12
E
para quê, senhores, tanto castigo…
Que
mal fizera aquela pobre gente?
Naquele
sítio não havia mendigo,
Nenhum
ser maltratado ou indigente;
Todos
tinham sopa e persigo,
Um
sorriso nos lábios de contente.
Para
quê destruir quase uma nação,
Tratá-la,
como fatal maldição?
13
Mais
tarde vieram os jesuítas,
No
alforge a evangelização;
Gente
fanática, vis parasitas,
Esmagando
virtude, sã razão.
Por
palavras, cem mil vezes reditas,
Impuseram
nova superstição.
E
pra que a coisa parecesse digna
Tornaram
a fé dos outros maligna!
14
E
assim se foi criando um país,
Dezenas
de vilas, grandes cidades;
Mil
capelas, a igreja matriz,
Grossas
riquezas, e cem mil maldades.
Explorou-se
com ganas e perfis,
O
café tornou-se rei das vaidades.
Muitas
escolas, e até colégios,
Surgiram,
e os muitos privilégios.
15
Pra
produzir açúcar, engenhos mil,
De
África levaram os escravos;
Gente
da Europa foi para o Brasil
Em
busca de ouro, rosas e cravos.
De
todo o lado, jovem, ou senil,
Queria
pertencer ao grupo dos nababos.
Por
fim, a descoberta da borracha,
Criou
ricos, alguns só por laracha.
16
O
tabaco passou a dar dinheiro,
Luís
Goes trouxe até nós a planta;
Foi
ele aqui de facto o primeiro,
Mas
em Espanha já ninguém se espanta.
Espalhou-se
pelo mundo inteiro,
A
todos agrada, muitos encanta.
Em
Lisboa, a Farmácia Real,
Cultivava-o
pra nosso bem e mal.
17
Tornou-se
numa coisa milagrosa,
Curava
tudo, até enxaquecas;
Não
se dava conta quão perigosa
Era
a planta dos maias e astecas…
O
cheiro, o fumo, pose vistosa,
Criaram
templos, crentes, novas mecas.
Desenvolveu-se
a praga, o vício,
Atingindo
o próprio deus Lício.
18
Fuma
pobre, rico, remediado,
O
dono das terras e seu caseiro;
Fuma
patrão, esposa, e criado,
O
alfaiate e o sapateiro…
Na
tasca, loja, em todo o lado,
Sorvo
fumo como tripa em fumeiro.
Cachimbo,
rapé, ou o vil cigarro,
Provocam
o aflitivo catarro.
19
Pelo
sertão entraram garimpeiros,
Famintos
de vis metais preciosos;
Malta
sem trabalho, aventureiros,
Todos
eles rudes, gananciosos.
Vendiam
a alma por trinta dinheiros,
Terríveis
mentes, olhos capciosos.
Ai
que corja aquela, tão matreira,
Mais
feroz do que a fera verdadeira!
20
E
para que serviu tanto metal,
Tanto
ódio, tanta vil matança?
Riqueza
sem controlo é letal,
Rói
em todos nós a doce esperança.
O
bem sucumbe perante o mal,
A
justiça falece na balança.
E
não há céu que tal obra suporte,
Por
isso, por sentença dá a morte.
21
Gigantesco
Brasil, terra ubérrima,
Donde
mana toda a fertilidade;
Trepidante,
mais doce do que acérrima,
Terra
da florescente cristandade.
Gente
suave, mais do que aspérrima,
Melhorando
com o tempo, a idade.
Ai
quem me dera cantar-te em verso,
A
ti, que és maior do que o universo.
22
Esqueçamos
o alegre Brasil,
Percorramos
cem terras, novos mundos,
Vamos
à caça da pimenta e anil,
Doutros
sonhos mais nobres e fecundos.
Comprar
bugigangas por um ceitil,
Enfrentar
aqueles rostos iracundos.
Mostrar-lhes
que a nação portuguesa
É
tenaz em guerra, meiga na justeza.
// continua...
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