quinta-feira, 23 de maio de 2024

SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha



// continuação de 11/02/2024.

 

JÁ A TARDE DORMENTE…

 

Já a tarde dormente a face inclina,

Ouve-se o toque da ave-maria,

Anunciando a noite, fim do dia…

Numa eternidade, longa rotina.

 

O mineiro, dentro da funda mina,

Sem o sol, nem cheirando maresia,

Até a brisa da tarde esquecia,

Paisagem que se avista da colina.

 

Assim decorre a minha existência,

Sem luz, na escuridão permanente,

Numa brava luta sem resistência…

 

Caminhando num planeta fervente,

Esgotando a pouca fé, paciência,

Num frémito soluço que se expende.

 

 

SE NASCEMOS DO VERBO…

 

Se nascemos do verbo, da palavra,

Quem criou isso que nos deu o ser?

Quem nos deu a morte, curto viver,

Quem tornou nossa pobre alma escrava?

 

Nascemos do barro, semente brava,

Não foi fácil nosso corpo erguer;

E logo a serpente nos faz sofrer,

Seu olhar a felicidade trava.

 

Onde mora o esquivo paraíso,

Se tudo se transforma em ruínas?

Não há entendimento, não há siso,

 

Não há mais heróis, santos, heroínas.

Perdeu-se tudo, até o alvo riso,

Deixa-se a honra pelas vis esquinas.

 



// continua...




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