FERREIRA DA SILVA
(textos sobre o concelho de Melgaço)
// continuação de 4/7/2024.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1562, de 18/7/1965: «ATÉ QUANDO? // «A sala de visitas da Vila, à qual o nosso município, por deliberação, designou toponimicamente por Praça da República, em homenagem à implantação gloriosa do atual regime, continua a apresentar aos visitantes e a todos nós os que vivemos dentro da sua periferia, um triste espetáculo de abandono e de desconchavado urbanismo. Há mais de duas décadas foi arrematado pela CGDCP o edifício e terreno da velha escola Conde de Ferreira, a fim de ali ser erguida uma moderna construção, destinada aos serviços da agência daquele importante estabelecimento de crédito neste concelho. Decorreram muitos anos e não obstante a criação da referida agência de Melgaço ter sido apreciada e aprovada pelo Conselho de Administração daquele instituto de crédito oficial, os seus serviços não puderam ser ali estabelecidos por falta de edifício condigno e apropriado aos seus fins. Entretanto o velho edifício das antigas escolas da vila, fustigado pela ação corrosiva do tempo, sem portas, sem janelas, e sem cobertura, vai-se desmoronando e ruindo, e assemelha-se a uma coisa monstruosa e hedionda, qual animal anti diluviano, de fauces escancaradas e esventradas, a desafiar a paciência dos melgacenses. O mostrengo horripila e anula o aspeto da linda praça, a mais central e a mais agradável do nosso burgo, tornando-a num feio recinto de logradouro público, vigiado pelas negras e abandonadas ruínas do que foi, no passado, o templo onde ilustres filhos desta terra receberam as primeiras luzes da instrução. Nas suas míseras ruínas, a coberto das sujas paredes, o povo faz ali os seus despejos de entulho, de detritos, e do mais que se não diz, transformando-as numa infecta montureira, nojenta e nauseabunda, a empestar os ares puros e saudáveis que sopram das elevações circundantes e se filtram através do nosso lindo céu azul. Temos conhecimento dos esforços, meritórios, em alarmantes ofícios dirigidos pelo senhor Presidente da Câmara à maior e mais protegida instituição oficial de crédito portuguesa, no sentido de resolver uma situação que não deve prolongar-se e que pode levar a população ao justo protesto de revolta contra os planos de urbanização. Porém, a Caixa faz orelhas moucas e não ouve as reclamações do município, ou ilude-as com a hipotética elaboração de um famigerado projeto a cargo dos seus serviços técnicos. Passa o tempo, traduzido em sucessivos ciclos anuais, e a respeito do projeto e do início da sua execução, quartel-general em Abrantes, isto é, tudo como dantes. Não está certo, não é de tolerar e de admitir que se olhe este capítulo da urbanização da nossa vila com indiferença, para não dizermos com desprezo. Há que forçar os serviços técnicos da CGD a apresentar urgentemente o projeto e a iniciar as obras da construção do edifício da agência ou a declarar, de uma vez para sempre, se estão ou não interessados na sua execução. Se continuarem interessados, devem iniciar as obras por administração direta ou por empreitada, mas já, sem perda inútil de tempo; se estão desinteressados, digam-no francamente e cedam a terceiros o imóvel arrematado, pelo preço da aquisição ou corrigido em função da desvalorização monetária. Não faltam aqui dedicados melgacenses que licitem na venda e se prontifiquem a construir, imediatamente, um edifício que não desmereça do lindo local ao cimo da praça, e do maior valor comercial. Em última análise, a Câmara, para vencer a inércia propositada e vergonhosa da Caixa, deverá deliberar a sua expropriação e anunciar a sua venda em hasta pública, entregando-a a quem melhores condições ofereça e mais rapidamente erga a respetiva construção. Cremos que só assim o assunto ficará resolvido e nos libertaremos do tripúdio e do desprezo votado à nossa terra.» // F.S.
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Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1563, de 28/7/1965: «COISAS
INEXPLICÁVEIS. // «Temos lido no noticiário dos jornais diários a atribuição de
verbas aprovadas pelo governo destinadas a melhoramentos de interesse público
concelhio, de há muito reclamados pela nossa Câmara e pelas populações rurais,
nas mesmas interessadas. Essas verbas, em comparticipação das votadas pelo
município melgacense são consignadas à abertura, pavimentação, alcatroamento,
etc., de estradas camarárias para a ligação e consequente serventia das
freguesias rurais à sede do concelho. A nossa Câmara, sem perda de tempo, tem
anunciado e posto a concurso público nos jornais de grande circulação, a
adjudicação de empreitadas, totais ou parciais, dos correspondentes trabalhos
das ligações rodoviárias das populações beneficiadas, com indicação do seu
custo calculado pelos serviços técnicos competentes. Sucede que as arrematações
têm ficado desertas em virtude dos preços de licitação serem inferiores ao seu
custo e não tentarem por esta razão os possíveis concorrentes. Como é que as
licitações voltarão a ser de novo anunciadas com um aumento de 10% sobre o
segundo e último concurso, no caso de continuarem desertas as respetivas
praças. Resulta desta ausência de concorrentes uma perda de tempo
injustificável com as publicações dos anúncios da segunda e terceira praças,
tanto mais quanto é certo que os serviços técnicos ao orçarem as obras sabem
muito bem que as verbas atribuídas são insuficientes para a execução dos
trabalhos a realizar. Desta forma, não há possibilidade de aparecerem
adjudicatários nas arrematações, visto que em quaisquer obras ou trabalhos,
públicos ou particulares, ninguém concorre com a certeza de nelas perderem
dinheiro ou ao menos de não serem compensados os seus esforços. Averiguadas as
coisa chegamos à conclusão de que os preços base dos salários calculados na
elaboração dos orçamentos pelos serviços técnicos oficiais, mesmo acrescidos de
20% (10+10), ficam muito distantes dos preços correntes na nossa região. É
sabido que no nosso concelho, mais do que em qualquer outro, respeitadas as
regras da proporcionalidade, o êxodo dos trabalhadores melgacenses para a
França se traduz por uma carência angustiosa da falta de mão-de-obra e esta
quando aparece exige uma compensação equivalente às dificuldades em obtê-la.
Considerar como limite máximo os salários dos trabalhadores das regiões onde a
mão-de-obra abunda ou não atravessa a crise que no nosso concelho se verifica,
com uma intensidade dia a dia mais alarmante, é perder tempo e trabalho em
especificações orçamentárias e condenar as licitações ao abandono total de
concorrentes. O problema afigura-se-nos que poderia solucionar-se com a revisão
dos preços do trabalho ora considerando, objetivamente, o custo corrente no
nosso concelho, em ordem a atrair aos concursos os empreiteiros interessados na
execução das obras. Parece que os serviços técnicos oficiais, ou estão longe
das realidades presentes ou organizam os orçamentos para inglês ver, na certeza
antecipada da sua insuficiência e consequentemente deserção de possíveis
concorrentes ou adjudicatários. E isto é inexplicável, revela teimosia que nos
abstemos de classificar e representa um prejuízo evidente para o nosso concelho
que continuará a esperar a realização das estradas municipais para o dia de
São-Nunca-à-Tarde! Por outro lado, a nossa Câmara sofre uma perda de prestígio
pois que, embora injustamente, não falta quem lhe atribua culpas que a outros
pertencem. Não poderá este triste caso ser levado a audiência e conhecimento de
Sua Excelência o Sr. Ministro das Obras Públicas?! // F.S.
