segunda-feira, 19 de agosto de 2024

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha 



// continuação de 23/05/2024.


O tempo

(157)

 

 

Se tu pudesses sequer deduzir

Quão profundo é o meu querer,

Não me deixarias assim sofrer,

Em Ourique ou Alcácer-Quibir.

 

Luto imenso, para te servir,

E nem tua sombra eu posso ver;

Deixas a redoma ao escurecer,

Chegas sempre depois de eu partir.

 

Tu és como a minha estranha sorte:

Anda, sem rumo, à minha procura;

Se vou para sul, vai para o norte,

 

N’um ritual dançado, com loucura…

Em busca dum sonho, do seu consorte,

Dum tempo sem amor e sem ternura!

 

  

LAMPIÃO

(158)

  

Vislumbro o temível Lampião,

Nas extensas estepes brasileiras;

Passando dias, as noites inteiras,

Percorrendo as aldeias do sertão.

 

Dizem que não tinha alma, coração,

Vivia para os crimes, borracheiras;

Era amante de putas, carpideiras,

Era lobo, tigre, feroz leão.

 

Tudo isso é, creiam, pura verdade,

Que o diga o desgraçado Salinas,

Vítima da sua vil crueldade…

 

Matou homens, meninos e meninas,

Sem qualquer laivo de piedade,

Com suas vorazes fauces caninas.

 

*

 

(O sacana, embrulhado em boninas,

morreu sem deixar pena, ou saudade,

(ao som de mil balas e concertinas)


// continua...

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