SONETOS DO SOL E DA LUA
Por Joaquim A. Rocha
O VÍRUS
Sou
a praga enviada por Jeová,
Rei
dos deuses, senhor do universo,
Não
nascido em cama nem em berço,
Irmão
de Zeus, Júpiter, de Alá.
Minha
índole é boa e má,
É
a medalha e o seu reverso…
Nunca tenho sonhos, nem adormeço,
Quando aqui estou também estou lá.
Sou
o senhor dos mundos ancestrais,
Todos
me obedecem: bravos, serenos;
Padres,
cónegos, bispos, cardeais…
Gigantes,
anões, grandes e pequenos,
Plantas,
pedras, todos os animais,
Mar
agitado, mil oásis amenos.
*
UM NOVO DIA
Nasce
o sol, vai-se a noite, vem o dia,
No
cosmos os corpos se esconderam;
Esperanças
e luzes se acenderam,
Mas
no meu peito a dor permanecia.
Meu
coração, febril, forte batia,
Velas
de um navio que romperam,
Ilusões
que jamais se recuperam…
Marinheiro
que no mar alto morria.
Não
há luta, nem resiliência,
Tudo
ferve no caldeirão da morte;
Eu,
no reino calmo da paciência,
Liberto
pra sempre das leis da sorte,
Choro
em silêncio a minha ausência,
Meu
pobre destino, o meu desnorte.
*
O ALFERES
Revi
nas densas matas africanas
Um
vilão com a patente de alferes;
Chamava-se
João Maria Peres,
Mais
gingão do que chicas sevilhanas.
Descendia
de fêmeas arianas,
De
uma tribo de estranhíssimos seres;
Comiam
com as mãos, não com colheres,
Liam
nossa sina, como as ciganas.
Era
esbelto, como uma pantera,
Mas
seus dentes eram de javali;
Tinha
os olhos de autêntica fera…
A
pistola, da cor do colibri,
Brilhava
como luzidia esfera
Nas
terríveis florestas do Mali.
*
TRANSFORMAÇÕES
Jesus transformou a água em vinho,
Tasqueiro converte vinho em água;
Dalila transforma alegria em mágoa,
O valente Sansão em cordeirinho.
E até um regato ou o rio Minho,
No verão autêntica frágua,
Deslizando como uma frágil tábua,
Afoga em seu leito um rapazinho.
E eu, sonhando sonhos maus, ruins,
Cavalgando estrela escaldante,
Montado em dragões, anjos, serafins,
Percorro, no colo da vil amante,
Ao som de concertinas, cornetins,
O mundo de Júpiter, deus tonante.
// continua...

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