sábado, 18 de junho de 2022

FERREIRA DA SILVA

(Bracarense por nascimento e melgacense pelo coração) 

Casa do Dr. Juiz Pinto, sita na Praça da República.   

// continuação de 13/03/2022.


     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1475, de 23/6/1963: «ARCADES AMBO. // Lemos com agradável surpresa a local publicada em “A Voz de Melgaço”, de 15 de Junho, sob o título “Aquele Cruzamento” e assinada por A.A.A. // Dizemos com agradável surpresa porque afora o conteúdo a interpretamos como uma viragem louvável da “Voz”, no sentido de nos prestar a sua valiosa colaboração na campanha a que nos devotamos de valorização da nossa terra e de crítica objetiva do que nos parece merecer reparo e censura. Certos estamos de que reunindo às nossas as suas meritórias apreciações e comentários, num esforço comum de arejamento e de compreensão, mais fácil e rapidamente atingiríamos a meta ambicionada de repor no seu verdadeiro lugar aquilo que não está bem, de evitar atropelos à estética, pugnar por uma mais eficiente fiscalização e mais atento estudo dos melhoramentos locais, quer sejam públicos ou particulares. Se a nossa interpretação é exata, estaremos em boa companhia nesta inglória cruzada de Bem-Fazer por tudo quanto a Melgaço pode interessar em matéria de disciplina, de urbanismo, de bom gosto, de arte, de respeito pelo que existe e de progresso pelo que haverá de vir. // Simplesmente, pena foi que A.A.A. (estas três primeiras letras do alfabeto têm a pronúncia de uma gargalhada) escolhesse mal o tema do seu primeiro requisitório. O senhor Gargalhadas iniciou a retorcida local por arrombar uma porta aberta o que, francamente, não está ao nível da crítica construtiva que adotamos por escopo na nossa campanha, mesmo quando comete a heresia de ofender o Santo Nome de Deus, colocando-o como principal responsável dos fatídicos acidentes de viação, resultantes de excesso de velocidade e de comprovadas infrações dos preceitos do Código da Estrada. É do conhecimento geral que o “inestético mamarracho que chamam posto de gasolina”, no tal cruzamento, vai ser retirado pela SACOR e ali construído um elegante posto de distribuição, com as caraterísticas dos que se veem ao longo das estradas principais – bateria de quatro unidades de abastecimento, edifício com instalações sanitárias, possivelmente com snack-bar, arruamentos ajardinados, garagem, etc. // Para tanto, o proprietário do campo, que tantos engulhos causa ao Gargalhadas, não pôs nenhuma dúvida ou dificuldades na sua cedência para a implantação do referido posto, ao contrário da atitude de tantos outros que, mesmo tratando-se de fins altamente benéficos para o concelho, consideram intocável tudo o que é seu… // Talvez este esclarecimento dê a Gargalhadas a sugestão de tentar transferir o “inestético mamarracho” para um local utilitário do empório comercial, onde se pensa polarizar todas as atividades mercantis concelhias e no qual, mais mamarracho, menos mamarracho, não tira nem põe à estética daquele bem delineado e formoso arranjo urbanístico… // Quanto à casa dos terraços, estamos de acordo. Tem Gargalhadas muita razão. É preciso demolir, em nome dos interesses financeiros dos potentados do “empório comercial” aquela modesta relíquia do passado, igual a tantas outras – à quase totalidade – que constituem a parte habitacional da Vila, e onde se pratica honradamente, sem inveja e sem aldrabices, sem atropelos nem denúncias, desde 1890, a atividade comercial. // Está descoberto o calcanhar de Judas: a demolição oficial da casa da “Loja Nova” e concomitante transferência do seu movimento comercial para o centro universitário do olho vivo, com “ramalho” e tudo o mais (visto que ali bebe-se bem). E por que não demolir e transferir também a Igreja Matriz?! Que excelente via para canalizar os fregueses da Vila e consolidar o sonhado e apetecido monopólio sugador dos dinheiros galegos e melgacenses!... Estaria bem ali, e os negocistas talvez ficassem com cheiro de santidade…» // F.S.     

