QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 27/08/2023
326
Já
fui carne pra canhão,
Na
guerra colonial;
Arrastei-me
pelo chão,
Como
acossado animal.
327
Tive
o castigo merecido
Por
ter nascido do nada;
Mas
mesmo quase vencido
Destaquei-me
da manada!
328
Eu
nunca pedi favores
Às
pessoas importantes;
São
fidalgos, são senhores,
Altivos
e arrogantes.
329
A
Severa não morreu,
Como
por aí se apregoa;
Mora
no inferno e no céu,
Em
Santarém e Lisboa.
330
A
Severa é como o fado,
Dizem
que morre e existe;
Mora
aqui, em todo o lado,
Ora
alegre, logo triste.
331
A
Severa cantadeira,
Viveu
somente prò fado;
Foi
fadista a vida inteira,
Com
a guitarra a seu lado.
332
A
Severa foi-se embora,
Deixou-nos
tristes e sós;
Que
será de nós agora
Sem
a sua linda voz?
333
Ai
quem me dera rapaz,
Com
os meus dezoito anos;
Eu
de tudo era capaz,
Até
de aceitar enganos!
334
Nas
asas de uma gaivota
Percorri
o firmamento;
O
que vi já não importa…
Foi
tudo deslumbramento.
335
Voltei
nas asas do vento
Prà
minha casa terrena;
Transformado
em pensamento,
Com
a alma mais serena.
336
Ai
quem me dera um dia
Ter-te
de novo a meu lado;
Voltar
a ter alegria,
Cantar
contigo o tal fado.
337
Nunca
esqueci o teu leito,
Jamais
o esquecerei;
Tenho-o
guardado no peito,
No
cofre que só eu sei.
338
Ai
menina brasileira
Quem
me dera brasilar;
Ter-te
ao colo a vida inteira,
Ver-te
sorrir e cantar.
339
Sou
filho de uma esponja
E
de um velho tinteiro;
Insaciáveis
os dois,
Bebiam
o ano inteiro!
340
Tenho
uma filha ausente
E
um pai que nunca vi;
Uma
mulher mui doente,
Uma
foto que sorri.
341
É triste perder amigos,
Vê-los
partir para o além.
Restam deles os jazigos,
As
fotos que eles contêm.
342
É
triste perder amigos,
Vê-los
partir pra nenhures.
Eles encontram abrigos,
Aqui,
acolá, algures.
343
Quando
entrei nesta vida,
Entrei
pela porta errada;
O
sol era de partida,
A
noite era de chegada.
344
Quando
entrei neste mundo,
Entrei
pela porta errada;
Vi
tudo sujo, imundo,
Gente
pobre, desgraçada.
345
Quando
trouxeram ao mundo
Este
pobre ser sem sorte,
Deviam
deitá-lo ao fundo
Daquele
poço da morte.
346
Santa
Rita, santa Rita,
Santa
Rita, amor meu;
Atirai-me
uma guita
Pra
subir até ao céu.
347
Santo
António, Santo António,
Santo
António de Lisboa,
Afasta-me
do demónio,
Dá-me
uma vida só boa.
348
Ribeirinho,
ribeirinho,
Que
andas tu a cirandar?!
Traz
água prò meu moinho
E
peixe para o jantar.
349
O
homem durante a vida
Por
vezes porta-se mal;
São
João é a guarida,
O
tempero, nosso sal.
350
São
João não foi pintor
Mas
aprecia Dali;
Um
Metrass sonhador,
Roupas
de Dona Fifi.
351
São João tem namorada,
Está
feliz e contente;
Ela
é bela, perfumada,
Não
tem cara de doente.
352
São
João ama Mimi,
Moça
bela e morena;
Que
conheceu em Madrid
Em
uma noite serena.
353
Na
noite de São João
Não
há frio nem morrinha;
Todo
o mundo é folião,
Até
o morcão alinha!
354
São
João pra namorar
Disfarçou-se
de mulher;
Foi
a uma loja comprar
Um
vestido a condizer.
355
Quem
me dera, São João,
Ter
a tua mocidade;
Ter
uma pistola à mão
Para
matar a saudade.
// continua...
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