sábado, 14 de março de 2015

TOMÁS DAS QUINGOSTAS

                                                                 ...continuação


     A morte trágica do “capitão”, ocorrida a 30/1/1839, é relatada em várias versões. Uma, talvez a mais popular, é a que diz que ele foi abatido depois de ser preso pelos soldados na loja de Policarpo Fontes (12), sita no Cruzeiro de São Paio. No caminho para a prisão, mais precisamente na ponte de Alote (ou Alota), o Quingostas, virando-se para os militares, ter-lhes-ia dito: «foi aqui que pratiquei o meu primeiro crime!» Depois, julgando-os distraídos, pisou um calo a um dos captores e fugiu. Os tropas dispararam as armas contra ele e mataram-no.
     É óbvio que esta versão é fantasiosa. Primeiro, prender o Tomás não era nada fácil; mas depois de capturado, deixá-lo com as mãos e pernas livres é inconcebível.
     No livro “Lendas do Vale do Minho”, editado pela Associação de Municípios do Vale do Minho em Maio de 2002, a páginas 67, lá vem, em meia dúzia de palavras, a “lenda” do famoso bandido: há luta, fuzilamento, decapitação, tudo! A cabeça foi enviada à rainha, como troféu, que seria, segundo o “contador”, D. Isabel! Para cúmulo da desgraça, o desenho do Tomás (?!!!), tem cara de ameríndio! Valha-nos a santa e fértil imaginação!
     Também no romance de José Alfredo Cerdeira, intitulado «O Tomás das Quingostas», e editado em 2007, nas páginas 254 a 257, podemos ler esse fim de vida do caudilho. O autor situa-o, aquando da sua morte, no reinado de  Maria II, o que está correto, e descreve esse momento dramático, no qual o “capitão-bandido” tenta subornar os magalas, mas eles, como pertenciam a uma elite militar, psicologicamente fortes, não vão em cantigas e prendem-no. No mesmo livro existe outra versão, a da cilada: alguém colocou uma arca pesada em cima do alçapão para ele não poder fugir. Tomás desconfia de Policarpo, ameaçando-o, dando-lhe a entender que não ficaria impune, mas como sucumbiu não se pôde vingar dessa deslealdade.
             O seu registo de óbito, escrito pelo padre Manuel José Domingues, pároco encomendado da igreja de São Paio, é parco em pormenores: «Tomás Joaquim Codesso, do lugar das Quingostas, foi morto pela tropa o dia trinta de Janeiro de 1839, na Quinta d’Alota, desta freguesia, sem sacramentos, e sepultado o dia primeiro de Fevereiro. Para constar fiz este assento. Era ut supra.»  
     Embora o assento seja raquítico, enfezadinho, dá-nos, porém, uma certeza: o Tomás foi abatido pela força militar, que já o perseguia havia algum tempo. Não nos elucida, contudo, onde o seu corpo foi enterrado. Poder-se-á perguntar: o que levou o cura a ser tão lacónico? A resposta é difícil de dar, mas a razão principal deve estar relacionada com o estranho comportamento do Quingostas face à igreja católica e aos seus padres. Quanto a mim, ele devia fazer parte de uma lista negra, de “persona non grata”, herege e blasfemo.           
     Mas falando novamente das diversas versões, para mim, a que se aproximará mais da realidade é a que foi contada pela mãe do defunto, no tribunal, a 2/12/1839: «… que quando foi preso e morto vinha a cavalo da Vila de Melgaço, e a ré, que estava em casa doente, não sabe quem tomou conta do cavalo, nem a quem se entregou, constando que os primos dele, os “Beira Alta(14), haviam fugido com ele, assim como com a roupa dele e tudo o que puderam haver à mão, sem que coisa alguma fosse ao poder da ré(“Melgaço e as Lutas Civis”, p. 190/1).
     E até se compreende, porque Maria Teresa de Castro «quando seu filho foi preso e morto, a 30/1/1839, estava de cama muito doente (…) e seu filho vivia em companhia de suas criadas, em casa separada, onde a ré ignorava o que ele tinha e possuía, nem os móveis que tinha(obra citada, p. 190).
     Daquilo que acima se leu poder-se-á concluir, sem grande margem de erro, que o bandido caiu numa emboscada: a tropa esperava-o, não para o prender, mas sim para o matar. E faz todo o sentido: o Tomás, enquanto fosse vivo, era uma ameaça para os fidalgos e burgueses da região, e uma vergonha para as autoridades, civis e militares. Cadáver, passava à história, tornava-se lenda ou mito, mas já não fazia mal a ninguém. E a sua morte também era um aviso para todos os bandoleiros: a partir daquele momento a ordem começava a restabelecer-se, a anarquia acabara. 
     De acordo com a declaração de sua mãe, Tomás residia em casa própria, com «suas criadas» (e amantes, diremos nós), e ligava pouco aos progenitores, pois eles nada sabiam acerca de móveis e quejandos existentes na casa do filho, levando-nos a crer que não tinham acesso a essa mesma residência!                
     A queda do “grande chefe” minhoto teve consequências: houve raptos, assaltos, e até, na Câmara dos Deputados, o ministro da guerra teve que tentar esclarecer o sucedido. Disse ele: «… foi morto o Quingostas que, tendo-se comprometido a que havia de ser um cidadão pacífico e honesto, faltando a todos os seus protestos, perpetrou um assassinato; foi julgado pela autoridade judicial; requisitou-se então ao ministério força para prender esse homem, que era perigoso; requisitada essa força foi com efeito preso, e depois de preso quis evadir-se. A escolta usou daquele direito que tinha obrigação de usar: fez-lhe fogo e matou-o…» (“Ler História”, p. 145).
     Estava explicado o que acontecera. A besta fera fora exterminada. O país já podia respirar de alívio. Porém, essa explicação era a oficial, a que convinha ao regime político dos liberais.    

