MELGAÇO: Padres, Monges e Frades.
Por Joaquim A. Rocha
Continuação de 12/01/2022...
DOMINGUES, António (Padre). // Foi cura de
Paderne. // A 28/4/1782, na igreja de SMP, foi padrinho de José António,
nascido no dia anterior, filho de Manuel Pereira e de Maria Rosa Pereira de
Sousa, moradores no lugar das Carvalhiças.
DOMINGUES, António (Padre). Filho de Manuel
José Domingues e de Maria José Gomes, do lugar de Preza. // A 23/3/1836, na
igreja de Alvaredo, foi padrinho de José, nascido no lugar de Ferreiros,
Alvaredo, no referido dia, mês e ano. A madrinha foi Ana Domingues, ambos os
padrinhos tios paternos do neófito.
DOMINGUES,
António (Padre Amigo). Filho de Manuel António Domingues e de Maria Rosa
Marques, lavradores, residentes no lugar de A-da-Velha. Neto paterno de António
Domingues e de Maria Rosa Domingues; neto materno de José Marques (do
Senhor) e de Rosa de Almeida. Nasceu em Fiães
a 26/3/1884 e foi batizado na igreja do mosteiro dessa freguesia a 28 desse mês
e ano. Padrinhos: os seus avós maternos, lavradores, do lugar de A-da-Velha. //
Irmão (entre outros) de Aníbal José e
de Manuel José, e cunhado de Joaquim Esteves Calçada, todos emigrantes no
Brasil. // Ordenou-se sacerdote no seminário de Braga em 1906. // Foi pároco
encomendado da freguesia de Paços. // Depois de Outubro de 1910 respondeu em
tribunal por haver infringido a lei da separação entre Estado e Igreja
Católica, sendo absolvido. // Em 1912 ainda era pároco da freguesia de Paços;
nesse ano recebeu uma intimação das autoridades para no prazo de cinco dias
entregar a casa de residência paroquial (Correio
de Melgaço n.º 7). // Como «notável orador sagrado», era convidado a pregar em outras freguesias
(ver Correio de Melgaço n.º 33 e Correio de Melgaço n.º 162,
de 22/8/1915). // No tribunal de Melgaço teve
lugar, a 10 e 13/11/1913, o seu julgamento, acusado de transgredir a lei da
separação; a defesa esteve a cargo do Dr. António Francisco de Sousa Araújo (Correio de Melgaço n.º 75, de 16/11/1913). A 17/11/1913 terminou o julgamento, ficando absolvido (Correio de Melgaço n.º 76, de 23/11/1913). Era juiz do tribunal o Dr. Adolfo de Araújo Ramos. O
Ministério Público, representado pelo Dr. Joaquim Gonçalves de Araújo, não
aceitando a sentença, apelou. No entanto, o Tribunal da Relação confirmou a
dita sentença. // Transitou de Paços para Paderne, tomando posse a 18/2/1917,
para suceder ao padre Manuel António de Sá Vilarinho, falecido a 19/1/1917 (Correio de Melgaço n.º 239, de 4/3/1917, e Correio de Melgaço
n.º 240). // Em Janeiro de 1918 foi escolhido
pelo Governador Civil de Viana para chefiar a Comissão Administrativa da Câmara
Municipal de Melgaço. Os restantes membros eram: Francisco José Pereira, de
Paderne, Bernardo José Domingues Salgado, de Prado, António Joaquim Esteves e
José Augusto Teixeira, da vila de Melgaço. Toda esta mudança, a suspensão da
Câmara eleita, deve-se ao facto da revolta de Dezembro de 1917 ter vingado,
levando Sidónio Pais ao poder; ele não confiava nas equipas camarárias
recentemente eleitas, pensava que seriam hostis ao seu governo, e por isso
suspendeu-as. Sidónio não teve muitos meses de vida, voltando tudo ao normal (ver Jornal de Melgaço n.º 1192, de 26/1/1918). // Alguém lançou sobre ele quaisquer suspeitas, pois
lê-se no Notícias de Melgaço n.º 11, de 5/5/1929: «Por Paderne. A suspeição que há pouco tempo
recaiu sobre o nosso pároco, reverendo António Domingues “Amigo”, relativamente
à Rosa do Adro, que bastante o afligiu, porque alguém se lembrou de lhe imputar
factos ofensivos da sua honra e consideração, e muito principalmente da sua
missão como padre, desapareceu por completo: foi como uma nuvem que passou e se
dissipou no espaço! Hoje sabe-se bem quem foi o autor da proeza, confessado,
segundo se diz, por ele e por ela. Este indivíduo sendo, como é, casado,
convinha-lhe encobrir os seus atos debaixo da batina do reverendo pároco, que
se encontrava alheio a todas as coisas que se passaram. Está, pois, ilibado o
seu carácter que alguém pretendeu conspurcar, e sua missão como padre sem
mancha alguma que porventura lhe possa ofuscar não só a sua boa reputação como
a excelência das suas virtudes, mas também o brilho dos seus atos, sempre
honestos, quer como padre, quer como pároco, quer ainda como homem nos seus
atos particulares. Felicito-o por isso, e por ter ficado com o dobro da
autoridade moral que possuía, visto que o padre “Amigo”, sendo amigo de todas
as pessoas, e todas elas amigas dele, nunca lhe fugiu da lembrança de que o
padre, na aceção mais lata da palavra, é o sol da terra, e a luz do mundo.»
M. N. do Outeiro.
No
Notícias de Melgaço n.º 13, de 19/5/1929, podemos ler: «Carta aberta ao padre Amigo, abade da freguesia de Paderne. Alguns
dias depois da minha chegada a esta freguesia entrei na igreja e vi orar Vossa Reverência
com gestos e modos tais que me deram a impressão de que observava um
libidinoso, prestando culto a Adónis e não a ideia de que via um padre ou um
crente encomendar-se a Deus. Pareceu-me ver, por este motivo, que V.R. não
seria aquele padre bom que – dotado de amor e de abnegação humana – educa e
instrui o povo da sua freguesia. Assim como percebi que V.R. somente poderia
conviver com pessoas hipócritas ou que fingiam submeterem-se e obedecerem à sua
vontade caprichosa e jesuítica, também conheço que não me perdoa as ideias
rasgadamente liberais que sempre e em toda a parte espalho e apregoo, sem outro
intuito que não seja o de contribuir para dar satisfação à minha consciência e
rasgar novos horizontes ao povo que V.R. tanto empenho tem em embrutecer (...)