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Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1564, de 8/8/1965: «GRÉMIO DA LAVOURA. // «No
espírito de todos os melgacenses está, de há muito, radicada uma justa e bem
delineada ambição: de transferir para sede própria, e condigna, o seu Grémio da
Lavoura. As dificuldades que se antolhavam para concretizar esta legítima e
inadiável pretensão são muitas e de várias ordens, a começar pela falta de
terreno, em local conveniente, acessível e central, que alguns proprietários
conservam avaramente, não se sabe porquê e para quê, uma vez que não constroem
nem vendem os terrenos a quem pretenda construir. Esta atitude estranhamente
egoísta e retrógrada inutiliza a boa vontade e o desejo daqueles que poderiam
empregar as suas disponibilidades financeiras no progresso e aformoseamento da
nossa vila, onde existem, nos locais apropriados e centrais, paredes ao alto de
velhos prédios em ruínas ou completamente desmantelados, que de há muitos anos
desafiam o camartelo municipal. Mas, adiante. Devido ao esforço e dedicação do
seu presidente, o Grémio da Lavoura do nosso concelho conseguiu, finalmente, o
terreno destinado à implantação do edifício da sua sede social. Poderá
entender-se que a configuração e declive do terreno comprometido para a
realização bem importante e necessária da construção não é ideal. Porém, a sua
situação, frente à Avenida da Circunvalação, compensa bem o custo dos aterros e
fundações da obra a erigir. Resolvido, como está, o problema do terreno e
convencionada a sua aquisição, certos estamos de que o edifício da sede social
do nosso Grémio da Lavoura vai ter breve concretização e nele serão instalados
condignamente os seus serviços administrativos e de armazéns gerais, destinados
à guarda e a acondicionamento das mercadorias e produtos de que a lavoura
necessita, de expediente, de tesouraria, de gabinete da direção, de sala de
reuniões e do mais que no projeto não deixará de considerar-se. Para tanto, a
Federação dos Grémios da Lavoura contribuirá com vultuosa verba de
comparticipação, em ordem a possibilitar ao nosso Grémio a realização deste
objetivo, que constitui a grande aspiração do nosso concelho. O movimento
comercial do nosso Grémio, os seus serviços de informação e de direção técnica,
e os relevantes apoios e vantagens prestados aos lavradores da nossa região,
justificam a instalação em edifício arejado, limpo e vasto, da sua secretaria,
do seu armazém e, de uma forma geral, dos seus serviços gremiais. Tudo se
prepara e conduz no sentido de, com a possível brevidade, se elaborar o projeto
do edifício social e se fixarem as comparticipações indispensáveis à sua
construção. Foi dado o grande passo para a corporização desta velha aspiração,
que se deve única e exclusivamente ao seu presidente da direção, ao qual
endereçamos os nossos maiores louvores; está assegurada a colaboração das
entidades oficiais competentes e os corpos diretivos do nosso Grémio vão
iniciar os seus trabalhos de congregação de esforços e de reunião dos elementos
necessários à realização desta importantíssima e útil obra, na qual todos os
melgacenses devem mostrar-se devotada e totalmente interessados. Na qualidade
de corresponsáveis pelo engrandecimento do nosso Grémio da Lavoura e de
interessados no bem-estar e defesa regional, aqui deixamos o nosso expressivo
apreço pelo êxito da promessa de venda do terreno a partir do qual se torna
possível e realizável o começo das obras de construção do edifício. Desta vez o
caso não ficará de letra morta e convencidos estamos de que o contributo para a
efetivação de tão bela realização será acarinhado por todos os melgacenses e
dele partilhamos e a ele nos associamos do coração.» // F.S.
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Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1568, de 12/9/1965: «DE REGRESSO. //
«Depois de gozadas umas bem merecidas férias em que o período de indispensável descanso,
na linda e pitoresca Vila Praia de Âncora, nem sempre nos proporcionou um
estado físico de saúde perfeito ou ao menos razoável, eis-nos de regresso às
lides deste semanário dispostos a continuar a orientação que lhe imprimimos
desde os primeiros números e iniciamos a sua publicação sob a nossa égide. Só
por razões de saúde interrompemos a nossa habitual colaboração, tratando de
assuntos respeitantes aos interesses locais, merecedores de uma anotação
objetiva e construtiva sobre a terra em que vivemos e à qual tanto queremos e
amamos. Vamos pois recomeçar, serena e firmemente, a missão a que nos devotamos
e que, aparte as apreciações de alguns zoilos invejosos ou maldizentes por
índole própria ou por vício de formação moral, tem merecido o aplauso dos bons
melgacenses ou daqueles que, oriundos de outras terras, aqui lidam e vivem à
sombra frondosa da hospitalidade e da consideração dos seus naturais e olham
com seriedade e com dedicação pelas coisas de Melgaço. Entendemos sempre, e
isto está no nosso modo de ser e de sentir, e até na nossa inteligência, que a
crítica deve ser feita com a máxima liberdade, observada a justa e conveniente
limitação imposta pelos preceitos morais e pelos princípios de educação e de
urbanidade que todos devemos manter na vida de relação e na ligação em que
cimentamos as nossas amizades. Por sistema e por princípios defendemos a
doutrina de que a vida só merece ser vivida quando alicerçada em conceitos
justos, moral e democraticamente praticados, em ordem a tornar a comunidade em
alfobre de sinceras e leais dedicações e com vista a uma construção cada vez
mais perfeita e melhor. É evidente que não é possível manifestar concordância
em todos os atos e manifestações dia a dia revelados, até porque há que
respeitar a diversidade dos padrões humanos e consequentemente as opiniões
resultantes do livre arbítrio de cada ser pensante. Todas as opiniões são
aceitáveis e defensáveis quando servidas por boas intenções e sinceramente
apresentadas com base no estudo individual, face aos problemas que a vida nos
cria e submete à nossa aprovação e exame. Neste período de interrupção
processaram-se muitas e importantes questões na vida local e na preparação de
soluções que importam e estão ligadas estreitamente ao engrandecimento e
necessidades do nosso concelho. Muitos e variados são os problemas a examinar e
a estudar sugeridos neste intervalo à nossa consideração. Alguns velhos, ou de
larga data, como o fornecimento de água potável à população, agravado por este
período de seca excecional, dos maus odores por carência de limpeza, e da
construção de fossas, enquanto não se resolve definitivamente a questão vital
do saneamento, pavimentação das ruas e estradas municipais, construção do
edifício da CGD, tratamento dos jardins e outros assuntos de urgente e adequada
resolução. Como novidade, teremos a compra do terreno destinado à construção de
uma sede condigna do Grémio da Lavoura, da lixeira municipal e feira de
porcinos. Ao rever atentamente estes problemas fundamentais e ao examinar as
novas questões suscitadas procuraremos discriminar por ordem de precedência
cada um deles e dizer da nossa justiça. Por agora limitamo-nos à promessa
formal de os tratarmos com aquela independência e lealdade que sempre usamos de
modo a contribuir com o nosso modesto subsídio para a sua solução. Dito isto,
saudamos com a mais carinhosa amizade os melgacenses e ousamos esperar a sua
relevância para a interrupção dos nossos artigos de crítica se bem que, como se
afirmou, tivemos justa causa a justificar o longo intervalo das últimas semanas
e consequente falta de notícias. Até breve, pois, caros melgacenses, e, a
todos, as nossas fraternais saudações e cumprimentos de regresso. // F.S.
