POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
// continuação de 1/08/2021.
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SAUDADE
Essa palavra saudade,
de raiz bem portuguesa,
não tem tempo, nem idade:
nasceu com a humanidade,
cresceu com a natureza.
Essa palavra saudade,
que revela nosso sentir,
não tem tempo, nem idade:
é velhice, é mocidade…
exprime o passado, o devir!
Essa palavra saudade,
que trago sempre no peito,
não tem tempo, nem idade:
diz tristeza, felicidade…
todos lhe prestamos preito!
Essa palavra saudade,
que sempre nos acompanha,
não tem tempo, nem idade:
fala angústia, ansiedade…
vive na paz, na campanha!
7/2/1978
25
O vento fala comigo…
«trago novas de um
amigo,
lamentos de uma infeliz.»
Açoita meu rosto pálido,
afaga meus brancos cabelos;
nivela meu olhar cálido,
aviva e agita meus
desvelos.
Traz-me à ideia a infância,
onde a pobreza reinava,
e, sem fé, nem esperança,
os tristes dias passava!
Vento! – Que novas são
as que trazes no teu bojo?
Diz-me, que meu coração
está já a pedir, de rojo!
Diz-me onde estão meus amigos,
Se vivem bem no outro mundo;
Se têm por lá inimigos,
Um novo amor profundo.
Diz-me que comidas comem,
Se são servidos por anjos;
Se em macias camas dormem,
Se têm asas como arcanjos.
Diz-me tudo o que lá se passa,
Tudo eu quero saber;
Diz-me se por lá há desgraça,
Se há ódio e malquerer.
Diz-me tudo, que eu não sei
O que por lá acontece;
Diz-me se há rainha ou rei,
Se a aranha ainda tece.
Diz-me tudo, tudo, tudo,
Neste tão longo e triste dia;
Eu, para te ouvir, fico mudo,
Indiferente à ventania.
// continua...
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