E, como bom jesuíta que é, vai fazendo uma campanha de infamiazinhas contra
mim, quer como cidadão, quer como professor. Eu sei que V.R. vê em mim o seu
maior e o seu mais terrível adversário na faina que empreendeu de converter
esta freguesia em bando jesuítico, em rebanho que V.R. possa tosquiar sem que
ele esboce o mais leve sinal de revolta. Sei também que lhe convinha na
freguesia um professor que não educasse, não instruísse, e não
republicanizasse. V.R. não estava acostumado a ouvir cantar pela rapaziada o
hino nacional, a Portuguesa, a Maria da Fonte, e outros hinos patrióticos, e
canções educativas cujo ritmo lhe fere os ouvidos. Teme o ensino e a educação
racional que hoje se ministra nas escolas. Desgosta-se ao saber da alegria e
satisfação dos petizes quando ouvem exaltar os atos dos nossos santos heróis
dotados de bondade, fé cristã e abnegação, que fizeram de Portugal a primeira
nação do mundo, e que tanto contribuíram para a emancipação humana!
Encoleriza-se ao ouvir dizer o que foi a inquisição e outras quejandas delícias
que em outros tempos faziam a felicidade dos povos! V.R. não quer que se diga
que a inquisição, cujos membros faziam parte da classe clerical, foi obra de jesuítas,
e que a confissão foi imposta por estes? Não gosta de ouvir a verdade, senhor
abade? Pois ouça esta: “Fez no dia 31 de Março cento e oito anos que em
Portugal foi extinta a inquisição. Só em quatro tribunais matou ela [no país]
6.542 pessoas! Em Lisboa queimou vivos 355 homens e 221 mulheres! Nos cárceres
morreram 546 mulheres e 706 homens e sofreram ainda os horrores dos primeiros
castigos 6.005 homens e 4.960 mulheres! E isto, senhor abade, em nome de Deus!
V.R. sabe muito bem que na escola de Paderne se ministra educação e instrução,
que se formam carateres e vontades. A prova disto dão-na a petizada que vem com
satisfação para a aula, saindo cantando. V.R. já não ouve dizer que as crianças
que frequentam a escola praticam atos malfazejos pelos caminhos. Já ninguém vem
queixar-se à aula que este ou aquele menino fizera qualquer judiaria! Porquê,
senhor abade? É que procuro formar o coração das crianças para a prática do
bem, do que é belo, do que é justo e sublime, encaminhando-as sobretudo na senda
da verdade, da honestidade e do trabalho. E sempre que tenho oportunidade, e
encontro no livro a palavra Deus, explico-lhes assim: “Deus é a suprema e
soberana inteligência, é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso,
soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições”, e não pode
ser de outra maneira. Dou-lhes o sentido de todas as palavras. Assim: imaterial
quer dizer que difere de tudo quanto chamamos matéria; de outro modo não seria
imutável por estar sujeito às transformações da matéria. Deus não tem forma
apreciável aos nossos sentidos. As imagens que apresentam Deus sob uma forma de
figura de longas barbas, coberto com um manto, são ridículas; têm o
inconveniente de rebaixar o Ser Supremo às mesquinhas proporções da humanidade.
Daí a emprestar-se-lhe as paixões humanas e a fazer dele um Deus colérico e
ciumento não há mais do que um passo. E esforço-me para que os meus educandos
compreendam quem seja Deus e se lhes assemelhem nas suas ações, adquirindo a
completa purificação do seu espírito pelo rigoroso cumprimento dos seus deveres
para com os pais, para consigo mesmos, para com os velhos, e mais fracos, para
com os animais e plantas, ilustrando-os com os conhecimentos de história e das
forças da natureza. Atenda, por isto, à diferença que existe entre nós dois na
maneira de educar. Eu educo, ensino e instruo; V.R. deseduca, desensina, e
animaliza. Qual é, pois, o medo de V.R. à escola? Eu sei. V.R. prevê daqui a
quatro anos, não as rixas fratricidas como disse na missa conventual do
penúltimo domingo, mas sim a existência de alguns rapazes conscientes de
espírito lúcido e esclarecido, bons portugueses, bons republicanos, homens
livres, enfim, perfeitos e capazes de elucidar aqueles que tiveram a desdita de
não passarem além da doutrina ensinada pelas beatas ao serviço de V.R. Antes
V.R. tivesse dito: “Foi publicado um decreto pelo governo da República com
força de lei proibindo a saída de Portugal a todo o cidadão maior de catorze
anos que não tenha exame da terceira classe das escolas primárias”. Mandai
vossos filhos à escola para se instruírem (…) Para que persiste em não (…) e
espiritualizar os seus fregueses? Prefere os ignorantes para serem seus
escravos, para serem católicos à sua semelhança e maus cristãos como V.R.?
Porque lhes não ensina os deveres que os pais têm para com os filhos, a maneira
daqueles educarem estes no lar? Os deveres dos filhos, para com os pais, e a
forma de respeitar estes? Os deveres, para com os seus semelhantes? O respeito
que devem aos velhos e aos mais fracos? O respeito que devem às crianças; os
deveres para com os animais – nossos irmãos espirituais –, a estima e o amor
que devem ter às plantas, o carinho e cuidado que devem ter com os ninhos das
aves e a proteção que lhes devem? Porque lhes não dá algumas instruções sobre
higiene e os não elucida sobre os agentes naturais e certos fenómenos para lhes
tirar o medo e a superstição? Porque lhes não faz compreender que o mal é obra
do homem e não de Deus? Não procure atemorizá-los com o quadro das chamas, nas
quais acabam por não acreditar, e que lhes fazem duvidar da bondade de Deus.
Mostre-lhes as descobertas da ciência como revelação das leis divinas e não
como obra de Satanás. Ensine-lhes, enfim, a ler no livro da natureza,
constantemente aberto diante de si, nesse livro inesgotável, onde a sabedoria e
a bondade do criador estão escritas em cada página. Então eles compreenderão
que Deus, ocupando-se de tudo e tudo prevendo, deve ser soberanamente poderoso.
O lavrador, traçando os sulcos, o verá. O infeliz o bendirá em suas aflições,
dizendo: “Se sou desgraçado é por minha culpa”. Assim os homens serão sobretudo
racionalmente religiosos; muito mais do que acreditassem nas pedras que
transpiram sangue, nas imagens que piscam os olhos e derramam lágrimas. Para
findar: modifique-se, senhor abade, contemporize e apascente racionalmente as
suas ovelhas, se deseja ver-me no seu rebanho. Contribua com a sua inteligência
para a unificação das religiões, embora lhe pareça difícil, atendendo às
diferenças existentes entre elas, e o antagonismo entre os seus adeptos. Porém,
ela se fará em religião, como já tende a fazer-se social, política e
comercialmente. Os povos do planeta terra já fraternizam, e não está longe a
sua felicidade. Para a frente é que é o caminho do bem.» // Paderne, 15/5/1929. O professor:
António Joaquim Soares.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 13, de
19/5/1929: «Paderne,
17/5/1929. A festa do Senhor, que devia realizar-se no próximo mês de Junho foi
adiada sine die (sem data certa). Afirma-se que é um caprichosinho do senhor
abade por não querer nesta freguesia a exímia banda marcial da Corporação dos
Bombeiros Voluntários de Melgaço, que estava convidada e justa com o maestro, sargento
Manuel Morais, pelo mordomo e juiz da festa, senhor Luís Faria, do lugar da
Várzea. Questões de “lana caprina”.»