                                                 
                                           
NOTAS


1)   – Os irmãos do Tomás das Quingostas:


     Rosa Joaquina CodessoNasceu nas Quingostas a 8/7/1799 e foi batizada na igreja de São Paio pelo padre João José do Couto a 9 desse mês e ano. (O pároco não menciona os padrinhos). Casou com José Caetano, filho de António Domingues e de Maria Vitória Domingues. Em 1838, ano em que lhe nasceu um filho, a quem puseram o nome de Tomás Joaquim (cujo padrinho foi o próprio Tomás das Quingostas), residia em Rouças.  
                       
    José Elias Codesso – Nasceu nas Quingostas, São Paio, a 6/8/1801. A 13/5/1828, juntamente com sua irmã, Joaquina Matildes, foi padrinho de batismo de Carlota Joaquina, filha do bandido Paulo Caetano, da Ponte, São Paio, e de Antónia Maria Domingues, neta paterna de Maria Domingues, solteira, e materna de José Domingues e de Isabel Domingues, da Peneda, Gavieira, Soajo. // A Carlota Joaquina morou no lugar do Paço, e foi mãe solteira de Manuel Joaquim Domingues, que casou com Maria Rodrigues Fernandes, e avó de Filomena, nascida em Sante, São Paio, a 21/7/1888. // José Elias ainda era vivo em 1885.

    Joaquina Matildes CodessoNasceu nas Quingostas a 10/4/1803 e foi batizada na igreja de São Paio, no dia seguinte, pelo padre José Vaz de Carvalho, cura dessa freguesia. Teve por padrinho Domingos José Codesso. A 27/9/1826 foi madrinha de Luís Manuel Rodrigues. A 29/1/1831 substituiu, juntamente com seu pai, o padre José Manuel Alves, que lhes passou procuração para batizarem em seu nome Carlota Joaquina Rodrigues, nascida em São Paio dois dias antes. A 30/12/1831, solteira, foi madrinha de Joaquina Matildes, filha de Maria Gertrudes Domingues, de Alote, São Paio. A 12/8/1838 foi madrinha do sobrinho, Tomás Joaquim, filho de José Caetano Domingues e de Rosa Joaquina Codesso, moradores em Rouças; o padrinho era o “Tomás das Quingostas”!    

    Teresa Joaquina CodessoNasceu nas Quingostas a 26/5/1805 e foi batizada pelo padre João Durães, na igreja de São Paio, a 28 desse mês e ano. Teve por padrinho o avô materno, por procuração de Domingos José Codesso. A 28/9/1828 foi madrinha de João Manuel, filho de António José Pitães (membro da quadrilha do Tomás) e de Maria Luísa da Rocha. Em Agosto de 1829 foi madrinha de Tomás Joaquim da Costa. A 11/4/1830, solteira, foi madrinha de Florinda Rosa, filha de Maria Gertrudes, solteira, galega.