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Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1569, de 19/9/1965: «PLANO DE ATIVIDADE PARA O ANO
DE 1966. // «Em obediência ao n.º 4 do art.º 77.º do Código Administrativo foi
apresentado e aprovado pelo Conselho Municipal o plano de atividade para o
próximo ano de 1966. Como se verifica das bases a seguir mencionadas, aprovadas
em consequência do referido plano de atividade para a elaboração do orçamento
ordinário do nosso município, respeitante ao ano de 1966, espera-se executar
determinado número de obras de capital importância concelhias que merecem o
nosso inteiro aplauso e representam um passo em frente no progresso e
engrandecimento de Melgaço e pelo qual está de parabéns a nossa Câmara. Algumas
das obras previstas e orçamentadas já estão em curso e outras serão realizadas
dentro das votações dotadas e constantes das bases seguintes: Base I – as
despesas são calculadas em 376 contos, aproximadamente, a satisfazer por conta
das receitas ordinárias, previstas em 361 contos, incluídos 110 de consignação
de receitas e pelas extraordinárias, provenientes de comparticipações para
obras, que se calculam em 2.900 contos. // Base II – Nas dotações para obras e
melhoramentos nas freguesias seguir-se-á o critério que vem sendo adotado da
sua utilização ser feita onde as obras e melhoramentos mais se justifiquem.
Tais dotações aproximadas, serão: 1) continuação da estrada Melgaço-Alcobaça,
por Fiães, com 735 contos; 2) idem, do caminho de Pomares a Cousso, com 40
contos; 3) idem, do caminho da Vila aos Portos, em Castro Laboreiro, com 20
contos; 4) idem, do caminho da E.N. 202-3 ao Rodeiro, em Castro Laboreiro, com
240 contos; 5) idem, do caminho de Fiães a Ervedal, com (?) contos; 6)
continuação do abastecimento de água ao Maninho, Alvaredo, com 10 contos; 7)
idem, a Aldeia de Cima, Paderne, com 10 contos; 8) reparação e beneficiação da
estrada de Paderne, com 8 contos; 9) idem, da estrada de Chaviães, 8 contos;
10) idem, de outras estradas e caminhos, com 6 contos; 11) idem, de fontes e
tanques, com 255 contos; 12) construção das casas dos magistrados, com 191
contos; 13) idem, da estrada de São Paio, com 160 contos; 14) idem, do
cemitério de Rouças, com 100 contos; 15) idem, do caminho de acesso às escolas
desta Vila, com 100 contos. Às importâncias aqui inscritas serão abatidas as de
comparticipações que ainda se recebam no presente ano. BASE III – As obras de
interesse público a levar a efeito e suas dotações aproximadas, são as da base
anterior e ainda as seguintes: 1) reforço do abastecimento de água e saneamento
da Vila, com 200 contos; 2) beneficiação e reparação do Largo da Capela em São
Gregório, com 23 contos; 3) idem, da casa de autópsias, no cemitério, com 12
contos; 4) pavimentação e alargamento do caminho da estrada à igreja de
Cubalhão, com 30 contos; 5) idem, do caminho do cemitério em Lamas de Mouro,
com 15 contos; 6) idem, do caminho da estrada 201 (!) à igreja de Paços, com 25
contos; 7) idem, do caminho do cemitério de Prado, com 20 contos; 8) idem, do
caminho da igreja de Remoães, com 20 contos; 9) reparação da ponte da Cela,
Gave, com 35 contos; 10) arranjo do Largo do Convento de Paderne, com 63
contos; 11) construção de uma lixeira nesta Vila, com 20 (?) contos. // As
importâncias aqui inscritas serão abatidas às de comparticipações que ainda se
recebem no presente ano. // BASE IV – não serão criados novos lugares. // BASE
V – sem prejuízo dos serviços, procurar-se-ão realizar todas as economias
possíveis. // BASE VI – não serão criadas novas receitas, nem aumentadas as
existentes. BASE VII – fica a Câmara autorizada a contrair um empréstimo na
CGDCP até ao montante de 450 contos, destinado à obra de abastecimento de água
e conservação de esgotos nesta Vila. // As bases anunciadas dão-nos uma imagem
nítida do que vai ser a atividade municipal do próximo ano, que aqui deixamos
registada com o maior regozijo e sincero aplauso, certos de que teremos a nosso
lado o apoio e a possível colaboração de todos os bons melgacenses. Assim o
desejamos e esperamos.» // F.S.
