POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
O REGRESSO
Adeus meus caros amigos,
colegas de sofrimento;
acabaram-se os martírios,
chegou o grande momento.
Pedirei aos altos deuses
que tenhais feliz regresso;
bonançoso e calmo mar…
Ó forte Zeus, eu vos peço!
Levai-os em segurança
de volta ao seu querido lar;
eu viverei na esperança
de um dia também voltar.
Que tenhais sorte na vida
é o meu maior desejo;
lutai contra a vil
intriga,
o destino malfazejo!
1967
Nos olhos de uma mulher
vejo esperanças perdidas,
vejo o nada dessas vidas,
verdades que quer reter!
Vejo um ribeiro que corre,
vejo a floresta de sonhos,
os pesadelos medonhos,
a esperança que morre.
Vejo um lago de águas mansas,
um mar bravo, a maré cheia;
a luz forte que
encandeia,
o voltar das esperanças.
Planícies de sonho, sol de verão,
estranha música de violinos;
tudo vejo em seus olhos cristalinos:
vejo, em seus olhos, seu coração!
COMISSÃO À GUINÉ-BISSAU
(1966/1967)
Vinte Janeiro embarquei
para a Guiné portuguesa;
lágrimas tristes chorei,
cresceu a minha tristeza.
Disse à minha mãe amada:
voltarei para a abraçar;
não fique desesperada,
isto um dia há de acabar.
A vinte e seis de Janeiro
a Bolama fui parar;
ia à guerra. Ó guerreiro
não te esqueças de matar!
Demagogos, me ensinaram:
«a guerra tens de
enfrentar»;
a zona me destinaram
- tinha por nome Cufar.
Muitos dias lá fiquei,
lutando com fé e
paixão;
vou ser um herói (pensei)
- um novo Napoleão!
Depois fui para Bolama,
descansar das mil fadigas;
foram as “férias na
cama”,
aturando as lombrigas.
Passado quase um mês
para o norte nos mandaram;
à guerra, à guerra outra vez,
ai dos que nos enfrentaram!
Lutámos como valentes,
alguns caíram sem vida;
outros ficaram doentes,
a guerra é fera ferida!
Um dia, sei lá, voltei,
ao europeu continente;
e a mim mesmo perguntei:
«quem esta guerra
consente?»
Sei que não valeu a pena
ter lutado o que lutei;
por uma causa pequena
ninguém passe o que eu passei.
// CONTINUA...
Sem comentários:
Enviar um comentário