2) – Carlos. Era irmão do monarca espanhol, Fernando VII. Este não tinha filhos varões, e segundo uma lei de Filipe V, a chamada Lei Sálica, as mulheres não poderiam ser rainhas, só consortes, isto é, esposas de rei; por isso, Carlos, como era mais novo do que o irmão, albergava a legítima esperança de um dia vir a suceder-lhe no trono; mas Fernando, bem aconselhado, revoga essa lei, criando outra, a qual tornava possível a sua filha Isabel vir a cingir a coroa. Carlos zanga-se e desencadeia uma guerra civil, que vai de 1833 a 1840. A esse movimento chama-se carlismo, e carlistas eram os partidários de Carlos, príncipe espanhol. // Carlos casara, em 1816, com uma filha de João VI e de Carlota Joaquina, sendo cunhado, portanto, de dois reis portugueses: Pedro IV e Miguel I.       

3 – Câmara Municipal de Melgaço. Reunião de 20/8/1953: foi lido um ofício da Câmara Municipal de Viana dizendo completarem-se a 23/8/1953 quatro anos sobre a entrada do Dr. Francisco Cirne de Castro para o Governo Civil do Distrito, não desejando passar a data sem qualquer forma a assinalar, mostrando àquele ilustre magistrado a estima em que era tido e de uma forma especial o perfeito entendimento que existia entre os seus colaboradores na política e na administração do distrito. Foi deliberado pela Câmara Municipal de Melgaço fazer-se representar pelo seu vice-presidente no almoço de homenagem em Viana.  

4) – Valadares. Foi concelho até 24/10/1855. Nesse dia, por decreto, as suas freguesias foram distribuídas por Monção e Melgaço. Nós ficamos com Alvaredo, Penso, etc.

5) – António José Pitães. Filho de João António Pitães e de Benta Teresa Cerqueira, de Nogueira, Braga. Casou com Maria Luísa, filha de Manuel Rocha e de Luísa Domingues, de Botafora, Paderne. Morou com a mulher em Sante. Pai de João Manuel, nascido em São Paio a 26/9/1828 e batizado dois dias depois, cujos padrinhos foram José Manuel Gonçalves, de Além, Paderne, e Teresa Joaquina Codesso, irmã do Tomás das Quingostas. // Pertenceu à quadrilha do Tomás.  

6) – Paulo Caetano. No seu assento de batismo aparece apenas o nome Paulo. Filho de Maria Domingues, solteira, e neto materno de Manuel António Domingues e de Maria Joana Esteves, todos do lugar da Ponte, São Paio. Nasceu no referido lugar a 5/8/1801 e foi batizado dois dias depois, tendo por padrinhos João Esteves e sua mulher, Antónia Domingues, de Cavencas, São Paio. Casou com Antónia Maria, filha de José Domingues e de Isabel Domingues, do lugar da Peneda, freguesia da Gavieira, concelho de Soajo. A 11/5/1828 nasceu-lhes uma criança, a quem puseram o nome de Carlota Joaquina, ou seja, o nome da rainha, mãe de Miguel e de Pedro! No batismo da menina, que se realizou dois dias depois do nascimento, teve por padrinhos dois irmãos do Tomás das Quingostas: José Elias e Joaquina Matildes! // Foi preso nos finais de Abril de 1834. As autoridades hesitavam mandá-lo fuzilar, por medo de um levantamento dos populares. Evadir-se-á da prisão, menos de um mês depois, para se juntar a um pequeno bando dirigido por Pita Bezerra, ex-oficial miguelista, que percorria os campos «ameaçando matar os liberais da região e incendiar as suas casas

