QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
83
Para mim usas chicote,
Para ele usas mel;
Talvez por eu ser fiel
E ele ser malandrote.
84
Para mim usas pujança,
Para ele usas o mel;
Talvez por ter grossa herança
E eu ser um Ismael.
85
Quem “sabe” sobe
Na vida bem;
Quem malha pode
No Zé-Ninguém.
86
Quem dentes pequenos tem,
Não gosta de os mostrar;
Nunca assustam ninguém,
São dentinhos a brincar.
87
Dei-te um pequeno sorriso
Pediste-me logo dois;
És pedinte, e por isso,
Vou-te botar aos leões.
88
Sempre morderá quem tem
Os dentes de perro cão;
Por um lado ainda bem
Que os meus de bebé são.
89
O bigode do Gonçalves
É longo, fino recorte;
Foi com ele que ganhou
As eleições no Sporting.
90
Viraste as costas à vida,
Desiludido, descrente;
A vida nunca tem culpa,
A culpa é sempre da gente.
91
Se tenho cabelos brancos
Não é por razão da idade;
Ganhei-os no dia-a-dia,
À procura da verdade.
92
Eu não sou rico nem pobre,
Só tenho o suficiente;
Pra não pedir a ninguém,
E olhar todos de frente.
93
Meu sogro é homem rico,
Nada em rios de dinheiro;
Tem quintas no Alentejo,
E terças no mundo inteiro.
94
Roubaram o meu amor,
Quem o roubou eu não sei;
Procuro-o noite e dia,
Nas terras do senhor rei.
95
Roubaram o meu amor
Lá pràs bandas do Rossio;
Procuro-o de lanterna,
Faça vento, faça frio.
96
Roubaram o meu relógio
Lá pràs bandas do Rossio;
Deve ter sido o Ambrósio,
Esse gatuno do Rio.
97
Furtaram o meu sorriso,
Levaram-no pra bem longe;
Malvado seja quem foi,
Seja freira, seja monge.
98
Dizei-me senhora minha
Se gostais do meu cantar;
É pobre, eu sei-o bem,
Só serve para assustar.
99
Quando canto ganhais dono,
Dormis mui profundamente;
É minha voz estridente
Impondo as leis do sono.
100
A amizade e o amor
Já andaram de braço dado;
Veio a paixão, trouxe a dor,
Com a dor nasceu o fado.
// continua...
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