QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
131
Nada é como era dantes,
O amor desapareceu
Na barca dos navegantes,
À procura de Nereu.
132
Vejo ao longe a imagem
De uma deusa sorridente;
Talvez seja uma miragem,
O sonho de um demente.
133
As figueiras da Peneda
Dão seus figos em Agosto;
E têm uma cor tão leda…
Um sabor que nos dá gosto.
134
A figueira da Peneda
Não sei que diacho tem;
Entalada entre rochas
Dá figos que sabem bem.
135
Dizem que estou tapadão,
Sei que estou, e é por ti;
Perdi a minha razão
No dia em que te vi.
136
Mil carinhos pra dar tenho,
Tanto amor em mim encerro;
Mas quase nada obtenho
Daqueles a quem eu quero.
137
Não sei para que nasci,
Por que vim a este mundo;
Onde tudo é frenesi…
Onde o ódio é profundo.
138
Ando na vida perdido,
Sem carinho, sem um bem;
Ando sem rumo, sem tino,
Não sou nada, nem ninguém.
139
Transformaste minha vida,
Deste alma a um ser morto;
Diz, deusa bem-parecida,
Que te trouxe a este porto?
140
Para uns, a morte é vida,
Para outros a vida é morte;
Tenho a razão confundida,
Talvez seja a minha sorte.
141
Todos são filhos da morte,
Irmãos no vil sofrimento;
Nesta vida de má sorte
Só se salva o pensamento.
142
Pensamento, meu ser livre,
És suporte da existência;
Sem ti, tudo era vazio
E falho de inteligência.
143
Alma minha que traída
Pelo sonho de grandeza,
Tornando-a pequenina
E cheiinha de tristeza.
144
Neste canto sossegado,
Onde morte não me lembra,
Tenho o peito descansado
E meu cérebro não pensa.
145
Ela sabe que eu sei
Que em mim está pensando;
Eu sei que ela já sabe,
Meus olhos a estão fitando.
146
«Obviamente
demito-o»
Disse Humberto Delgado;
Mas Salazar, repito-o,
Mandou-o para o outro lado.
147
Há quem diga que eu disse
Que te amava em segredo;
Não o creias Clarisse,
Meu coração é rochedo.
148
Ilusão por que nasceste,
A vida é horrenda e má;
Inda por cima cresceste,
A vida a morte te dá.
149
As nódoas dessa toalha
São mais limpas do que crês;
Bem mais sujas, a mortalha
Cobre: e tu não as vês!
150
As nódoas dessa toalha
São mais limpas do que crês;
Sujas sim – e tu não vês,
Cobre-as aquela mortalha.
// continua...
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