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1476, de 30/6/1963: «DESMAZELOS. // Na nossa terra, nesta abandonada terra, há o mau sestro de deixar tudo ao deus dará, como é de uso dizer-se, quando se trata das coisas e (…) do domínio municipal e, naturalmente, sob a fiscalização, conservação e reparação do pessoal dos serviços externos da Câmara. Os bens do município são propriedade dos munícipes, são bens comuns e no entendimento de peritos, são bens de todos e de ninguém. Este conceito leva certos vândalos, de todas as cidades, a danificar a propriedade municipal, destruindo ou estragando o que deveria ser conservado carinhosamente pelos serviços externos da Câmara cuidadosamente vigiado, exemplarmente (…) e rapidamente consertado. Mas há na nossa terra fiscalização municipal? Nas folhas de vencimentos do pessoal do quadro da Câmara, certamente que sim. Porém, de facto, praticamente não existe, o que quer dizer que ninguém dá pela existência dos zeladores municipais… Ao acaso, anotemos alguns estragos e acontecimentos que estão à vista de todos que não sejam cegos e olhem com algum carinho e interesse pelas coisas da Vila. No extremo norte da Praça da República, no canto fronteiro ao celebérrimo jardim do Cardoso, alguém, por malvadez ou pela ação de qualquer veículo motorizado, possivelmente de caminheta ou caminhão, deslocou e acavalou as pedras de cantaria que servem de guia e suporte entre o arruamento e a placa superior da praça. A fiscalização municipal averiguou quem foi o autor voluntário ou involuntário do estrago e participou o facto a quem de direito para efeito de ser exigida a concomitante responsabilidade e tomadas as providências necessárias à sua imediata reparação?! Tudo leva a crer que não, visto que há mais de um mês que verificamos o dano, pessoalmente, cujo conserto ocuparia uma hora de trabalho a qualquer jornaleiro e até à data aquilo ali continua a atestar a incúria e a negligência de tudo quanto com a Câmara está relacionado. E já que falamos no jardim do Cardoso que, perdoem-nos os leitores, é uma infecta cloaca ao ar livre em pleno coração da Vila. Quando é que os serviços externos da Câmara se decidem a acabar com o abuso de transformarem aquilo numa lixeira fedorenta e nauseabunda, causadora de espanto e vómitos aos visitantes que inadvertidamente dela se aproximam?! Quem olha da praça aquele recanto e admira através as janelas armadas em boa pedra lavrada o panorama e a beleza do pano do fundo formado pelas montanhas galegas, não resiste à tentação de se debruçar no que supõe ser um varandim sobre uma paisagem edénica digna de ser apreciada. Para que a ilusão seja completa, de ambos os lados dos janelões existem bancos em pedra que convidam os visitantes a sentarem-se para melhor receberem as emanações fétidas da nojenta lixeira em que o caminho subjacente está transformado!... A Câmara por intermédio dos seus serviços de fiscalização não poderia providenciar no sentido de, sob pesadas coimas, acabar de uma vez para sempre com o abuso e desvergonha de transformarem aquilo em um depósito de lixo?! Basta de tanto desaforo…

     E o que se passa com o velho relógio, o previdente amigo que chamava à oração e aos deveres os habitantes da terra melgacense e se intrometia, pacificamente, nos períodos de utilização das águas dos utentes das prezas de regadio? Ah! O velho e pachorrento relógio que nunca mais fez ouvir as suas badaladas depois da migração de Baltazar… Não compete aos serviços municipais dar corda e pôr em funcionamento o sonoro e útil instrumento de regulação e marcação do tempo? Há dias notamos grande número de crianças encantadas com o entretenimento de fazerem canais, poças, barragens e represas, na parte central da placa da praça, mesmo em frente à farmácia Durães. De onde viria a água para aqueles infantis trabalhos de hidráulica? Quisemos descortinar e verificamos que a sua proveniência era da canalização do abastecimento público, tendo-se para tanto semiaberto a torneira de rega do jardim, por detrás do banco esquerdo da meia laranja da parte central da praça. Aquilo não foi obra da petizada, pois que se tornou preciso utilizar um alicate na abertura parcial da torneira metálica de vedação. O jardineiro e os zeladores não têm o dever de fiscalizarem tudo isto? Fiquemos hoje por aqui. Prometemos continuar.» // F.S.     

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1477, de 7/7/1963: «ALERTA. // Lemos nos jornais Jornal de Notícias e em correspondência de Melgaço no Diário do Norte, do Porto, a alarmante notícia de que, no plano de melhoramentos do vizinho concelho de Monção está previsto o deslocamento do edifício da estação ferroviária e respetivos desvios do terrapleno anexo, sob o pretexto de remover o que se considera obstáculo à expansão da linda vila de Deu-la-Deu Martins. Ao que nos consta, projeta-se lançar uma avenida, prolongando a rua que conduz à estação até à estrada que liga a vila nossa vizinha à vila de Valença do Minho; e para tanto considera-se indispensável a remoção para outro local – antecedente – o edifício gare e anexos, atualmente destinados aos serviços de embarque, desembarque, carga, descarga, e mais operações do tráfego ferroviário. Temos a maior simpatia pelo bairrismo e justos anseios de desenvolvimento e de progresso dos monçanenses, porém, sem atropelo e sem prejuízo dos legítimos e não menos justos anseios e interesses melgacenses. O pretendido arranjo urbanístico, em nossa opinião, viria a privar e impossibilitar a nossa terra do benefício há tanto tempo almejado das comunicações ferroviárias, pela ligação prevista e prolongamento da linha Monção-Melgaço. O caminho-de-ferro não foi ultrapassado por outros meios mais aperfeiçoados de locomoção; generalizou-se em todo o mundo como um dos meios de locomoção mais cómodos, mais rápidos e mais acessíveis às classes populares; nos grandes percursos ainda é o meio mais eficiente e mais barato do transporte de mercadorias, sem limite de tonelagem e nas melhores condições de segurança e garantia. Melgaço está cansado de esperar o estabelecimento de comunicações ferroviárias que permitam aos melgacenses a sua ligação direta com o resto do país. Desde 15/7/1915, data da inauguração do prolongamento da linha de Valença-Monção, vivemos ansiosamente a esperança de verificarmos o início dos trabalhos de terraplanagem, aterros, desaterros, construção de viadutos, pontes, assentamento de carris, e o mais que forma a estrada de aço necessária ao andamento das locomotivas e atrelados. Não teria vivido Monção os mesmos anseios e esperanças quando em 6/8/1882 Valença viu concluída a sua ligação ferroviária, com a perspetiva de se tornar em testa do caminho-de-ferro do Minho, dada a sua sequente ligação à rede do país vizinho? Nessa altura Melgaço acamaradou com Monção, louvou e apoiou os seus esforços instantes em ordem a beneficiar do grande melhoramento – a sua ligação por via-férrea. É vidente que merece louvor e aplauso tudo quanto conduz ao bem-estar da humanidade e à comodidade e progresso das populações. Uma nação é rica e próspera, se ricos e prósperos são os seus naturais, e a riqueza nasce do intercâmbio volumoso e fácil entre as populações. O caminho-de-ferro é a mais justa e a mais antiga aspiração dos melgacenses e o prolongamento da via-férrea Monção-Melgaço previsto no plano geral aprovado por decreto de 27 de Novembro de 1902 estaria concretizado se por ocasião do arrendamento dos caminhos-de-ferro do Estado à C.P. o tivessem reclamado com decisão e forte querer. Assistimos indiferentes ao esbanjamento do Fundo Especial dos Caminhos-de-Ferro do Estado nas decantadas fantasias dos caminhos-de-ferro do Vale do Lima e da Régua-Lamego-Vila Franca das Naves, cujas obras de construção a ação do tempo e os interesses dos proprietários confinantes sumiram, restando apenas as formosíssimas pontes sobre o rio Douro, na Régua, hoje aplicada ao trânsito dos peões, e nas surribas do Varosa (em curva) que ali se eleva, majestosa, como monumento à loucura nacional… Pois acordemos deste sono letárgico tão pernicioso ao desenvolvimento, ao progresso e à grandeza da nossa terra, e clamemos ardente e vibrantemente pelo nosso direito de beneficiar do melhoramento a que temos jus, como povo desta ditosa Pátria que não pode ser, de forma alguma, a mãe de uns e madrasta de outros. Compete ao povo melgacense reunir as suas qualidades e virtudes atávicas; compete às autoridades que guardam os selos da administração; compete a todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, naturais e residentes, das direitas e das esquerdas, a todos os que vivem nesta terra, tenham ou não por ela acrisolado amor, unir-se com entusiasmo e com fé, a reclamar de quem de direito a continuação da rede ferroviária do Minho e a denunciar a cavala desleal da barragem a que visa a demolição da estação de Monção – impedir a continuação da linha até Melgaço. Por Melgaço! Pelo caminho-de-ferro! Todos juntos, bem unidos, Alerta! Avante! // F.S.     

