OS NOVOS LUSÍADAS (...)
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 8/03/2022...
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Voltemos
a esses reis prepotentes,
Beis
do mundo, senhores absolutos,
Donos
de mil burgos, das suas gentes,
Ágeis,
cruéis, velhacos e astutos;
Sempre
irritadiços, descontentes,
Horríveis,
sanguinários, brutos.
Deram-lhes
bons cognomes os cronistas
A
fim de iludir o povo, suas vistas.
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Dom
João, inspirado, genial,
Olhando
as mil riquezas da terra,
Subido
tesouro, manancial,
Abandona
o mar, deixa a guerra,
Torna
o casto Brasil colossal,
Uma
fase da história encerra.
Divide
tudo em capitanias,
Tomé
Sousa foi David e Golias.
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Distribuiu
as terras por colonos,
Todos
eles de origem portuguesa,
Tornando-se
assim verdadeiros donos,
Descobrindo
ouro, criando riqueza;
Vendo
belos pássaros, feios monos,
Esquecendo
os mares da incerteza.
Ganhando
à terra terno amor,
Cultivando-a
com ganas e suor.
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Pagavam
à coroa certos direitos,
Dinheiro
que enchia cofres do Estado,
Fazendo
crescer os fortes peitos
De
fidalgos e do rei endeusado;
Erros
crassos e enganos desfeitos,
Tudo
pertencia agora ao passado.
Fundou-se
a cidade São Salvador
Em
honra do Santíssimo Senhor.
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O
Brasil cresceu como um gigante,
Transformando-se
quase continente;
E
se para o rei era inconstante,
Era querido de imensa gente.
Por
isso, de repente, num instante,
Criou
asas, tornou-se independente.
Pulmão
do mundo, mil rios, floresta,
Alimenta
todo um povo em festa.
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Vai
para Coimbra a Universidade,
Contrataram
distintos professores,
Pois
o saber não tem tempo, idade,
Apenas
curiosos e cultores...
Nascem
por mercê novas faculdades,
Estatutos
novos, muitos doutores.
Para
que nas urbes não surja inveja
Prometem-se
outras para Faro e Beja.
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Vêm
do estrangeiro sábios mestres,
Ensinar
aos lusos novas ciências;
Não
vêm doutro planeta, são terrestres,
Mas
no lauto saber são excelências,
E
no comportamento são pedestres,
As
vaidades neles são excrescências.
Ensinam
também novas técnicas e artes
Para
que aqui conste e noutras partes.
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E
pra que nada falte a este país
Vem
de Roma a Companhia de Jesus;
Trazem
na bagagem projetos de raiz,
O
ensino gratuito, muita cruz;
Pregam
na capela, igreja matriz,
Onde
haja pouca ou muita luz.
Destaca-se
São Francisco Xavier,
Divulga
o seu credo a quem quiser.
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Nóbrega
e Anchieta vão para o Brasil,
A
fim de divulgar a sua fé;
Convertem
índios, cem ou mil,
Brancos,
que por ali andam a pé;
Nos
seus bolsos apenas um ceitil,
Caminham
a favor, contra a maré.
Outro
grande herói, Leonardo Nunes,
Nunca
deixou os hereges impunes!
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Dom
João, para manter o império,
Devido
às gigantescas despesas,
Lançando
aos céus duro vitupério,
Prometendo
mundos, novas proezas,
Deixa
em África cair fortalezas,
E
tudo o mais que é pra nós mistério.
Ganha-se
na China a bela Macau,
Em
São Tomé produz-se o cacau.
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Por
essa altura, um matemático,
Pedro
Nunes, assim era chamado,
Investigador,
mestre catedrático,
Em
Alcácer do Sal (Setúbal) nado,
Com
seu espírito calmo, fleumático
Inventa
o nónio, mui gabado…
Interessa-lhe
também medicina,
E
outras ciências que ensina.
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Deste
reino, foi cosmógrafo-mor,
Sabia
lógica e metafísica;
Em
tudo ele era o maior,
Curava
males, a terrível tísica...
Conhecia
os mil astros de cor,
Estudava
a química e física.
Na
cidade de Coimbra morreu,
Até
hoje ninguém o esqueceu.
O
rei João gerara nove filhos,
Mas
nenhum deles lhe sobreviveu;
Isso
provocou guerras e sarilhos,
O
neto não era inda corifeu;
Surgiram
imensos cadilhos,
Invocou-se
a virgem, o santo céu.
Sebastião
tinha apenas três anos,
Era
inda na idade dos enganos.
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Regeu
em seu nome Dona Catarina,
Viúva
do rei Dom João Terceiro,
Que
já não era nenhuma menina,
Nem
sabia como governar o reino.
Portou-se
como uma frágil bonina,
Sem
qualquer saber, sem mínimo treino.
E
pra que tudo não caísse a pique
Subiu
ao poder seu tio Henrique.
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Neste
reinado tomou-se Damão
À
velha Índia, cheia de mistérios;
Rio de Janeiro nasceu da paixão,
Desse
povo de honestos e galdérios;
Cresceu
como a espiga no verão,
Tornou-se
capital do novo império.
De
longe Camões trouxe um tesouro,
Mais
valioso do que prata ou ouro.
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