QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
101
Amizade é mais que amor,
E pelo tempo perdura;
Não causa ódio, nem dor,
É sentimento, ternura.
102
Amizade não tem preço,
Não se compra com dinheiro;
Tem-na o rico e o pobre,
Existe no mundo inteiro.
103
Se a amizade se comprasse,
Era somente dos ricos;
O pobre que odiasse…
Cambada de mafarricos.
104
A amizade e o amor
São sentimento profundo;
A diferença… é a dor
Que o amor traz ao mundo.
105
A amizade é como o vinho:
Consome-se devagar.
Como a seda, e o linho,
Foi feita para durar.
106
A amizade nunca morre:
É como a velha esperança.
E se o tempo foge, corre,
Ela no tempo descansa.
107
A amizade é como o vento:
Ecoa em todo o lado;
Umas vezes é mais forte,
Por vezes é triste fado.
108
Não sei porque se tolera
Tamanha agressividade;
Aquela gente virou fera,
Sem qualquer humanidade.
109
Não sou menino de colo
Para me tratares assim;
Os anos já se passaram,
Não tenhas pena de mim.
110
Tenho uma mulher que dorme
Como um justo, inocente;
Diz-me a razão me conforme,
Os olhos que me contente.
111
Podes dormir descansada
Que eu vigio teu dormir.
Não tenhas medo de nada:
Do passado, ou do devir.
112
Deram-me um cravo vermelho,
Chamado «revolução»;
O cravo já está velho,
Mas a sua essência não.
113
O papa Paulo segundo
Foi quase abatido a tiro;
A nova foi dada ao mundo
Pelos guinchos do vampiro.
114
Tenho um fulano “amigo”
Em certas ocasiões;
Se estou bem, está comigo,
Estou mal, dá-me empurrões.
115
Por que me chamas, loucura,
Mesmo contra meu desejo;
Não vês que seria tortura
Dar-te na boca um beijo!
116
Não ando muito contente,
Nada há que me alegre;
Eu sou como aquela gente
Que só canta quando bebe.
117
Toda a gente tem direito
À sua cara-metade;
Seja belo, ou mal feito,
Com muita ou pouca idade.
118
O Cabaço foi cortado
Por Barroso duro e fero;
Levando o pobre coitado
Ao mais puro desespero.
119
O Cabaço dá pedrinhas,
O carvalho dá bolotas;
Rico vinho dão as vinhas,
O palhaço cambalhotas.
120
Pela prenda que me deu,
Obrigadinho ó Barata;
Agora vou-lhe dar eu
Uma prendinha de lata.
121
O Barata “sabe” muito,
Mais do que os sabichões;
Quando for prò outro mundo
Manda de lá as lições.
122
O Cabaço é uma pedreira,
Dá pedra como borralho;
Vai passar a vida inteira
A transformá-la em cascalho.
123
O Cabaço só tem pedras,
Até as tem no toutiço;
Talvez por comer as hedras
Em lugar de bom chouriço.
124
O Cabaço tem dinheiro,
Mas passa mal, o chumiço;
Tem pedras no mealheiro,
Até as tem no toutiço!
125
Ser artista é ter bem mais
Do que um talento disperso;
É sonho, quimera, arrais,
Da nau chamada universo.
126
Olhou pra mim e sorriu,
Tal Mona Lisa de agora;
Eu sei que me confundiu,
Por isso se foi embora.
127
Falei com a natureza
Em uma noite de luar;
Inda lhe resta beleza,
Mas em vias de findar.
128
Falei com a natureza,
Achei-a muito doente;
Olhou pra mim com tristeza,
Fugiu assim de repente.
129
Eu sou assim como sou,
Não podia deixar de o ser;
Não sei quem me modelou,
Se o fez com algum prazer.
130
Meu coração anda triste
De tanta injustiça ver;
Não sei se o pobre resiste,
Ou se vai tudo esquecer.
// continua...
Sem comentários:
Enviar um comentário