No Notícias de Melgaço n.º 16, de
9/6/1929, página 3, escreveu o professor António Joaquim Soares: «Diário do Minho, Paderne, 1/6/1929. A propósito da nossa
carta aberta ao reverendo padre “Amigo”, de Paderne, o Diário do Minho de
23/5/1929 publica um artigo abordando a nossa vida particular e íntima. O
marujo, autor do artigo, esconde-se atrás do pseudónimo “Particular” e diz que
não nos conhece, honrando-nos muito com isso, porque só desejamos ser
conhecidos de pessoas de cavalheirismo e de caráter nobre, e não de canalhas
como o tal “Particular”, que não tendo outros processos de crítica às nossas
afirmações serviu-se de meios adotados por qualquer garoto que não sabe
defender-se, ou atacar, senão com insultos. Nós não falamos na vida particular
de padres, nem de católicos, mas já que o senhor “Particular” assim o quer,
seja feita a sua vontade. Não somos católico, mas sim cristão, e
envergonhamo-nos de certos atos praticados pela grande maioria de padres
católicos que se dizem diretos representantes de Cristo. Assumimos em todas as
ocasiões a responsabilidade que praticamos. Nunca aconselhamos as amantes a
encobrir os filhos para que depois desapareçam por qualquer forma, ou
conseguir-lhes supostos pais por juntas de bois, ou seu valor. Não exploramos a
ignorância e bondade dos nossos semelhantes em proveito próprio, ou de quem
quer que seja. Obedecemos somente a ocultas leis fisiológicas, pelas quais
miríades de pessoas de bem se deixam dominar. Declare, pois, o senhor
“Particular” a sua identidade para lhe expormos tudo claramente, já que assim o
provocou e deseja. Alguma coisa lhe tocará, também. Ainda que seja do inferno,
lá teremos amigos que nos informarão. Entretanto, com a nossa literatura de
cordel lhe iremos tecendo um cabresto e uma cilha para segurar bem aquele
grande animal, o jesuitismo, que não o deixa proceder com correção.»
No Notícias de Melgaço n.º 16, de 9/6/1929,
página 5, poder-se-á ler um artigo de um indivíduo que assinou “Otanásio”, o
qual tenta defender o sacerdote. Reza assim: «A propósito de uma carta aberta do senhor professor de Paderne. Ex.º Senhor
Professor de Paderne: por acaso, não sei se feliz ou infelizmente, li há dias
no Notícias uma carta aberta ao Senhor Padre Amigo, da autoria de V.
Excelência. É deveras uma carta original em desvergonha e atrevimento, fruto,
como não podia deixar de ser, de uma inteligência desorientada, só própria de
boçais qualificados. Francamente, conto já bastantes primaveras e não tinha
tido ainda carta ou artigo de jornal que provocasse em mim tão violentos
frémitos de indignação, de mistura com (…) estrepitosas gargalhadas, como a
carta em questão. É, que, a inteligência humana, feita só para a verdade, não
pode sofrer de bom ânimo que o disparate alardeie infrene, que o erro adquira
foros de legalidade, que a mentira grosseira passe em julgado e tenha ingénuo
acolhimento por parte de muitos simples, cujo espírito é uma tábua rasa, na
qual nada está escrito. Por outro lado, a tolice teve sempre a sua graça.
Hesitei em escrever, porque à primeira vista pareceu-me que se tratava de uma
questão meramente pessoal; mas, refletindo melhor, vi nessa carta uma afronta
pública à dignidade e nobre missão do clero católico e um enxovalho blasfemo,
lançado sobre a religião santa de Jesus Cristo. // Prescindo das razões
particulares e pessoais que determinaram V. Ex.ª a exautorar e a cobrir de
hediondos vitupérios o reverendo abade de Paderne, que não tenho a honra de
conhecer. A este peço eu licença para repelir na arena da imprensa uma afronta,
que [visou] ofender a consciência dos católicos, [pelo que] considero feita à
minha pessoa. // É-me impossível reduzir a uma ou a poucas proposições todas as
afirmações de caráter doutrinário que V. Ex.ª fez na sua carta. Elas são tantas
e tão variadas! De cada uma farei a devida crítica, guiado somente pela
verdadeira história e pela luz da ciência, sem [quaisquer] preconceitos. //
Verá que o odioso da Inquisição não recai sobre a Igreja; e que não é com uma
frase destacada e nua que se resolve uma questão histórica tão delicada e que
tem feito correr rios de tinta. Verá como a ação singularmente humanitária da
igreja católica jamais conheceu eclipses totais; verá que a árvore gigantesca
da caridade cristã acariciou com a sua sombra benfazeja as gerações de vinte
séculos; verá que a igreja está distribuindo os seus frutos de bênção e de
ternura maternal entre todos os povos do mundo; verá que o seu campo de ação
não se acha limitado, senão pelos gelos intransitáveis dos polos; verá que o
facho luminoso da verdade, acendido há 1929 anos por Jesus Cristo, não tem
cessado de dissipar as trevas do erro e da ignorância; verá que a igreja
católica não está circunscrita ao concelho de Melgaço, mas que só tem por
balizas os confins do planeta terra. // Senhor professor! V. Ex.ª abriu fogo!
Agora tem de esperar o avanço das tropas inimigas. Não o magoe, porém, este
vocábulo – inimigas – porque os católicos sabem odiar o erro, mas ter caridade
para com os que erram. Importa, contudo, que V. Ex.ª expectore tudo quanto sabe
e sente contra a Igreja, contra a religião e contra Deus. Importa saber se V.
Ex.ª é protestante, deísta ou ateu encoberto, porque conforme a posição que
tomar assim urge dirigir o ataque. // Isto já vai longe e eu não quero abusar
da generosidade do diretor deste jornal. Por isso, para já, fica V. Ex.ª
intimado a dizer-me em que ano foi instituída a Ordem dos Jesuítas, pois que V.
Ex.ª lhe atribui a imposição da confissão (sic) quando eu julgava que ela
tivesse sido instituída e imposta por Jesus Cristo. Fica intimado a honrar-me
historicamente qual foi esse concílio célebre em que os jesuítas deliberaram
inventar e impor a confissão, ou atribui essa invenção a um só jesuíta? Quem
foi esse homem notável, o seu nome, a sua nacionalidade, o tempo em que viveu,
e quais os protestos de todos os que não eram jesuítas, quer padres, quer
simples fiéis, contra essa imposição odiosa? Sim! Importa conhecer esse homem.
