quarta-feira, 18 de março de 2015

O NOSSO RIO MINHO




Com o dilúvio nasceste,
em os Cantábricos Montes;
e bebendo de mil fontes,
como serpente desceste.

Deram-te nome de rei,
Minos de Creta, chacal;
filho d’Europa imperial
e de Zeus, senhor da Lei.

Republicano e monárquico,
português e espanhol,
amando a lua e o sol,
disciplinado e anárquico.

Foste palco de tragédias,
viste morrer muita gente;
e, julgando-te indiferente,
sujaram-te as águas nédias.

Tanto corpo, tanto drama,
em teu leito se espojou;
e o desgosto imperou
como a aranha na trama.

Viste celtas e romanos,
suevos, godos e mouros;
brancos, morenos e louros,
uns feras, outros humanos.

Alimentaste gente esguia,
com teu peixe bom e raro;
o salmão, bonito e caro,
sável, truta e enguia.

Da lampreia já não falo
- quão famoso te tornou –
mas partiu, e mui chorou,
abraçadinha ao escalo.

Nas tuas margens singelas
(que deliciam olhares)
erigiram-te altares,
as moças feias e belas.

Tu lembras-te, rio Minho,
quando fomos companheiros,
os dois juntos, prazenteiros,
como pássaros no ninho?

Contavas-me teus segredos,
ternos amores felizes,
e as guerras meretrizes,
e os imensos degredos.

Dos cântabros e mafomas,
ástures, galaicos feitos,
bravas armas, fortes peitos,
fazendo tremer mil Romas.

Da Condessa Dona T’resa,
que recebeu o condado,
mas talvez por ser herdado
o perdeu sem mui destreza!

Do nosso Afonso Henriques,
que quis alongar Portugal
e, num milagre genial,
o conseguiu em Ourique.

Ó meu saudoso gigante,
meu corcel d’ asas aladas,
deixa, por águas passadas,
repousar minh’ alma errante.

Recorda o tempo remoto,
datas d’ outrora enfatiza;
mas ama sempre a Galiza,
e continua minhoto. 

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