7) – João Manuel Marques. Filho de Joaquim Marques e de Rosa Antónia Alves. Nasceu em Remoães e casou com Teresa de Jesus, filha de Matias Pires e de Maria Luísa Domingues, de Além, Paderne. A 19/1/1825 nasceu-lhes uma filha: Maria Custódia; e a 10/2/1826 um filho – Guilherme Cândido. // Fez parte da quadrilha do Tomás das Quingostas. Pode ler-se no livro «Melgaço e as Lutas Civis», 1.º vol., p. 92: «… em 26 para 27/4/1829 o réu, João Manuel Marques, com os mais da quadrilha, assaltou a casa do celeiro de Paderne (…), arrombando a porta à mão direita da entrada, cuja fechadura tradaram (…), e dela roubaram móveis, pano de linho e o que ali se achava debaixo de chave, como consta do apenso.» // Esteve encarcerado, juntamente com o Tomás e Pitães, na cadeia do Porto, mais de dois anos. No regresso da prisão separou-se dos camaradas e teve azar «porque passando aos Arcos aí foi preso por falta de passaporte; dali foi conduzido para as cadeias de Valadares, onde esteve oito meses preso, e findo este tempo foi removido para o Couto de São Fins, aonde esteve por espaço de vinte e quatro horas, findas as quais, por condescendência do carcereiro e juiz, voltou para a sua casa aonde se conservou até sua última prisão.» // Na página 119 (obra citada) lemos o que disse Manuel António Gonçalves, da Portela de Paderne: «… sabia (…) que o dito Marques em a noite de 27/1/1835, associado com outros da quadrilha, tinham saído na Ponte da Folia, Remoães, a uns contrabandistas espanhóis, os Saravatos, que vinham do Porto, para os roubar, em cujo acto houvera muito fogo e se não acudisse a polícia de Remoães seriamente os roubavam e que naquele acto perdera o olho esquerdo…» // Manuel Bernardo Esteves, negociante, da Ponte da Folia, acrescentou: «… sabia, por ser geralmente público, que João Manuel Marques (…) é infamado de ladrão e salteador, tanto assim que é público e constante ser um dos indivíduos que fez parte da quadrilha do finado ladrão, salteador e assassino, “Tomás das Quingostas” …»   
    
8) – Guillade. Chefe carlista. Atuou sobretudo na Galiza. Morreu em Setembro de 1838 «em confronto com tropa espanhola e portuguesa.»

9) – João Pita Bezerra. Filho de João Pita Bezerra e de Francisca de Miranda, de Darque, termo de Barcelos. Casou na igreja de Paderne (concelho de Valadares), a 21/7/1823, com Maria Teresa, filha de Cipriano da Costa Freitas, negociante, de Guimarães, e de Helena Ana Ribeiro Codesso, de Melgaço, moradores no Campo da Feira de Fora, Vila, e irmã do seminarista assassinado pela quadrilha do “Tomás das Quingostas”, João Vicente da Costa Codesso. Os seus filhos nasceram em Melgaço: João Cândido (em 1824); Alexandre (em 1826 – morreu bebé); Alexandre (em 1828); Afonso (em 1830); Lourenço (em 1833); ----------? (em 11/9/1834). // No ano de 1830 era capitão de Infantaria n.º 12. Diz-nos dele o Dr. Augusto César Esteves (obra citada, p. 85): «Em 1829 o famigerado tenente João Pita Bezerra tripudiava nas ruas do Porto e à cacetada derreava os próprios miguelistas se calhava não encontrar na via pública, ou nas casas das próprias vítimas, quantos tinham pecha de liberal, de quem era e continuou a ser o carrasco mais façanhudo ao norte do Douro. Foi ele uma fera para todos, menos para os da família, que constituíra em Melgaço, quando por cá esteve de guarnição à praça.» Mais à frente (página 87), escreve: «… intolerante conservador e façanhudo carrasco, cujo corpo arrastado e esfacelado nas ruas do Porto acabou por ser lançado às águas do Douro pela populaça enfurecida com a lembrança dos seus crimes?» // Ficou conhecido por “Tigre de Darque”.      

