POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 26/04/2024.
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EM VERSALHES ACONTECEU
Numa humilde barraca, dormindo,
um bebé de três meses se encontrava,
quando a morte, traiçoeira, fingindo,
o pobre, em suas garras levava!
Bem pior do que nos selvagens matos,
na nobre Versalhes aconteceu:
ao ser mordido por terríveis ratos
o frágil bebé português morreu!
No trabalho, não longe dali, estavam
os pais, coitados, do infeliz bebé;
quando a má nova souberam, pensaram
ser tudo brincadeira de má fé.
A mãe do rapaz, infeliz Felícia,
a vida, o mundo, tudo esqueceu,
ao confirmar a sinistra notícia
de que seu filho a vida perdeu.
Pobre Felícia, triste Manuel,
seu filho, “le petit” Jorge, partiu;
voou, como papagaio de papel,
e num planeta distante caiu!
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A VOZ DA SABEDORIA
Esta noite, a sonhar,
ouvi uma voz dizer:
«quando a feia te levar
a minha alma vai sofrer.
Tu és em mim hospedeiro,
eu sou a sabedoria;
sou caminho verdadeiro
que percorres dia a dia.
Não queiras de mim fugir,
segue o trilho que traçaste;
não te deixes iludir,
pão bom só o qu’amassaste!»
OLHOS CASTANHOS
Esses teus olhos castanhos,
fascinadores, ciganos,
atrevidos, violentos…
são a sede dos enganos,
põem corações em
tormentos!
São vida, são alegria,
um mundo de fantasia,
que a todos faz invejar;
também invejo sua sorte,
mas antes prefiro o norte
do que ter de sacrificar
por eles minha solidão;
sei que tudo é ilusão,
não me quero enganar.
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PODEREI ESQUECER?
Poderei esquecer
aqueles momentos
em que, confiante,
em meu peito descansavas
murmurando palavras
d’amor?
A mim te entregaste
sem fingimentos;
e eu, num momento,
tudo deitei a perder!
Poderei esquecer
as horas felizes
que contigo passei,
os beijos que te dei,
os sonhos que, juntos,
construímos?
Aqueles momentos
em que, submersos,
em nossos pensamentos
o pensamento se cruzava?
Jamais poderei esquecer!
// continua...
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