MELGAÇO: Padres, Monges e Frades
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 18/04/2021
AZEVEDO,
António Jacinto (Padre). Filho do capitão João de Araújo Azevedo e de Mariana de
Araújo Teixeira. Nasceu no lugar de Carvalho de Lobo, freguesia de Rouças, a
11/11/1699, e foi batizado na igreja de Rouças nesse dito dia. // Tornou-se
irmão da Confraria das Almas da Vila, SMP, a 6/12/1724. // Morreu em Rouças a
5/1/1787, sendo sepultado na igreja da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço. //
Gerou um filho numa mulher, cujo nome se
desconhece, ao qual deram o nome de António; o rapaz foi criado pelo avô
paterno, que no testamento lhe deixou vinte mil réis.
AZEVEDO,
Carlos António Araújo (Padre). Filho de António Jacinto de Araújo Azevedo e de
Jerónima Luísa de Araújo Gomes Magalhães. Neto paterno de João de Araújo
Azevedo e de Guiomar Gomes de Abreu; neto materno de Sebastião Gomes do Souto e
de Jerónima de Araújo Magalhães. Nasceu na Casa de Soengas, Chaviães, a
28/6/1807. // Quis ser clérigo, por isso, a 28/5/1830, seus pais fizeram-lhe o
património. // Estudou em Braga. // A 21/5/1837, na igreja de Chaviães, foi
padrinho de Secundino Maria Alves, nascido seis dias antes. // Estabeleceu-se
em Santa Maria de Leirado, Galiza, na paróquia de San Pedro da Torre, próximo
da cidade de Ourense, onde foi capelão da Senhora do Rosário, capela fundada em
1641 por um dos seus antepassados, licenciado Lorenzo Pereira de Araújo. // Morreu
a 1/11/1861, às vinte horas, na sua casa de Soengas, Chaviães, de repente. //
Tinha 53 ou 54 anos de idade. // Não fizera testamento. // (Sobre
ele ver o livro “À la Recherche de mes Racines”,
páginas 153 e 154).
AZEVEDO,
Francisco António Simões (Padre). // Morou no lugar do Outeiro, freguesia de
Chaviães. // A 3/10/1808, na igreja de Chaviães, foi padrinho de Francisco
António de Sousa, nascido dois dias antes.
AZEVEDO,
Manuel de Araújo Caldas (Padre). // Nasceu no século XVIII. // Era natural do
lugar do Maninho, freguesia de Alvaredo. // Gerou
em Brites Maria de Araújo, solteira, de Ribeiro de Carse, bispado de Ourense,
uma menina, Maria Araújo Azevedo Caldas, que viria a casar com Belchior, filho
do boticário Luís de Araújo Fernandes Lobarinhas. Uma bisneta do padre,
Maria Engrácia de Araújo Lira de Abendanho, casou com Francisco José de Abreu
Lima e Castro, natural de Paderne, passando o casal a morar no Maninho,
Alvaredo, mudando depois para São Gregório, onde ela morreu a 13/1/1850. // (ver
“O Meu Livro das Gerações Melgacenses”, volume I, páginas 602 e 603, da autoria
de Augusto César Esteves).
AZEVEDO,
Manuel José Lopes (Padre). Nasceu na vila de Melgaço (confirmar). // A 11/2/1810,
na igreja de São Paio, foi padrinho de Maria Joaquina, nascida a 6 desse dito
mês e ano, batizada pelo padre João Manuel Durães, de Prado, filha de Domingos
José Durães e de Josefa Maria Lopes de Azevedo, moradores na Carpinteira. Neta paterna
de Sebastião Durães e de Maria Manuela Mendes, do dito lugar; neta materna de
Domingos António Lopes de Azevedo e de Maria Pires Veloso, da Vila de Melgaço.
AZEVEDO,
Manuel Nunes (Padre). Filho do capitão João Araújo Azevedo e de Mariana de
Araújo Teixeira. Nasceu em Carvalho de Lobo e foi batizado na igreja de Rouças
a 6/7/1690. Padrinhos: seus tios maternos, António Rodrigues e Eugénia. // A
25/3/1745 funda uma capela de missas de cariz perpétuo, dedicada à Senhora da
Conceição, na igreja paroquial de Rouças, com a intenção «de cumprir as obrigações que
tinha com a casa de seu pai.» // Designou seu irmão, Francisco de Araújo
Poderé, primeiro administrador, e posteriormente os seus descendentes. Reservou
para esse fim alguns dos seus bens, situados em Carvalho de Lobo, tais como
vinhas, pastagens, e uma horta. // Morreu a 6/3/1751.