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Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1570, de 26/9/1965: «CASA DOS MAGISTRADOS. // É
sabido que o Ministério da Justiça luta com dificuldades, cada vez mais
insuperáveis, para conseguir um recrutamento selecionado de magistrados
oficiais que administrem nas comarcas permanente atividade judicial. Um dos
motivos, por ventura a razão capital da falta de magistrados, reside na
exiguidade dos vencimentos atribuídos a estes qualificados funcionários, aos
quais são exigidas excecionais provas de competência e de saber e uma devoção
total em defesa da seriedade, do prestígio e da projeção social da sua elevada
função de promotores e de julgadores. Não consideramos possível um recrutamento
eficaz, revestido de indispensáveis condições de garantia em matéria de
competência, de integridade moral e profissional, e de execução ativa,
permanente e efetiva da sua alta função, sem prévia independência económica e
respeitosa consideração pela posição especialíssima que no foro ocupam os
magistrados judiciais. Toda a gente de bom senso, com noção de disciplina e de
justiça reconhece que, o prestígio da magistratura judicial, constitui condição
essencial do equilíbrio das relações nas sociedades bem organizadas e dos seus
fundamentos morais. Assim, ao Estado cabe o dever de olhar carinhosamente pela
situação moral e material daqueles que administram a Justiça e nas comarcas
desempenham a maior e mais salutar função de regular, criteriosamente, os
direitos e obrigações legais dos cidadãos. Na realidade, ninguém poderá exigir
sacrifícios, árduo trabalho, integridade e devoção total no exercício de uma
função tão importante, sem que se assegure um mínimo de compensação material e
de independência económica aos que moral e socialmente se sentem obrigados a
aplicar com imparcialidade, justiça e humanidade, os rígidos preceitos da lei. E
se a questão dos vencimentos dos magistrados constitui um problema básico
quanto à seleção e ao nível social compatível da sua categoria, outro problema,
também essencial, constitui o do alojamento condigno, em ordem à sua instalação
e de suas famílias nas melhores condições de conforto e bem-estar visto que, só
deste modo, é lícito exigir-se-lhes uma estadia permanente e ininterrupta no
exercício da sua nobre função. Desde longa data nos batemos com afinco e firme
decisão pela construção, na nossa comarca, da casa dos magistrados,
libertando-os e possibilitando-lhes uma residência arejada, limpa e vasta, fora
de pensões deficientes, onde tudo falta, compatíveis com o seu bem-estar e
dignidade da sua alta missão social. Os serviços da Justiça requerem sossego,
acomodações apropriadas, independência e dignidade e, as comarcas que não
facilitam o seu exercício não podem pretender a sua manutenção e existência. O
projeto da casa dos magistrados de Melgaço, de há muito foi elaborado e o Cofre
dos Funcionários da Justiça subsidiou e pôs à disposição da Câmara Municipal
valioso contributo para início da sua edificação. Porém, os Serviços de
Urbanização, talvez demasiado exigentes, não concordaram e rejeitaram o projeto,
tal como foi elaborado, impondo modificações várias e alterações no edifício
projetado pelos serviços técnicos competentes que, inclusivamente, afetam a
fachada e as suas linhas arquitetónicas. Por este motivo não foi possível
iniciar, até agora, a construção do edifício e o projeto teve de ser revisto,
alterado e modificado e só há poucos dias foi devolvido à Câmara e por esta
devidamente apreciado e aprovado. Espera-se agora que os Serviços de
Urbanização se deem por satisfeitos e autorizem o começo das obras, parecendo
que finalmente esta importante realização de embelezamento e engrandecimento concelhio
e de incontestável valor do prosseguimento normal da vida judicial e habitação,
em boas condições, dos magistrados está em vias de execução. Pena foi que os
serviços burocráticos tenham retardado e demorado tanto tempo a construção de
uma obra que se impõe e é reclamada por todos os melgacenses visto que só desta
forma a comarca encontrará plena justificação. Muito embora o local de
implantação do edifício não seja ideal, o certo é que entre a existência deste
e a sua falta não há que hesitar e por onde escolher. Vamos pois ter a Casa dos
Magistrados, no Largo da antiga Feira Nova, sob a demolição do atual mercado,
muito perto do “Domus Municipalis” e instalações do tribunal judicial e esta
certeza enche-nos de regozijo e leva-nos a dispensar os maiores encómios aos
esforços do nosso município que, assim o esperamos, não deixará de continuar a
dispensar a sua boa atenção e instância para que se inicie brevemente uma obra
que pertence e é motivo de orgulho da nossa terra.
// F.S.
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Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1572, de 17/10/1965: «ATIVIDADE ELEITORAL. // NOTA:
este artigo, assinado por F. S., não aborda assuntos relacionados com o
concelho de Melgaço, por isso, não se transcreveu.
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Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1573, de 24/10/1965: «ROMAGEM SAUDOSA.
// «Continuando a tradição realiza-se neste concelho no próximo 2 de Novembro a
visita aos cemitérios onde jazem os nossos queridos e saudosos mortos e pelos
quais são rezados piedosos responsos. É uma romagem ungida do mais fervoroso
respeito e de profunda saudade àqueles que ali descansam em paz na graça do
Senhor e continuam ligados à nossa imperecível lembrança. O campo santo
reveste-se nesse dia do colorido dos crisântemos e outras espécies de
fanerogâmicas a emoldurar a terra fria das campas e as lajes tumulares dos
mausoléus, onde repousam as ossadas dos entes queridos, familiares e amigos,
que o nosso coração recorda dolorosamente e consagra no (…) da mais pungente
saudade. Por toda a parte, no espaço destinado à guarda e descanso dos mortos,
as flores desfolham pétalas do mais vivo pesar e a cera derrete-se nos luzeiros
das velas que iluminam frouxamente os recintos sagrados, como se pretendessem
chamar a atenção dos visitantes para os clarões fugazes mas intensos que
durante a noite se desprendem em fogos-fátuos da própria terra onde a vida se
encerrou. A perturbadora romagem neste dia de finados (…) na maior unção e
respeito os espíritos dos que ali acorrem e rezam piedosamente as mais votivas
orações, por alma e pelo eterno descanso dos seus chorados mortos. Desde sempre
nos incorporamos na procissão que percorre o cemitério municipal, com a mais
forte emoção e o mais religioso recolhimento. Não é porque diariamente esqueçamos
de honrar os que perdemos do nosso convívio e a cuja presença imaterial
prestamos comovida homenagem, mas porque nesta visita anual o nosso coração
vibra mais intensamente o amor que nos liga aos que a parca da morte ceifou e
se sente menos [só?] na prática do culto que lhes é devido. Na terra do nosso
nascimento o dia de finados corresponde invariavelmente ao dia 1 de Novembro, dia
de todos os santos, e como de costume ali iremos prestar a nossa triste
homenagem àqueles com quem convivemos ou nos deram conforto: pais, familiares e
amigos; e tantos e tantos são, e é sempre com a maior emoção que os nossos
lábios e o nosso pensamento ciciam as orações que nos ensinaram em criança e
que a nossa memória ainda não esqueceu. Também aqui, no dia seguinte, 2 de
Novembro, nos habituamos a desfiar junto dos que por afinidade nos pertencem, o
rosário das mesmas orações e da nossa mais vivas e saudosa recordação. Temos
como certo que nesta triste visita a nossa mágoa e a nossa dor assume uma
dimensão extraordinária que nos nivela e relega ao esquecimento – pelo perdão,
as ofensas, e protérvias recebidas. Bem consideradas as coisas, nesta vida
efémera em que vegetamos, nada sobreleva a beleza e a pureza do espírito
perante o contacto com a imensidade e o fatalismo da morte! Por índole e por
formação intelectual não somos um místico, nem sequer um crente na verdadeira
aceção da palavra: somos, isso sim, um espírito desempoeirado, reto e são, que
vive do pensamento, das amizades, e dos deveres que socialmente nos incumbe,
dentro do racionalismo e também da espiritualidade que nos move e determina,
face às conceções livremente aceites. Nas romagens aos campos santos da nossa
cidade e de Melgaço não precisamos de incitamentos em matéria de fervor
religioso no culto do respeito e da divinização dos que ali jazem, aureolados
pela nossa indelével lembrança, pela nossa mágoa e pela nossa imensa saudade.