10) – José Joaquim Codesseira. Filho de Manuel José Codesseira e de Maria Rosa Durães, de Cavencas, São Paio. Neto paterno de Francisco Codesseira e de Antónia de Freitas, do Nogueiral; neto materno de Manuel Durães e de Maria Josefa Domingues, do Telheiro, Rouças. Nasceu a 31/3/1804 e foi batizado na igreja de São Paio a 3/4/1804, tendo por padrinhos José Manuel Durães e sua irmã Maria Joaquina. // Casou com Antónia Joaquina Alves. Em 1832 moravam na Costa, São Paio, onde exercia a profissão de tamanqueiro. Pai de Maria Benedita, nascida a 1/3/1832. // Acerca dele escreveu-se: «Il.mo Sr. Francisco Manuel Lopes. Tendo-me sido denunciado que no lugar da Costa, São Paio, existia José Codesseira, salteador do reino, ladrão de estrada, matador e sócio de quadrilha; miguelista, e que andava aliciando outros para formarem uma guerrilha contra o actual governo português e contra D. Isabel II de Espanha; e que há poucos dias tinha ido em companhia de outros à Galiza para se unir à guerrilha do Lopez e sendo descoberto o seu projecto foi batido perto de Monte Redondo pelas tropas espanholas, e que estas só puderam prender um espanhol, escapando-se os outros. À vista disto mandei na tarde do 1.º do corrente uma escolta de um sargento e seis soldados do destacamento de guarnição nesta praça, pertencente ao regimento de voluntários da Rainha, à casa do Codesseira e chegando à dita casa a cercaram e ao latido de um cão saiu o dito Codesseira pela porta para fugir; foi preso pela escolta, e dois oficiais de justiça deste concelho encontrando-lhe uma faca, uma pistola, e seis cartuchos embalados, e entrando na casa se acharam um molho de chaves, uma buzina de cardo e um cano de bacamarte e o conduziram para esta Vila às onze horas da noite, à vista disto o mandei meter nas cadeias desta Vila, aonde se acha preso. Rogo, portanto, a Vossa Senhoria queira tomar conta dele, e formar o auto competente na conformidade das leis vigentes, dignando-se V. S.ª remeter-me a cópia do auto para a remeter ao Ex.mo Governador Militar da Província, bem como o recibo de entrega. Todos os instrumentos encontrados ao dito Codesseira vão juntos. Quartel em Melgaço, 2/6/1836. Manuel António Pereira, Major de Infantaria e Governador Militar interino de Melgaço.» // No processo, disse dele João Luís, de Real, filho de João da Costa Coelho e de Maria Joaquina Clara Pinheiro, da Pigarra, SMP, casado com Maria Joaquina Alves: «… mais constava, com a maior publicidade, que tendo-se roubado há tempos uma casa em Alvaredo, ele, dito Codesseira, fora ao dito roubo e matara no acto do roubo uma filha do dono da casa com um tiro; e que desencaminhava filhos família para seguirem a vida de ladrões.» // E Francisco Manuel Gomes de Abreu, escrivão do juízo eleito da Vila, acrescentou: «… é ladrão e fino salteador de estradas e de reinos; indo na companhia da sua gavillha fazer grandes roubos à Galiza, e que mais constava, com a maior publicidade, que ele fora um dos que matou, no ano de 1827, o juiz de Castro Laboreiro, António Bento…» // E Manuel António Alves Carvalho, de Orjais, Cubalhão, disse: «… que andando a trabalhar no Douro na ocasião em que fora roubado o seu vizinho já defunto, António Martins “Marante”, e voltando a sua casa fora informado pela sua família que o Codesseira (…) fora um dos ladrões que roubaram o dito vizinho e que dera no peito umas coronhadas de arma, das quais falecera passados tempos; e que o dito Codesseira se gabara e jactara, no Nogueiral, São Paio, ser ele o próprio que no acto do referido roubo deu as mencionadas coronhadas no peito ao dito seu vizinho “Marante”.» // Da cadeia da Vila de Melgaço foi transferido para a de Monção, mas na noite de 6 para 7/11/1836 fugiu e em 1846 ainda andava solto! // Em 1837 participou, com outros, na Galiza, no assassínio e roubo de dois oficiais espanhóis, um coronel e um capitão, soldados da rainha Isabel II, estando ao serviço de Guilhade. // Diz-nos o Dr. Augusto César Esteves (obra citada, p. 193): «… quando, mais tarde, os processos organizados foram a julgamento (…) até o próprio José Joaquim Codesseira conseguiu livrar-se da acusação de cumplicidade na última proeza do “Tomás das Quingostas”, ele, o sátiro, que foi quem às coronhadas mandou para o cemitério da Vila o infeliz João Faria, de Tangil.»    

11) – Africano. Deve ser um escravo fugido ao amo. A vida ao lado do Quingostas, apesar dos imensos perigos, seria com certeza bem melhor do que aquela que levava numa quinta do Minho ou da Galiza, onde o tratariam abaixo de cão.

