POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
desenho de Luís Filipe Rodrigues |
// continuação...
CANTIGAS AO
DESAFIO
Mote
«Cantigas ao
desafio
Comigo
ninguém as cante;
Eu tenho quem
mas ensine,
Meu amor é
estudante.»
Desenvolvimento:
Teu amor é
estudante
O meu já é sô
doutor;
Cantigas que
ele me ensine
Têm a marca
do rigor.
Gostas muito
de cantar
Mas não
cantas nada bem;
Cantar é um
dom que nasce
No ventre de
nossa mãe.
Só porque tu
cantas mal
Julgas os
outros por ti;
Eu canto qual
rouxinol,
Na natureza
aprendi.
A vaidade não
te falta
E orgulho,
nem falar;
Julgas-te
brilhante estrela,
Linda
santinha de altar.
Não sou
brilhante estrela,
Nem um pedaço
do céu;
Sou uma
humilde mocinha
Que para a
canção nasceu.
Se cantasses,
como eu canto,
Com notas
finas e aladas;
Julgar-te-ias
princesa,
Ou a rainha
das fadas.
Quando te
ouço cantar
Sinto desejos
de rir;
A boca boceja
tédios,
Não sei como
resistir.
Então eu,
quando te ouço,
Penso logo em
fugir;
Por vergonha
não o faço,
Tenho mesmo de
te ouvir.
Eu prefiro
ouvir o galo,
O pobre gato
a miar;
Até o cuco no
mato,
Lobos no
monte a uivar.
Eu prefiro
ouvir trovões,
A chuva forte
a cair;
A acha a
arder na lareira,
O comboio a
partir.
Marco Paulo e
Abrunhosa
À tua beira,
são bons;
Calvário e
Quim Barreiros,
Rebuçadinhos,
bombons.
Quem desdenha
quer comprar,
Dizes mal, é
porque gostas;
Se não
gostasses de mim
Viravas-me
logo as costas.
Presunção e
água benta
Cada qual
toma a que quer;
Tu és uma
convencida,
Tens muito
para aprender.
Deixemos isso
pra lá
E dêmos um
grande abraço;
Cantamos
ambas mui bem,
Com nossa voz
de melaço.
Disseste pura
verdade,
Cantamos
ambas mui bem;
Somos
caninhas rachadas,
Uísque de
Sacavém.
Em coro:
Temos maviosa
voz
Pra cantar ao
desafio;
Com mil
peixes a escutar,
Movendo-se em
rodopio.
Sem comentários:
Enviar um comentário