Mais um ano na celebração do culto dos mortos; mais um estágio no religioso e
respeitoso silêncio para que a nossa alma se liberte do que há material na vida
e se eleve um pensamento superior e no incenso espiritual, que nos aproxima e
une no mistério indefinido e incomensurável da morte. Que os nossos e os vossos
mortos descansem em paz.» // F.S.
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Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1574, de 7/11/1965: «IMPRENSA REGIONAL.» // NOTA: o
artigo em causa não se debruça sobre temas relacionados com o concelho de
Melgaço, daí não ser publicado neste livro.
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Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1575, de 14/11/1965: «ARTISTAS NATOS. // De quando, em vez, a natureza dota certas, e
determinadas, pessoas de um sentimento criador que as encaminha a emoções
estéticas e a aplicações às suas faculdades, à realização de conceções que se
encontram fora das condições normais. Estas pessoas, dotadas de sensibilidade
especial, podem classificar-se de eleitos e, do sentido artístico que revelam,
resultam estádios emotivos e de imaginação que os impõem aos seus semelhantes, muitas
vezes, à margem do conjunto de preconceitos e das regras que regulam a
aplicação da arte. Numa obra de arte nota-se, em simples exame, o muito de
prazer que ao artista dá a execução da sua ideia e o propósito de transmitir
aos outros a sua emoção estética e do sentimento de beleza que o determinou na
sua realização. Por isso se diz que a obra de arte supõe em primeiro lugar uma
emoção ou ideia de beleza no espírito do artista; em segundo lugar a
concretização dessa ideia-emoção em forma sensível material, graças ao seu
trabalho; em terceiro lugar a existência de contempladores da obra de arte
capazes de receber desta a emoção ou ideia da beleza que nasceu no espírito do
artista e que ele se propôs transmitir através da sua obra. Desta forma há uma
série contínua de ação e reação entre os artistas e os apreciadores que fixa o
caráter da arte em uma determinada época. Abstraindo das pinturas e gravuras
murais, encontramos no velho Egipto grande desenvolvimento artístico bem como
na Mesopotâmia e nas grandes escolas (!) da Caldeia, dos islamitas, dos
hititas, e ou (…) que floresceram na mais remota antiguidade. Não nos propomos
dar notícia do que foi e representou, desde os mais recuados tempos até ao
presente, a arte e os seus cultores e a influência das suas escolas nos
conjuntos gregários em que se (…) os povos com caraterísticas étnicas comuns. Se
os grandes artistas nos fazem tremer de emoção perante as suas obras e nos
inquinam de um sentimento de beleza quando nos demoramos na sua contemplação, o
nosso espírito desligado das diversas escolas e da luz divina que dela irradia,
sente-se surpreendido ao contemplar as obras de arte decorativa, saída das mãos
e do pensamento criador dos artesãos que não tiveram outra escola e outra
cultura que não seja a sua superior inspiração. Em muitos casos, como já
dissemos em outro lugar, o artesão não é só trabalho rude, é também expressão
de inteligência e de exaltado idealismo. Tenhamos em vista o que sucede com
Raul Ferreira Cardoso (Cataluna) com o andor em folha-de-Flandres em foi
entronizada a Virgem de Fátima, trabalho de grande inspiração e beleza,
oferecido à Padroeira e que, oficialmente, se incorporou pela primeira vez na
procissão que percorreu a vila no dia consagrado da 5.ª feira da Ascensão.
Agora, os nossos olhos maravilhados demoraram-se longo tempo e durante
vários dias, frente à montra do comerciante senhor Adriano Cerdeira, à Praça da
República, embebecidos na apreciação de quatro lindas lanternas lavradas e
respetivos apoios, trabalho do mesmo artista-artesão, desta vez em latão
cromado, bem como de um oratório e uma miniatura sacra lindamente trabalhados e
superiormente concebidos. As lanternas e respetivos apoios destinam-se à igreja
matriz da Vila e constituem uma valiosíssima oferta do seu autor, avaliada em
cerca de dez mil escudos; o oratório destina-o à sua casa de habitação e a
miniatura à casa do comerciante expositor. O trabalho decorativo destes
objetos, tanto no picotado como no rendilhado dos motivos e na conceção das
colunas que os enquadram, constituem sinal de bom gosto e uma lavra finíssima
em estilo renascentista, com representações de barroco de mistura, e tudo ali
se desenvolve em harmoniosas linhas e intuição artística que bem merece a
admiração e o apreço dos melgacenses. Na realidade, a decoração e a conceção
não se confina aos moldes de um estilo escolástico mas a um idealismo, uma
emoção estética e a um sentimento de beleza que revela a fina sensibilidade do
artista. Executado em formas desconhecidas, de estilo próprio, natural, tudo
ali é inspiração individual, expressão interior voltada para dentro da alma e
requintada sensibilidade do grande artista que, alheio a escolas, a executou de
imaginação. Homens destes, bafejados pelo dom da Providência, merecem ser acarinhados
e benditos por toda a população, e a esse ato nos associamos.» // F.S.