BACELAR,
Caetano Gomes (Padre). // Faleceu na freguesia de Paços a 18/9/1782.
BACELAR,
Francisco Gomes (Padre). // Morreu na freguesia de Paços a 4/9/1780.
BACELAR,
João Pereira (Padre). // Em 1674 cantou a primeira missa; foi pároco de
Remoães.
BACELAR,
Ventura de Araújo (Padre). Filho de Domingos Rodrigues de Araújo e de Isabel
Gonçalves [de Araújo]. Nasceu na Vila de Melgaço no século XVII. // A 26/5/1705
inscreveu-se na Confraria das Almas. // Arranjou
uma amante, Ângela de Araújo, solteira, filha de Maria Longares, natural da
freguesia de Santa Cristina de Baleixe, Galiza.
// Morreu no lugar da Pigarra, SMP, a 23/9/1755.
// Pai de Jerónimo e de Ângela. Nota: ao seu apelido Araújo acrescentou
Bacelar!
[ARAÚJO,
Ângela. Filha do padre Ventura de Araújo (Bacelar), natural da Vila de Melgaço, e de Ângela
de Araújo, natural de Santa Cristina de Baleixe, Galiza. Neta paterna de
Domingos Rodrigues de Araújo e de Isabel Gonçalves [de Araújo]; neta materna de
Maria Longares, galega. Nasceu no século XVIII. // Criou-se na Quinta da
Pigarra, SMP, em casa de uma das suas tias paternas. // Casou na igreja matriz
da Vila a 12 de Agosto de 1734 com Bernardo Pereira, filho de Pedro Esteves e
de Isabel Esteves, moradores na Corga do Ribeiro dos Homens. // Lê-se no livro
do Dr. Augusto César Esteves, «O Meu Livro das Gerações Melgacenses», I volume,
página 533: «Pelo seu testamento cerrado,
aberto a 6/10/1738, apenas conseguiu dispor da terça dos seus bens em favor da
tia, que a criou, visto seu pai andar ainda por este mundo e ninguém se ter
lembrado de lhe falar na renúncia da herança da filha, constituída por poucos e
desvaliosos bens.» // Faleceu sem geração.]
[ARAÚJO,
Jerónimo. Filho do padre Ventura de Araújo
(Bacelar), natural da Vila de Melgaço, e de Ângela de Araújo, solteira, natural
de Santa Cristina de Baleixe, Galiza. Neto paterno de Domingos Rodrigues
de Araújo e de Isabel Gonçalves [de Araújo]; neto materno de Maria Longares,
galega. Nasceu no lugar do Rego, freguesia de Prado, a 20/10/1726. Padrinhos de
batismo: Jerónimo Nunes e sua mulher, Isabel de Araújo, da Vila de Melgaço,
tios do batizando. // Irmão de Ângela de Araújo.]
BARREIROS,
Francisco Gomes (Padre). // A 1/4/1870 já era o abade de SMP, Vila de Melgaço.
// Em 1885 mantinha-se no seu posto. // Penso que cessou funções de cura da
Vila a 4/7/1886. // Depois daquele ano foi colocado em SMP o padre encomendado,
Elias de Jesus Marques, natural de Prado.