// A humanidade por dever de gratidão tem de exigir uma estátua ao autor de tão
proverbial invento, que tantas vezes tem feito chegar o alheio às mãos do
legítimo dono, que a tantos tem afastado do caminho asqueroso do vício, que de
criminosos tem feito grandes santos. // V. Ex.ª, que se apelida de apóstolo do
bem, não deixará certamente de tomar interesse nesta empresa, gratíssima aos
corações generosos, de tributar a devida homenagem a tão extraordinário
benfeitor da humanidade. // Importa solicitar do Estado uma emissão de selos
para levar a esse efeito a justa glorificação desse grande personagem. Pois
quê! Deve o marquês de Pombal essa honra, e … não a há de ter também o inventor
da confissão?… // Portugal deve, pois, importar-se ao mundo, dando esse exemplo
de rasgada gratidão. Então as outras nações, envergonhadas de tão longo e
injusto silêncio, imitarão também o nobre gesto desta nação, que nos tempos
jesuíticos deu cartas ao mundo inteiro. // Auxilie-me, senhor professor, auxilie-me
nesta empresa. Junte a sua autorizada voz à minha, que é débil; mais tarde,
talvez num futuro próximo, receberá V. Ex.ª uma retribuição condigna: uma
estátua em sua honra, pois ao que parece já descobriu um meio ou, ao menos,
possibilidade de instruir e educar os animais, seus irmãos espirituais (sic).
Oh! Então a humanidade receberá um numeroso contingente. // No reino animal
haverá perfeita camaradagem. Desde o sapo homem mais categorizado, ouvir-se-á
uma só voz: - viva a liberdade! Todos somos irmãos! Mas antes, senhor
professor, terá necessariamente de haver conflitos sangrentos, uma conflagração
universal e a subversão completa das leis que agora regem os elementos. Coisa
estupenda! Espetáculo aterrador, cuja só antevisão me faz gelar o sangue nas
artérias. Ver-se-ão então os homens saindo das igrejas, transformados em brutos
(como V.Ex.ª pensa!) e os jericos e demais camaradas a sair das escolas,
entoando com entusiasmo bestial o hino da liberdade animalesca, escrito pelo
seu próprio punho perissodactílico. // Às armas, contra o chicote marchar,
marchar! Então iniciará a liberdade o seu período áureo.» // 2 de Junho de 1929.
No Notícias de Melgaço n.º 20, de
7/7/1929, lemos: «Ao
reverendo padre “Amigo” de Paderne. // Um grande número de pessoas que têm lido
as minhas cartas e as dos seus amigos – Particular e Otanásio – cuja
suscetibilidade manifestaram, irrefletidamente, em prol de V.R., não sabem a
razão da nossa incompatibilidade, julgando-a, muitos, cética ou sistemática.
Nesta carta vou concretizar as razões e o motivo por que continuarei até que,
ao povo desta freguesia, a quem eu estimo por dever humano e profissional, seja
dada uma satisfação, para seu gozo espiritual. Um povo laborioso, religioso,
sem cultura, naturalmente respeitador, que suporta silenciosamente qualquer
afronta do seu pároco sem um protesto de revolta que manifeste o seu desgosto e
a sua vontade, merece ter um abade que lhe agrade e lhe fale ao coração, que o
espiritualize e que o guie nas suas ações quotidianas. Reverendo: quando
cheguei a esta linda terra de Melgaço fui prevenido por pessoa amiga e
conhecedora da vida e de alguns homens que se encontram na sociedade,
pressurosos, sempre, em fazer sobressair as palavras mais insignificantes, de
que havia nesta freguesia elementos com quem eu não deveria entabular relações
de amizade. Um era VR e descreveram-no como homem sem caráter, sem escrúpulos,
delator dos seus colegas, ingrato, egoísta, etc. Tudo me foi confirmado depois
por um seu inimigo de então, que me fez uma narrativa da sua vida como homem e
como pároco, imputando-lhe factos de certa gravidade para um presidente
espiritual. E quando VR viu naufragada a sua boa reputação perante os seus
superiores hierárquicos, e descobertos os seus embustes, rastejou aos pés desse
seu inimigo, entregando-se-lhe incondicionalmente. Os fins, toda a gente de bem
os sabe porque conhece que os hipócritas buscam, cuidadosamente, penetrar o
pensamento dos outros para os desviar do sentido contrário ao verdadeiro. Como
se sentirá, reverendo, um homem de alma vil e escrava ao ouvir pronunciar uma
palavra, com firmeza e dignidade, a uma pessoa que o julga pelo seu justo
valor? Reverendo: das poucas vezes que falei consigo conheci que VR não possuía
nenhum sentimento de bondade, de justiça, e de caridade, principais deveres que
temos para com os nossos semelhantes. Os deveres de justiça que se resumem no
seguinte princípio: “não fazer aos outros o que não queremos que nos façam a
nós.” Os deveres da caridade, que se baseiam também no princípio: “fazer aos
outros só aquilo que desejamos que nos façam a nós.” A justiça consiste em não
fazer mal aos outros, e a caridade em fazer o bem. Justiça simboliza respeito;
caridade simboliza amor. Tudo isto falta a VR porque não tem predicados e
qualidades para paroquiar uma freguesia, sendo preciso fazer chegar estas
coisas ao conhecimento do reverendíssimo arcebispo, o que deixaremos ficar para
ocasião oportuna. Hoje venho apenas dizer o motivo da minha carta aberta a VR,
que já seria esquecida se não fossem as suas insinuações ao amigo Particular
para bulir na minha vida [privada], ameaçando-me. Agora, tenho de mexer também
na sua vida íntima e na dele, apesar de não saber ainda quem é. VR disse em
certo domingo [na] missa conventual: “vós mandais vossos filhos à escola e não
os mandais à doutrina! Olhai que o inimigo é vosso vizinho! Quereis saber quem
ele é? Perguntai aos vossos filhos. Daqui a quatro anos, haveis de vos esfaquear
uns aos outros, etc.” E estas palavras proferidas em grandes berros,
acompanhadas de murros sobre o altar, o que não é de estranhar, pois, segundo
dizem, é assim que VR fala aos seus paroquianos.» // (continua no próximo número do jornal). Paderne, António Joaquim Soares. // Nota: a minha última
carta a Otanásio vinha completamente deturpada; mais cuidado na revisão e
paciência, leitor amigo; seja tudo em desconto de meus pecados.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 38, de
17/11/1929: «Paderne, 13/11/1929. Devido
à iniciativa e provado zelo do reverendo pároco desta freguesia, António
Domingues “Amigo”, foi concluído o muro de suporte da parte nascente-norte do
cemitério paroquial. Angariou para este fim vários donativos pelos hotéis do
Peso e vários amigos seus, que lhe chegaram para conclusão daquele muro, e
ainda para consertar um cunhal da sacristia que ameaçava ruína. O cemitério,
depois de ser limpo das ervas que cobriam as sepulturas, apresentou-se-nos com
um aspeto surpreendente, de forma a não podermos dizer deles o que já dissemos
num dos números deste jornal: - “que mais parecia um monte para agasalhar feras
do que um campo santo para enterrar mortos”!... O coro do mosteiro também
precisa de alguns reparos: por isso, o recomendamos ao reverendo pároco para
não os demorar, a fim de lhe conservar a sua antiguidade.» // Nóvoas.