*
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1576, de 21/11/1965: «INICIATIVA MERITÓRIA. // «Já estamos fatigados de chamar a atenção de quem
compete e de solicitar urgentes providências para a remoção das tristes ruínas
da antiga escola primária “Conde de Ferreira” que se elevam ao cimo da Praça da
República, a nossa sala de visitas, como espantoso padrão da incúria e
relaxamento oficial, transformado em vazadouro do rapazio e local preferido de
despejo das imundícies da população circundante. Se voltamos novamente a
lembrar que se impõem uma atitude enérgica e imediata quanto à construção no
referido local do edifício destinado aos serviços da CGD, move-nos o propósito
de defesa do urbanismo da Vila e da eliminação do escarro nojento daquelas
feias ruinas e, desta vez, a questão nascida da venda dos materiais e terrenos
pela Junta de Freguesia, cujo produto foi consignado à louvável e meritória
iniciativa da construção de um bairro de moradias para a instalação de classes
pobres. O problema habitacional referente às casas de renda económica e das
casas para famílias pobres tem sido constante preocupação do governo e
generosamente auxiliada pelo Fundo do Desemprego. Animada pela concessão de
subsídios, isenções tributárias, assistência técnica e económica da definição
da ordem social existente e outras facilidades no sentido de possibilitar a
construção de moradias, a Junta de Freguesia da Vila deliberou, muito
acertadamente, investir o valor do produto da arrematação da antiga escola
Conde de Ferreira num bairro de dez moradias para pobres, a construir no
terreno baldio sob a sua administração, sito no lugar da Assadura, na periferia
do nosso burgo. Na face direita da estrada que liga a Vila a São Gregório, o
baldio paroquial eleva-se por entre tufos verdes de pinhal, como uma varanda de
largo miradouro sobre os floridos socalcos que descem numa escada monumental
sobre as margens do rio Minho, limitada por pano de fundo surpreendente,
constituído pelas montanhas e povoações ribeirinhas da Galiza, por entre as
quais serpenteia a linha férrea que liga Vigo a Ourense. Como vista panorâmica
é das melhores que se disfruta nesta privilegiada região do Alto Minho. A
construção do bairro neste local de sonho foi adjudicada por trezentos e
setenta contos de réis e deverá ficar concluída no próximo ano de 1966. A
importância da obra foi custeada pelos duzentos contos recebidos da transmissão
em hasta pública da referida escola e terrenos anexos e de mais cem contos
atribuídos pelos serviços oficiais a título de comparticipação. A Junta de
Freguesia, no louvável desejo de realizar um melhoramento necessário e útil às
classes mais desprotegidas, não hesitou em ficar a descoberto com a diferença
entre o valor da adjudicação e do capital recebido, ou seja, de setenta contos
de réis. Verifica-se que este défice inicial foi há muito ultrapassado, em
razão do aumento constante dos salários da construção civil resultante da
falta, dia a dia mais flagrante, do pessoal operário e dos materiais, que
sofrem o efeito da lei da oferta e da procura, que o problema emigratório
agravou constantemente e a desvalorização do poder de compra da moeda elevada
em progressão contínua. A iniciativa da Junta está condenada, desta forma, a
demorada estagnação se não houver da parte de todos: entidades oficiais e
particulares, um esforço sério e decidido para prever ao necessário à sua
efetivação. É preciso considerar que além do preço inerente à construção civil
das habitações é preciso contar com a abertura de acessos convenientes e
apropriados, de defesas dos desníveis do terreno, do abastecimento de água
potável com as respetivas canalizações e depósitos, do fornecimento de energia
elétrica e da implantação de uma rede de esgotos indispensável ao estado
sanitário dos futuros utentes. É evidente que a questão dos caminhos, seus
aquedutos, luz e água, constitui encargo normal da Câmara Municipal que,
simultaneamente, deverá dispensar todo o seu interesse e valimento para a
obtenção de novas verbas de comparticipação. O que faltar, depois de esgotados
os donativos oficiais, poderá ser subsidiado pelos particulares por via das
formas habituais a este género de auxílios, peditórios individuais, cortejos de
oferendas, bandos (!) precatórios e outros que venham a ter-se por viáveis e
possíveis. Temos de reconhecer que se trata de uma iniciativa meritória e de
uma obra útil, que virá a beneficiar as classes mais desprotegidas da Vila e
que, todos quantos pelo bem-estar alheio de interessam, devem acarinha-la e
concorrer generosamente para a sua conclusão.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1577,
de 28/11/1965: «GRÉMIO DA LAVOURA. // «Na respetiva sede realizou-se no passado
dia 19 (?) de Novembro último a reunião ordinária do Conselho Geral do Grémio
da Lavoura deste concelho com a seguinte ordem do dia: 1.º - apreciação e
aprovação do 1.º orçamento suplementar ao ordinário para o ano em curso; 2.º -
apreciação e aprovação do orçamento ordinário para 1966; 3.º - eleição da mesa
do Conselho Geral; 4.º - autorização da direção para efetuar a compra do terreno
destinado à sede do Grémio e respetivos armazéns; 5.º - apresentação e
apreciação de qualquer assunto de utilidade para a vida do organismo. Quanto
aos números 1.º e 2.º foram devidamente apreciados e estudados aqueles
orçamentos, suplementar e ordinário, tendo sido aprovados por unanimidade e
verificadas as verbas inseridas nas receitas e despesas, avaliadas e previstas
com toda a correção; notado o seu perfeito equilíbrio fica a respetiva direção
habilitada a satisfazer os encargos e a cobrar as receitas orçadas. Por
proposta do presidente da direção foi reconduzida a Mesa do Conselho Geral,
eleita por aclamação e por unanimidade e relativamente ao número 4.º debateu-se
com o maior interesse e minúcia o problema da compra do terreno destinado à
nova sede do Grémio e seus armazéns e autorizado o vogal Dr. António Cândido
Esteves a outorgar e assinar em representação da direção a escritura de compra
e venda do referido terreno. Vai finalmente o nosso Grémio da Lavoura ser
instalado em casa própria, face à avenida de circunvalação da Vila, de modo a
ficarem convenientemente acomodados os seus serviços administrativos e
comerciais. Para tanto, está assegurada vultuosa comparticipação da Federação
dos Grémios da Lavoura e da Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes o que
permitirá o início imediato da construção do respetivo edifício, cujo projeto
está a ser elaborado por técnicos competentes, o qual assegurará a montagem de
todos os serviços com os requisitos necessários à sua boa ordem e eficiência,
comodidades dos associados e corpos diretivos e constituirá uma nova unidade
habitacional moderna, digna da nossa terra. Para a realização desta importante obra
trabalhou com afinco e esforçado dinamismo a atual direção do nosso Grémio, a
qual merece os louvores e o justo apreço de todos os agremiados e da população
melgacense. Fazemos votos, os mais sinceros, para que esta meritória iniciativa
sirva de exemplo à execução de tantas outras que, há muitos anos, aguardam
realização e que de há muito deveriam ter vencido a inércia em que vegetam nos
serviços burocráticos oficiais, em total estagnação. Por proposta do
conselheiro e ilustre melgacense, Dr. António Augusto Durães, foi novamente
ventilada a questão do estabelecimento da Adega Cooperativa local e
apresentadas sugestões quanto às modificações tidas por úteis, aos estatutos da
sociedade a constituir pelos viticultores interessados. O assunto foi
apresentado e discutido com ardor e entusiasmo e dentro em breve vai ser
dirigida uma consulta geral aos viticultores que desejem agrupar-se em
sociedade, em ordem a que a ideia em marcha obtenha concretização e se torne em
realidade. Já por mais de uma vez dissemos que o estabelecimento de uma adega
cooperativa traria aos viticultores concelhios relativa tranquilidade e
segurança na venda das suas colheitas a preços compensadores, libertando-os
ainda dos complicados problemas de seleção, envasilhamento e conservação dos
seus vinhos, bem como da trabalhosa faina das
vindimas, nesta época em que a mão-de-obra falha e encarece o produto. Se em
anexo à adega cooperativa as instalações de destilação e aproveitamento de
subprodutos forem acrescidas de uma instalação de queima para os vinhos de
baixo teor alcoólico ou deteriorados, a situação vinícola do nosso concelho
ficaria praticamente resolvida e os nossos viticultores libertos de dores de
cabeça e de aflições. Seria interessante que os maiores produtores encarassem
desde já este assunto, com olhos de ver e auxiliassem com a melhor boa vontade
esta iniciativa, de modo a possibilitarem a sua realização; os outros, os de
menor produção, aderirão por acréscimo visto que dos seus próprios interesses
se trata. Voltaremos ao assunto com maior desenvolvimento.» // F.S.