BARREIROS,
Luís Manuel Domingues (Padre). Filho de Manuel José Domingues e de Isabel
Gonçalves, lavradores. Nasceu em Alvaredo por volta de 1822. // Foi pároco da
freguesia de Penso. // A 11/1/1884, na igreja de Penso, foi padrinho de
Anatólia, nascida dois dias antes, filha de António Joaquim Domingues e de
Maria Ludovina Bernardes. // Em 1886 ainda era o pároco dessa freguesia. // A
19/3/1886, na igreja de Penso, foi padrinho de Isabel, nascida nesse dito dia,
filha de António Domingues e de Maria Ludovina Bernardes. // A 9/5/1886, na
igreja de Remoães, foi padrinho de João Caetano, nascido três dias antes, filho
de Manuel Joaquim Esteves e de Maria Claudina Domingues. A madrinha era Rosa
Domingues, solteira, ambos tios do neófito. // A 15/11/1891, na igreja de
Penso, foi padrinho de Isabel, nascida no dia anterior, filha de José Esteves
Cordeiro, natural de Penso, e de Rosa Maria Domingues, natural de Alvaredo,
moradores na residência paroquial de Penso. A madrinha, Rosa Clara Domingues
Barreiros, era sobrinha do padrinho. // Morreu na residência paroquial de Penso
a 30/1/1893, com setenta e um anos de idade, com todos os sacramentos da igreja
católica, com testamento, e foi sepultado na igreja daquela freguesia de
Melgaço.
BARROS,
António Augusto da Silva (Padre). Filho de António Augusto de Barros, de Fonte
Arcada (falecido antes de 1951), e de
Guilhermina da Silva (faleceu em Alvaredo a 24/1/1954), de Monsul, Póvoa de Lanhoso. Neto paterno de ---------------
de Barros e de -------------; neto materno de Augusto Clemente da Silva e de
Rosa de Jesus Araújo. Nasceu em Fonte Arcada, Póvoa de Lanhoso, a 26/4/19--. //
Foi prefeito no Seminário de Braga (Padre
Carlos Vaz, página 611). // Em 1950 era pároco de Alvaredo. Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 942, de 13/8/1950: «Alvaredo em festa e oração desde 26 a 30. – A convite do reverendo
pároco desta freguesia, António Augusto da Silva Barros, deslocaram-se de Braga
os reverendos padres e sagrados oradores, Apolinário Rodrigues Rios,
vice-reitor do Seminário Menor de Braga, e Gonçalo Araújo Pinheiro, superior do
mesmo Seminário, a fim de com as suas locuções darem o brilho esperado da festa
do SS. Coração de Jesus. – Dia 26 – Chegada dos reverendos padres, pela tarde
grande sermão, onde não faltaram as lágrimas sinceras da gente desta laboriosa
terra.» // Em 1956, sabendo que o Dr. Júlio de Lurdes Esteves queria pedir
a sua exoneração de Provedor da SCMM, juntou-se a outros, entre eles Mário
Ranhada, e percorreram as freguesias do concelho recolhendo várias assinaturas.
O objetivo era que o Governador Civil do Distrito não aceitasse a demissão e o
convencesse a continuar nesse lugar. Queriam, também, que ele fosse presidente
da Câmara Municipal, cargo que estava vago havia quatro anos. No «Notícias de
Melgaço» n.º 1225, de 16/12/956, já se informa que o Dr. Júlio foi nomeado
presidente da Câmara Municipal de Melgaço; a posse decorreria a uma
quarta-feira, 19/12/1956, no Governo Civil. Começou a exercer o seu mandato no
dia 20, mas devido a doença não esteve lá muito tempo. // Em 1973 o padre
Barros deu ao Sporting Clube Melgacense 150$00, a fim daquele grupo desportivo
se reorganizar.
BARROS,
Manuel José da Graça (Padre). // Na década de trinta do século XIX já era
pároco da freguesia de Chaviães. // A 7/10/1839, na igreja de Chaviães, foi
padrinho de Maria Rosa, nascida dois dias antes, filha de Maria Rita Pereira,
moradora no lugar de Fonte. A madrinha era Maria Rosa Gonçalves, do lugar do
Barraço. // A 2/12/1840, na igreja de Chaviães, foi padrinho de Quitéria de
Jesus, nascida a 30 de Novembro desse dito ano, filha de José Caetano Soares e
de Antónia Maria Soares. // A 10/8/1841, na igreja de Chaviães, foi padrinho de
Joaquina Rosa, nascida quatro dias antes, filha de Rosa Maria Trancoso,
moradora no lugar do Outeiro. // A 14/2/1842, na igreja de Chaviães, foi
padrinho de Manuel José, nascido dois dias antes, filho de José Bento Alves e
de Maria Joaquina de Sousa. // A 1/10/1842, na igreja de Chaviães, foi padrinho
de Rosa Cândida, nascida a 29/9/1842, filha de Francisca Teresa Pereira, do
lugar da Fonte, e de Matias José de Araújo [Azevedo], do lugar do Outeiro. // A
30/12/1842, na igreja de Chaviães, foi padrinho de Guilhermina Joaquina
Salgado, nascida três dias antes. // A 30/5/1844, na igreja de Chaviães, foi
padrinho de Leopoldina de Jesus Soares, nascida no dia anterior. // A 24/1/1847,
na igreja de Chaviães, batizou Maria Rosa, nascida seis dias antes, filha de
Manuel José Domingues e de Francisca Rosa Vaz, lavradores.