 

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     Lê-se No Notícias de Melgaço n.º 1478, de 21/7/1963: «AVANTE. // Sob o título “Monção e a sua expansão urbana” publicou o Jornal de Notícias, do Porto, uma local sobre o vasto programa de melhoramentos que, no entender do distinto articulista, interpretando certamente os anseios dos monçanenses, tem fatalmente de deixar de ser considerados aspirações. Segundo a notícia, o referido programa é dividido em duas partes: constitui o 1.º (…) a ampliação e melhoria das redes de abastecimento de águas e eletricidade, construção de pontes, embelezamento da vila, pavimentação e saneamento da parte histórica; na 2.ª parte inclui-se o palácio da justiça, o novo hospital, etc. // Porém, o que mais aflige Monção é a expansão urbanística da vila à qual obsta o edifício da estação do caminho-de-ferro e respetiva linha de manobra. // E a propósito do artigo publicado em “A Voz de Melgaço” a local esclarece que o nosso colega não tem razão de se insurgir contra a realização da obra de demolição reclamada, visto que: a) no anteplano de urbanização está previsto, no caso da continuação do caminho-de-ferro para Melgaço, o desvio da linha para distância, pondo de parte o anterior traçado naquelas imediações; b) o atual itinerário exigiria autorização da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em virtude de implicar nova perfuração das muralhas, cuja reconstrução e restauro estão a ser feitos à custa do Estado com dispêndio de alguns milhares de contos. Vem tudo isto a título de esclarecimento no receio de que os nossos protestos e reclamações possam dificultar o curso do desenvolvimento da ridente vila nossa vizinha. Já dissemos e repetimos que olhamos com a maior simpatia e apreço os legítimos anseios de progresso e expansão da linda terra de João Verde, pseudónimo de José do Vale, de quem fomos admirador e amigo; mas, como é óbvio, sem prejuízo dos interesses e justos anseios da nossa terra. Temos a convicção, a quase certeza, de que a demolição do edifício da estação ferroviária e linha de manobra, e consequente abertura de uma avenida em direção à estrada de Valença, prejudica irremediavelmente a aspiração dos melgacenses, de verem, mais tarde ou mais cedo, concretizar-se o prolongamento da via-férrea até Melgaço. O próprio articulista confirma a nossa asserção, ao apresentar óbices à continuação da via-férrea, baseado em razões que temos por infundamentadas. Os dois argumentos apresentados não nos convencem e a sua defesa é insustentável ou de resultado muito duvidoso. Na verdade. Toda a gente sabe que os projetos dos traçados de linhas férreas são da iniciativa e responsabilidade da Direção Geral dos Caminhos de Ferro (hoje possivelmente da C.P.), independentemente dos anteplanos urbanísticos das Câmaras Municipais. Estes situam-se no quadro dos interesses locais; ao passo que aqueles se projetam no plano regional ou nacional. A previsão do desvio da linha férrea a distância, pondo de parte o anterior traçado, estabelecida no anteplano de urbanização, não é pertinente ao âmbito da competência da Câmara, autora do referido plano; desta sorte, o argumento cai pela raiz e temo-lo como um narcótico visando a adormecer as energias melgacenses. Quanto à segunda razão apresentada ainda é mais inocente e porventura mais indefensável. A muralha nesta vila foi perfurada pela E.N. que liga Monção-Melgaço, de modo que no lanço rumo ao rio praticamente desapareceu; e no lanço rumo ao interior encontra-se em pé somente em uma escassa dezena de metros, à espera que as suas vetustas pedras cumpram os fados de enriquecerem os muros de vedação dos terrenos e propriedades rústicas circunvizinhas. Estamos certos de que em nada interferem com o prolongamento do caminho-de-ferro cujo traçado está feito e aprovado por decreto e até servido, inicialmente, por um viaduto, ao jeito de uma seta a sinalizar o rumo ao norte. Não. O problema tem a maior atualidade e sobre ele não podem os melgacenses continuar a dormir, sob pena de receberem o desgosto do comboio de Melgaço entrar no domínio dos sonhos irrealizáveis… Há que definir atitudes e tomar posições imediatas. Não podemos estagnar, indiferentes ao magno problema, na posição do Buda de ventre farto e rotundo de glutão, ou contaminados pelo fatalismo do árabe. Pertence ao senhor Presidente da Câmara tomar a iniciativa de um protesto formal, organizando uma comissão “Pró caminho-de-ferro” à qual seriam agregados os melgacenses de influência daqui e residentes na capital, em ordem a levar junto do Governo o seu angustioso apelo e as suas reclamações contra o esbulho a que estamos sujeitos se forem avante as demolições solicitadas pelos nossos vizinhos. Após os usuais telegramas que deveriam ser expedidos urgentemente a Suas Excelências os senhores Presidente do Conselho e Ministros das Comunicações e das Obras Públicas, pedir-se-ia ao senhor Governador Civil para solicitar de Suas Excelências uma audiência da Comissão Pró Caminho de Ferro e respetivos agregados, a qual, em representação do nosso concelho, acompanhada e apoiada por o magistrado superior do distrito, deputados eleitos por este círculo eleitoral e por outros, que os há, amigos de Melgaço, apresentariam, pessoalmente, a legítima aspiração dos melgacenses de beneficiarem de comunicações em via acelerada. Não faremos vibrar o clarim da guerra mas, em boa paz, com a consciência dos deveres que nos ligam a esta linda terra, incitamos o senhor presidente da Câmara a agir, a agir energicamente, reunindo todas as energias e boas vontades, e a caminhar com fé e com firmeza até Lisboa. Avante». // F.S.          

