sábado, 8 de abril de 2017

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de OS LUSÍADAS, de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha  



Palácio da Pena - Sintra


63

Manuel recebe o embaixador,

Promove-o a ministro da corte;

Chama-lhe fidalgo, douto senhor,

Dá-lhe nome para além da morte.

E o povo, esse grande sofredor,

Inveja-lhe, com razão, sua sorte.

Mas num gesto puro, enigmático,

Considera tudo isso vil, errático.
 
Mosteiro dos Jerónimos

64
 
Rei sofre da síndroma da vaidade,

Tudo para ele é importante:

Aldeia, vila, região ou cidade,

Tudo é poderoso, alto, gigante, 

Desde que aceitem sua vontade,

O seu poder, a mulher, triste amante.

E para que a lei seja justiceira,

Of’rece forais à nação inteira.    
 


                                    65
 
Reforma a antiga legislação,

Ditas Ordenações Manuelinas;

Afirma que a circum-navegação

É apenas sombra, puras neblinas.

Foge da mentira, da ilusão,

Ilusório canto de matinas.

Torna-se soberano poderoso,

E seu povo chama-lhe o Venturoso.



66
 
      Manda construir os belos Jerónimos,
A lindíssima Torre de Belém;

Artistas conhecidos e anónimos

Trabalham por cruzado e um vintém,

Tornando os monumentos sinónimos

De um Portugal rico, gente de bem.
    E pra que dos cristãos receba louros
Expulsa do país judeus e mouros.




 
*
 
67
 
Os que se converteram a Jesus
Serão designados de cristãos novos;
Carregarão aos ombros outra cruz,
Ficam presos, tal galinhas nos covos.
Os seus olhos jamais verão a luz,
Tudo parecerá negro de corvos.
Esquecerão o Alá e Javé,
Agora têm outro credo ... e fé!   
 
 
 

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