BATISTA,
Orlando (Padre). Filho de António Batista e de Albertina de Jesus Fernandes.
Nasceu em Pousafoles, Fiães, a --/--/193-. // Ordenou-se sacerdote no seminário
de Braga no ano de 1962. // Fixou residência há muitos anos em Valença do
Minho. // Em 1999, sendo pároco de Gondomil e Friestas, foi também nomeado
capelão do hospital de Valença (VM 1123).
BERNARDINO DE SÃO JOSÉ (Frei). // Filho de
Sebastião Esteves do Souto (Brasileiro), e de Guiomar Gomes de
Abreu Magalhães. Nasceu no século XVIII, na Quinta da Barqueira, São Martinho
de Alvaredo, na altura termo de Valadares. // Foi o 22.º guardião do convento
das Carvalhiças, SMP. Tomou posse do lugar a 28/8/1797. No período em que
esteve à frente da guardiania adquiriram-se alguns livros para a biblioteca, fez-se
de novo a Divina Imagem Dolorosa, etc. (ver mais em Obras Completas de ACE, volume I,
tomo II, páginas 389 e 390).
BERNARDO, Domingos José (Padre). Nasceu em
Castro Laboreiro. // Em 1866 andava por Prado. A 7/10/1866, no batismo de Margarida
Cândida, na igreja de Prado, ele assinou a rogo do pai da criança, Rafael
Rodrigues, solteiro, analfabeto.
BERNARDO,
Manuel António (Padre). Filho de Manuel Joaquim Bernardo (Pintor), castrejo, e de Maria Custódia Martins, do lugar da
Peneda, freguesia da Gavieira. Nasceu no lugar do Ribeiro de Cima, Castro
Laboreiro, a 21/12/1911. // Em 1929 regressava de Braga (ver
um seu poema “Avé”, em Correio de Melgaço n.º 22, de 21/7/1929). // Lê-se no
Notícias de Melgaço n.º 83, de 26/10/1930: «fizeram os exames de filosofia – 2.ª parte – os alunos (…) e Manuel
António Bernardo; ficaram todos aprovados, dando, por isso, ingresso no
Seminário de Teologia [de Braga].» // Escreveu no Notícias de Melgaço n.º
86, de 16/11/1930: «No penúltimo número lemos na secção deste jornal, “À
sombra do Cruzeiro”, dirigida pelo Sr. Carlos de Castro, aquelas linhas em que
focava a necessidade da construção de uma estrada que ligue a freguesia de
Castro Laboreiro com a Vila de Melgaço. Não admira que o ilustre colega
mostrasse aquele interesse na construção dessa estrada, pois que tem observado
as necessidades do povo castrejo e o seu coração não pode deixar de anelar o
bem de quem tem jazido em esquecimento perante as autoridades. Castro é a maior
freguesia do Minho – e talvez de Portugal! Foi uma terra importante, está cheia
de gloriosas tradições, no entanto é hoje a mais humilde freguesia de Melgaço.
Castro Laboreiro, que noutros tempos foi um baluarte avançado do Minho,
ameaçando a Galiza com sua alta e tenaz fortaleza, está hoje tão esquecido que
nem sequer tem um caminho em condições a ligá-lo com a sede do concelho.
