OS NOVOS LUSÍADAS (...)
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 31.05.2022...
70
«Os
Lusíadas», obra monumental,
São
apresentados ao jovem rei,
Que
os lê como se fora missal;
Ele
não sabia, e nem eu sei,
Se
a leitura lhe fez bem ou mal,
Se
o engrandeceu perante a grei.
Meteram-lhe
bichinhos na cabeça,
Louvores
que eu duvido que mereça.
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Foi
crescendo assim o jovem monarca,
No
meio de santinhos e padrecos,
Lendo
Santo Agostinho e Petrarca;
Ouvindo
sermões de sacerdotes recos.
Sonhando
imprimir a sua marca,
Criando
um exército de tarecos.
Ansioso
por seus dotes exibir
Cai
na batalha de Alcácer-Quibir.
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Era
inda uma alegre criança,
Solteiro,
sem prole ou descendente;
Um
pobre seguidor, um Sancho Pança,
Deixando
este país dependente.
Da
Espanha um Filipe avança,
A
fim de substituir o rei ausente.
E
pra que se cumpra o seu desejo
Manda
as suas tropas num lampejo.
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Dom
Sebastião não é o desejado,
Não
voltará jamais da sua cova;
Pelo
povo será sempre desprezado,
Pela
terrível, monumental sova.
Do
seu exemplo, outrora glorificado,
Pouco
resta, ou nada sobra.
Descanse
em paz onde quer que esteja,
Pois a sua obra ninguém a inveja.
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Sucedeu
ao rei, o seu velho tio,
Cheio
de achaques, nervoso, doente;
Em
pleno verão tremia de frio,
No
inverno andava nu e fervente.
O
padre não tem réstias de cio,
Um
ser amorfo, amostra de gente.
Pra
não duvidar da sua fraqueza
A
morte o levou na correnteza.
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Convocou
as cortes de Almeirim
No
ano de mil quinhentos e oitenta.
Cristóvão
de Moura, português ruim,
Mais
porco do que uma suja sebenta,
Traiu
o país, em troca de marfim;
E
numa triste atitude nojenta
Pôs-se
ao lado do rei espanhol
Como
se fora trapo, vil lençol.
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Porém,
o velho cardeal Henrique,
Não
cedeu a truques, mil corrupções,
Não
quis beber do belo alambique,
As
lindas frases, pérfidas canções.
Assistiu
calmo ao forte despique,
Sem
ceder a enganosas ilusões.
Morreu
sem coisa alguma decidir,
Antes
que alguém lho viesse exigir.
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Logo
apareceram candidatos
Ao
rendoso lugar deixado vago.
São
Catarinas, Filipes, os Cratos,
E
até, do oriente, um rei mago!
Mas,
entre lobos, camelos e gatos,
E
com a ajuda do Santo Iago,
Veio
de terras de Espanha o “Prudente”,
Para
enganar a nossa incauta gente.
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Da
Ilha Terceira há oposição,
Mas
tão fraca, sem qualquer consistência,
Que
uma esquadra, só com um canhão,
Destruiu
toda aquela resistência.
Prior
do Crato, já sem ilusão,
Rende-se
à óbvia evidência.
E
com ele levou toda a esperança
Ao
retirar-se vencido para França.
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E
os três Filipes que por má sorte
Foram
reis deste malo Portugal,
Destruindo
o sul e todo o norte,
Fazendo
pouco bem e muito mal...
Causando
a tantos a vil morte,
Ferindo
a honra do luso leal.
A
eles dar-lhes-ei como sentença
O
esquecimento e a fraca tença.
80
Filipe
primeiro para se vingar
Dos
ingleses, seus grandes inimigos,
Manda
uma armada avançar
-
Apesar dos numerosos perigos -
Por esse imenso, bravíssimo mar,
Dando
aos tubarões gulosos presigos.
Pois
a tal, que diziam invencível,
Tornou-se,
em segundos, perecível!
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Seguiu-se
o segundo e o terceiro,
Filipes
de seu nome de batismo.
E
para que o último fosse o derradeiro,
-
Seguindo a lógica do atavismo –
João,
o quarto, luso verdadeiro,
Numa
alta onda de portuguesismo,
Escorraça
do solo lusitano
O
vero inimigo, o vil tirano.
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O
rei foi alvo de conspiração,
Gerada
pela duquesa de Mântua,
Julgando-se
com direito à ração,
Mais
comilona do que um gargântua;
Porém,
foi expulsa desta nação,
Cúmplices
transformados em tarântulas.
Os
duques de Armamar e de Caminha
Tiveram
a morte como convinha.
83
Outra
conspiração aconteceu,
Era
Corpo de Deus, um feriado;
Domingos
Leite, um pobre plebeu,
Por
dinheiro imundo, conspurcado,
Renegando
a fé, o doce céu,
Foi
o braço desse vil atentado.
Tudo
lhe correu mal, não teve sorte,
Por
isso o desfecho foi a morte.
84
Adveio
a guerra da Restauração,
Que
terminou trinta anos mais tarde.
Lutou-se
com cabeça, coração,
Durante
longo tempo o fogo arde;
Houve
mil vitórias, ilusão,
Milhares
de mortos, que Zeus guarde.
Assinam
por fim tratado de paz,
Que
a espanhóis e lusos satisfaz.
85
Reconquistou-se
Tânger, São Tomé,
Inda
mais longe a rica Angola,
Que
Holanda houvera de má-fé,
Sem
tiros de espingarda, ou pistola.
Pernambuco,
e Maranhão até,
Voltaram
ao país não por esmola.
E
a linda Baía, a desejada,
Quis
ser portuguesa, muito amada.
// continua...
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