QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 17/03/2023
216
Não sei o que a
Lena tem,
Que cativa toda a
gente;
É ave, voa tão
bem!
Lagarto, de
sangue quente.
217
Não sei se há
alguém no mundo
Com tantos dons,
tais virtudes;
Inteligência
serena,
Pairando nas
altitudes.
218
Juntamos bola e
política,
Escuros e
marginais;
Falamos de tudo e
todos,
Acabou: já não há
mais.
219
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Anda a fugir de
Cupido,
Da seta que não
perdoa.
220
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Quer passar despercebido,
Correr a cidade à
toa.
221
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Sempre audaz e
divertido,
Vai comendo febra
e broa.
222
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Anda à sorte, sem
sentido,
Nos braços da Madragoa.
223
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Veio de Pádua
fugido,
A bordo de uma
canoa.
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Já traz o peito
dorido
De tanta canção
que entoa.
225
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Com seu amigo
Cupido
Vai curtindo numa
boa.
226
Santo António
anda perdido,
Nos arraiais de
Lisboa;
Não quer ser
reconhecido,
Mas a fama não
perdoa.
227
São João pediu-me
um dia
Que esquecesse a tristeza;
Brincasse com a Iria,
Saísse com a
Teresa.
São Pedro nasceu
cansado,
Não gosta de
trabalhar;
É bailarino
alado,
Não se farta de
dançar.
229
Santo António faz
milagres,
Faz milagres aos
milhares;
De vinhos dá-nos
vinagres,
Do barro faz
alguidares.
230
Há três santos
populares
Adorados pelo
povo;
São Pedro e São
João,
Santo António, o mais
novo.
231
O santinho
português
Saiu-me bom
malandrão;
De inverno
ninguém o vê,
Só vem à rua no
verão.
232
São João mudou de
cara
Para enganar as
mocinhas;
Todas servem para
ele,
Sejam magras ou
gordinhas.
233
São João pra
namorar
Põe cabeleira
postiça;
Usa bengala de
prata,
E veste roupa
castiça.
234
São João pra
disfarçar
Mascara-se de
carriça;
Usa calça muito
larga
Pra esconder a
linguiça.
235
Na noite de São
João
Esqueço meu
sofrimento;
O santinho dá-me
forças,
Rodopio como o
vento.
236
Na noite de Santo
António
Eu sou como um
homem forro;
Grito, bailo, tal
demónio,
Levo e dou com
alho-porro.
237
No dia de Santo
António
Fui ao baile e
chorei;
Tinha ali mesmo a
meu lado
A mulher que abandonei.
238
Na noite de São
João
Ninguém pode
descansar;
Todo o mundo é
folião,
Toda a gente quer
bailar.
239
Viva a festa,
viva a farra,
Os santinhos
populares;
Muito vinho,
pouca parra,
Sardinhas, outros
manjares.
240
Santo António de
Lisboa,
Saiu-me um tipo
matreiro;
Diz aos outros
pra casar,
E ele fica
solteiro.
241
Por causa do São
João
Passei a noite ao
relento;
Parecia um gavião,
Com suas asas ao
vento.
242
Santo António,
meu padrinho,
Meu santinho
milagreiro;
Dá-me uma pipa de
vinho,
Um alforje com
dinheiro.
243
Tu és verdadeiro
sismo,
Arrasas por onde
passas;
Lanças-nos para o
abismo,
Causando-nos mil
desgraças.
244
A quadra popular
Tem muito que se lhe
conte;
Anda alegre no
seu lar,
Felicíssima no
monte.
245
Fui ontem ao
cemitério
Visitar os sem-abrigo:
O João, Luís,
Rogério…
Só falta lá o
Rodrigo.
246
A vida é como o
comboio:
Para em cada
estação;
Um aqui, outro
acolá…
Restos de pura ilusão.
247
A vida é um
carrossel:
Gira, gira, sem
parar;
Chega a ceifeira do
fel,
Parte com ela a
bailar.
248
A vida dá-me de
tudo:
Tristezas e
alegrias;
Deu-me um repolho
taludo
Que me causa mil
azias.
249
A vida é como a
sorte:
Muda logo num rompante;
Às vezes anda no
norte,
Por norma está
distante.
250
A vida é como a
sorte,
Como ela,
intermitente…
Anda à cega, perde
o norte,
Abre os olhos,
vai em frente.
251
Tive um soneto na
mão
Para o dar ao meu
amor;
Mostrava-lhe o
coração,
Minha alegria e
dor.
252
Eu sou como o
esquilo,
Salto de ramo em
ramo;
Sou livre, sem
espartilho,
Não tenho dona
nem amo.
// continua...
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