Um dia o azar bateu-lhe à porta. Lê-se no
Notícias de Melgaço n.º 75, de 31/8/1930: «Há dias, quando o reverendo abade desta freguesia de
Paderne, padre António Domingues Amigo se dispunha a montar a cavalo a sua
montada, em virtude das moscas, deu-lhe uma cabeçada na cara, de que lhe
resultou ficar sem seis dentes.» Correspondente Sousa.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 78, de
21/9/1930: «Vindo da cidade de Braga encontra-se em
casa da sua residência o reverendo padre António Domingues Amigo, pároco desta
freguesia [de Paderne].»
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 105, de
19/4/1931, escrito por Manuel Nóvoas, solicitador encartado: «No mesmo dia, da
parte da tarde, beijamos a cruz na nossa casa do “Celeiro”, na Portela,
Paderne, ministrada pelo pároco António Domingues (Amigo), que se esforçou por
chegar ainda com bastante dia a este lugar e aonde não faltaram vizinhos e
amigos que por essa ocasião nos cumprimentaram. A cruz, seguindo o itinerário
do costume, terminou por ser beijada na casa do reverendo pároco por ser a última
para onde todos nos dirigimos, aglomerando-se por essa ocasião uma massa tão
compacta de povo que foi preciso abrir as portas de duas salas da casa da
residência para o conter. Uma vez ali, manifestou o apreço em que o tinham como
pároco da freguesia de Paderne. Foi-lhes servido um magnífico copo de água,
retirando-se todos muito contentes por terem um dever cumprido. Os corifeus
inimigos do seu pároco, que se tem esforçado por lhe manchar a sua obra, e
denegrir o seu caráter, nada têm conseguido, nem conseguirão, fiquem certos,
porque o padre Amigo tem muito perto de si pessoas amigas que lhe vigiam os
passos e velam pela sua honra e, por consequência, conhecedoras das suas ações,
que são boas, estarão sempre prontos a defende-lo quando lhe faça falta, e os
seus merecimentos o permitam. Sua Ex.ª Rev.ª o senhor Arcebispo de Braga sabe
bem quais as qualidades morais do padre que tem à testa desta freguesia, não se
deixando embair por informações falsas, cartas anónimas, etc., de que os seus
inimigos se têm servido para lhe conspurcar o seu caráter e feri-lo no mais
íntimo de seu coração. O padre Amigo, porém, cá o temos à testa de rebanho que
lhe foi confiado, tendo máximo cuidado em que as suas ovelhas se não percam,
conduzindo-as ao seu verdadeiro aprisco. Deus, que lhe passou procuração para o
representar na terra, propugnando pela sua doutrina, que é santa e boa, e lhe
confiou um rebanho para conduzir para o céu, bem soube o que fez!... // O padre
Amigo, animado dos maiores desejos de bem cumprir com os seus deveres, com
aquela coragem própria que lhe vem da graça de Deus, tem triunfado sempre de
todos os seus inimigos, porque acima de tudo está a verdade, está a razão, está
a Justiça. // Nesses termos, ainda o padre Amigo continua a ser o sol da terra
e a luz do mundo!»
Até 28/9/1936 teve na sua companhia a
irmã, Deolinda Rosa, a qual faleceu nesse dia por ter caído de uma nogueira. //
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 836, de 19/10/1947, referindo-se à festa da
Senhora do Rosário em Paderne: «… pela boa ordem como dirigiu a procissão, tudo correu com
o máximo de respeito e fé.» // Maria da Glória Pereira, filha de
--------- Pereira e de Rosinda Fernandes, ausente no Rio de Janeiro, e neta de
Requelinda Pereira, a 8/12/1951, na igreja de Paderne, casou com Aurélio Manuel
Gonçalves, sócio da firma “Irmãos Gonçalves, Lda.”, filho de Manuel José
Gonçalves, proprietário, e de Beatriz da Ascensão Calheiros, do lugar dos
Ferreiros, Paderne, tendo por padrinhos da boda Palmira Passos Pereira, pela noiva,
e pelo noivo, seu pai; o pároco da freguesia, padre António Domingues “Amigo”,
depois de um excelente banquete, servido na casa da noiva, regado com os
melhores vinhos da região, botou inflamado discurso, exultando as qualidades
morais dos nubentes. Os noivos, ansiosos por estarem a sós, despediram-se da
família, dos convidados, e partiram para a sua lua-de-mel… (Notícias de Melgaço n.º 1006, de 25/12/1951).
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1019, de
30/3/1952: «De Paderne – Março, 27. Com grande regozijo
festejou ontem (26 de Março) o seu aniversário natalício o bondoso e
estimado pároco desta freguesia senhor [padre] António Domingues “Amigo”, o qual
completou sessenta e oito risonhas primaveras. Sua sobrinha e afilhada Elvira e
seu sobrinho Augusto enviaram-lhe este significativo cartão – Salve, 26/3/1952.
Ao meu querido padrinho e tio oferecemos como prova de eterna amizade no dia do
seu aniversário natalício, pedindo a Deus que esta data se repita por muitos
anos. A afilhada e sobrinho muito amigos a) Elvira e Augusto. // Além desta
dedicatória foram recebidas mais em casa do nosso estimado pároco, das quais
vou transcrever algumas – Salve, 26/3/1952. Ao meu reverendíssimo e querido
pároco no dia em que completa as suas sessenta e oito primaveras eu prostro-me
humildemente ante o altar da Santíssima Virgem, pedindo-lhe que interceda
perante Seu Divino Filho para que esta data feliz se repita por muitos anos,
para bem da freguesia. O paroquiano muito humilde e amigo a) António Puga. //
Salve, 26/3/1952 – Ao nosso querido pároco muito amigo oferecemos esta
pequenina lembrança no dia do seu aniversário natalício, pedindo a Deus que
esta data se repita por muitos e prósperos anos. A) Loca e Mimi (Picholas). // Salve, 26/3/1952 –
No dia em que o meu reverendo pároco completa as suas sessenta e oito
primaveras, envio esta pequenina oferta e peço a Deus que esta data se repita
por muitos anos. a) Palmira Passos Pereira. // Em virtude destas dedicatórias,
o correspondente de o Notícias de Melgaço em Paderne não pode ficar indiferente
a esta tão gloriosa data e por isso vai-se associar a esta tão significativa
manifestação de simpatia, desejando-lhe ao nosso bondoso e amiguíssimo pároco a
continuação desta gloriosa data, por longos e felizes anos. Do dedicado amigo,
Carlos Brás.» // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º
1026, de 1/6/1952: «Está passando incomodado da saúde o nosso prezado amigo reverendo padre
António Domingues “Amigo”, benquisto pároco da freguesia de Paderne…»
// Morreu em Paderne a 10/11/1962 (ver
Notícias de Melgaço n.º 1453, de Novembro de 1962).