 

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     Notícias de Melgaço n.º 1478, de 21/7/1963: «A RELÍQUIA: // O nosso colega “A Voz de Melgaço” continua a dar guarida nas suas colunas à prosa de “Gargalhadas”, cujas locais ameaçam converter-se em ataques pessoais. Registamos o facto e dele tiramos as correspondentes ilações, em ordem à modificação da atitude que temos seguido quanto a certos acontecimentos que lhe tocam pela porta. “Gargalhadas” gosta que o enganem chamando-lhe equídeo em vez de asno e, porque ouviu a alguém alfabetizado que o grande escritor Eça de Queirós escreveu um belo livro intitulado A Relíquia, vai daí, mesmo sem lhe conhecer o enredo, pretendeu aplicar ao progresso e desenvolvimento de Melgaço a grosseira mentira simbolizada na pecaminosa camisinha dos devaneios amorosos, esquecida pelo virtuoso sobrinho à devoção da tia, como recordação da viagem à Terra Santa, no fundo da mala… A verdade é que “Gargalhadas” não trouxe nada de novo suscetível de modificar o juízo crítico que formamos sobre o seu anterior ou pequeno e modesto escrito, que mereça retificação em razão de erro plenamente verificado. O assunto foi tratado e esclarecido no nosso artigo “Árcades Ambo” quanto às aleivosas alusões insertas em “Aquele Cruzamento” e do que escrevemos nada temos a retirar ou a acrescentar. O tiro acertou no alvo? Ainda bem. Porém, nada de comparações sobre a seriedade dos negócios ou métodos de comércio usados na parte alta e na parte baixa da vila. Neste capítulo, efetivamente, é melhor ficarmos por aqui. Quanto ao resto, cebolório. Não merecia a pena a “Gargalhadas” desperdiçar tantos “efes” e “esses”, os quais poderemos reuni-los na forma verbal reflexa do imperativo do verbo que melhor traduz a nossa vontade de o mandar… passear. // Recomendamos-lhe juízo seu “Gargalhadas”, não vá a continuação dos seus dislates e aleivosias rematar, estrondosamente, numa gargalhada coletiva, numa risada geral!» // F.S.

 

Retificação: «O último número do nosso jornal foi fértil em erratas, algumas de fácil e intuitiva retificação, outras que exigem uma emenda mais extensa de modo a tornar compreensível o empastelamento do final do 3.º período da local “A Relíquia”. Esse final deve ler-se como o escrevemos: «esquecido pelo virtuoso sobrinho no fundo da mala, e entregue à devoção da tia como recordação piedosa da viagem à terra santa…» // Desta vez, a composição revelou-se fora de toda a tolerância, o que muito lamentamos.» (NM 1479, de 28/7/1963).    

