OS MEUS SONETOS, E OS DO FRADE
Por Joaquim A. Rocha
// continuação...
REVOLTADO
Não
quero dar-te a alegria de voltar
Para
os teus braços sujos e rugosos,
Teus
cabelos compridos e sebosos,
Teu
corpo já sem forma e sem altar!
No
sujo labirinto vou ficar…
Com
cheiros de mil gases venenosos,
Com
ratos, cobras, sapos tenebrosos,
Comendo
sonhos antes de eu sonhar!
Dou-te
sementes de cinza sem cor,
Fragmentos
dum eu que não existiu,
Orvalhos
de manhãs que não vivi…
Dou-te,
vil, um milésimo da dor,
Uma
pedra do castelo que ruiu,
Uma
lágrima que correu e eu não vi!
Dentro
de mim existe a tempestade,
O
mar bravo, o forte vento do norte;
Coabitam,
como irmãos, azar e sorte,
A
mentira soez, mais a verdade!
Dizem
que há em mim generosidade,
Um
terror grosseiro à dura morte,
Que
sou íntimo amigo de Mavorte,
Menino
arisco, triste, sem maldade!
Como
é possível tudo isso existir
Dentro
deste meu corpo tão franzino,
Desta
minha alma de frágil criança?
Se
verdade for, como resistir
A
este mundo feio, vil, cretino,
Sem
me tornar Quixote ou Sancho Pança?!
// continua...
Sem comentários:
Enviar um comentário