Infeliz povo! Se o caminho que tens para Melgaço fosse no tempo dos imperadores
romanos estaria em melhores condições. O caminho que existe, se é que merece o
nome de caminho, é por assim dizer, intransitável, está uma vergonha, razão
tinha Carlos de Castro. Mas não ficam aqui os males de que o povo castrejo
amargamente se queixa. O seu castelo, padrão de glórias antepassadas,
testamento de nobres feitos de armas, jaz em ruínas sem que ninguém se importe
dele. (…) Não temo dizer aqui a quem compete a conservação dos monumentos
nacionais, que a fortaleza era superior à da própria Vila de Melgaço, quer pela
antiguidade, quer pela posição. Mas de que vale esta comparação, se o próprio
castelo de Melgaço (…) não é convenientemente prezado? Era bom que as
autoridades olhassem para esses monumentos, que tantas glórias nos recordam.
(…) / Por que é que Castro não recebe subsídios para as suas escolas? Acaso não
paga o povo as suas contribuições? É de desejar que se dê remédio a estes males
e a muitos mais que sucessivamente irei aqui apontando…» // Ainda no
Notícias de Melgaço n.º 86, de 16/11/1930, escreveu: «O seu castelo (referindo-se a Castro Laboreiro), padrão de glórias
antepassadas, testemunho de nobres feitos de armas, jaz em ruínas sem que
ninguém se importe dele…» // No Notícias de
Melgaço n.º 87, de 23/11/1930, prossegue: «No último número prometi voltar ao assunto (…) pronto a
bater-me em prol dos interesses da freguesia onde nasci. Prometi falar da
Guarda-Fiscal e do Registo Civil, mas como há muito a dizer, e ponderar,
tratarei por enquanto da 1.ª questão, ficando a do Registo Civil para mais
tarde. Não é meu propósito ofender a útil corporação que tanto bem fez à nação,
mas discutir a questão das guias, apoiando-me na lei da imprensa que permite
discutir as leis para conhecer a sua utilidade e conveniência. Por isso,
desculpem-me os empregados da GF porque não quero referir-me às suas pessoas
mas às leis que regulam seu serviço. Portanto, continuem eles cumprindo as
ordens que lhes oficiam os superiores, porque é o seu dever, e não lhes dou
louvor do contrário. Precisamente, essas ordens, é que eu vou ponderar, para
avaliar da sua legalidade sem derivar agravo para ninguém. / É de todos sabido
como durante
alguns anos foi exigida a manifestação dos gados na zona da fronteira para
obstar à exportação do mesmo para Espanha. Devido às circunstâncias financeiras
dos dois países e ao obstáculo posto por parte de Espanha à entrada do gado, o
trânsito cessou, continuando no entanto os manifestos em vigor. Quando em
princípios de Dezembro de 1928 esteve nesta freguesia, em distração venatória,
Carlos de Barros, ex-Governador Civil de Viana, houve quem lhe representasse
quanto era custoso aguentar os manifestos, devido à rudeza do povo, que na
maior parte é analfabeto. De regresso a Viana o Sr. Carlos de Barros oficiou ao
Ministério das Finanças referindo a situação do povo de Castro, e pedindo a
extinção dos manifestos. Estes, com efeito, foram suprimidos, mas parece que
não agradou à GF esta medida do governo e, por isso, dentro de pouco tempo
começaram a aparecer as guias. Os manifestos haviam sido suprimidos nos
primeiros meses de 1929 e já em Julho, do dito ano, baixava ao Ministério a
representação… (ver mais acima). Ali se expunha quanto
a Guarda-Fiscal molestava o povo com as guias, ajuntando um exemplar das
mesmas… (…) / não diferem essencialmente dos extintos manifestos; (…) / as
guias não têm razão de existir…» // No
Notícias de Melgaço n.º 88, de 30/11/1930, Bernardo Pintor explana as suas
ideias acerca das guias, e diz mesmo que tem dúvidas da sua legalidade.