// Nota: segundo consta, a sua herdeira foi Rosa
Ferreira (sua filha?).
DOMINGUES,
António (Padre). Filho de Joaquim Domingues, lavrador, do lugar da Trigueira, e
de Florinda Cerqueira, doméstica, de Chão de Bezerro, onde moravam. Neto
paterno de Manuel Luís Domingues e de Maria Afonso; neto materno de António
Joaquim Cerqueira e de Maria Alves. Nasceu no
lugar de Chão de Bezerro, Parada do Monte, a 26/7/1912. // Em 1935 fez exame do
2.º ano no Seminário Conciliar de Braga, no Curso de Teologia (Notícias de Melgaço n.º 276, de 30/6/1935). // Em 1936 concluiu o 3.º ano do dito curso (Notícias de Melgaço n.º 317, de 28/6/1936). // Foi ordenado sacerdote em 1937, tendo sido colocado na
freguesia de Chaviães, concelho de Melgaço. // Em 1950 foi transferido para a
sua freguesia natal. Ficou em Chaviães o padre Joaquim dos Santos Freitas, que
viera de Paredes de Coura (NM 950, de 8/10/1950). // Retirou-se em Março de 1992, sendo substituído pelo
padre Ildefonso Xavier, nascido em Timor a 17/5/1952, já a paroquiar Gave e
Cubalhão. // Morreu na sua freguesia natal a 2/2/1998 (ver A Voz de Melgaço n.º 961; VM 962, de 1/5/1992; VM 1061,
de 15/11/1996). // Deixou alguns escritos
interessantes sobre Etnografia Regional. Também se interessou pela toponímia
local e «algumas pontes romanas.»
Esses textos podem ser lidos em “A Voz de Melgaço”.
DOMINGUES,
António (Padre). Filho de ----------------------- e de ----------------------.
Nasceu na Gave a --/--/19--. // Ordenou-se sacerdote no seminário de Braga no ano
de 1957 (ver A Voz de Melgaço n.º 1398, de
1/11/2016).
DOMINGUES, António (Padre). Filho de José Domingues e de Maria Marques. Neto paterno de
Manuel Inácio Domingues e de Rosa Domingues Caldas; neto materno de António
Marques e de Teresa Fernandes. Nasceu na freguesia de Alvaredo a 16/6/1933. // Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 947, de 17/9/1950: «De Braga, onde estiveram em retiro, os nossos seminaristas Manuel
Esteves Lira, António Domingues e Nuno Cândido Domingues, Octávio Fernandes e
Lourenço Ribeiro de Figueiredo e Castro.» // De 1945 a 1957 frequentou o
Seminário de Braga, Nossa Senhora da Conceição, o qual fora inaugurado a
14/11/1924 (VM 1398, de 1/11/2016). // A 6/10/1957 cantou missa nova em Alvaredo; depois da
cerimónia houve banquete no Hotel Ranhada. // De Novembro desse ano até Agosto
de 1966 foi pároco de São Lourenço de Montaria, Viana do Castelo.
Posteriormente foi para Braga, onde trabalhou na Ação Católica até 1978. A
partir daí esteve nos Serviços Centrais. // Em Janeiro de 1984 foi nomeado
pároco de Santo Adrião. Foi o primeiro, pois essa paróquia tinha sido criada há
pouco tempo! Esteve ali até 1992. A seguir tomou conta da Capelania dos
Terceiros, mesmo no centro da cidade. // Foi professor de moral nas Escolas
Carlos Amarante e Alberto Sampaio, ambas de Braga. // Irmão de Manuel e do
professor Nuno Cândido. // Em Abril de 2007 estava «a recuperar de uma melindrosa operação cirúrgica…» (A Voz de Melgaço n.º 1284, de 1 e 15 de Maio). // Em 2010 o bispo afastou-o da Capelania dos Terceiros. Em
2018 ainda estava internado na Casa Sacerdotal de Braga.
Lê-se em “A Voz de Melgaço” n.º 1435, de
1/2/2020, o seguinte texto escrito pelo padre Carlos Nuno: «Faleceu o padre António Domingues. Este
melgacense, natural de Alvaredo e sempre ligado à sua terra de naturalidade,
nascido em 16/6/1933, faleceu no fim de tarde de 22/1/2020, na Casa Sacerdotal,
em Braga, onde estava acolhido há pouco mais de dois anos. Frequentou os
seminários arquidiocesanos de Braga e foi ordenado sacerdote em 29/9/1957, em
Braga. Em Novembro seguinte, foi nomeado pároco de São Lourenço da Montaria, no
concelho de Caminha, paróquia a que pertence a Capela/Igreja da Senhora do
Minho. Aí esteve cerca de nove anos. Em Setembro de 1966, ainda com a atual
diocese de Viana incluída na de Braga, foi nomeado colaborador da Ação Católica
Rural, função que desempenhou durante vinte e sete anos, acumulando com a de
professor de religião e moral numa das escolas de Braga. Entre Janeiro de 1984
e Agosto de 1992 foi pároco da recém-criada paróquia de Santo Adrião, tendo
como especial e espinhosa missão arranjar as estruturas necessárias para o
funcionamento da mesma. Durante anos, a missa foi celebrada em um apartamento
do rés-do-chão. Entretanto foi comprado terreno junto à já existente pequenina
capela de Santo Adrião, para a construção da nova igreja e outros espaços para
atividades da paróquia. Não pôde concluir a obra da nova igreja, mas esteve,
como estive eu, na inauguração, anos mais tarde, sendo pároco o padre e cónego
Cândido Pedrosa. Durante o tempo em que foi pároco de Santo Adrião, que é
paróquia mas não freguesia, foi ainda administrador paroquial de Aveleda
durante um ano, em 1992/1993. Em Setembro de 1993 foi nomeado assistente da
Ação Católica Rural, com a qual já colaborava, assumindo esse papel até julho
de 2010, totalizando assim quarenta e três anos de serviço à Ação Católica
Rural. Entre Outubro de 1993 e Julho de 2010 foi reitor da igreja dos
Terceiros, em Braga. Como o referiu uma das sobrinhas no momento final da
celebração em Alvaredo, o padre António fazia tudo por passar as grandes festas
familiares, como natal e páscoa, na sua terra natal. E aproveitava para se
colocar à disposição do pároco para poder celebrar [a missa] a hora mais
convidativa para as pessoas, que bem agradeciam poder gozar mais um bocado da
cama depois da noite de convívio familiar. Na Casa Sacerdotal teve eucaristia logo
na manhã do dia 23, quinta-feira, às 10.30, presidida pelo padre Carlos Nuno
Vaz, presidente do IDAC, cuja Casa Sacerdotal é da sua responsabilidade.