     

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1479, de 28/7/1963: «SOMA E SEGUE. // Sob o título “Desmazelos” anotamos alguns reparos sobre outros tantos estragos e acontecimentos que mereciam providências imediatas e urgente solução de quem de direito. Tivemos o prazer de verificar que fomos ouvidos e que a verdade e a razão dos nossos comentários calaram fundo no espírito da edilidade municipal. Bem-haja, senhor Presidente da Câmara, pelas rápidas medidas tomadas, em ordem a mandar consertar as guias de suporte norte e delimitação da placa da Praça da República, serviço este que, aliás, ficou muito mal feito e ameaça voltar à situação anterior; é que o calcetamento das pedras das guias foi feito com simples cascalho, quando deveriam ter sido utilizados rebos ou pedras de maior volume de modo a consolidar a segurança e nivelamento superior das referidas guias. Não é preciso ser pedreiro para colocar as pedras das guias na posição correta; e de admirar é que a fiscalização consentisse em deixar aquilo no estado em que se encontra e aprovasse aquele triste remendo. Convidamos o senhor chefe da Repartição Técnica a fazer a verificação do que deixamos referido. Quanto ao Jardim do Cardoso é mais do que tempo de tomar sobre ele imediatas e drásticas providências. Aquilo como está não pode continuar: é uma vergonha a que urge pôr termo. Sobre este deplorável caso ousamos sugerir à Câmara a construção, em local adequado, de uma lixeira, para a qual seriam conduzidos, obrigatoriamente, todos os lixos da vila e dos quintais e casas dos seus habitantes os quais, convenientemente aproveitados após a fermentação, seriam vendidos aos proprietários como adubo excelente para a fertilização das terras de cultivo. Parece-nos que uma tal obra, de fácil execução e de custo insignificante, poderia ser levada a cabo, com a vantagem económica de, a sua despesa, constituir um gasto reprodutivo, de lucro certo para o município. Desta forma poder-se-ia encarar com toda a segurança, sem risco de ofensa às comodidades dos melgacenses, a abolição das vergonhosas lixeiras abusivamente constituídas e atentatórias da saúde pública, na parte mais central da vila, no regato do Rio do Porto, e nos muros da avenida. E já que o velho relógio deu sinal da sua existência e marca o tempo das nossas obrigações e devoções, não publicou a Câmara, há muitos anos, uma louvável postura obrigando os proprietários urbanos a caiarem e pintarem periodicamente a frontaria dos seus prédios? Estamos certo que sim. Pois se assim é, não será esta a quadra própria de mandar lavar a cara à nossa vila, de modo a que os visitantes, veraneantes e forasteiros excursionistas, levem da nossa terra uma boa impressão, ao menos, quanto à limpeza e asseio exterior, enquadrando-a sem parecer mal na beleza exuberante do panorama que a cerca?! Trata-se de exigir o mero cumprimento de uma disposição há muito votada e aceite livremente, que a Câmara não deve deixar cair no olvido e que, salvo opinião em contrário, deveria ser fiscalizada pelos próprios melgacenses, tanto ou mais interessados do que a administração municipal no bom aspeto externo do cortiço que lhe serve de residência. A Câmara deveria outrossim facilitar esta limpeza concedendo gratuitamente as respetivas licenças ou dispensando-as por esta vez. Fiquemos hoje por aqui. Como diz o anexim: Roma e Pavia não se fizeram num dia…» // F.S.   

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1480, de 4/8/1963: «… E CONTINUA. // Um dos melhoramentos que consideramos à cabeça de rol e para o qual ousamos solicitar a atenção e interesse da nossa edilidade é, sem dúvida alguma, a pavimentação, a paralelepípedos, da parte histórica da vila. Na realidade, o atual calcetamento à antiga portuguesa fez a sua época e não satisfaz as comodidades dos povos nem a estética dos agregados populacionais. Os arruamentos extra muralhas, na parte periférica da vila, estão praticamente concluídos, com exceção, salvo erro, da Rua Velha. Dentro da Vila, intramuralhas, na parte histórica, o calcetamento de piso irregular e descontínuo, por falta de reparação, torna difícil e incómodo o (trânsito?) e os arruamentos alagados formando poços durante a estação das chuvas, só de barco poderão ser transpostos. Na Rua de Baixo, por exemplo, desde o Largo da Misericórdia até ao extremo sul, o antigo calcetamento desapareceu e as poças e lagos alimentadas pelas águas pluviais mal permitem, quando permitem, aos seus residentes saírem das suas casas de habitação. A parte histórica da vila necessita de ser calcetada a paralelos e as ruas regularizadas em ordem a permitir o escoamento racional das águas e a dar-lhe um aspeto digno de terra civilizada a par da correlativa comodidade de trânsito. Supomos que este indispensável e urgente melhoramento poderia ser dividido em duas partes: a 1.ª, calcetando e regularizando a rua principal, que vai do Largo da Matriz até à porta poente da muralha, e do Largo da Misericórdia até ao extremo da chamada Rua de Baixo; a 2.ª parte englobaria todas as artérias vertentes que da Rua Direita vão desaguar perpendicularmente à Rua de Baixo, ao jeito de condutoras de águas de enxurro (…) // Não está certo que aos curiosos visitantes se deparem caminhos difíceis e em plena ruína, se quiserem visitar aquele glorioso monumento (torre de menagem, castelo) e extasiarem-se, lá do alto, com o panorama inédito e multicolor que dali se disfruta e satisfaz a sensibilidade mais requintada. Pois com um bocadinho de boa vontade, tratemos de completar a pavimentação da nossa vila, incorporando nesse melhoramento a sua parte histórica.» // F.S.                 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1480, de 4/8/1963, página 3: «Para a Vila Praia de Âncora retirou em gozo de férias o nosso querido Diretor, senhor EVPFS, que naquela praia conta demorar até ao fim do corrente mês de Agosto. Desejamos-lhe umas férias úteis em descanso e saúde, que bem merecidas são. Também se encontra na mesma praia o nosso amigo e distinto médico, Dr. António Cândido Esteves, que com a sua família ali está a passar a estação calmosa e a descansar dos mui fatigantes trabalhos profissionais 

 

