SONETOS DO SOL E DA LUA
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 16/07/2023.
O
RAPAZ DAS PINHAS
(147)
Trepava
aos pinheiros com destreza,
Selecionava
as melhores pinhas,
Esquecia
aquelas dores mesquinhas,
Respirava
no monte sã beleza.
De
coisa alguma tinha a certeza,
Crenças
dos outros não eram minhas;
Para
todos os males havia mezinhas,
Ria-me
da morte, da vil tristeza.
O
tempo passou e eu fui crescendo,
Entre oficinas, rios e serras,
A
minha agilidade foi morrendo…
Meus
olhos viram outras gentes, terras,
Minha
juventude fui esquecendo,
No
peito tenho punhais, salvaterras!
(148)
Naquela
minúscula oficina
Vê-se
um rapaz a endireitar tacha,
Aos
sapatos e botas põe-lhe graxa,
Cumprindo
ordens, a sua rotina.
Na
rua passa uma linda menina,
Levando
à boca uma bolacha;
O
moço atira-lhe uma chalaça,
Mas
a ela não agrada, e afina:
«Seu maroto, atrevido, canalha,
Eu sou descendente de gente bem,
Não sou como tu, escumalha…
Tu, coitado, um pobre Zé-Ninguém,
Jamais serás da minha igualha…
Vales menos do que reles vintém.»
O MEU LUGAR É AQUI
(149)
Ó
deuses, dai-me a imortalidade,
Não
me leveis deste mundo tão cedo;
Revelai,
por favor, vosso segredo,
Dai-me
novamente a mocidade.
Quero
viver no tempo sem idade,
Sempre
jovem, eternamente ledo;
Despojar
do meu cérebro o medo,
A
raiva, o ódio e a vaidade.
Não
quero esquecer o que vivi,
Partir
para longe, jamais voltar…
Meu
corpo e espírito é daqui,
Este
planeta é o meu lugar,
Nele,
numa primavera, nasci…
Deixai-me
neste cantinho ficar.
// continua...
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