Pergunta: «se são legais porque não têm
os impressos próprios?» E diz mais: «… são
um meio de exploração à bolsa dos castrejos…» Os manifestos custavam 50
centavos e as guias atingiam 4$00, conforme fosse este ou aquele posto a
vendê-las! Na Peneda compraram-se a 8$00! Uma simples folha A 4. / E termina: «como se há de crer legal uma coisa que não é
uniforme?» Nota: estávamos ainda
na chamada Ditadura Militar; quando Salazar assumiu a chefia do governo nunca
mais permitiu escritos deste tipo. // As afirmações do ainda seminarista foram
de imediato contestadas. Bernardo Pintor não esperava aquela reação e contra
atacou. Em 1.º lugar dirige-se ao diretor do jornal: «Sr. Diretor – em virtude do decreto com
força de lei n.º 12.008 exijo a publicação do presente artigo na íntegra do seu
conteúdo. Você intimou-me a cessar os meus artigos (…) pela razão que muito bem
sabe, e eu conformei-me, ainda que a lei da imprensa me não proibia tal
narração, mas agora tem de publicar o presente artigo porque fui atingido na
correspondência de Cristóval. Não estou com mais preâmbulos. / Escrevi em três
números seguidos um artigo sob o título “Interesses de Castro Laboreiro” que os
leitores tiveram ocasião de ler. A censura, ou antes, o delegado da Comissão de
Censura, impôs-me silêncio, alegando que eu não sabia escrever. Ainda que a
intimação fosse feita contra a regra da lei da imprensa, submeti-me para não
causar transtorno à publicação deste semanário. Todos devem saber quanto custa
a um jovem na força da idade não poder lutar pelos seus ideais… pela verdade!
Eu comentava factos e expunha o que o povo sofre para mostrar o caminho a
seguir. Não pense alguém que eu sou lobo faminto que deseje devorar a
Guarda-Fiscal, não. Eu reconheço a sua necessidade, mas dentro dos justos
limites. Por isso lhe chamei «útil instituição» num dos meus artigos. Reconheço
também quanto é prejudicial à nação o nefasto contrabando. Gostei até do artigo
do Sr. Nóvoas e estranho que não continue a sua campanha contra os
contrabandistas. Toda a minha repugnância está na questão das guias e seu preço.»
/ Em 2.º lugar, enfrenta o adversário: «Respondo, portanto, à correspondência de
Cristóval porque isso me faculta o já mencionado decreto. / O (…)
correspondente daquela localidade diz que «mercadoria é o que se compra e
vende» e por isso também os gados devem ser considerados mercadorias porque se
compram e vendem. Concedo-lhe que em
sentido lato assim seja, mas em sentido estrito eu entendo que «mercadoria é o
que se compra e vende, mas só enquanto é objeto de comércio, isto é, enquanto
está exposto à venda ou transita de um lugar para ser vendido.» Se assim não é,
os prédios são mercadoria, e portanto devem ser inscritos naqueles impressos a
que me referia. Um fato, um chapéu, um guarda-sol, etc., segundo o meu parecer,
são mercadorias só nas transações comerciais porque se, depois de possuídos por
um particular, continuam a ser mercadorias, devem precisar de um impresso
daqueles a que já aludi. Assim, eu julgo que o gado seja mercadoria enquanto é
exposto à venda numa feira ou é objeto de comércio, não porém enquanto o
lavrador o possui para seu governo (para seus trabalhos agrícolas). / Diz-me que só por intuição malévola se pode
confundir a taxa das guias com impostos, mas… confesso a verdade: não
compreendo como tamanho seja o seu preço. Se a guia faz falta por conveniência
fiscal, não podia ter o preço duns $50, como tinham os manifestos? / Todo o
lavrador é igual em face das leis e não compreendo como os da linha de
fronteira sejam obrigados a pagar uma taxa, que não é pequena, pelos seus gados
que se consideram mercadorias; e os que estão fora da referida linha, nada
pagam, apesar de terem igualmente seus gados! / Diz-me que o seu preço é uniforme, mas eu mostrei nos meus artigos que
não. Contra factos não há argumentos. Diz-me que a lei é de 1888, da monarquia.