Concelebraram mais dezasseis sacerdotes. Nessa eucaristia deram testemunho da
sua atividade duas filhas do Dr. Bernardino, especial amigo do padre António e
colega nas lides do ensino e também na paróquia de Santo Adrião. Também o
cónego João Aguiar Campos e Monsenhor Silva Araújo estiveram presentes e
lembraram no “facebook” a figura do padre António. Um outro que o recordou com
especial afeto e apreço foi o atual superior provincial dos espiritanos, padre
Tony Neves, que, enquanto estudante no Seminário do Espírito Santo, participou
ativamente nas atividades da paróquia, mormente na catequese. A celebração
exequial em Alvaredo foi na sexta, dia 24, às catorze horas, presidida pelo
padre Armando, pároco da Sé de Viana e Vigário do Clero. Concelebraram: padre
Raul Fernandes, arcipreste de Melgaço, padres Martins e César, párocos em
Melgaço; padre Joel, de Paderne e a paroquiar oito paróquias em Monção, que
também dirigiu o grupo coral; padres António Esteves, Carlos Vaz, Júlio Vaz,
cónego José Marques, naturais de Rouças, Melgaço, e ainda o padre Vasco
Gonçalves, que há anos paroquiou em cinco paróquias de Melgaço. Presença
especial do padre Manuel Reis Lima, grande amigo do padre António, que lá se
deslocou em táxi, e que viria a falecer poucos dias depois, no dia 27/1/2020. E
foi a sepultar em Alvarães, Viana, no dia 29, dia de 7.º dia em Braga, em que
tinha prometido à sobrinha do padre António, a Otília, que estaria presente.
São desígnios que nos ultrapassam. Recordamo-lo também como bom amigo. O padre
Raul disse que havia duas virtudes que distinguiam o padre António: a
simplicidade e a humildade. Para quem com ele conviveu mais de cinquenta anos sabe
como tal afirmação é verdadeira. Acrescentaria o zelo e a entrega ao serviço de
Deus e dos irmãos, e a abertura para acolher as pessoas cordialmente. Devo-lhe
ainda sobradas provas de amizade e companheirismo, e o apreço em que tinha o
jornal “A Voz de Melgaço”, de que tanto se orgulhava e que procurava ajudar nas
suas dificuldades. Nos braços do Pai, que amorosamente te acolheram, continua a
velar por nós, para que a nossa vida possa ser testemunho de entrega generosa
ao serviço de Deus e dos irmãos. Só assim honraremos condignamente a tua doce
memória.»
DOMINGUES,
Armando Tito (Padre). Filho de Manuel Luís Domingues, natural de Lamas de Mouro,
negociante em Prado, depois emigrante no Brasil, e de Josefa da Luz Rodrigues de
Sousa Araújo Besteiro, natural de Paderne, moradores em Galvão, SMP. Neto
paterno de José Domingues e de Maria Teresa Domingues, do lugar de Cima, Lamas
de Mouro; neto materno de Diogo Manuel de Sousa Araújo e de Teresa de Jesus
Rodrigues, de Midão, Paderne. Nasceu na Vila de Melgaço a 9/9/1883 e foi batizado
na igreja a 16 desse mês e ano. Padrinhos: António Cândido de Sousa Araújo e
Maria da Paixão de Sousa Araújo, solteiros, de Midão, Paderne. // A 24/7/1903,
na igreja de Paderne, ainda ele era estudante no Seminário, foi padrinho de
Armanda da Luz, nascida dois dias antes, filha de João José Rodrigues e de
Maria Teresa da Silva. A madrinha era a mãe do padrinho, já viúva. // Cantou missa
nova na igreja do mosteiro de Paderne a 22/4/1906. Participou na cerimónia «a música de capela do Nóvoas (de Manuel Nóvoas do Outeiro)
e fez o sermão o reverendo Joaquim Dias
da Costa, que propositadamente se deslocou de Famalicão (ver Padre
Júlio Vaz Apresenta Mário, página 244). // Em
1907 morreu a sua mãe, no estado de viúva; ele era pároco da Vila (Jornal de Melgaço n.º 688). Nesse
ano de 1907, a 12 de Setembro, foi padrinho de Armando de Jesus Gregório, nascido
em Cousso a 6 desse mês e ano. // Em Junho de 1912 partiu para o Rio de Janeiro
«que ali vai exercer a sua atividade»
(Correio de Melgaço n.º 1).
Esteve muitos anos naquela cidade brasileira, onde obteve a aposentação e de
onde trouxe, segundo o jornal Notícias de Melgaço, alguns contos de réis. Em
1934 visitou Melgaço (NM 234, de 3/6/1934); partiu novamente para o Rio de Janeiro em Setembro desse
ano (NM 246, de 30/9/1934). // Em 1945 despedia-se mais uma vez dos melgacenses
através do jornal e voltava para o Rio de Janeiro, Brasil (NM 720, de 4/2/1945). // Morreu
na Vila (SMP) a
5/2/1967. // Nota: apesar de ser sacerdote, foi pai de algumas crianças. Uma
delas, Edgar Augusto (ver em
Prado), foi gerada em Ana
Ribeiro, e nasceu a 17/5/1907; este moço cresceu, tirou em 1931 um curso
superior, medicina, e casou em 1932 com a Dr.ª Elisa Pinto, nascendo deste
casamento Edgar Tito, Eduardo Henrique, e Estela. // Em 1908 gerou em Maria da
Pureza Gonçalves, solteira, camponesa, natural de Cubalhão, uma criança do sexo
masculino, Oliveiros, que nasceu a 23/3/1909, sendo perfilhado por seu pai em
1945. // A 26/5/1910 nasceu a sua filha Duartina, gerada em Amélia Rodrigues, natural
de Paderne, onde morava, no lugar de Midão, a qual perfilhou a 24/1/1945.