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     Leia-se mais um seu artigo, no Notícias de Melgaço n.º 1482, de 25/8/1963, com o título “ENTRE ASPAS”: «… encontramos no miradouro central … o grupo de meninas de Melgaço que se prestaram à contrafação de representar o património etnográfico de Castro Laboreiro. Lindas moças… encantadoras meninas, na sua habitual indumentária e garridice, de cabelos cortados à garçone, lábios corados por toques de rubro “batom” e olhos a sobressair de pestanas e sobrancelhas enegrecidas por qualquer produto de beleza negro de fumo. Ficamos nós a pensar. Como é que aquele grupo de lindas raparigas (valorizadas por produtos), poderiam substituir a representação etnográfica autêntica das moças de Castro?! A substituição das toiletes habituais pela indumentária das castrejas, saia e blusa sobre o escuro e capas, seguras na cabeça por original capuz, polainas tricotadas pelas suas mãos, em lã churra e botas cardadas, pareceu-nos que não resolveria a pretendida falsificação, não só porque o desembaraço das substitutas, que o demo pintou para elas pintarem o diabo, se distingue, a distância, dos modos e hábitos da gente castreja, mas também porque na representação se notava o ar civilizado e semi docente da profissão – de professoras primárias oficiais. O hábito só faz o monge quando as maneiras dos respetivos cabides se confundem com os modelos originais. Quisemos, no entanto, verificar com os próprios olhos, como o grupo organizado pelo responsável da contrafação se desembaraçava da tão difícil missão. Deslocamo-nos por este motivo especial a ver o Cortejo Etnográfico e do Trabalho, organizado e levado a efeito na ridente princesa do Lima, capital do nosso distrito, com a assistência oficial do titular da pasta das Corporações e particular do titular da pasta da Marinha. O cortejo foi um espetáculo de animado folclore e de beleza sem par do ponto de vista da garridice polícroma dos trajes, mas bastante pobre como manifestação de autenticidade do valiosíssimo património etnográfico do Alto Minho… De verdadeiro, de autêntico, apenas a assustadiça cadela que uma das pretensas castrejas conduzia pela trela. A nossa representação passou despercebida, confundida com a do Soajo, tanto por parte da assistência como dos jornais – que nem a ela se referiram! Não nos parece boa norma este sistema de falsificação das coisas sérias e em manifestações oficiais, coisas que poderiam e deveriam constituir uma autêntica amostra da etnografia melgacense e de atração turística. Em nosso entender nem só Castro é Melgaço; neste aspeto, muito embora a consideremos a mais típica e curiosa das nossas freguesias, podendo completar-se a sua reduzida representação com as gentes de Parada do Monte, com a sua indumentária própria e os seus açafates levados à cabeça por lindas moçoilas e cobertos por toalhas de linho de uma alvura impecável…»

 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1483, de 1/9/1963: «VINHO PARA A QUEIMA. // Não há memória no nosso concelho de um rendimento tão abundante na produção vinícola como a que se verificou no ano passado. Essa abundância refletiu-se, como é óbvio, no preço de venda, o qual se efetuou a tarifas aviltantes, que não cobrem os gastos do plantio e do tratamento e fabrico do nosso vinho. Como é natural, o nosso lavrador, perante a baixa oferta do único produto que, em certa medida, justifica e compensa a lavoura minhota, retraiu-se e esperou uma modificação desejável no aviltamento do preço unitário do vinho armazenado nas suas adegas. Porém, o êxodo da população masculina do nosso concelho em demanda de melhores e mais fáceis condições de vida, absorvida na quase totalidade pela emigração para terras gaulesas, a par de outras causas, diminuiu a capacidade do consumo interno, à qual se junta a falta de exportação para outras regiões, de menor produção vinícola. Por estes, e certamente por outros motivos, as adegas estão a abarrotar, e o lavrador, na falta de procura normal, esperou que o Governo tomasse medidas adequadas em ordem a consumir o excesso da produção do ano findo. Algumas medidas foram esboçadas em boa verdade, mas, como sempre, intempestivamente e sem a decisão firme de atacar de frente o problema. Considerou-se a possibilidade de lançar nos depósitos dos armazenistas cerca de cinquenta mil pipas de vinho verde de consumo, que seria possivelmente vendido até ao fim do ano corrente, protegido pela medida complementar de – só a partir de Janeiro do ano próximo – ser permitida a venda de vinho da colheita deste ano, sob pena de pesadas multas. Esta medida de largo alcance, e de resultado certo, foi iludida e inutilizada pelos armazenistas, sob o pretexto de que não possuíam o vasilhame necessário para armazenar tão grande quantidade de vinho; isto, não obstante a compra de vinhos de baixa graduação e de excesso grau de acidez volátil para compor os carrascões em balizas e misturas tanto do seu agrado e dos mixordeiros citadinos. Agora anuncia-se a queima dos vinhos armazenados, pagos por tuta e meia, em função do grau alcoólico e da acidez volátil, operação que terá lugar no vizinho concelho de Monção e para o efeito, e para já, que se saiba, apenas se ordenou a compra de umas toneladas métricas de lenha… Ora a queima, naquele concelho, abrangerá os concelhos de Melgaço, Monção, Valença e Cerveira, os quais destinaram a essa operação respetivamente 1114, 1809, 365 e 355, ou seja o total de 3643 pipas de vinho para a transformação em álcool vínico. E sendo certo que as instalações de queima de Monção não têm capacidade para mais de cinquenta pipas diárias segue-se, em boa aritmética, que serão necessários setenta e três dias para se completar a operação; cabendo a Melgaço vinte e três dias, ou seja, na hipótese improvável de se dar prioridade de queima ao nosso concelho, o preenchimento de todo o mês de Setembro, isto é, durante o período da nossa vindima. Entretanto o vinho continuará a estragar-se nas adegas por desdobramento gasoso, sem possibilidade de se encontrar um manicómio para tantos tolinhos. Assim se perderá não só quase todo o valor do vinho como as vasilhas terão de ser submetidas a um tratamento especial com carbonato de sódio, soda cáustica e permanganato ou meta bissulfito. Os lavradores que consigam manter são o vinho onde irão arranjar vasilhas para a envasa da nova colheita? Temos a impressão de que a Comissão de Viticultura nunca manifestou vontade de que se procedesse à queima do vinho das adegas e agora mesmo notamos certa resistência passiva como se a tolda dos vinhos esteja no seu propósito e estes se destinem à rega dos milhos… Dizemos isto porque, por informações colhidas, para duas mil e quinhentas pipas de vinho manifestadas para venda pelo Grémio da Lavoura aquela Comissão apenas remeteu cinquenta boletins para inscrição de queima, depois mais cem, pedidos telegraficamente, e finalmente mais duzentos e cinquenta, mercê de aflitiva chamada telefónica… Por via destas andanças os boletins de dez produtores só puderam ser enviados no dia 9 de Agosto findo e por este facto, da responsabilidade exclusiva da Comissão, esta pretende tomar a espantosa atitude de se recusar a atendê-los! O Grémio da Lavoura agiu a tempo e horas e preveniu todos os casos suscetíveis de beneficiar os seus associados em particular e os lavradores melgacenses em geral. É estranho e profundamente lamentável que organismos de natureza oficial se contentem com obras de fachada em vez de tomar as decisões práticas e necessárias ao bem-estar dos produtores e interesses legítimos da lavoura. Chamamos para estes factos a esclarecida atenção de Sua Excelência o Sr. Subsecretário da Agricultura e aguardamos as medidas urgentíssimas que o caso impõe antes que se tornem inúteis ou sejam desnecessárias. O lavrador contribui largamente para a manutenção do Estado e da Organização Corporativa e tem por isto o direito de ser protegido eficazmente contra a especulação dos intermediários e a indiferença dos organismos em que obrigatoriamente está agremiado.» // F.S.    

