assim enamorado

Sendo solteiro, casado…

A fome aperta, não minto, 

Bebia um copo do tinto

Comia um figo melado.

 

Eis a sorte que me espera,

Se nesta árvore ficar;

O meu corpo vai mirrar,

Resto esfomeada fera…

Vai-se embora primavera,

Acabou-se a brincadeira;

Eu quero a vida inteira,

Nada fazer, ser feliz,

Voar como a perdiz,

Ouvindo canção brejeira.


// continua...

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