[GONÇALVES,
Maria da Pureza. Filha de Manuel Bento Gonçalves e de Maria Joaquina Vaz,
lavradores, residentes no lugar de Cima, Cubalhão. Neta paterna de João Gonçalves
e de Maria Teresa, naturais da freguesia de Carralcova, concelho dos Arcos de
Valdevez; neta materna de Francisco Vaz e de Ana Boaventura Pereira,
cubalhanenses, todos camponeses. Nasceu em Cubalhão a 26/6/1880 e foi batizada
na igreja católica local no dia seguinte. Padrinhos: José Maria Domingues,
viúvo, e Joaquina Domingues, solteira, ambos camponeses, naturais de Cubalhão.
// A 23/3/1909 deu à luz uma criança do sexo masculino,
Oliveiros, gerado pelo padre Armando Tito Domingues, natural de Galvão, Vila.
// Faleceu na freguesia de Paderne a 28/5/1958.]
[GONÇALVES,
Oliveiros. Filho de Maria da Pureza Gonçalves, solteira, camponesa, moradora no
lugar de Cima, Cubalhão. Neto materno de Manuel Bento Gonçalves e de Maria Joaquina
Vaz. Nasceu em Cubalhão a 23/3/1909 e foi batizado na igreja católica da
localidade a 25 desse mesmo mês e ano. Padrinhos: Constantino Vaz, solteiro,
lavrador, e Rosa Vaz, solteira, camponesa. // Casou na CRCM a 29/8/1934 com a
sua conterrânea Maria Amélia Domingues. Moraram no lugar de Midão, Paderne. // Foi
emigrante em França e no Brasil. Com geração. // Morreu na freguesia de Penso a
27/3/2000, com noventa e um anos de idade.
// Nota: foi perfilhado a 24/1/1945 pelo padre
Armando Tito Domingues, de sessenta e um anos de idade, solteiro, presbítero,
natural da freguesia da Vila, morador no lugar de Galvão, SMP, filho de Manuel
Luís Domingues e de Josefa da Luz Sousa Araújo.]
[DOMINGUES, Duartina. Filha do padre Armando Tito Domingues (perfilhou-a
a 24/1/1945), natural da Vila, morador em Galvão, e de Amélia Rodrigues,
solteira, doméstica, natural de Paderne, moradora no lugar de Midão. Neta
paterna de Manuel Luís Domingues e de Josefa da Luz de Sousa Araújo; neta
materna de Luís Rodrigues e de Maria Joaquina Meixeiro. Nasceu em Paderne a
26/5/1910 e foi batizada na igreja a 29 desse mês e ano. Padrinhos: António
Evangelista Pereira, casado, proprietário, e Filomena da Graça de Sousa Araújo,
casada, proprietária. // Casou a 17/11/1927 com Alfredo do Carmo Domingues de
Araújo. // Faleceu na freguesia de Campo Grande, Lisboa, a 28/9/1971 (ou 1974).]
[PINTO,
Rufina da Ressurreição. Filha de Abílio César Pinto, soldado da Guarda-Fiscal,
natural da Vila de Melgaço, e de Joana Rosa de Araújo, doméstica, natural de
Prado, moradores no lugar dos Bouços. Neta paterna de Diogo Pinto, sacristão da
Misericórdia de Melgaço, e de Mariana de Jesus Vasques; neta materna de Manuel
Bernardo de Araújo e de Maria Cândida de Sousa Araújo, rurais, de Prado. Nasceu
em Prado a 23/3/1890 e foi batizada na igreja paroquial a 6 de Abril de esse dito
ano. Padri nhos: os seus avós paternos. // Faleceu na Vila de Melgaço a
7/7/1972. // Foi mãe de Arlindo Cândido Pinto (5/12/1916-29/11/1979), gerado
pelo padre Armando Tito Domingues. O Arlindo
fez o curso de agente técnico de engenharia e casou a 7/8/1940 com Clarisse,
filha de Hermenegildo José Solheiro e de Maria Leonor Gonçalves da Mota.]
[RIBEIRO,
Ana Teresa de Jesus. Filha de Manuel Joaquim Ribeiro e de Maria Rita Gonçalves,
moradores no lugar do Souto. Neta paterna de Diogo Ribeiro e de Marcelina Luísa
Dias, do dito lugar; neta materna de Luís Augusto Gonçalves e de Joana (Luísa?)
do (Souto?), do lugar de Bouça Nova, todos lavradores. Nasceu em Prado a
25/7/1876 e foi batizada a 30 desse mês e ano. Padrinhos: António Joaquim
Ribeiro, casado, rural, do lugar do Cruzeiro, freguesia de Remoães, e
Ana Teresa de Jesus (da Costa?), solteira, costureira, do lugar de Várzea, Paderne.
// Ainda Armando Tito Domingues, da Vila, não tinha
sido ordenado sacerdote já ela namorava com ele. O resultado ficou à vista,
quando nasceu a 17/5/1907 Edgar Augusto Ribeiro.]
[RIBEIRO,
Edgar Augusto (Dr.) Filho do padre Armando Tito
Domingues, natural da Vila de Melgaço, e de Ana Teresa de Jesus Ribeiro,
natural de Prado, moradora no lugar dos Bouços. Neto paterno de Manuel Luís
Domingues e de Josefa da Luz Sousa Araújo; neto materno de Manuel Joaquim
Ribeiro e de Maria Rita Gonçalves. Nasceu em Prado a 17/5/1907 e foi batizado
na igreja paroquial a 23 desse mesmo mês e ano. Padrinhos: José Luís Gonçalves,
solteiro, do lugar de Bouça Nova, e Emília Cândida Ribeiro, solteira, do lugar
da Corredoura. // Foi «criado no lugar de
Trás-do-Coto, pela família de Manuel Joaquim Calheiros Lopes até ir para Lisboa
assentar praça, onde encontrou uma alta patente do exército a favorece-lo»
(O Meu
Livro das Gerações Melgacenses, volume II, página 163). // Depois do ensino secundário
continuou os estudos, concluindo o curso superior em medicina no ano de 1931. Disse
dele o Dr. Augusto César Esteves: «é hoje um notável médico-cirurgião…» //
Casou na 4.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa a 28/7/1932 com a Dr.ª
Elisa Dantas Pinto. // Foi perfilhado por seu pai a 24/1/1945. // Em 1967
residiam em Lourenço Marques, Moçambique; um dos cônjuges trabalhava na área da
saúde e o outro era professor (NM 1626, de 19/2/1967). // Foi perfilhado a
24/1/1945. // Morreu na freguesia de Santo Ildefonso, Porto, a 13/7/1978. //
Pai do Eng.º Edgar Tito Pinto Ribeiro (nasceu a 15/6/1933 e casou a 28/2/1961);
de Eduardo Henrique Pinto Ribeiro (nasceu a 11/4/1942); e de Estela Pinto
Ribeiro (nasceu a 14/9/1943).] // continua...
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