OS NOVOS LUSÌADAS (...)
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 19/12/2022.
Segunda Parte
(1820 a 1910)
1
Estalou
a revolução no Porto,
Devido
à ausência do rei, da corte;
O
país estava exausto, morto,
Bateu-nos
à porta azar, não a sorte;
Portugal
era então pequeno horto,
Sem
rumo, dignidade, qualquer norte.
Graças
à célebre revolução
Voltou
a ter orgulho esta nação.
2
Manuel
Tomás, português de lei,
José
Borges, José Silva Carvalho,
Trouxeram
orgulho à nossa grei,
Inundaram
o país de doce orvalho;
Chamaram
do Brasil o novo rei,
Tiraram
certas cartas do baralho.
Apearam
a Junta Governativa,
Criaram
uma outra mais combativa.
3
Convocaram
umas Cortes Gerais,
A
fim de impor a constituição;
Ela
elaborada, e tudo mais,
Dom
João assinou com sua mão.
Dom
Pedro, do Brasil o novo arrais,
Fez
tal qual como o rei Salomão:
Proclamou
a total independência,
Libertou
o Brasil da dependência.
4
Dom
Pedro tornou-se imperador
Daquele
reino, daquele império,
Foi
um parto alegre, sem qualquer dor,
Sem
quaisquer enigmas, nenhum mistério.
A
língua portuguesa, linda flor,
Uniu
Luís, o Zé, e o Rogério.
Dom
João Sexto ficou furioso,
Mas
três anos depois achou gostoso.
5
Dom
Miguel e sua madre Carlota
Não
aceitaram o regime liberal;
Irritado,
calçou a longa bota,
Vestiu
a fardeta de general…
Reuniu,
por meio de muita nota,
Pequena
hoste de gente marginal.
Provocou
a contra revolução,
Para
ficar à frente da nação.
6
Vilafrancada
se chamou ao ato,
Trazendo
de novo o absolutismo;
Dom
João reagiu estupefacto,
Hesitou
entre a fala e o mutismo.
Decidiu
estabelecer um pacto
Adotou
neste caso o pacifismo.
Demite
o governo, esconde o seu fel,
Nomeia
generalíssimo Miguel.
7
O
seu filho não ficou satisfeito,
Queria
mais, queria ser herdeiro,
E notando o seu plano desfeito,
Torna-se
desleal, um desordeiro;
Toma
rédeas, enche de ar o peito,
Reúne
a tropa no vasto terreiro.
Provoca
a chamada Abrilada,
Numa
triste, chuvosa madrugada.
8
Miguel
é totalmente derrotado,
A
tropa rende-se cobardemente;
Ele
é para longe desterrado,
Vai
descansar seu corpo, sua mente.
Oxalá
que tal filho arrenegado
Permaneça
longo tempo ausente.
Entretanto
o rei Dom João falece,
E
o povo depressa o esquece.
9
Deixou
a uma Junta o governo,
Presidida
por Isabel Maria;
Era
primavera, depois do inverno,
A
noite minguava, crescia o dia.
Afastou-se
para longe o inferno,
Ganhou-se
quiçá alguma harmonia.
João
jaz em São Vicente de Fora,
Cuja
vida ninguém lembra ou chora.
10
Pedro
é o novo rei de Portugal,
E
imperador do grande Brasil,
Que
fazer? A pergunta natural…
É
apenas um ser, não cem ou mil.
Outorga
a Carta Constitucional,
Dá-a,
como água de um cantil…
Os
lusos bebem-na, sem surpresa,
Constituição
vai pra baixo da mesa.
11
Dom
Pedro, para bem cumprir as leis,
Abdica
em sua filha Maria,
(mil
oitocentos e vinte e seis),
Uma
moça, pequena cotovia;
Era
assim, o destino dos reis,
Tomar
decisões de noite e dia.
E
como ela tinha pouca idade,
Esperava
até à maioridade.
12
Foi
prometida a seu tio, Dom Miguel,
Que
governaria como regente;
O
infante, fundo poço de fel,
Ri-se,
dança, delira de contente.
Essa
notícia é doce de mel,
Permite-lhe,
em Portugal, ser gente.
Aceita,
agradece comovido,
O
regresso ao seu país querido.
13
Armado
em cavalheiro, mui leal,
Aceita
ordens do irmão, da rainha,
Jura
a Carta Constitucional,
Mas
outra má intenção ele tinha.
Príncipe
Miguel quer pra Portugal,
O
seu regime, outra ladainha.
Veio
de longe, d’Áustria, Viena,
Armado
em cordeiro, mas hiena.