12) – Policarpo José de Fontes. Filho de Joaquim Daniel de Fontes e de Inácia Joaquina Fernandes, do Cruzeiro, São Paio. Neto paterno de Custódio de Fontes e de Francisca Dias, do Barral, Paderne; neto materno de Manuel Fernandes e de Antónia Gonçalves, da freguesia de São Martinho, Alvaredo. Nasceu em Outubro de 1802. Teve estabelecimento comercial no lugar do Cruzeiro, São Paio, perto da igreja. Casou (depois do Tomás das Quingostas desaparecer de cena) com Maria José Gomes Pinheiro, de origem fidalga. Além de comerciante era também rico proprietário, pelo que ao ver-se livre do “Quingostas” deve ter sido para ele um alívio, apesar de perder um bom cliente. // Em 1888 tinha como seu empregado um serviçal chamado Tomás Joaquim! // Em Março de 1889 ainda era vivo, pois no dia 1 desse mês e ano foi padrinho (juntamente com a filha, Teresa de Jesus), da sua neta, Maria da Conceição, que nascera a 27/2/1889. // Foi pai de dois padres, o que o Tomás não lhe perdoaria se porventura ressuscitasse!    

13) – Beira Alta (Joaquim e João). Devem ter essa nomeada por os pais, ou eles próprios, terem ido trabalhar para essa província. Devem ser filhos de António José de Castro e de Antónia Maria Álvares, de Carvalha Furada. Netos paternos de Manuel António de Castro e de Maria Meleiro; netos maternos de Pedro Álvares e de Maria Domingues. Nasceram em São Paio de Melgaço e pertenceram à quadrilha do seu primo, Tomás, além de terem estado ao serviço do chefe carlista, Guillade. Em 1837 participaram, na Franqueira, Galiza, no assassínio e roubo de dois oficiais espanhóis, afetos à rainha Isabel II, um deles prestes a ser Governador e Comandante de Armas da Província de Ourense. Até os cavalos dos militares pilharam! // Um dos irmãos foi abatido pelos populares, ainda em 1839, que assim se vingavam de todos os males que ele lhes tinha causado.  

14) – Algumas figuras importantes da época do Quingostas:
   
 a)– João VI. (João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael). Nasceu em Lisboa a 13/5/1767 e morreu em Lisboa a 10/3/1826. Era o 3.º filho de Pedro III e de Maria I. Casou em 1785 com Carlota Joaquina de Bourbon, filha mais velha do príncipe das Astúrias, futuro Carlos IV de Espanha.
  
b)– Pedro IV. Filho de João VI e de Carlota Joaquina. Nasceu no Palácio de Queluz a 12/10/1798 (era mais velho do que o Quingostas dez anos) e faleceu ali a 24/9/1834. (Subiu ao trono porque o seu irmão mais velho, António, morrera em 1801).

c)– Miguel I. Irmão de Pedro IV. Nasceu no Palácio de Queluz a 26/10/1802 (era mais velho do que o Quingostas seis anos) e faleceu na Áustria a 14/11/1866. (Os atuais pretendentes ao trono de Portugal são seus descendentes).

d)– Marechal Saldanha. (João Carlos Gregório Domingues Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daum). Nasceu em Lisboa a 17/11/1790 e faleceu em Londres a 21/11/1876.

e)– Duque de Palmela. (Pedro de Sousa Holstein). Nasceu em Turim a 8/5/1781 e faleceu em Lisboa a 12/10/1850.

f)– Marquês Sá de Bandeira. (Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo). Nasceu em Santarém a 26/9/1795 e faleceu em Lisboa a 6/1/1876. Foi militar e político.

g)– Duque de Terceira. (Vila Flor). Nasceu em Lisboa a 18/3/1792 e faleceu nessa cidade a 26/4/1860.    

h) – Conde das Antas. (Francisco Xavier da Silva Pereira). Nasceu em Valença do Minho a 14/3/1793 e faleceu em Lisboa a 19/1/1852. Foi general e político. Em 1820 apoiou a revolução liberal e esteve sempre ao lado de Pedro IV. Foi um dos exilados de Inglaterra. Primeiro foi barão, depois visconde, e finalmente, por decreto de 16/5/1838, recebeu o título de conde.   


                                                                                          FIM



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