Quanto a Monarquia, saiba que eu me não filio em partidos políticos; só quero
ver os direitos de cada um de nós respeitados. Mas atenda: os homens que presidem
à Nação devem procurar o bem dos súbditos e não iludir o nosso povo que
resgatou a Pátria com as pesadas contribuições. Por isso não acredito que o
muito digno Ministro das Finanças, atendendo os pedidos dos povos da fronteira,
suprimisse os manifestos e deixasse em vigor as guias que molestam o povo mais
do que os manifestos. Se a lei foi
publicada deveu ser abolida, porque se estivesse em vigor não precisava o
Governo decretar os manifestos que têm o mesmo efeito das guias. / É próprio
dos grandes homens não fazerem coisas inúteis. Quanto à lei ter 42 anos não se
admire de não ser conhecida por mim, porque só tenho metade desses anos; e a
Guarda-Fiscal, que é mais antiga do que a própria lei, parece-me não ter dela,
lei, conhecimento até ao ano de 1929. Não poderia dizer-me qual o preço que a
lei fixa às guias? Quem lhes fixou o
preço atual? / Se a GF cumpre (…) a sua missão, é esse o seu dever, e portanto
só merecerá os aplausos e admiração de quem tenha boa mentalidade. Seria de
desejar que o muito digno correspondente de Cristóval esclarecesse estes casos
pela sã filosofia e boa apresentação que teve na sua correspondência: isto para
desilusão do povo que se julga ofendido nos seus direitos. Já vê que não quero
mal à Guarda Fiscal, mas anelo somente o bem do nosso povo. / 11/12/1930,
Bernardo Pintor. // Em 1931 publicou um poema, ao qual deu o título de
“O órfão e a caridade” (ver Notícias de Melgaço n.º 96, de
1/2/1931, página 3). // A 8/7/1934 foi-lhe conferida pelo
arcebispo primaz, na capela do Seminário Conciliar de Braga, a ordem de diácono
(NM 239, de 22/7/1934). // No Notícias de Melgaço n.º 240, de
29/71934, lê-se: «o seminarista
Manuel António Bernardo (…) dirigiu o coro aquando da missa nova cantada pelo
padre José Augusto Alves, da Gave, rezada a 22/7/1934 na sua terra natal.»
// Ordenou-se sacerdote na Sé de Braga a 15/8/1934 e cantou missa nova no dia
seguinte no Santuário do Sameiro (NM 244,
de 9/9/1934). // Foi vigário cooperador (ou
2.º coadjutor) da matriz da Póvoa de Varzim de 1934
a 1935 (ver NM 248, de 14/10/1934); pároco de Sequeira, Braga, de 1935 a 1936; e de Riba de
Mouro desde 23/8/1936. // Em termos ideológicos, era conservador; em 1938,
aquando da festa da Senhora da Orada, elogiou calorosamente os legionários de
Melgaço! // Em Junho de 1938 o padre Bernardo Pintor já estava a paroquiar a
freguesia de Riba de Mouro. Colaborava no Notícias de Melgaço e, nos seus
escritos, mostrava a sua simpatia ao corporativismo. Aos legionários
chamava-lhes «soldados de novos ideais»,
«soldados briosos»…(NM 402, de 26/6/1938). /
Provavelmente só conhecia os chefes: Dr. João Durães, Dr. Júlio Esteves,
tenente Lopes, padre António de Jesus Rodrigues (capelão do núcleo e
comandante de lança), Abílio Domingues (este, delegado
escolar e professor oficial em SMP, nascido em Castro em 1900, foi agraciado
nesse ano de 1938 pelo Comando Geral da Legião Portuguesa com a medalha da
dedicação pelos serviços «que tem
prestado à Legião Portuguesa neste concelho») e até, imaginem, o Dr.
Augusto César Esteves (velho republicano), pois se conhecesse a maioria deles, analfabetos e
esfomeados, a trabalhar de sol a sol na agricultura ingrata, ou na construção
civil e na estrada para Castro Laboreiro, recebendo em troca quase nada, o
padre Bernardo teria com certeza uma opinião bem diferente. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 858, de
23/5/1948: «CLAMOR DE RIBA DE MOURO –
“Muito pode quem quer”, diz o velho rifão e é certo. Está neste caso o brioso e
devoto povo de Riba de Mouro que, apesar dos clamores terem sido proibidos, não
tem deixado de vir cumprir o voto que os seus antepassados contraíram para com
a Nossa Senhora da Orada. E assim vimo-lo chegar, no passado dia 16,
acompanhado do seu muito zeloso pároco, reverendo Manuel António Bernardo, não
[em procissão], como noutro tempo, mas em piedosa peregrinação de romagem a
Nossa Senhora da Orada, em cujo templo celebrou missa solene a grande
instrumental e sermão pelo seu pároco que – em abono da verdade – se deve dizer
é um distinto orador, dotado de excelentes qualidades de eloquência.» // «Realizou-se
ontem, pelas 16 horas, da Portela para a igreja paroquial desta freguesia, uma
luzida procissão em honra do glorioso mártir São João de Brito, sendo conduzida
a sua nova imagem entre cânticos e louvores para a nossa igreja. Foi orador o
reverendo padre António Bernardo, de Riba de Mouro, Monção, que muito agradou.»