14
Mal
chegado ao seu torrão natal,
Com
asas de condor, soltas no vento,
Como
um lobo, terrível chacal,
Dissolve,
nervoso, o Parlamento...
Convoca
as cortes de Portugal,
Que
o proclamam rei no juramento.
Volta
ao país o poder absoluto,
Poder
dum só homem, louco e bruto.
15
Os
liberais reagiram de repente,
Mobilizaram
vinte ou cem mil,
Chamaram
Pedro, soldado valente,
Para
se iniciar a guerra civil.
Logo,
não correu bem a esta gente,
O
lutador não tinha inda perfil.
No
Porto aderiram militares,
Mas
fracos, foram todos pelos ares.
16
Alguns
deles fugiram para Espanha,
Dali
foram pra França e Inglaterra;
No
país ficou Miguel com sua manha,
Rei
absoluto, senhor desta guerra...
Dom
Pedro os dentes arreganha,
Jamais
deixará ao mano sua terra.
Os
contra reúnem-se na Terceira,
Vila
Flor está na fila primeira.
17
As
tropas miguelistas vão à ilha
Convencidos
de uma fácil vitória;
Contudo,
sem os ditos na braguilha,
Sofrem
pesada derrota inglória.
Liberais
tinham na mão a manilha,
Lutavam
por Dona Maria da Glória.
Em
Vila Praia vencem o combate,
Com
garra e engenho no ataque.
18
Dom
Pedro continuava em Vera Cruz,
Sem
novas, sem nada saber ao certo;
Avisado,
no peito se fez luz,
Nada
era perdido, tudo em aberto…
Queria
voltar a Lisboa, a Queluz,
Quebrar
com este tempo mui incerto.
Dá
a coroa do Brasil ao filho,
Entra
no barco em busca de sarilho.
19
Parte
para a França, Inglaterra,
Para
se juntar aos seus partidários,
Quer
retomar para a filha sua terra,
Destruir
os canalhas, os vigários;
Leva
balas, espingardas, a guerra,
Para
acabar com bestas e sicários.
Dali
segue para a Ilha Terceira,
Para
delinear a luta derradeira.
20
Com
sete mil e quinhentos homens
Desembarca
em Leixões, no Mindelo;
Gigantes,
com força de lobisomens...
Não
levam elefante, nem camelo;
Apenas
a raiva, peitos enormes…
Nos
seus olhos brilhantes, forte anelo.
Entram
no Porto, invicta cidade,
Onde
sofrerão muita crueldade.
21
O
nosso Alexandre Herculano
Foi
um dos bravos, grandes lutadores;
Tinha
apenas vinte e dois anos,
Ainda
na idade dos amores…
Ousado,
valente, arturiano,
Causou
no inimigo mil temores.
Nunca
apreciou o absolutismo,
Combateu-o
com garra, heroísmo.
22
Almeida
Garrett, outro dos bravos,
Introdutor
do romantismo entre nós,
Amante
das lindas rosas e cravos,
Grande
escritor, portentosa voz;
Sofredor,
por paixão, d’amargos travos,
Moendo
desgostos em velhas mós...
Lutou
pela nação, a liberdade,
Pelos
seus amores, contra o ultraje.
23
Cansados,
já com falta de alimentos,
E
numa tentativa derradeira,
Partem
do Porto alguns elementos,
À
frente dos quais Duque da Terceira;
Que
apesar dos imensos tormentos,
Com
uma vontade férrea, verdadeira,
Desembarcam
nas costas do Algarve,
Onde
vencem as tropas do alarve.
24
O
duque vai a Lisboa tal Sansão,
Tudo
derruba, causa terror;
Vence
o general Teles Jordão,
Leva
ao inimigo muita dor.
Não
há piedade, não há perdão,
É
preciso destruir o estupor.
Miguel
levanta o cerco do Porto,
Corre
a Lisboa, mas dá para o torto.
25
Travam-se
no país duras batalhas,
Asseiceira
e antes Almoster,
Saldanha
derrota os vis canalhas,
Terceira
faz deles o que bem quer.
Esvaziam-se
pipas, mil tinalhas,
Festeja-se
em Gondomar, Alenquer.
Dom
Miguel, resignado, vencido,
Assina
a paz, num gesto comedido.
26
A
leal convenção de Évora-Monte,
Acaba
com a fratricida guerra;
É
necessário que a paz desponte,
Sossego
volte a esta linda terra.
Bebamos
todos nós da pura fonte,
Capítulo
da história se encerra.
Dom
Miguel partiu para muito longe,
Onde foi soba, tirano ou monge.
// continua...
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