*
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1578, de 5/12/1965: «COMEMORAÇÕES
VICENTINAS. // «Decorreram em todo o país de 29 de Novembro a 1 do mês corrente
os atos comemorativos do Dia de Gil Vicente, com a colaboração do Ministério da
Educação Nacional e em todos os estabelecimentos do ensino, inclusive nas
escolas de ensino primário, palestras alusivas à vida e obra de Gil Vicente e
recitais e representações de peças vicentinas pelos respetivos alunos. Pode
afirmar-se que as comemorações do V centenário de Gil Vicente propiciaram uma
comunhão (…) do fundador do nosso teatro com o povo português. O professor
Vitorino Nemésio, presidente da Comissão Nacional das Comemorações Vicentinas
salientou a importância, a todos os títulos notável, do que revestiu para o
panorama cultural do nosso país a consagração do fundador do teatro português,
a qual não poderia aliás de ser promovida (…) por dizer diretamente respeito a
um figura que exige estudo atento por parte da nossa juventude, suscetível de
através dela se poderem traçar perspetivas de inegável importância para a boa
compreensão das coordenadas do nosso tempo. Nada menos de seis companhias
tiveram a seu cargo o desempenho de récitas teatrais: a do Teatro Nacional, a
do Teatro Nacional da Câmara de Madrid (!), a do Teatro Universitário do Porto,
a Companhia Nacional de Teatro, o Grupo de Teatro do (…) Cultural do Algarve, e
o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. A memória gloriosa de Gil
Vicente foi condignamente consagrada e perdurará ainda através do selo
comemorativo emitido pelos CTT, pela medalha mandada cunhar pelo Ministério da
Educação Nacional, da autoria do escultor Vasco Pereira da Conceição, da edição
definitiva das suas obras e de sua completa biografia do maior interesse e
utilidade para os estudiosos das Letras Pátrias. O célebre poeta português que
parece ter vivido de 1465 a 1537 nasceu, segundo a maioria, em Guimarães, foi o
fundador do Teatro Nacional e segundo Henrique Perdigão, um dos mais brilhantes
engenhos das letras pátrias, a quem justamente cognominaram o Plauto português.
É de 44 o número de peças escritas no período de 34 anos, que tal foi o da sua
atividade literária e destas peças 16 são em português: Auto de Mofina Mendes,
Pastoril Português, Feira, Alma, Barca do Inferno, Barca do Purgatório,
História de Deus, Ressurreição, Cananeia, Exortação da Guerra, Cortes de
Júpiter, Serra da Estrela, Romagem de Agravados, Velha da Horta, Almocreve,
Celorico da Beira. Foram escritas 11 em espanhol e 17 nas duas línguas
(bilingues). Quase todas estas peças tinham a designação de autos e nelas se
faziam alusões e referências aos homens e costumes do tempo, não poupando a
sátira mordaz e cáustica do autor, nem os grandes potentados. Génio
verdadeiramente criador, cheio de originalidade e de admirável visão crítica,
Gil Vicente não foi só conhecido e admirado dentro do nosso país, mas também no
estrangeiro, chegando mesmo a afirmar-se haver “Erasmo” aprendido de propósito
o português só para poder apreciar as poesias do nosso Molière, a quem deu um
dos primeiros lugares entre os poetas cómicos. Tendo-lhe sido dado o mote:
“mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube” compôs uma das suas
melhores obras, a primeira comédia regular do teatro português – A Farsa de
Inês Pereira. Há quem afirme que o poeta G.V. e Gil Vicente, ourives, autor da
célebre custódia de Belém, são uma e a mesma pessoa, parecendo, no entanto, que
das investigações feitas, não há identidade entre o poeta e o ourives da rainha
D. Leonor. Nestas comemorações do V centenário vicentino, através de
conferências, espetáculos e outras manifestações culturais, tanto em Portugal
como no estrangeiro, cujos centros de cultura se associaram às homenagens
prestadas a G.V. que, depois de Camões, é talvez o maior das letras nacionais e
foi, no seu tempo, o mais notável autor dramático da Europa. A título de
modesto contributo damos aos nossos leitores a visão da imensa figura do
fundador do teatro português e um dos nossos maiores poetas.» // F.S.
*
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1579, de 12/12/1965: «ESTACIONAMENTO PERIGOSO. // Temos
a convicção de que por mais de uma vez revelamos o perigo que representa a
falta de uma nova e consequente sinalização em ordem a estabelecer
obrigatoriamente o sentido único do trânsito de veículos de qualquer espécie na
rua do Rio do Porto, pelo menos no troço compreendido entre a intersecção da
artéria que se dirige aos Paços do Concelho e a que se dirige à zona dos cafés
da Vila. O que se passa nessa rua, sobretudo frente aos (…) constitui perigo
permanente para os veículos que demandam a Vila por esse lado, por impedimento
constante de ambos os lados da faixa de rodagem nos dois sentidos, com veículos
automóveis, motociclos, cociolos e bicicletas, a ponto de tanto o eixo da rua
como os próprios passeios dificultarem, e até impedirem, a condução e o
trânsito, inclusive de peões! Ao longo dos passeios, uma fila contínua de
veículos, motorizados ou não, apoiados nas respetivas (…) projetam os guiadores
para além da metade do pavimento destinado ao trânsito dos peões; por sua vez, impedindo
o trânsito e ao longo da faixa de rodagem, veículos automóveis, por via de
regra mal arrumados, nos dois sentidos e paralelos, reduzem de tal forma o
exíguo espaço reservado à passagem que os condutores só com grande perícia
conseguem passar quando não são compelidos a (esperar?) o seu
descongestionamento ou mudança dos veículos que tomam a rua na quase totalidade
e (assim?) impedem o trânsito. Temos assistido a manobras difíceis e perigosas
com veículos que pela mesma rua transitam e a em- (…) laterais entre estes e os
que ali estão estacionados e vedam ou dificultam a sua passagem. Daqui resultam
prejuízos e demoras para os que (…) e questões com os estacionados, o que
transforma aquela artéria, das mais movimentadas da Vila, numa feira de
barulhentas discussões, reclamações e de incidentes que já têm terminado em
agressões pessoais. Parece que o assunto se resolveria com vantagem, e a
contento de todos, por via de uma postura que estabelecesse um único sentido de
trânsito, pelo menos no troço já mencionado, seguido da indispensável
sinalização nos dois extremos e de uma fiscalização eficiente pela G.N.R., de
modo a vigiar rigorosamente o estacionamento dos veículos no lado
correspondente ao sentido de trânsito permitido e ainda da sua conveniente
arrumação. Assim, como está, não pode continuar: estacionamento em ambos os
sentidos do trânsito de veículos paralelos e mal arrumados, tomando quase toda
a faixa de rodagem da rua e respetivos passeios, a ponto de impedirem a
passagem dos veículos pesados e dos próprios peões. As ruas dos aglomerados
urbanos destinam-se ao livre-trânsito das pessoas, ou veículos, que por elas
tenham de passar e não podem substituir os parques de estacionamento nem devem,
em qualquer caso, permitir o estacionamento demorado nos dois sentidos e em
filas paralelas, dos veículos ali colocados a esmo, com prejuízo daqueles que
por elas tenham necessidade de transitar e estes são o maior número e que mais
pagam para a sua conservação. Em perfeito rigor a nossa edilidade poderia
estudar com prudente atenção e objetividade as normas de trânsito que se
impõem, tanto no que respeita às entradas e saídas da Vila como relativamente
ao percurso nos seus arruamentos. Este problema tem merecido o maior e melhor
exame de quase todos os municípios do país em relação às suas cidades, vilas, e
até às povoações de certo movimento com vista a resolver, dentro do possível e
do razoável, as necessidades cada vez mais imperiosas do trânsito. Na nossa
Vila o problema é instante e premente em virtude do avultado número de veículos
automóveis pesados e ligeiros que nas suas ruas circulam, propriedade de
comerciantes, industriais e particulares, sobretudo de matrícula francesa,
sendo certo que, quantos a estes últimos, o trânsito intenso revela o propósito
evidente de manifestações de ordem sumptuária, e não a necessidade de
deslocação por motivo de atividade comercial ou pessoal visível. E se o número
de veículos existentes neste concelho demonstra um índice de vida desafogada,
de alto nível, o seu uso pode e deve ser condicionado às elementares regras de
trânsito e às legítimas comodidades e direitos da população a não ser
atropelada e de passar livremente pelas ruas sem diminuição ou lesão da sua
atividade normal.» // F.S.