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1484, de 8/9/1963: «AINDA A QUEIMA. // Por motivos imprevistos de que não nos cabe qualquer parcela de responsabilidade, saiu com bastante atraso o artigo da nossa autoria, publicado no último número deste jornal, sob o título “Vinho para queima”. No fim e ao cabo a demora na publicação não se confirmou o que de pessimista ali registamos, mas ainda que os nossos cálculos estão muito longe da realidade dos factos. Assim, a capacidade das instalações de queima de Monção não excede uma destilação diária da ordem das trinta pipas o que, considerando o número de pipas manifestado para a queima, resulta um período de trabalho de cento e vinte e um dias consecutivos. Tenha-se em atenção que a queima começou no meio da semana em curso, exatamente em dez do corrente mês, o que tanto monta a dizer que se prolongará até ao fim do ano, na hipótese de se manterem estáveis os números referenciados e de se alternarem na queima, observada a devida proporção, os vinhos manifestados nos concelhos de Monção, Melgaço, Valença e Cerveira, para a destilação. A ser verdade o que até nós chega sobre o número de pipas de vinho estragado no nosso concelho, que à queima se destina, em bom estado de sanidade representa um volume em litros que excede as previsões mais pessimistas. Partimos do princípio, tido como verdadeiro, de que os maluquinhos (os vinhos com volta), encontraram manicómios particulares nas destilarias do Porto, para onde foram vendidos a rastos de barato, quase de graça. As nossas conclusões estão certas quanto aos prejuízos que o lavrador melgacense já suportou e, quiçá, terá ainda de sofrer, por falta oportuna de destilarias, em laboração, tardiamente postas a funcionar, enquanto os vinhos se estragaram nas suas adegas. E não falemos no tratamento a que terá de se submeter o vasilhame que se manteve com vinho estragado, se quiser servir-se dele no envasamento da nova colheita, tratamento que deverá fazer-se mais do que uma vez. Consideramos ainda que até se proporcionar a vez na queima muito vinho poderá sofrer as consequências da demora, ou como diria o Bandarra: “daqui até lá surpresas haverá”… A quem atribuir a responsabilidade desta inconcebível situação, que mais parece obra de loucos do que de pessoas equilibradas que, ponderada e tempestivamente, deliberassem encarar e resolver o problema do escoamento da colheita do vinho verde que, no ano de 1962, rondou pela cifra espantosa de setecentos mil pipas! O Conselho Geral da Federação iniciou a apresentação do problema em 30 de Março e incumbiu a Direção de ficar atenta às perspetivas da colheita deste ano, a fim de nivelar e melhorar os preços da intervenção. Na primeira quinzena de Maio foram convocados os grémios para reunião de 18 na qual, unanimemente, votaram pela necessidade urgente de se pedir a intervenção superior. Para se dar cumprimento à resolução dos Grémios deliberou-se pedir à Secção dos Vinhos da Corporação da Lavoura, bem com à Junta Nacional dos Vinhos, e Comissão de Viticultura, o seu patrocínio junto do Governo, em ordem à intervenção económica quanto ao preço mínimo da venda do vinho e uma intervenção de emergência quanto à retirada para queima ou armazenagem até ao montante de cinquenta mil pipas de vinho verde e, ainda, a modificação do grau alcoólico dos vinhos verdes relativamente ao dos vinhos maduros. Em 12 de Junho foi aprovada por unanimidade a resolução da Secção de Vinhos da Corporação da Lavoura em identidade com a Direção da Federação, de se solidarizar com os votos e moções dos Grémios. Finalmente, em 13 de Julho, o presidente da Comissão de Viticultura esclareceu que a Junta Nacional do Vinho precisaria de trinta e cinco mil contos para a intervenção de emergência preconizada, o que entendeu ser incomportável e desapontou e surpreendeu os Grémios, a despeito de a 26 de Julho o senhor Subsecretário de Estado do Comércio informar que daria àquela Junta os meios financeiros para a solicitada intervenção. A atuação negativa da Comissão de Viticultura não foi de molde a merecer os nossos louvores e até a sua atitude posterior deixou-nos a impressão, como referimos no artigo anterior, de que não simpatiza com a queima, e porventura teria protelado o seu início, o que reputamos de lamentável e temos por contrário aos interesses dos pobres lavradores da região dos vinhos verde.» // F.S.                

