sexta-feira, 26 de abril de 2024

 

POEMAS DO VENTO

Por Joaquim A. Rocha

 





O REGRESSO

 

Adeus meus caros amigos,

colegas de sofrimento;

acabaram-se os martírios,

chegou o grande momento.

 

Pedirei aos altos deuses

que tenhais feliz regresso;

bonançoso e calmo mar…

Ó forte Zeus, eu vos peço!

 

Levai-os em segurança

de volta ao seu querido lar;

eu viverei na esperança

de um dia também voltar.

 

Que tenhais sorte na vida

é o meu maior desejo;

 lutai contra a vil intriga,

 o destino malfazejo!

  

1967

  NOS OLHOS DE UMA MULHER

 

Nos olhos de uma mulher

vejo esperanças perdidas,

vejo o nada dessas vidas,

verdades que quer reter!

 

Vejo um ribeiro que corre,

vejo a floresta de sonhos,

os pesadelos medonhos,

a esperança que morre.

 

Vejo um lago de águas mansas,

um mar bravo, a maré cheia;

  a luz forte que encandeia,

o voltar das esperanças.

 

Planícies de sonho, sol de verão,

estranha música de violinos;

tudo vejo em seus olhos cristalinos:

vejo, em seus olhos, seu coração!

 

 

COMISSÃO À GUINÉ-BISSAU

(1966/1967)

 

Vinte Janeiro embarquei

para a Guiné portuguesa;

lágrimas tristes chorei,

cresceu a minha tristeza. 

Disse à minha mãe amada:

voltarei para a abraçar;

não fique desesperada,

isto um dia há de acabar.

A vinte e seis de Janeiro

a Bolama fui parar;

ia à guerra. Ó guerreiro

não te esqueças de matar!

Demagogos, me ensinaram:

«a guerra tens de enfrentar»;

a zona me destinaram

- tinha por nome Cufar.

Muitos dias lá fiquei,

 lutando com fé e paixão;

vou ser um herói (pensei)

- um novo Napoleão!

Depois fui para Bolama,

descansar das mil fadigas;

foram as “férias na cama”,

aturando as lombrigas.

Passado quase um mês

para o norte nos mandaram;

à guerra, à guerra outra vez,

ai dos que nos enfrentaram!

Lutámos como valentes,

alguns caíram sem vida;

outros ficaram doentes,

a guerra é fera ferida!

Um dia, sei lá, voltei,

ao europeu continente;

e a mim mesmo perguntei:

«quem esta guerra consente

Sei que não valeu a pena

ter lutado o que lutei;

por uma causa pequena

ninguém passe o que eu passei.



// CONTINUA...

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