*
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1580, de 19/12/1965: «COMEMORAÇÃO NATALÍCIA.» // NOTA:
este artigo debruça-se sobre um tema genérico, não focando o concelho de
Melgaço em especial, daí não figurar neste livro.
*
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1581, de 26/12/1965: «OCASO E ALVORADA.» // NOTA:
este artigo foge na sua quase totalidade a tudo que diz respeito ao concelho
melgacense, pelo que se resolveu não inseri-lo no livro.
*
Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1582, de 2/1/1966: «PAVIMENTAÇÃO DAS RUAS. // «Quem
por necessidade tenha de percorrer a rua Direita da nossa vila, dentro das suas
vetustas muralhas, no fim da qual se situa o salão do Cine Melgacense (***),
dificilmente se adapta e sofre a irregularidade do seu pavimento, que data dos
primórdios da fundação da praça-forte de Melgaço. Foi esta rua aberta na parte
central da cintura de muralhas interiores que fechavam e defendiam o acesso ao
nosso burgo, onde residiam os seus moradores e ainda moram os habitantes da
vila, sob as vistas da altaneira torre de menagem, mais conhecida entre nós por
castelo. O seu pavimento é constituído em calçada de granito à portuguesa, como
era habitual nas antigas construções, quando os senhorios dos domínios urbanos
não optavam, por motivos de ordem económica, pelo lajeado ou lajedo que vemos
cobrir as ruas das velhas vilas e cidades de certa importância. A ação
destruidora do tempo, sobretudo das chuvas e o movimento dos habitantes e dos
seus instrumentos de transporte e respetivos animais de tiro e sela, não só
provocaram o desgaste das pedras da calcetaria, mas também compeliram o terreno
à cedência ou abaixamento da calçada nos sítios em que a sua estrutura revela
fundações mais fracas ou menos cuidadas por deficiência de enchimento ou
defeito de constituição da terra que preenche os vazios da rocha onde foi
implantada. Desta sorte, a calcetaria apresenta-se irregularíssima, aos altos e
baixos, traduzindo-se por formas agudas e arestas vivas e em certos pontos por
cotas de desníveis mais próprios do empoçamento de águas do que da utilização
pessoal dos transitários. O pavimento assim desnivelado dificulta penosamente a
marcha dos peões, ameaça a suspensão dos veículos que por ele transitam,
atormenta e magoa os pés dos caminhantes e conspurca de lama, ou de poeira,
pessoas, carros e animais, segundo as estações do ano, determinadas pelos
equinócios e solstícios de verão e de inverno. Não exageramos afirmando que a
rua principal da vila, cognominada de direita, para melhor significar que é
torta, onde vive, aglomerada em colmeia, a maioria da população e onde existem
edifícios caraterísticos de valor histórico, está pura e simplesmente
intransitável. E se deste modo se apresenta a rua principal da vila
intramuralhas, as ruas transversais e as que delimitam a parte baixa, à ilharga
da nova avenida de circunvalação, talvez secundárias mas onde foram construídos
monumentos valiosos, pertença da Misericórdia, nem é bom falar, com os seus pavimentos
praticamente destruídos e matizados de autênticas crateras que no inverno
exigem embarcações para serem atravessadas. Sabemos bem que a nossa Câmara não
está em condições financeiras de remediar, de repente e de uma só vez, os
inconvenientes que deixamos apontados. Porém, por etapas de seguidas
empreitadas, e com o auxílio das comparticipações do Estado, o problema oferece
solução viável fácil e breve. Apreciemos em primeiro plano o caso da espinha
dorsal do velho burgo, a chamada Rua Direita ou, com mais propriedade, Rua
Torta, que da igreja matriz se prolonga até à porta sul da vila, ostentando uma
inscrição vandalicamente deteriorada da reconstrução da muralha, centrada pelo
antigo edifício da Domus Municipalis e pela bela Torre de Menagem. Como reparar
imediatamente o pavimento desta caraterística artéria, face às possibilidades
financeiras do nosso município? Em nossa modesta e desvaliosa opinião,
parece-nos que poderia começar-se pelo levantamento da calçada e nivelamento do
terreno e, seguidamente, recolocar a mesma calcetaria depois de normalizada a
estrutura do pavimento. Realizada esta primeira operação, passados um ou dois
anos da regularização, ou seja, o tempo necessário para a consolidação das
fundações, e reparados os desnivelamentos verificados, proceder-se-ia à betuminização
do pavimento, asfaltando-o, ou alcatroando-o, a fim de estabelecer a necessária
coesão da calçada pela aderência dos seus elementos de constituição. A rua
ficaria nivelada e o piso suave e duradouro. Os gastos da reconstrução
limitar-se-iam, inicialmente ao levantamento da atual calcetaria, ao enchimento
do respetivo leito com uma razoável camada de areia e à recolocação das pedras,
obedecendo às regras usuais de nivelamento. Decorrido o tempo indispensável à
consolidação, o pavimento tornar-se-ia numa placa maciça e indivisível por meio
da aplicação do aglomerado aconselhável ou de simples betuminização. Quem
ousará afirmar que a nossa Câmara não está em condições de realizar este
melhoramento? Nós, não! Outros que o digam, se são capazes…»
F.S. //… continua.
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