 

 

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     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1485, de 22/9/1963: «PARAGEM DA CARREIRA. // Em Maio do corrente ano foi entregue na Direção Geral de Transportes Terrestres uma exposição endereçada a Sua Excelência o Ministro das Comunicações, na qual se solicitava a sinalização com as respetivas placas de paragem nos locais intermédios entre as Vilas de Melgaço e de Castro Laboreiro. A exposição foi assinada por algumas dezenas de pessoas de representação no clero, comércio, indústria, e outros interessados particulares, e nela se fez (sentir) a urgente necessidade de se sinalizarem os locais de paragem obrigatória no percurso desta Vila (SMP) a Castro Laboreiro cuja carreira serve, subsidiariamente, as freguesias de Rouças, São Paio, Cousso, Gave, Parada do Monte, Cubalhão, Lamas de Mouro e Peneda. O documento seguiu os trâmites legais nos termos do Regulamento dos Transportes Automóveis e remetido para informação à Polícia de Viação e Trânsito que, para o efeito, se deslocou a esta Vila e ouviu sobre o assunto o concessionário da carreira e o primeiro signatário autor da exposição. Desde logo ficou estabelecido que a carreira Melgaço-Castro Laboreiro, a partir dessa data, passaria a parar obrigatoriamente ao quilómetro 99,326 da EN número 202, isto é, no local indicado na planta anexa da exposição a uns trinta metros aproximadamente da (…) do leque de concordância na confluência das duas estradas Melgaço-Castro Laboreiro-Monção. Agora, tornando oficial o que ficou estabelecido na presença do Chefe da Polícia de Viação e Trânsito de Monção, o signatário recebeu o ofício do (teor) seguinte: “Serviço da República. Ministério das Comunicações. Direção Geral dos Transportes Terrestres. 3.ª Repartição. Excelentíssimo Senhor Gerente da firma António Joaquim Esteves & Filhas, Limitada, (Estrada) do Rio do Porto, Melgaço. Sua Referência Exposição. Sua Comunicação = Maio de 1963. Ofício n.º (14996) – III – MTE. Processo n.º 2286. Lisboa. Portugal 18/9/1963. Assunto: placas de paragem de autocarros. Reportando-me à exposição em referência, dirigida a Sua Excelência o Ministro das Comunicações, e de que essa firma foi a primeira signatária, informo V. Excelência que nesta data, e depois de ouvida a Polícia de Viação e Trânsito, é solicitada à Junta Autónoma das Estradas a colocação de uma placa de paragem ao quilómetro 99, 326 da E.N. 202, para a carreira de Castro Laboreiro-Melgaço. A Bem da Nação. Pelo Engenheiro Diretor Geral J. E. Cunha. O caso, em nossa opinião, está incompletamente solucionado visto que, deu-se satisfação e deferimento à reclamação do primeiro signatário da exposição mas, deixou-se por resolver a sinalização dos locais intermédios do percurso daquela carreira, que dão acesso aos inúmeros lugares das oito freguesias antes aqui referidas. O assunto acha-se regulado pelos artigos 100.º e 187.º do Regulamento dos Transportes Automóveis, e não é favor conceder o que sancionam as citadas disposições legais. À polícia de viação e trânsito pareceu que resolvida a reclamação do primeiro signatário da exposição (daquele que não se cala nem se amedronta) resolvida estava a dos outros peticionários – resolvida por negação, evidentemente. O que se pediu na exposição foi a sinalização dos locais de paragem intermediários na estrada Melgaço-Castro Laboreiro e não, apenas, o único local de paragem obrigatório a que se refere o ofício transcrito. Em exame superficial parece que o caso não tem importância se, como é de esperar, o concessionário der aos condutores as devidas instruções, de pararem as caminhetas para entrada e saída de passageiros nos locais mais próximos dos caminhos de acesso às freguesias situadas ao longo do percurso. Mas não é assim. Além de não ser admissível que as gentes das aludidas oito freguesias fiquem na dependência da vontade dos condutores das caminhetas, variável com a sua boa ou má disposição do momento, há que atender a que a sinalização de todo o percurso, como se pediu, implica a criação de zonas e fixação de preços ou tarifas quilométricas, tornando as viagens mais económicas. Nisto falhou, não se sabe porquê, a intervenção da Polícia de Viação e Trânsito, na informação que superiormente foi chamada a dar. Nós, porém, não nos damos por satisfeitos e pugnaremos sem desfalecimentos pelos interesses do povo melgacense.» F.S. // continua...

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