(A procissão ocorreu no dia 19, na freguesia de Chaviães – Notícias de Melgaço n.º 903, de
26/6/1949). Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 1026, de 1/6/1952: «Festa a Santo António – ano a ano esta romaria está criando nome,
graças à dedicação do pároco de Riba do Mouro, reverendo Manuel António
Bernardo, um melgacense que, fora da sua terra, ali vem fazendo uma obra
notável de engrandecimento da freguesia.»
Fundou
em 1953 o jornal paroquial “Voz da Nossa Terra”. // Participou no Congresso
Histórico de Portugal Medievo, realizado em Braga de 6 a 10/11/1959,
apresentando um estudo sobre Castro Laboreiro e seus forais, o qual foi muito
apreciado pelos congressistas; esse estudo foi publicado no volume XVIII/XIX,
n.º 41-42 (53-54) da revista Bracara Augusta. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1585, de
30/1/1966: «O distinto e erudito investigador
reverendo MABP, que há 35 anos começou a escrever para o público em “Notícias
de Melgaço”, honrando-nos com a sua interessante e valiosa colaboração,
apresentou ao Congresso Histórico de Portugal Medievo, realizado na cidade de Braga
(…), em Novembro de 1959, um notável estudo sobre Castro Laboreiro e seus
forais, estudo que foi muito justamente apreciado, discutido e sublinhado com
gerais aplausos pelos congressistas. / O valioso estudo que faz honra ao seu
autor, castrejo de nascimento e pelo coração, foi publicado no volume XVIII/XIX,
n.º 41-42 da revista Bracara Augusta, agora editado em separata, gentilmente
oferecida com amiga dedicatória ao nosso modesto semanário, onde iniciou seus
voos literários e se afirmou um incipiente escritor com predileção pelas coisas
do passado. / Inicia o ilustre castrejo a apresentação da sua terra natal como
um núcleo populacional típico de autóctones da população portuguesa, da raça
lusitana, assoalhado na montanha, única terra de Melgaço com águas vertentes ao
rio Lima, de privilégios e isenções de tributos que favoreceram a sua colonização
e com uma população típica de trabalhadores fortes e amantes do seu torrão
natal, ligados à terra sáfara por um culto fervoroso e inigualável. Na
interessante separata publica em apêndice e comenta judiciosamente os forais de
Afonso Henriques (segundo Lousada), e de D. Sancho I, e de D. Afonso III
(segundo informa D. Manuel I), esclarecendo que, erradamente, se atribuiu a
Castro Laboreiro uma carta de foro outorgada por A. Afonso III a 15/1/1271, o
qual bem parece reforma do de D. Sancho I, exibido aquando das inquirições de
1258. / Ao nosso erudito conterrâneo, padre Bernardo Pintor, agradecemos
sensibilizados a oferta do seu curioso e instrutivo opúsculo, com a sua honrosa
dedicatória, e apresentamos-lhe as nossas mais entusiásticas felicitações pelo
seu valioso trabalho que revela erudição, amor à sua terra natal, e demorada e
honesta investigação das origens e da história dos seus antepassados.»
Morreu a 1/3/1996 no Seminário de São
Teotónio, Monção, onde estava internado, e foi sepultado no dia seguinte no
cemitério da sua terra natal, no lugar do Ribeiro de Cima, onde nascera. // Era
um homem culto, grande investigador, deixando alguns livros com interesse,
sobretudo na área da história regional. // “Melgaço Medieval”, de 1975, é um
livro valioso para a História de Melgaço. // (Ver
Notícias de Melgaço n.º 239, de 22/7/1934, e A Voz de Melgaço n.º 1047, de
15/3/1996).
// continua...
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